quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Adeus, 2008

Sem grandes saudades, o ano de 2008 está prestes a deixar-nos, o que se insere na ordem natural do universo e da sua mecânica. 365 dias se passaram e, deles, pouca pitada de recordações positivas: a crise assolou às nossas portas e entrou pela casa dentro; a condição de vida piorou; o petróleo, agora mole, foi de uma dureza de aço, que nos deitou por terra; o Tratado de Lisboa encalhou na Irlanda; o ralie Paris-Dakar não pôde partir para as areias africanas, por razões de segurança; o país viu-se grego para ultrapassar as suas dificuldades; a Grécia esteve vai não vai para cair; a UE não nos deu nada de novo e só da América vieram boas notícias com a eleição de Obama.
Em Portugal, até Cavaco Silva acompanhou o movimento dos professores, dos juízes, do Bastonário da Ordem dos Advogados, dos médicos, dos funcionários públicos, dos reformados, dos agricultores, dos camionistas, dos operários, dos escriturários e afins, dos mineiros, dos políticos, dos autarcas, dos jornalistas, caminhando no sentido de mostrar descontentamento com o governo que temos.
Imparáveis, só as sondagens lhe têm dado razão e isso é que, talvez, venha a contar em 2009.
Se uns pouco fazem para merecer a alegria da vitória e outros dificilmente lá podem chegar, é certo e sabido que, a ser assim, nada mudará, mesmo com a previsão de três eleições pelo meio.
Com este cenário, de 2009, por pessimismo estrutural, é reduzida a margem de manobra quanto a novos e melhores tempos. Nesta ordem de ideias, apenas o calendário será capaz de dar um salto, menor que um segundo,um segundo apenas, mas que faz toda a diferença: foi-se 2008, vem aí 2009.
Que Deus o traga em boa hora!

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Obama e o humu-humu-nuku-nuku-apuaa

Neste quase fim de ano, dei de caras, numa leitura agradável, escrita por Obama, aquele que é, pensamos que para felicidade nossa, o presentefuturo Presidente dos EUA, com um texto que nos interpela a todos. Oferta das minhas queridas filhas, que comigo partilham ideias e sentimentos e que sabem quanto admiro este homem, tenho de confessar que, nesse livro de " A minha herança", me senti particularmente honrado quando li o seu encontro familiar com um português, no Havai, que o levou à pesca.
O esquisito peixe que responde pelo nome acima estampado, e que veio no arpão em Kailua Bay, vai ficar na minha memória, porque juntou um compatriota nosso com Obama, seu avô e família, quando ninguém sonhava, sequer, o destino que lhe estava traçado.
Nesta diáspora constante, em que Portugal se tem metido, por vocação e por necessidade, o humu-humu-nuku-nuku-apuaa é o símbolo de uma cultura que tem no mundo a sua medida, pois este peixe daquelas águas não passou despercebido ao amigo português, nem ao Obama que, no dia 20 de Janeiro, vai ocupar o lugar maior da Casa Branca e do mundo.
Sei que, nesse dia ou noutro, não deixará de recordar este episódio, que muito me encanta.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Barragem de Ribeiradio

Depois de ter andado num bailinho sem sucesso, só para romper sapatos, com sucessivas partidas, que músicas perras logo vinham fazer parar, dizem-nos, agora, que a Barragem de Ribeiradio, em Oliveira de Frades, sempre vai arrancar. Parece então chegada a hora de se saber aproveitar as águas soltas do Rio Vouga, que, até este momento, vão direitinhas ao mar, inundando na passagem as zonas de Aveiro, no Inverno, e secando de sede as mesmas gentes, no Verão.
Finalmente, parece que a luz ao fundo do túnel vai dar lugar a uma grande claridade, para gáudio de quem espera há largas décadas por este investimento, que vem fornecer energia, regularizar o respectivo caudal e criar ondas de turismo, uma outra vertente que se não pode desprezar.
Numa ironia de um destino, que agora se prevê com um final feliz, pouco se fica a dever ao Estado, que brincou demais com esta Barragem. Se uma vez a anunciava, outra a punha a avançar, para, cobardemente, lhe pôr travões às quatro rodas, colocando um ponto final nas obras que se chegaram a iniciar. Merece, por isso, o nosso vivo desagrado.
Entretanto, a entrada em cena dos irmãos Martins, da Martifer, em conjunto com a EDP, dizem que foi a cereja num bolo que já estava ressequido e bolarento. Agora é um regalo saber que serão os construtores desse emprendimento, que muito trará de bom para os concelhos de Oliveira de Frades e Sever do Vouga, que ganha mesmo uma outra prenda: a Ermida.
A fechar 2008 e a iniciar-se 2009, como diria La Palisse, este é um bom sinal. Que ande para a frente é o que mais desejamos. Força!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Os natais

Pronto, amanhã será, aqui, dia de Natal. Boas e santas festas!

Mas, ali, talvez se tenha optado por uma outra opção, uma outra tradição, uma outra fé, uma ausência dela, uma outra forma de ver e encarar a vida e o além. Na tolerância e na liberdade, todos somos iguais e todos temos o direito a, dessa forma, a nossa, sermos felizes e cidadãos de corpo inteiro.

Acredito no meu Natal, este que, daqui a pouco, se festejará, mas aceito, sem qualquer preconceito, quem pensar e agir de outro qualquer modo, desde que preze um valor essencial, o do respeito pela vida e pelo outro.

Nesta escala, Boas Festas para todos os povos do mundo, onde quer que seja, como quer que pensem. Que todos sejam felizes!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Boas Festas

Ao acordar, senti que hoje cheirava a 25 de Dezembro de um ano qualquer. Vi que poderia ser então Natal. Desfolhei o calendário de 2008 e percebi que, para essa data, faltam ainda algumas horas. Mas não importa: para todos um bom Natal e um Ano Novo, contra todas as previsões, do melhor que possa haver!
Retardar esta mensagem seria trair a tradição. Adiantá-la poderia entender-se como uma antecipação não desejada por quem a recebe. Vai hoje mesmo, mas para se estender para todo o sempre, para os tempos de agora e para aqueles que vamos viver, por mais curtos que sejam, que, esses, só o destino os acabará por traçar.
No momento em que o Senhor Presidente da República me presenteou com as suas amáveis palavras, que foram acompanhadas também por uma mensagem de sua esposa, que as suas vidas se prolonguem por muitos e bons anos, que Portugal deles aguarda, sempre, o espírito de serenidade por que todos ansiamos.
A todos um bom Natal.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Natal sem sapatinho

Hoje, 19 de Dezembro de 2008, a Assembleia da República disse, por meias ou inteiras palavras, que o país está em crise financeira, económica, social, mas também política, verdadeiramente política. Por dá cá uma pequena palha, dois parágrafos de um Estatuto, o dos Açores, viu-se um braço de ferro, que não se sabe para onde vai cair. Teimosa e orgulhosamente, para não dizer que com alguma ardilosa estratégia, o PS cedeu demais aos seus correlegionários açorianos, voltando-se, ostensivamente, contra o Presidente da República.
Naquele órgão deliberativo, por excelência, que discute decisões eminentemente políticas, não compreendemos a razão que levou o Presidente da AR a considerar esta uma escolha política. E as outras e todas as outras o que sâo? Com tais considerandos, recuou na sua ideia de exigir uma maioria de dois terços, mas isso até de pouco valeria, porque, afinal, só o PSD se veio a abster, mais por razões estratégicas que de convicção.
A nosso ver, tratou-se aqui de uma palmada dada ao PR, que nem sequer a merece, tal a sua postura institucional de uma cooperação a toda a linha. Com isto, quis o PS ver se descobre uma fuga para a frente, que a actual situação desaconselha de todo em todo.
Só por isso é que a ponderação habitual de Belém não virá a equacionar tal cenário, porque a afronta recebida é grave demais, vinda de todas as bancadas, que não souberam estar à altura da gravidade do momento que vivemos.
Com um Natal assim, não há sapatinho que resista, nem prenda que se pretenda vir a obter.
Para amenizar este quadro, só a ideia de que o BPN, o tal, vai derreter 70 toneladas de moedas alusivas ao Euro 2004, por não as conseguir impingir, isto para nos fazer rir, quando a maré pede choro, muito choro. Pior que isto só o Maddof, que, esse, nem moedas tem, mas apenas uns míseros papéis que não valem tuta e meia.
Com a AR em figura de pai-natal envinagrado, com o BPN a fundir dinheiro real, com o Maddof a espalhar da América para cá mais um tornado, valha-nos o Natal, por favor, meu Deus.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Um painel por cêntimos de descida

Tenho andado a ver que, nos painéis de sinalização de áreas de serviço nos auto-estradas, se pede paciência, em tempos de espera, para a informação sobre o preço dos combustíveis. Declarando a minha folha de interesse, quero dizer que sou utente dessas rodovias. Acrescento que tal serviço me não serve de, praticamente, nada. Afirmo solenemente que o valor que me cabe, como contribuinte naquela publicidade - mesmo que se fale em concessões, que só me tocam por vias travessas - o quero dar a instituições de solidariedade social...
Por favor, poupem esses gastos, que ninguém deixa de estar informado sobre tais preços, sem olhar para esses desperdícios. Se é bonito - e duvido que o sejam - de pouco servem. Melhor dito: é dinheiro desbaratado, deitado fora, como se fôssemos uns riquinhos de corpo inteiro, quando somos apenas uns pelintras de palmo e meio.
Em vez dessa despesa, desçam-se os valores dos preços reais, isso sim uma atitude de grande préstimo. Vêm-me agora dizer que assim se procede no estrangeiro. Que seja. Mas copiar maus exemplos não me dá gozo nenhum. Ponto final.
Uns cêntimos a menos em cada litro de combustível, isso é que é obra a sério. Brincar aos painéis nem me aquece, nem me arrefece. Novo ponto final.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Bombeiros com rica prenda

