quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Em frente, Obama

Neste mundo, o edifício eleitoral está um pouco incompleto, por todo o lado. Podemos votar para as autarquias locais, o poder da minha terra, para as regionais, legislativas, presidenciais, europeias, mas falta uma peça importante e até decisiva: a escolha do Presidente dos Estados Unidos da América, esse cobertor que resguarda o próprio edifício mundial.
Como não há nada a fazer, pelo menos por enquanto, passamos o tempo a olhar para o ar, de modo a descobrir o que por ali se passa.
Com as estrelas do céu a pressagiarem a chegada de um astro novo, de uma ideia de mudança, de um caminho do reencontro com melhores auspícios gerais, é Obama que nos impele a darmos-lhe o nosso voto.
Aproveitando a maré da abertura em curso de todo o processo eleitoral, para que valha como desejo profundo, eis aqui estampada a nossa decisão: Obama, sem dúvida e sem hesitações, até para honrar a lembrança que nossas filhas nos trouxeram de NY.
Em frente, Obama

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Orçamento sem segurança

Temos em cima da mesa o novo Orçamento de Estado. Números e sugestões, programas e projectos, obras e planos, de tudo isso ali podemos ver. Mas a grande dúvida está em sabermos se a sua fiabilidade pode ser assegurada, quando, por todo o lado, fervilha um sentimento de instabilidade financeira e as marcas negras de uma economia em recessão ameaçam aparecer, forte e feio.
Com este documento, podemos respirar, porque a legislação passa a ser cumprida, mas pouco se pode dar como seguro em termos práticos. Nada do que hoje se vive tem o selo da segurança. Amanhã será outro dia, de acordo com La Palisse, só que, agora, tudo é mais imprevisível. Com as taxas de juros sempre na corda bamba, com a economia em constante sobressalto, com o desemprego e a fome a cavarem fossos cada vez mais preocupantes, com o desnível dos vencimentos a ser gritante em Portugal, com as exportações a pesarem muito menos que as importações, com os fundos de pensões em acentuada desvalorização, com a Europa e o mundo em queda livre, com o oriente a ver diminuído o seu nível de crescimento, apregoar o céu é cair no inferno, porque a mentira mata e esfola...
Com um PIDDAC quase vazio e, em muitos lados