Há distinções que caem que nem uma luva em quem as recebe e esta que, agora, contemplou os Bombeiros portugueses, sobretudo no que toca à sua mais querida dimensão, a do voluntariado, encontra-se no mais alto pedestal destas condecorações.
A Assembleia da República Portuguesa, ao conceder-lhe o prestigiado galardão do " Prémio Direitos Humanos" mostrou estar atenta ao seu imenso trabalho na defesa do maior bem que cada um de nós pode almejar: uma vida digna. É a essa causa que, todos os dias e minutos, os Bombeiros se entregam. Aliás, o recente salvamento do tenro Salvador, que a sorte madrasta colocou na beira do pior dos abismos, a morte, ilustra isto mesmo. Mas o historial destas Associações é de um alto grau de dedicação aos direitos humanos e de bens, sendo por isso bem merecedor desta " comenda", por cada um de seus corajosos passos e actos, muitos deles verdadeiramente heróicos, consumindo as suas próprias vidas.
Tudo quanto se faça em seu favor é sempre pouco, se comparado com a elevação de suas atitudes e acções. Na hora em que festejam este merecido Prémio, associamo-nos vivamente à decisão da Assembleia da República, até por ser, melhor ou pior, o órgão institucional que mais se deve aproximar de nós mesmos, com o devido respeito pela figura intocável do Presidente da República.
A este último propósito, queremos também mostrar o nosso agrado, ainda que neste estilo de rodapé, pelo facto de o nosso PR, o Professor Cavaco Silva, ter dedicado um de seus dias a visitas a estas regiões, meio do litoral, meio do interior, como aconteceu ontem, dia 12.
Mas hoje é de Bombeiros que estamos a falar e com eles nos vamos calar, por respeito e muita admiração. Bem haja e parabéns.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Parabéns, Manoel de Oliveira

Sei que V. Ex.a me não conhece de lado nenhum, nem isso importa. Mas fique a saber também que tenho seguido com entusiasmo o seu percurso, porque gosto de quem, pela sua obra, faz falar do meu e nosso país com orgulho e com fortes razões para isso. Está V.Ex.a entre os portugueses que lograram atingir esse patamar da imortalidade, já que o seu nome se estende por todo o sítio onde se trate de abordar as questões do cinema. Dentro e fora destas nossas linhas, Manoel de Oliveira goza de uma fama e igual proveito, que muito admiro.
Confesso que, não sendo um apaixonado por essa nobre arte ( e disso me penitencio com pena), cheguei a ver alguns de seus filmes, que, na altura, me não cativaram, na medida em que os achava um pouco lentos e, não leve a mal, até enfadonhos. Reconheço, agora, que o erro e a falha eram minhas, que o seu dedo, reconhecido como de mestre, lá tinha as suas razões.
Hoje, quando comemora cem anos de intensa, rica e produtiva vida, é minha obrigação dizer-lhe que este incorrigível leigo do mundo do cinema lhe deseja ainda os maiores sucessos, ao mesmo tempo que lhe agradece o contributo dado à cultura portuguesa e mundial.
Assim, ao olhar para a vitalidade que respira, assim, vale a pena viver! Os meus parabéns e, à portuguesa, votos de muitas felicidades. Bem haja por tudo quanto nos tem dado!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Pai Natal...

Pai Natal:

Estamos na altura de te fazer os habituais pedidos e, olha, os meus, por hoje, não são nada meigos, nem modestos. Em primeiro lugar, peço-te uma fábrica de automóveis, que pode mesmo ter uma enorme carrada de empregados, porque o seu salário ficará sempre garantido, sendo apenas necessário que o governo esteja para aí virado, como acontece em Portugal, neste ano de 2008. Por isso, enquanto houver saída comercial, o problema não existe. Quando a crise chegar, o remédio aparece de imediato.
Assim se dissesse dos outros ramos industriais que, coitados, não vêem boas luzes ao fundo do túnel !... Fabricar automóveis é o que nunca deixa de dar. Não estranhes, então, Pai Natal, que te dirija esta carta e com este conteúdo.
Lamento, entretanto, que o meu vizinho, detentor de uma oficina de parafusos, se queixe a toda a hora e ninguém o ouça, nem aqueles que dizem que foi aberta mais uma linha de crédito, que os seus destinatários quase são conhecidos à partida. Esse tem receio de não poder segurar os seus dois trabalhadores e o estado finge nada perceber, olhando só para os automóveis.
Como não gosto de ser pobre a pedir, podias também fazer-me aceder à gestão de um banco, até daqueles que estão mais na corda bamba, ou, talvez, mesmo esses... Sei que não ficaria a perder, porque alguém lhe iria deitar a mão em caso de derrocada, ou de prejuízos avultados.
Ouve bem: não quero é que me arranjes uma pequena dívida numa qualquer instituição bancária, que, essa, tenho mesmo de a pagar, nem que seja com língua de palmo.
Se és verdadeiramente meu amigo, atende estas minha súplicas, que te não arrependerás. Em vez de andares de trenó, sou eu que te vou dar um " ferrari", mais vermelho que o meu agora deslavado Benfica.
Amor com amor se paga e eu não quero ficar atrás destes velhos ditados.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Neve nas serras, frio nas escolas

Um manto branco cobre grande parte de nossas serras, incluindo a do Caramulo, mais brilhante que sempre e, por isso, muito mais apetecida, até para se visitar o seu rico Museu. Enquanto a neve está a chegar no momento oportuno, as escolas, com um frio de enregelar os ossos, não páram de estar em constante reboliço, hoje concretizado com uma enorme greve, daquelas que devem fazer pensar todos os seus responsáveis. É hora de se tirarem sábias e decisivas conclusões, que este ambiente não agrada a ninguém, nem traz nada de melhor. Antes pelo contrário: agrava a situação e pode descambar para um abismo de onde será difícil sair.
Mas se, no caso do Estatuto dos Açores, o PS mostrou, outra vez, o seu lado teimoso e agressivo, quando era fácil conciliar interesses, vontades e boas práticas, na Educação teme-se que essa costela arrogante não tenha conserto e que se teime em continuar um braço de ferro, que só pode levar a este lado: a derrocada do sistema, a perpetuação de um conflito que se adivinha desastroso.
Se a neve veio na hora certa, é altura de aparecer uma mão milagrosa que venha salvar tudo isto, mas só se os comportamentos arrepiarem caminho. Se assim não for, tudo se perde, nada se transforma e, pior, nada se cria.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Caso do dia

A Biblioteca Nacional, Lisboa, Portugal, é um lugar onde se está bem por todos os lados: os livros são uma companhia ideal, os funcionários atendem com saber e simpatia, o espaço é agradável e até a temperatura faz aparecer o verão no inverno e a primavera no calor estival.
Com ciência e conhecimento por toda a parte, hoje sensibilizou-nos, de uma maneira vincada, o Álvaro, que desempenha o seu serviço na reprografia. Deficiente, o que se nota, mas não se sente, abeira-se do balcão, fala pouco e transmite muito, caminhando, de imediato, para os livros a fotocopiar e para as máquinas a agilizar.
Feito o trabalho, traz a tabela, as quantidades e o preço bate certo, rigoroso mesmo.
Recebida a maquia a preceito, continua a sua missão, que outro "cliente" está na calha.
Exemplo de integração, mostra-se ali que todos os homens são iguais, de verdade.
Estrutura pública, esta BN deu-nos, pela prática, mais uma excelente lição, a vir da laboração, que assim se junta ao contributo dos livros, esse tesouro ímpar.
Vale a pena a vida, quando se procede desta forma. Parabéns!

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O céu da minha terra

Com sorte na vida, em termos de terra que nos coube nesta rifa de um local que não escolhemos, mas que viemos a amar, porque ninguém, no acto de nascer, optou por qualquer recanto, estamos hoje muito gratos por termos visto a luz do dia neste querido Portugal.
Numa altura em que em Santa Catarina, no Brasil, as tempestades ceifam vidas e esperanças, para ali vai a nossa solidariedade, de irmãos na língua e nos sentimentos.
Quando, na Índia, o terror faz cair tantos cidadãos de um mundo que, muitas vezes, anda às avessas, para ali vai o nosso pensamento e a nossa fraternidade.
É também por isto que bendizemos este nosso torrão, onde o clima é sereno e os homens ainda prezam, em geral, o valor supremo da vida. É bom estar numa terra que apresenta tão relevantes características, mas muito melhor é sabermos que somos capazes de, nestes momentos de dor, dar as mãos e partir ao encontro de quem sofre.
Só assim é que o ser humano é verdadeiramente uma pessoa a sério, com razão e emoção, com vizinhança e com a distância, porque, no limite, todos somos parte de uma comunidade: o mundo é cada vez mais a nossa casa, mesmo que gostemos imenso de olhar a serra e sentir o mar, ali naquela varanda que nos encanta.
Dela, porém, vê-se o globo inteiro e, por isso, o Brasil e a Índia, nestas horas, não nos saem do coração.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Saco cheio

Com tanta questão a barrar o caminho aos verdadeiros problemas da nossa sociedade, já nos enjoa a invasão de temas que só atropelam e de tudo nos desviam: fala-se muito de nada e cala-se o que é determinante, inunda-se o céu e a terra de ruídos e não se atiram para a grelha dos dados decisivos aqueles que, verdadeiramente, são de analisar e tratar.
Do BPN, são-nos oferecidas cargas e cargas de confusões, todas elas do arco da velha, que mais confundem do que aclaram; dos professores, só ficamos a saber que é dura a luta e aguerrida a contenda, com as posições, por agora, um pouco no escuro; das negociações salariais, o governo enche, enche, baralha e tudo deixa na mesma - nem mais um cêntimo, que as finanças não permitem, dizem, qualquer esticadela, por mais justa que seja; das Forças Armadas - até aí se respira um ar pesado - é maior o segredo que a abertura; da União Europeia, prometem-se para amanhã o céu e as estrelas, mas adivinham-se tempestades e das grossas; dos EUA, o Obama puxa os galões e a equipa, alargada e renovada, parece que vai gerar obra, mas nada é certo; do mundo, em geral, pouco de bom se espera, que a globalização, por estes momentos, desfaz mais do que constrói.
Resta-nos, de África, uma visão desapaixonada - uma vez mais - de um Mia Couto, que leu Obama como deve ser: o homem certo para aquele lugar, naquele contexto, mas possível porque assim teve de acontecer, tal o passado a esconjurar e o futuro a construir.
Com este pano, onde caem todas as nódoas, vai o PS avançando o seu caminho. Quanto ao PSD, a luz não tem maneira de sair do fundo do túnel, bem maior do que todas as previsões, pelo que até o desgastado Paulo Portas parece poder esfregar mais as mãos, que o PCP e o BE não deixam de ser aquilo que os caracteriza - um olhar para uma sombra que nem cresce nem minga.
Amanhã, porém, pode haver novidades, mas não é de prever-se que cheguem boas notícias, porque a crise, essa, não nos desampara. Nem a pontapé.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Sol de S.Martinho na educação

Se a tradição ainda se mantém, a de S.Martinho, com o Verão a tremer, parece estar a chegar à educação. Agitada nos últimos tempos, a ferver em muitos momentos e a escaldar na actualidade, esta área social, de importância vital para o nosso futuro, tende, se as previsões não falharem, para uma certa normalidade. Por enquanto, é em cima de arame que se vive, razão que nos leva a desconfiar de tudo e de todos, que a Ministra é mais teimosa que uma barra de aço e os agentes educativos, escaldados, de água fria têm medo.
Com o ainda latente braço de ferro entre o poder e os sindicatos, nada é seguro. Mas manda a verdade e exige o bom senso que se páre para pensar, se atirem culpas para o caixote do lixo, se volte a (re)adquirir a confiança e se parta para o entusiasmo que este campo tanto deve suscitar. A ganhar com toda essa nova postura ficarão, de certeza, os alunos. Eles, mais do que toda a outra gente, são quem mais merece o sossego e a entrega total ao acto de educar, que não se compadece com a trapalhada burocrática que aos professores estava a ser reclamada.
Se está na hora de muita outra coisa, não se pode perder mais tempo com uma "guerra" que está a deixar no atoleiro dos destroços um negro e duro espólio, que muito dificilmente se virá a reconverter naquilo que mais se precisa: paz e serenidade, frescura e uma nova acção. Mas ainda é tempo de recuperar caminho e de buscar as melhores soluções.
Nisto, como em tudo, nada está perdido, que o natal é sempre quando o homem quiser. Então se se falar de amizade e de amor, de que a educação tanto espera, muito mais esta regra se aplica.
Trabalhe-se nesse sentido, que o mundo e Portugal muito agradecem.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Um país, dois sistemas

Ressalvada qualquer abusiva comparação com a longínqua China, este meu país anda sempre a fazer discriminações e a gerar disparidades, absolutamente desnecessárias e até provocatórias, criando dois sistemas para as mesmas questões. Desta feita e de uma só penada de mau gosto e de mau feitio, atirou-se, uma vez mais, aos seus aposentados e aos desgraçados que entrarem na função pública em 2009. Condenando-os a pagar 14 meses de descontos, contra os doze vigentes na generalidade dos casos, mostra este governo uma especial veia para colher tempestades.
Parece que não vale a pena vir a protestar, porque a regra é esta: quanto mais razão se puser em cima da mesa, mais teimosia se gera. Mas é triste e inqualificável, mesmo no panorama das igualdades cívicas e sociais, que se deveriam defender com unhas e dentes, este tratamento. Com esta atitude, lesam-se uns e deixam-se outros de lado, quando é nestes últimos que está todo o verdadeiro caminho - aquele que implica uma prática de gerações e que agora se põe em causa.
Se não é ir longe demais, apela-se ao Presidente da República, ao Provedor da Justiça, ao Tribunal Constitucional, aos Deputados, à Comunicação Social, às forças vivas em geral, ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem e do Cidadão no sentido de se não deixar avançar este atropelo à dignidade de quem se vê afectado desta forma e deste jeito sem graça nenhuma.
Em último caso, saia-se para a rua em marcha de protesto e de viva contestação.
Ficar assim é dizer que quem se não sente não é filho de boa gente. E este pessoal, que está a ver irem-lhe aos bolsos, é malta de primeira, igualzinha a toda a outra gente.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Esquecimento ou propósito assumido?

Ao ler o costumado jornal de há mais de trinta anos, que tem nome de um conhecido comboio, ficámos um tanto espantados com o facto de não termos visto dado o destaque devido à eleição de Barack Obama, como presidente dos Estados Unidos da América.
Atirando-o para o interior, parece-nos que tal tratamento noticioso e comunicativo não é o mais correcto. Mesmo que se queira dizer que o que se passa no nosso quintal é muito mais importante que o que nos chega de todo o mundo, este argumento não colhe, porque este órgão de comunicação social é grande demais para pensamento tão curto. Não foi essa a razão, de certeza.
Pena temos é de não sermos capazes de descobrir a verdadeira causa: esquecimento, propósito assumido, fuga para o lado, tudo nos parece um tanto "desconchavado".
Passar-nos-ia isto despercebido, não fora a nossa admiração, respeito e fidelidade que temos tributado a esse jornal. Desta vez, desiludiu-nos bastante, mas talvez haja algo de insondável, que a nossa pequenez não consegue atingir.
Que achamos mal esta omissão, essa é a verdade.
Mas ... pouco mais temos a dizer.
Fale, se quiser, quem de direito.

sábado, 8 de novembro de 2008

Orçamento na mesa, professores na rua

Com a Assembleia Regional da Madeira de portas encerradas, numa espécie de legislação faz de conta, por ter havido cobras e lagartos e se arrogarem o direito de enterrar leis gerais, a nível nacional tudo funciona: os deputados votaram o Orçamento para 2009, uns sozinhos, outros de cara à banda. De qualquer maneira, com maioria curta, já temos, no papel, a Lei. Falta o dinheiro, mas isso pouco importa, porque ele há-de aparecer, tal como aconteceu com o BPN que, de falido, passou para as mãos do Estado e os milhões surgirão na altura própria, nem que seja do bolso dos contribuintes.
Sem ligar a tudo isto, os professores ameaçam apresentar uma enorme fotocópia do passado oito de Março, levando à rua - e pelos mesmos motivos - uma avalanche de docentes, de modo a inundar a Baixa lisboeta. Espera-se que assim aconteça, se o tempo não pregar uma das suas partidas.
Com os militares em protesto mais ou menos silencioso, estes agentes activos da educação não vão pelo mesmo caminho: gritar e cantar são as suas armas. Serão ouvidos? Duvidamos.
Com papéis a mais e pedagogia a menos, é da burocracia que se queixam.
Com Orçamento aprovado e maquia a menos, é de crise que todos se lamentam.
Com berros e insultos na Madeira, é de falta de bom senso que se deve falar.
Hoje é sábado. Por isso vamos descansar um pouco e esperar que estas feridas venham a sarar, que a dor que causam bem nos preocupa.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

" Admirável mundo novo"

Depois de ontem, o mundo entrou numa nova e esperada era. A eleição emotiva de Barack Obama, como presidente dos EUA, trouxe - é isso que desejamos - aquela aragem renovada que os cidadãos daquele país e do mundo, em geral, há tanto ansiavam.
Uma estranha sensação se apoderou de nós, quando, às cinco horas da madrugada do dia cinco, conseguimos escutar as palavras, ponderadas e assertivas, de um homem que personificou um velho sonho. Ele era uma verdadeira lição, um livro que, a abrir-se, vai correr mundo com uma mensagem de futuro, que o presente é sempre passado.
Humildemente, tem-nos sido permitido assistir a enormes momentos: vimos cair o muro de Berlim, vimos o homem chegar à lua, vimos aparecer Timor como nação, vimos, à distância de milhares de quilómetros, surgir uma nova aurora em Portugal, com o 25 de Abril, ouvimos ser eleito Kennedy, escutámos Martin Luther King, com o seu sonho estampado no rosto, vimos, agora, este extraordinário passo dado por Obama. Com tudo isto, somos "gente feliz com lágrimas".
Estas são horas de expectativa, mas de uma grande confiança: a velha e caduca ordem bilateral mundial vai acabar, com o multilateralismo a impôr-se. A cor da pele vai deixar de estar em cima da mesa, o mérito abriu o seu caminho, até a economia pode melhorar, porque desse factor depende muito o êxito do próprio Obama.
Este pequeno-grande passo veio na hora certa, atrasado, porém. Mas chegou e é isso que importa.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Em frente, Obama

Neste mundo, o edifício eleitoral está um pouco incompleto, por todo o lado. Podemos votar para as autarquias locais, o poder da minha terra, para as regionais, legislativas, presidenciais, europeias, mas falta uma peça importante e até decisiva: a escolha do Presidente dos Estados Unidos da América, esse cobertor que resguarda o próprio edifício mundial.
Como não há nada a fazer, pelo menos por enquanto, passamos o tempo a olhar para o ar, de modo a descobrir o que por ali se passa.
Com as estrelas do céu a pressagiarem a chegada de um astro novo, de uma ideia de mudança, de um caminho do reencontro com melhores auspícios gerais, é Obama que nos impele a darmos-lhe o nosso voto.
Aproveitando a maré da abertura em curso de todo o processo eleitoral, para que valha como desejo profundo, eis aqui estampada a nossa decisão: Obama, sem dúvida e sem hesitações, até para honrar a lembrança que nossas filhas nos trouxeram de NY.
Em frente, Obama

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Orçamento sem segurança

Temos em cima da mesa o novo Orçamento de Estado. Números e sugestões, programas e projectos, obras e planos, de tudo isso ali podemos ver. Mas a grande dúvida está em sabermos se a sua fiabilidade pode ser assegurada, quando, por todo o lado, fervilha um sentimento de instabilidade financeira e as marcas negras de uma economia em recessão ameaçam aparecer, forte e feio.
Com este documento, podemos respirar, porque a legislação passa a ser cumprida, mas pouco se pode dar como seguro em termos práticos. Nada do que hoje se vive tem o selo da segurança. Amanhã será outro dia, de acordo com La Palisse, só que, agora, tudo é mais imprevisível. Com as taxas de juros sempre na corda bamba, com a economia em constante sobressalto, com o desemprego e a fome a cavarem fossos cada vez mais preocupantes, com o desnível dos vencimentos a ser gritante em Portugal, com as exportações a pesarem muito menos que as importações, com os fundos de pensões em acentuada desvalorização, com a Europa e o mundo em queda livre, com o oriente a ver diminuído o seu nível de crescimento, apregoar o céu é cair no inferno, porque a mentira mata e esfola...
Com um PIDDAC quase vazio e, em muitos lados, total e ofensivamente seco, o Estado dá um péssimo sinal: foge dessa ligação às suas terras como o diabo da cruz. Depois, que não espere sol, pois só foi capaz de semear tempestades.
Com um certo ar eleitoralista nos aumentos para os funcionários públicos, aqui mostra alguma sensibilidade, assim como em medidas - pequenas e avulsas - de cariz social. Mas não resolve os problemas das empresas e das famílias, que já não são apenas aquelas que antes tinham carências, mas, de momento, se viram alargadas a um tecido social cada vez mais frágil e mais roto.
Em suma, temos Orçamento, mas o dinheiro real, vivo, sem artifícios especulativos, esse não vai aparecer, como era nosso desejo e uma necessidade absoluta. Aqui é que a porca torce o rabo, para nosso mal colectivo e individual.

sábado, 4 de outubro de 2008

Dinheiro certo e sonhado

Agora que as questões económicas andam mais nas bocas do povo, por razões que não são as melhores - muito pelo contrário! - acabamos de aprofundar os nossos conhecimentos em matéria de dinheiro e do seu aparecimento nos nossos bolsos. Numa teoria de trazer por casa, vemos que há dinheiro com suporte real e um outro que nasce do sonho dos seus mentores, que o inventam a torto e a direito.
No primeiro caso, a moeda tem valor por si mesma, estando coberta por bens seguros. No segundo, não passa de uma miragem, suportada por " produtos " que voam à velocidade da luz: hoje podem ser apetecíveis e com força capaz de se segurarem, enquanto amanhã desaparecem sem deixar rasto.
Ou seja, quando se avalia a economia em função daquilo que não tem existência física, mais cedo ou mais tarde, o desastre virá a acontecer. Faz-nos lembrar uma espécie de conto do vigário em que se propõe a venda de prédios em papel, não correspondendo estes a qualquer realidade.
Ao que parece foi isto que aconteceu por esta altura, negra, quase trágica: sem alicerces, sem pedras, sem casas, sem licenças, sem saber de onde viria a contrapartida, engendraram-se miragens financeiras, alienaram-se bolas de sabão, negociou-se o visível e o invisível e o dinheiro, estendido por elásticos bem frágeis, não pôde aparecer, na altura em que dele se precisou, a sério.
Sem capacidade de mostrar aquilo que foi " oferecido" como o futuro dos futuros, nem este se conseguiu, nem o presente deu as uvas que era suposto ver nas videiras. Sem matéria-prima, agarrou-se em água e esperou-se pelo milagre, mas, desta vez, este ficou pelo caminho.
Agora, sem moeda e sem bens, todos gritam e ninguém tem razão, dando-se lugar às falências em cadeia, como se o mundo, todo ele, nesta globalização de dois bicos, fosse um imenso castelo de cartas, que se desmorona com um pequeno sopro. Para tentar impedir esta derrocada, eis que, no local da origem de toda esta borrasca, surge o programa " salvador". Oxalá, então, que da América venham as uvas, que a água, que se pretendia apresentar como vinho, até existe, mas, neste caso, é moeda falsa, é fumo sem fogo, é casa de cartão, que o vento leva para longe, de onde nunca mais voltará.
Talvez seja o tempo ideal para se repensar todo o sistema financeiro, dando-lhe solidez, credibilidade e segurança. Isto está mau demais para se continuar na mesma cepa torta.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Tarde de OutonoA

Aqui postado à varanda, a olhar a serra, que me traz boas ondas, ponho-me a pensar naquilo que se passa do outro lado do Atlântico, onde, no reino dos reinos, este Outono vai de mal a pior, porque desabam todos os prédios financeiros e, talvez, um efeito de "tsunami" venha por aí fora, submergindo tudo e todos...
Numa terra que tem sido uma espécie de sonho para toda a colher, afinal nem sempre é assim: quando os homens não querem, os deuses escrevem outras escrituras e o terramoto aparece. Foi assim em 1929, esperando-se que essa trágica história se não repita. Então, a banca desfez-se, as poupanças eclipsaram-se, o mundo ficou depenado e a fome, o desemprego - e, mais tarde, a guerra - ditaram as suas leis.
Hoje, os representantes do povo ainda dormem sobre a derrota da proposta presidencial, que, dizem, traria a bonança, ou, pelo menos, a anestesia. Mas outras esferas vieram a impor-se, porque os tempos futuros são de eleições e os frios cálculos não deixam de suplantar tudo aquilo que, até, poderia ser um poço de virtudes, um pano quente nas dores financeiras que a América sente e o mundo, por inteiro, muito teme.
Nesta roda global, nada fica de fora.
Da China - que talvez venha a lucrar com tudo isto, por ser credora líquida dos EUA - nem o leite foge à regra de uma escalada mundial de triste memória. Da América, é o que se vê. Da Europa, mesmo da União, por mais que se esforce o presidente francês, ainda pouco se passa de uma manta de retalhos: todos falam e nenhuma solução de fundo e em conjunto se vê surgir.
Do mundo, que é de todos nós, pouco se espera de bom, por este andar.
Vale-me a minha varanda, a minha serra e a água que corre - e essa nunca pára - nos regatos da minha aldeia. Até quando? Essa é que é a grande questão.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Alerta, emigrantes

Por esse mundo fora, andam, em luta árdua e afirmação de portugalidade, milhões de compatriotas nossos, talvez a rondar um número igual a metade da população que vive em território nacional. Sendo muitos, são também dos melhores. Merecem-nos, por isso e por uma questão de humanismo militante, o maior dos respeitos e considerações.
Quem conhece essa realidade, dura, mas real, de viver com o coração na terra-mãe e o trabalho em cantos tão distantes, bem pode avaliar o que para essa gente representa a ligação às suas origens.
Votar, ou poder fazê-lo, nas eleições diversas, nomeadamente nas legislativas, é um imperativo que devemos assumir. Mas escrevê-lo nos papéis e recusá-lo na prática não passa de um tremendo e grosseiro embuste, uma espécie de dar com uma mão e tirar com a outra.
O que se está a propôr, em sede parlamentar, por inciativa do PS, é uma grossa ameaça à possibilidade de exercer esse dever de cidadania, quando, por um qualquer capricho, se pretende retirar o voto por correspondência. Numa altura em que os consulados dimuíram e as distâncias aumentaram, em relação aos locais de residência, esta ideia bizarra é mais um rude golpe que se desfere sobre quem, por força do destino, já arrasta a cruz de saber que o seu Portugal, lá longe, se prepara para ainda os desviar mais da sua terra.
No momento em que se espalham, em velocidade-luz, as novas tecnologias, ao invés de se cortar este direito, com mais de trinta anos, dever-se-ia enveredar pelo acentuar destes métodos, para alargar o campo dos recenseados e da participação eleitoral.
Assim, em vez de se pensar em retirar esta possibilidade de exercício do voto, ainda que por correspondência, o caminho deveria ter um sentido diferente: ampliar o seu uso, por novas vias.
Mas não é isso que está a acontecer. Se esta mensagem ainda for a tempo, que ela se associe a todos os gritos que visam evitar mais um erro, mais uma ofensa aos nossos emigrantes.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Enfim, uma prenda

Habituados a andar sempre no banco de trás de todos os transportes, quando se fala de estatísticas, agora acabámos de receber uma boa notícia, que serve, um pouco, para atenuar as ondas de pessimismo que têm varrido as nossas costas.
Isto de termos ganho um galardão europeu, uma espécie de " óscar " do turismo de bitola caseira, enche-nos de orgulho, o que não deixa de ser uma boa ideia. Com efeito, a votação de 167000 profissionais do sector escolheu Portugal como o melhor da Europa, quanto a Organismos Oficiais de divulgação dessa importante área económica, social e patrimonial.
Quando são escassas as referências positivas a nosso respeito, acolher este troféu vem mesmo a calhar. Se a natureza nos dotou de graças sem fim, em paisagem, gastronomia, património, clima, bons serviços e instalações, este feito divulgador, agora premiado, aparece como a cereja em cima de um bolo, que é sempre apetecível.
Com isto, até esquecemos que as finanças americanas estão de rastos e que os reflexos dessa crise aqui chegarão, assim como tudo aquilo que derruba mais do que constrói.
Valha-nos, ao menos, esta alegria, que implica uma acrescida responsabilidade: trazer os turistas, sobretudo aqueles que são capazes de gerar riqueza, porque de diplomas não se vive, por mais paredes que venham a emoldurar. Sendo um estímulo, precisam de despoletar acção e muita acção.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Jogos, venham outros

Passada que foi a fase e a febre dos Jogos Olímpicos, importa que, serenamente, saibamos tirar conclusões e não andar para aí com ar cabisbaixo, carrancudos, como se ali se tivesse assistido ao traçar do nosso próprio destino. Nada disso. Tratou-se apenas de um alto momento de desporto, com uma tradição que sabe bem apreciar e reter, para nunca a perder. Foi só isto que se viveu em Pequim. Nada mais, a não ser um certo gosto em mostrar, às vezes, mais olhos que barriga, ou até gato por lebre...
Quanto a Portugal, é certo que ficamos um pouco desiludidos com as nossas prestações. Mas, ao fim e ao cabo, nem ficámos atrás de outras edições e ressuscitámos mesmo a conquista do ouro, somando agora quatro desses saborosos troféus e glórias, um feito que, em nossa casa, é de uma raridade já conhecida... Querer outros resultados é legítimo e não deixa de ser até uma chamada de atenção para tempos futuros, mas alguma e sábia ponderação é urgente e necessária...
Afinal, só 52 países, em 205 representações, lograram vir de amarelo vestido, alguns carregados de fatos, outros com bem menos roupa, isso é certo. E só 81 se viram com uma qualquer medalha ao peito.
Por outro lado, o desnível populacional e de rendimento per capita ( PIB ) é medonho. Assim a China, para cem medalhas, oferece uma população de mais de mil e trezentos mil milhões de habitantes, com um PIB de 6200 dólares, os EUA, com 110 troféus, partem com cerca de trezentos milhões de pessoas e 42000 dólares de PIB, mas já a Jamaica, com apenas 2 milhões e oitocentas mil almas e um fraco PIB de 4200 dólares, foi capaz de arrecadar 11 círculos metálicos.
Impressionante são as montras do Quénia e da Etiópia, que, por entre uma miséria de PIB, mormente 1200 e 800 dólares, respectivamente, mostraram as proezas que de todos são conhecidas.
À nossa escala, por assim dizer, ficámos muito distantes da Hungria ( 9900000/16100), da Noruega ( 4700000/42400), de Cuba ( 11400000/3300), da República Checa e da Bielorrússia, mas à frente, por exemplo, da Índia, da Suécia, da Áustria, da Irlanda, da Venezuela, isto para só citar alguns casos, como é óbvio.
Não correram bem os Jogos de Pequim? Claro que não, mas não cai, por isso, o Carmo e a Trindade. Pior são os outros indicadores que atormentam e flagelam os nossos recentes dias, para não nos deixar, aí sim, despreocupados.
Jogos? Em 2012, em Londres, há mais.
Mas sossego, calma e tranquilidade são factores que escasseiam e nos põem com os nervos em franja. Esses é que nos tiram o sono, não os tropeções e as quedas dadas em matéria de desporto, que tem de ser sempre relativizado.
Antes de terminar, é de bom som e de bom tom que enderecemos os nossos vivos parabéns, apesar de tudo, aos nossos briosos atletas, sobretudo Nelson Évora e Vanessa Fernandes, sem esquecer todos os outros, mesmo aqueles que tiveram grande azar ou escorregaram no piso molhado de um momento que nunca se sabe como vai ser vivido. Precisamente porque só assim é que é desporto.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Lisboa sem gente

Esta cidade de luz e cor, cheia de encantos mil, a nossa Lisboa mostra em Agosto uma cara diferente. Sem grande movimento, aquilo é um mimo para se andar, para a contemplar e a absorver.
Naquele dia quinze, o tempo de todas as festas e saídas, a capital resplandece de encanto. Consegue mesmo dar-nos a ideia do país em equilíbrio, quando se vê despida da carga de gente a mais, de carros aos montes e aos pontapés, porque se despejou para o Minho, para as Beiras, para o Alentejo, para Trás-os-Montes, que o Algarve, esse, é um destino de uma outra índole, por cheirar a turismo de rompantes, de verões atulhados de cotovelos e de sol, muito sol.
Naquele dia, só as redondezas do Estádio da Luz nos diziam que, afinal, estávamos mesmo em Lisboa... Quanto aos demais espaços, o milagre do sossego fora conseguido.
Com a cidade dessa forma, Portugal via-se povoado como deve ser: todo ele a mostrar-se uma terra, afinal, com direito a viver um tempo digno, sem atropelos, sem montanhas descontroladas de povo sem alma, por andar num corre-corre, mas distribuído de norte a sul e de leste a oeste, isto é, sem as assimetrias que tanto o condenam ao desnvolvimento desequilibrado e vesgo.
Com Lisboa mais magra, com um corpo apetecível, por também não ser esquelético, a nação, no seu todo, pelo contrário, engorda mais um pouco, oferecendo um aspecto bem mais agradável. Despovoa-se a capital, ganha o reino, no seu todo...
Eusébio, nesse dia quinze, era um HOMEM feliz: numa Lisboa nova, a de Agosto, a Luz dava-lhe mais um pouco do muito que merece.
Na China, lá muito longe, outros portugueses davam ao mundo o pouco ou o muito que são capazes de pôr em prática. Mas disso falaremos mais tarde, quando as férias estiverem a terminar.
Lisboa, em quinze de Agosto, entrou-nos mais no coração, onde tem sempre um lugar marcado, aliás.

sábado, 2 de agosto de 2008

Açores: meio tempo no canal

Terras de encanto, os Açores, um paraíso vivo em pleno Atlântico, converteram-se nos últimos dias em foco de aparente polémica: uma comunicação oficial, cheia de carácter presidencial e de uma acrescida pompa, oriunda da voz escutada do Professor Cavaco Silva, em pose funcional, colocou estas ilhas numa outra ordem dos seus dias...
Sendo este um espaço de que muito se fala pelo seu anticiclone e pela sua requintada beleza, desta vez mereceu honras de um outro cenário: o boletim meteorológico foi bem diferente, trazendo uma carga de política e de muitos trabalhos de adivinhado gabinete.
Com o desejo de avançar muito para além daquilo que é seu espólio conseguido, quiseram as autoridades regionais vir a serem dotadas de um documento que lhes enchesse muito melhor a barriga esfomeada. Atirado para a fogueira o novo projecto de estatuto, nem os deputados nacionais nele descobriram sinais de eventual tempestade. "Anjinhos" em matéria de autonomia, bateram-lhe palmas e, em festa colectiva, lá o deixaram passar.
Atento estava Sua Excelência o Senhor Presidente da República, endossando esse atrevido documento para o douto Tribunal Constitucional. Dada uma olhadela pelo seu conteúdo, logo se detectaram umas tantas falhas. Vendo ainda muito mais do que estas, o Professor Cavaco Silva entendeu vir às televisões, em hora nobre e de grandes audiências, mostrar aquilo que poderia caber numa carta a enviar à Assembleia da República. Porque não foi essa a leitura, a rabecada saltou de cima para baixo, depois de um dia de múltiplas cogitações e outras tantas inquietações nacionais.
Dito e feito. Com o ciclone à solta, agora é um ver-se-te-avias em matéria de discussão e especulação.
Se somos de opinião que aquelas posturas eram uma forma de minar as competências presidenciais e de criar desníveis institucionais, não estamos à altura de perceber a sonoridade e solenidade deste " Alerta", mas não nos abespinhamos com o seu aparecimento, porque nele descobrimos um direito inquestionável ao seu uso. Só o vemos como fato sem medida para as nossas modas, mas essa é outra conversa...

domingo, 13 de julho de 2008

Justiça - 2

No seguimento da anterior consideração, em que se tocou numa sessão parlamentar especial, a do Estado da Nação, convém retomá-la, para acrescentar mais umas achegas, de modo a dar o seu a seu dono: quando falámos em "olhos nos olhos", obviamente que nos devíamos referir a Paulo Rangel, seu autor, tendo-o feito com Francisdco Louçã como pano de fundo.
Deveu-se esta confusão ao mediatismo deste deputado do BE, que personificou um dos momentos mais quentes do debate, ficando na sombra, aqui nestas linhas -entenda-se - o líder da bancada parlamentar do PSD. Retoma-se agora este assunto, com esta devida e justa correcção, que se impõe, até como forma de credibilizar esta forma de comunicação, tão menosprezada na praça pública.
A este propósito, manifestamos, de imediato, a nossa anuência à criação de uma eventual associação do sector, que venha com a intenção de valorizar a criação daqueles que aqui estão por bem, como é de enfatizar-se. Contem connosco.

sábado, 12 de julho de 2008

A justiça ( ex ou in) justa

Se o Bastonário das Ordem dos Advogados diz o que diz da justiça portuguesa, que dela pensarão os comuns mortais, aqueles que são a maioria de todos nós?
Quando tudo isto se ouve à descarada, olhos nos olhos, como acentuou Francisco Louçã, no Parlamento, mas a propósito de um outro tema, somos levados a concluir que esta carruagem fundamental do nosso dia a dia está prestes a descarrilar, arrastando com ela, nessa perigosa descida ao abismo, todo o comboio.
Ao vermos com desconfiança esta procissão que, ao que parece, ainda vai no adro, não ficamos lá muito descansados, porque estamos a falar de um dos mais importantes pilares da nossa vida colectiva. Assim, nem as palavras do Procurador Geral da República nos trouxeram o desejado sossego, pois aquele discurso saiu de quem saiu(...) e para toda a gente escutar, ou mesmo interiorizar, o que é um problema bem maior.
Perante este cenário, que interesse teve a discussão do Estado da Nação, que se esqueceu de abordar estas questões fundamentais, perdendo-se por um diálogo sem conversa nem silêncios, antes se prolongando por alaridos sem fim?
Com um esgar de espanto, que estranha terra é esta, que se perde, vezes demais, com os dedos espetados em plena discussão ao mais alto nível e não trata de falar de si, daquilo que é verdadeiramente sério e importante? Que nos valem as sonoras ninharias, anunciadas com pompa e festa, em redor de pequenos trocos, pagos com a sopa do Robim dos Bosques sobre as petrolíferas, ainda que isto mereça toda a nossa aprovação, comparado com este quadro negro que a (ex ou in)justiça nos apresenta?
De que vale tudo isso, se não temos quem nos defenda, quem esteja ao nosso lado, sempre que nos sintamos ofendidos? De que vale, Senhor?

terça-feira, 8 de julho de 2008

Códigos

Agora, mesmo em tempo de férias, é tempo de nos debruçarmos sobre o Código da Estrada, quando se preparam alterações, ainda que ligeiras, ao seu conteúdo. Tudo o que se venha a fazer em prol da segurança de todos e de cada um de nós, obviamente, vem por bem e, como tal, deve ser aceite com palmas e com interesse.
As propaladas mudanças parecem-nos adequadas e justas, mas não estão isentas de críticas. À semelhança com o que acontece com o sector da educação, importa distinguir-se, claramente, aquilo que é a pequena fuga à norma e os aspectos substanciais. Assim, não cremos que meter no mesmo saco o esquecimento do cinto e uma manobra perigosa seja o caminho certo. Mas isto é apenas a nossa opinião e nada mais do que isso.
Indo um pouco mais longe, temos de discordar, aberta e frontalmente, com a intenção, como se viu na imprensa, de considerar a passagem de um traço contínuo uma falta muito grave e a circulação em contra-mão se ficar só com a classificação de grave.
Se o primeiro caso até pode acontecer quase por obrigação, em virtude de um impedimento qualquer e, às vezes, nem provoca algo de perigo, a entrada na via contrária assusta e tem implícito um ilícito bem perigoso, porque, a qualquer momento, o desastre espreita com grande possibilidade de carga eventualmente letal, ou perto disso.
Desta forma, em geral, este documento deve avançar e depressa, mas tem de ser mais burilado, para o seu aperfeiçoamento, visando um melhor campo se segurança na estrada, onde Portugal, também aqui, se encontra na cauda da nossa Europa

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Socorro

Ao passarem as viaturas dos Bombeiros, sinto que, naquelas casas de bem-fazer, nem tudo vai como convém. Habituados a logo saírem, quando alguém se sente aflito e precisa de socorro, agora chegou a sua vez de nos apelarem ao coração, porque são eles que precisam de ajuda, a ponto de encetarem uma campanha com esse fim.
Sabendo que este gesto carrega um pouco da dor que lhes vai na alma, por falta de apoios e por verem os combustíveis a encaminhá-los para o lodaçal, não esquecemos que o seu mal é o nosso mal, sobretudo agora que o Verão está a aquecer. Pedimos, por isso, que as suas vozes sejam ouvidas, tão grande é o seu mérito.
Mas, para que tudo isto seja ainda mais negro, quem deve gritar por socorro somos todos nós, que a vida anda de mal para pior. Para lhe fazer frente, quer o governo deitar mão aos dinheiros alheios, indo buscar o que lhe falta à algibeira das autarquias, que a têm já bastante depenada. Assim, será fácil mostrar obra, mas à custa de quem também se vê na obrigação de estender a mão à caridade.
Com este falso " Robim dos Bosques", por se tratar de pobres a tirarem a pobres, não se chega a levar a carta a Garcia, nem para lá se caminha. Assim sendo, só as falsas soluções nos calham na rifa da tristeza em que vivemos.
Enquanto isto acontece, o Parlamento dá uma imagem de si mesmo que não deixa de nos envergonhar, quase como o Conselho de Justiça da FPF. Agora, assistimos a uma votação incrível: um partido propõe uma emenda e logo a vê rejeitada; um outro pega nela, sem uma vírgula a mais ou a menos, e tem o descaramento de a aprovar. Se isto não é brincar com coisas sérias, que será então?
Sem fazer destes desmandos a regra que se deve seguir, partamos para outras vias, que estas já passaram à história, ou, no mínimo, para aí deveriam ir; isto é, para o baú das más recordações, até para ver se com elas, mesmo recusáveis, aprendemos as boas lições, que tardam em chegar.
Venham elas, já!

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Os meus incómodos

Neste mundo, parece que todos nascemos para carregar com pesadelos e incómodos, aqueles mais pesados que estes, como se tivéssemos de sofrer em cada minuto que passa. De momento, a natureza social e os poderes públicos, de dentro e de fora de portas, teimam em não nos deixar sossegar. A eles, junta-se toda a categoria de especuladores, de criadores de riqueza fácil e desconchavada, nada e criada em reinos fora-de-lei, como acontece com os "off-shores", ou lá que é, de modo a tornar doloroso o nosso dia a dia.
Isto já não andava nada bem com os combustíveis e não há meio de estancar o apetite pelo adivinhado descalabro. Agora até a EDP, a santa de um altar só, chega com uma ideia que nem ao diabo lembra, que isto de fazer pagar aos consumidores, sérios, honestos, cumpridores, o gosto pela calotice de quem esquece os seus deveres é matéria de nos deixar sem fôlego, uma vergonha de todo o tamanho. Como é que alguém deste calibre se atreve a atirar para o ar tanto despudor? Quem, meu Deus?
Só um ser sem escrúpulos, que agora nos faz desconfiar do facto de já podermos estar, pela calada, a suportar tais custos - longe vá o agoiro! - seria capaz de alvitrar tão monstruosa leviandade. Se isto acontecer, aqui vai o antídoto necessário: se cada um deixar de pagar, alguém tem de fechar a porta e já estamos a adivinhar quem vai ser. Perante o incumprimento generalizado, só uma entidade terá força para o fazer: o Estado, como é óbvio, isto é, cada um e todos nós, para mal geral e incontrolável.
Para evitar a bancarrota, ponha-se de lado esta calinada, que, ao falarmos dela, até nos dá vontade de sermos os primeiros a pôr em prática o preceito do mau pagador, que queremos evitar a todo o custo.
Avançando um pouco mais, também é incómodo o sentimento de sabermos que os exames pouco avaliam, de verdade, que os juízes não estão a salvo de ofensas físicas, que os juros vão dar mais um salto, que o investimento pouco ou nada cresce, que o clima caminha para tempos difíceis, também ele, que o Ministro da Agricultura não vê a razão dos agricultores, que o pavilhão do comício do PS, no Algarve, sofreu a investida de alguns energúmenos, aos tiros, que a UE está sem respostas para o problema nascido na Irlanda.
Bom, muito bom mesmo,é sabermos que ainda há quem possa passar férias, até em Nova Iorque. Que, aí e noutros lados todos, sejam felizes, porque, por aqui, isto também vai ter de mudar, um dia ....

Os meus incómodos

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Pão ou obra

Estamos todos entretidos com a discussão acerca da polémica entre construir e construir obras públicas ou deixá-las de lado e começar a distribuir pão a quem dele precisa, como, infelizmente, é o caso de muitos portugueses. Mas isto é sério e não pode ser visto como um devaneio. Efectivamente, é chegada a hora de nos sentarmos à mesa e repensar tudo aquilo que há a fazer.
Pensamos nós que não se deve colocar aqui uma espécie de alternativa, porque uma e outra destas funções têm de ser levadas a cabo. Atender à emergência social é um imperativo de consciência e um dever de solidariedade e ainda bem que este assunto - que se impunha - veio à tona de água.
Mas descurar o equilíbrio a atingir em matéria de investimento público será grossa asneira e um desperdício que não ajuda a ninguém. Ouçamos : até os financiamentos obrigam a que assim seja. As verbas que, por hipótese, nos chegam para o aeroporto são alocadas dessa forma. Não há meio de as desviarmos e, se as não utilizarmos, ei-las que partem num sonoro adeus...
Assim sendo, temos de combinar o apoio aos carenciados e os trabalhos a fazer. Estes, se bem organizados, podem ser a cana que se põe na mão de quem dela carece, em vez de se lhe dar o peixe, que só se come uma vez.
Nem todos os projectos serão prioritários. Em tese é sempre assim. Mas, quando se desce ao pormenor, abundam os problemas e as queixas de quem se vê posto à margem desses processos. Falemos por nós mesmos: hoje, temos o A25 à porta. Ontem, assim não acontecia. Se, por acaso, este estivesse em perigo, não deixaríamos de berrar por todo o lado, atitude que tomaremos se nos tirarem a Barragem de Ribeiradio.
Desta forma, obra a obra, vamos apreciá-las, elencá-las e passar às decisões. Umas merecem uma resposta imediata, outras, eventualmente, podem esperar e há mesmo algumas que devem ser anuladas. Quais? Talvez parte do TGV e um ou outro troço de auto-estrada, menos o nosso, claro ...
Agora é tempo de dar pão. Urgentemente, que a crise está instalada. Mas é também hora de Portugal não perder a oportunidade de agarrar os meios que, por exemplo, ainda vêm de Bruxelas e com eles partir para os investimentos que se mostram necessários.
Pão ou obra? Não. Pão e obra, sim. Um "e" e um "ou" fazem toda a diferença. Mas temos obrigação, todos, de saber aquilo que é um bom português.
Esperamos que este seja o raciocínio a seguir, para bem daqueles que, neste momento, têm fome e de um país, que ainda se não pode dar ao luxo de atirar aviões pela janela fora, ou outros equipamentos também de primeira necessidade.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

A saudade dos comboios

Na zona em que vivo cheira um pouco ao velho comboio do Vale do Vouga, que fazia circular pessoas, que transportava tudo o que era mercadoria, que nos regalava com notícias ou nos punha a chorar, que unia o mar e a serra, que cortava a meio a distância entre a Barra e Vilar Formoso. Contam muitas vozes que também lhe cabia uma parte no despoletar dos incêndios de todos os verões - os do seu tempo e os actuais, pelo que pode disso estar absolvido - e que nem sempre andava a horas.
Dele guardo, acima de tudo, a alegria de conhecer novos mundos, mesmo que a camisa chegasse ao destino com os colarinhos pintados de preto, cor de um carvão que o punha a marchar sobre os estreitos carris. Dele retenho o ar de relógio, a ideia de mil lágrimas, ora de alegrias, ora de tristezas, o aspecto de idas e vindas, para terras de França e Aragança, para os confins de uma África a ferro e fogo, para uma Lisboa, que a todos atraía, para lugares e recantos que, pelo comboio, nos entravam pela alma dentro.
Mas um dia, depois de mil anunciadas mortes, abeirou-se do caixão e partiu para sempre. Aquilo foi uma dor de alma, mas nada havia a fazer.
Hoje, quando vejo que a energia petrolífera é um barril de pólvora que tudo pode aniquilar, mais me vem à memória esse querido meio de transporte, que os homens destes dias acabaram por matar de morte violenta e difícil de perdoar. Foi esse um passo que hoje se está a pagar com língua de palmo.
A dependência dos meios rodoviários, como agora se viu, deixa-nos a pensar que a ferrovia podia e devia ser a alternativa, sempre à mão de semear. Mas o comboio, que ontem fugiu, um dia tem de voltar.
Sem que defendamos o aparecimento da alta velocidade como o saudável milagre, apetece-nos gritar por comboios modernos, de médio e normal andamento, para que voltem ao nosso convívio e serviço. A reposição das velhas linhas, o lançamento de outras novas são vias que, mais cedo ou mais tarde, teremos de trilhar.
A crise, que está em banho-maria, por agora, prova isto e muito mais.
Entender estes sinais é que é boa governação. Tudo o mais é uma espécie de gestão em tempo de nada decidir, um tempo de empatas que nada adiantam.
Quando estas matérias nos apoquentam, até a passagem aos quartos-de-final da nossa selecção nos não alegra como devia. E, face àquilo que os camionistas demonstraram, a ida de Scolari para o Chelsea é um pequenino caso, um não-acontecimento. Tudo o mais que se venha a dizer de pouco importa, tendo em conta a gravidade dos dias que estamos a viver.
Mas, no meio disto tudo, mais comboios vinham mesmo a calhar.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Dia de Camões

Reina para aí a polémica sobre o significado e alcance deste dia especial. Para nós será sempre o relembrar da memória de Camões, o poeta dos poetas, a que se associa o Dia de Portugal e das Comunidades. Isso e apenas isso. Qualquer extrapolação a mais só vem pôr areia na nossa engrenagem, que já anda pelas ruas da amargura, por muitos outros motivos que assolam o nosso dia a dia, sobretudo aqueles que se prendem com a actual carestia e aumento do custo de vida.
Quando na rua cheira a esturro, em Viana do Castelo fala-se na diáspora, na coragem de quem partiu e fez tudo para honrar a terra que os viu nascer, enquanto se tecem muitas outras considerações. Um qualquer deslize, uma qualquer escorregadela que se queira empolar só são isso e apenas isso, porque ninguém ali pretendeu fazer recuar a história para simbolismos que há muito tempo desapareceram.
Enfatizar o que une é um imperativo das nossas consciências. Agarrar em fantasmas é um desvio que a ninguém beneficia.
Se ali houve um descuido, que este seja perdoado e não atirado para a liça das polémicas estéreis, quando outras preocupações estão na nossa agenda social e mediática.
Hoje é Dia de Portugal e das Comunidades. Nada mais do que isso. E é muito, porque o seu patrono tem um lugar de enorme relevo na nossa história. Camões merece que o estimemos e que, com ele, percorramos as avenidas do nosso quotidiano, deixando de lado os becos e os atalhos.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Força Portugal

Estamos em maré de dar passos, no futebol, que nos podem trazer grandes alegrias: a bitola está alta e das bandas da Suissa e da Áustria fala-se em trazer a famosa taça. Que assim seja!Por aqui todos ficamos à espera que isso venha a acontecer, até para esquecer a desilusão caseira de 2004 e as vergonhas de Saltillo e da Coreia. Desta vez, para reabilitar essas imagens e as manchas que, por agora, circulam nos corredores da UEFA, bem podemos contar com as nossas forças, que são muitas: qualidade há, assim se viva a humildade necessária para a pôr em evidência.
Amanhã é dado o pontapé de saída. Boa viagem, que o apoio, nosso e daqueles bravos e amigos emigrantes, não vai faltar.
Se isto nos agrada sobremaneira, queremos acrescentar que, clubisticamente falando, nos incomodam as chagas do futebol, rejeitando que o acesso à Liga dos Campeões nos venha a calhar por arranjos diversos da competição pura, com bola e em campo. Este é que é o lugar de todas as decisões, nunca se devendo compaginar com esperanças caídas por desgraça de outros, como para aí se vai bisbilhotando. Sem tecer juízos de valor, contar connosco deve ser a essência deste desporto. Tudo aquilo que vier a mais cheira a mofo e a bolor.
Mas estas são horas de Selecção, pelo que nela concentramos as nossas esperanças, sem pensar, porém, em milagres, que estes só acontecem a quem fizer alguma coisa por eles e Portugal não vai faltar a essa chamada. Que assim seja! Força, rapazes!

terça-feira, 3 de junho de 2008

Boas e más notícias

Esta minha terra, afinal, consegue mostrar ao próprio governo que os combustíveis bem podem reduzir o seu preço, uma lição - mais uma - que a MARTIFER está a dar. Ao anunciar que, pela mistura de biodíesel, está em condições de reduzir os montantes a pagar pelo consumidor, indica, serenamente, que isto, como se vê, tem cura.
Eis um recado de bom gosto e que se recebe com inteiro agrado. Melhor que aquele que nos veio da Autoridade da Concorrência, que nada de novo nos trouxe, por falta de dados, ou, assumamo-lo, porque, em matéria de cartelização, se vive no melhor dos mundos, sem mácula e sem maldade. Se assim é, tanto melhor. Ser sério, acima de tudo, é uma virtude e um imperativo ético, que, pelos vistos, reina também no mundo dos petróleos. Mas isto de a refinação pesar 75 a 80% no cabaz dos preços e estar toda nas mãos da Galp não nos deixa descansados, como é óbvio.
Há quem diga que é aí que está o cerne da questão, mas são mais as teses que as nozes e, assim sendo, de nada adianta conjecturar o que quer que seja. Esperemos outros ventos, que estes últimos de pouco nos valem.
Bom, bom a valer, será o contributo dado pela citada Martifer, a puxar para baixo e a deixar o próprio governo com uma batata quente nas mãos : agora, ou ata, ou desata.
Só que o seu congelamento dos passes foi mais um tiro pela culatra. Quando olhou apenas parcialmente para Lisboa e para o Porto, veio dizer-nos que isto de equidade é uma treta e a governação para todos não passa de uma miragem. Se se quiser redimir de mais uma afronta, muito tem a fazer: estender esta medida a todo o território nacional e arranjar mais ideias e acções estruturais. Se o não fizer, deixará que a miséria e a pobreza venham a ser os patinhos feios de um país que não descola, que não pula, que não avança.
Com um resultado de 1(um) para a Martifer e 0(zero) para quem manda em Lisboa, por aqui nos ficamos.

domingo, 1 de junho de 2008

De Va V

A nossa selecção, depois de ter engradecido Viseu com quinze dias de euforia e alguns sinais de falta de empatia, por parte dos principais protagonistas, já está na Suissa. Agora, Viena é o objectivo e o único rumo a prosseguir.
Por cá e por lá, onde Portugal ainda é mais sentido, com alma e emoção, todos desejamos o melhor: trazer a Taça, a alegria das alegrias, que as nossas tristezas assim se pagarão...

quinta-feira, 29 de maio de 2008

A espera

Está o país a aguardar o desfecho daquilo que se vai passar no PSD, por ocasião de mais umas eleições, estas também directas. Cansados de se não ver grandes alternativas, todos nós esperamos que, agora, se possa conseguir essa possibilidade. Portugal agradece, como é evidente.
Sem uma oposição credível, não há democracia que se preze. Não ganha o governo, nem os cidadãos podem estar descansados, quanto ao futuro, sobretudo.
Assim, no próximo sábado, talvez um bom fumo branco apareça na chaminé dos nossos ideais e das nossas esperanças, porque são graves, de uma forma cada vez mais aguda, os tempos que vivemos. Este facto, associado a muitos outros, obriga a que se saiba escolher, a sério.
Com várias propostas em cima da mesa, uma delas parece mais sólida que as restantes: oferece credibilidade, reforça contornos de social democracia, acerca-se dos necessitados e das camadas mais desfavorecidas, evidencia firmeza e serenidade, sabe dizer sim e não, mostra-se à altura de uma oposição que caldeia crítica construtiva com aplauso para as boas acções.
Tem idade e experiência, possuindo, também por isso, uma faceta especial: aquela que nos faz acreditar na força das convicções. Por paradoxal que pareça, é ali que está o futuro, o nosso futuro.

terça-feira, 27 de maio de 2008

O protesto das vacas

Nesta crise petrolífera, já não são apenas os seres humanos que berram por todo o lado, impotentes face aos efeitos dos preços altos do gasóleo e da gasolina, que lhes minam o ânimo e destroem a esperança. Também o gado bovino, cavalar e asinino começa a elaborar um caderno reivindicativo com os seus protestos, porque estes animais estão a ser chamados para trabalhos de que se tinham desabituado desde há muitos anos.
Com um sol tão negro, ei-lo que chega a todos, sem apelo nem agravo, desde as casas aos estábulos, ou mais popularmente, aos currais. Se o problema se espalha desta maneira, um pouco por todo o lado e situações, são verdadeiramente difíceis os tempos que estamos a atravessar.
Quando as vacas se não calam, juntando a sua à nossa voz, é certo que os contornos de tudo isto exigem medidas claras, decididas e eficazes : fechar os olhos é o pior dos caminhos.
Não sabemos o que fazer, mas somos de opinião que se não pode assobiar para o lado, por temermos que o desastre seja completo. Por ironia do destino, esta fase arrasadora abeira-se de todos nós no momento em que mais se apregoa a necessidade de se encararem de frente as questões ambientais.
Se o petróleo nos está a fazer estas mossas, talvez mais por acção dos homens que por sua culpa enquanto produto, é hora de se procurarem outras soluções. Mas, como isso demora imenso tempo, não podemos ficar à espera : antes da morte, é urgente actuar e isso só os governantes o podem fazer, que as leis do mercado se estão a revelar um desastre, uma catástrofe de dimensões incalculáveis.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Um cigarro, um cigarro apenas

Entre gestos pequenos( que podem ter até grande impacto) e aquilo que é verdadeiramente importante, optamos sempre por acolher esta opção em detrimento daquelas minudências.
Quando se morre aos milhares, em Nyanmar, por causa de um ciclone e aí se impede, governamentalmente, o socorro, quando, na China, se morre também aos milhares, em virtude de um terramoto, mas com pleno acesso internacional, em termos de apoios, quando, em Portugal, se morre aos bocadinhos, devido a um crescente mal estar e a uma acentuada carestia de vida, tendo como base os aumentos constantes e os cortes nos rendimentos, andamos todos entretidos com a bufarada de um cigarro, que o Primeiro-Ministro se lembrou de inalar.
Achamos que este facto, já confessado e com mostras de arrependimento, não pode passar em branco. Certo. Mas fazer disto um cavalo de batalha política, numa altura em que Portugal revê em baixa toda as suas finanças e economia, é arreliadora miopia.
Tanto mais grave isto é, se pensarmos que o próprio partido do arco do governo, também ele carregado de mazelas e problemas, que deveria estar atento às causas maiores, se entretém a invocar um cigarro, um cigarro apenas. É pena que assim seja, mas esta é a política que temos, a tal que desvia os jovens e espanta os mais idosos, por nela se não reverem.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Bombeiros, obrigado

Quando se está a entrar numa fase oficial de defesa da floresta, pondo em cima da mesa uma série de dispositivos e meios, uma palavra especial vem-nos logo à cabeça: Bombeiros. São estes homens e mulheres, rapazes e raparigas, membros do corpo activo e dirigentes, que estão na base de todo este edifício institucional, sobretudo na mais querida das suas vertentes - o voluntariado.
Disposta a tudo dar, em qualquer situação de entrega ao outro, gratuitamente e de uma forma verdadeiramente altruísta, esta gente oferece-nos o maior exemplo da mais pura cidadania, aquela que passa( se, no limite, tal for necessário) pela entrega total e absoluta, oferecendo a própria vida, como, infelizmente, já tem acontecido.
Hoje, fala-se numa nova etapa temporal, definida a nível superior, mas os Bombeiros não precisam de saber isso para arrancarem, sempre e com toda a sua dedicação, mal soa a chamada. Quase sem meios, cheios de deficiências de toda a ordem, apenas lhes interessa um objectivo superior: serem úteis a todos nós, na defesa da floresta,ou de quaisquer outros bens e, muito em especial, das nossas próprias vidas.
Gente de grandes ideais, o outro é a medida das suas preocupações. Por tudo isto, merecem toda a nossa gratidão e bem haja. Obrigado, Bombeiros!

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Fátima

É espantoso ver que os caminhos que nos conduzem a Fátima se encontram pejados de peregrinos, que para o Santuário se dirigem em busca de conforto, em cumprimento de promessas, em romagem de fé e esperança.
Num mundo onde abundam os motivos de preocupações, esta procura do aprofundamento espiritual é uma daquelas continuidades do nosso viver individual e colectivo que merece um estudo e uma atenção especiais, tanto pela sociologia, como pela própria teologia, esta com mais razão, claro está, decorrente da sua existência e do seu objecto de estudo no panorama das ciências.
Pelas estradas fora, por entre perigos e dores - que, este ano, já passaram pela tragédia dos acidentes, infelizmente - circula uma vontade firme e segura de chegar a Fátima, para aí entregar promessas e dificuldades, fracassos e êxitos, quer chova, quer faça sol. Se, na Idade Média, também os caminhos já apresentavam populações em diásporas de amargas vidas, o ambiente de festa e de ânsia de novidades era então uma outra dimensão, que se não pode desprezar.
Mas, hoje e agora, quando o mundo está todo praticamente nas nossas mãos, pelo que aqueles aspectos não têm a pertinência de outrora, compreender estes gestos revela-se difícil, à fria luz do conhecimento humano. Só a fé nos leva a entender estas caminhadas, estas peregrinações, este permanente salto para um outro mundo, que nem todos conseguem entender.
Vê-se que ele existe nas vias que cruzam o nosso mapa: quem nelas se entrega assim, acaba por nos dar a mostra que a religiosidade é intemporal e universal, ainda que valores e crenças sejam divergentes. Mas isso que importa? É na diferença, afinal, que todos somos iguais.
Fátima demonstra-o também.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

A fome

São de arrepiar os sinais que, um pouco por todo o lado, nos mostram evidentes marcas de fome, uma chaga de contornos imprevistos e incalculáveis. Quando escasseiam os produtos básicos e se escondem os cereais, para mais tarde os rentabilizar, é uma espécie de bomba com retardador que se tem entre mãos.
A alastrar como óleo derramado e com efeitos de perigosa e preocupante bola de neve, este pesadelo deve pôr-nos a pensar, seriamente.
Com a busca de novas formas de energias alternativas, a hipótese dos biocombustíveis não parece ser um caminho inócuo, por poder implicar desvios de monta, de que a falta de alimentos ou a escalada de preços dos cereais são uma eventual consequência, brutal e perigosa.
Esse é então um caminho a repensar, mas outras vias não podem ser descuradas, desde a água ao vento, passando pelas ondas do mar e pelo sol. Sem provocarem efeitos colaterais, a elas não se vai assacar a responsabilidade pelo crescente fenómeno da fome em larga escala, antes pelo contrário.
Deixemos, por outro lado, a terra para quem dela precisa, dinamizando bons cultivos e excelentes práticas, que o mal endémico está na deficiente afectação de recursos e nos desperdícios: uma outra política e uma outra ética são mais precisas que, propriamente, o pão para a boca. Mas, acrescente-se, sem este nada feito, como é evidente.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Europa connosco

Hoje, mais do que nunca, a Europa estará mesmo connosco, quando, no Parlamento, o grande centrão der o seu aval ao novo Tratado de Lisboa. Tudo se encontra a postos para esse momento decisivo. Deixada de lado a hipótese referendária, não fosse o diabo tecê-las, certo e sabido é que uma larga maioria nos vai encaminhar no sentido desse enorme espaço, agora mais animado, por via da esperança em conseguir o foral necessário.
Lei parece que vamos ter. Mas aquilo que mais necessitamos é de uma Europa mais solidária, mais arrojada, em termos de novos projectos e ideais. Carece-se de um outro salto, que vá para além da estafada economia e do comércio. As fronteiras devem alargar-se, de modo a abrangerem uma outra visão do mundo e de nós próprios. O homem e a terra precisam de uma estratégia mais determinada, para serem legítimos depositários de um outro futuro, de uma outra sociedade.
Enquanto isto acontece, o PSD vive uma séria agitação. Cheira fortemente a "tatcherismo", um caminho de rigor puro e duro, que tudo pode vir a abafar: fujam aqueles que se querem candidatar, que a unanimidade de ferro pode vir a ser a regra de ouro deste reino de laranjas atarantadas.
Mas que se cuide também o PS: os tempos de avanço sem oposição à altura estão a desaparecer.
Com uma Europa nova, quer-se também um Portugal renovado e mais confiante em si mesmo.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

A tempestade

Esta noite de quinta-feira, com previsões de céu descontrolado, acabou por receber de Lisboa o maior dos contributos, quando o Dr. Luís Filipe Menezes fez desencadear um verdadeiro ciclone, que, convertido em tornado, desabou sobre as casas dos Drs. Aguiar Branco, António Borges, Pedro Passos Coelho, Pacheco Pereira e tantos outros críticos de agora e sempre, por entenderem que o mundo nunca está feito à sua imagem e semelhança.
Accionada esta bomba, o vento, a chuva, o granizo deram o ar de sua graça e tudo levaram em frente. Agora, tudo mudou e nada vai ficar como dantes. Descansem em paz os senhores da verdade absoluta e das inquestionáveis verdades!
Com tudo isto, treme o clube da Lapa, mas regozija-se o seu congénere do Rato, que o Caldas e os demais pouco têm a dizer, por mais que se empertiguem...
De alvoroço em alvoroço, o petróleo e as finanças podem estar descansadas: internamente, todos os ajudam e, agora, seja o que Deus quiser.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

A bonança

Naquele dia oito de Março, estiveram em Lisboa 99999 professores e mais uma outra pessoa: eu próprio. Em clima de festa, correu-se o trajecto do Marquês ao Terreiro do Paço, em passada decisva, ritmada pelos cantos do protesto contra a Ministra da Educação, em particular e, mais em geral, como desafio à política educativa, no seu todo.
Dizia-se que ali estava a imensa maioria de docentes, que, de crispação em crispação, fizeram daquele momento o tempo ideal para despejar mágoas, indignação, desconforto, desconfiança, incertezas e, mesmo, o sentimento de perda da sua dignidade e identidade profissionais. Talvez até, quem sabe, o medo do futuro.
Aquelas eram as vozes do descontentamento, que se erguiam quase em uníssono.
Mas esse foi um dia, um dia mais.
Agora, ao que se sabe, entrou-se na bonança, na paragem, no encosto às "boxes", talvez como acordo ou lá que o valha, uma espécie de aperto de mão, com os olhos de esguelha.
O certo, acrescentam, é que a escola vai sossegar, durante este final de ano. Para que se saiba e se diga, nada disto, cremos, tem carácter definitivo: os livros, de uns e de outros, ficam apenas nas respectivas prateleiras, à espera de mais álcool para a fogueira. É que o mal da educação é muito mais grave que tudo isto...
Mas, é bom assim pensarmos, tudo acaba "bem", mesmo que muito mal tenha começado e pior se mantenha na mesma cepa torta. A educação está gravemente enferma e os remédios que têm pretendido dar-lhe só agravam o seu estado de saúde. Isto já se não cura com paninhos quentes, precisa antes de uma terapia da cabeça aos pés.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Acerca de mim : quem sou

Nem alto, nem baixo
Nem gordo, nem magro
Nem velho, nem novo
Assim - assim
Português de corpo inteiro
Europeu por segura convicção
Mas com África também no coração
Nem citadino, nem aldeão
Cidadão do mundo sou eu
Aqui e agora
Sempre

A primeira braçada

Aqui estou eu a falar em português da possível última geração, antes que outra para aí desponte. Nascido com esta fase da língua, a ela me habituei. Mas convivi, durante anos, com os saudosos da pharmácia, que nunca desarmaram. Assim, se mostrou que mudança e tradição, afinal, podem viver lado a lado.
Durante alguns anos assim me portarei, entre dois mundos. Harmonizá-los é isso que se nos é pedido. Adivinho, no entanto, os problemas com que me vou deparar, quando me fizerem perder o "p" e o "c", entre outras medidas... Em acção este vai mostrar-se decisivo : num país de tão baixa produtividade, é necessária muito mais acccção e não o corte da sua própria essência. Mas andemos para diante...
É por isto estar a acontecer que o crescimento vai quedar-se pelos 1,3%, segundo o FMI, muito acima dessa miséria, no entendimento da nossa gente.
Mesmo com esta quebra acentuada, que chispa com todas as previsões que nos colocaram na mesa, parece-me, todavia, que quem devia partir vai continuar de pedra e cal e quem surgiu para salvar a pátria, afinal, consta para aí que pode perder por comparência.
Ideias grandes precisam-se. Mas nunca aquelas que nasceram em S. Caetano à Lapa contra a Câncio e muitas outras, vindas de lados a esmo, a beliscarem a escolha pessoal e profissional de Jorge Coelho.
Afirmo solenemente que não são estes pequenos apartes os meus valores. Defendo a elevação, abomino a mesquinhez, venha ela de onde vier.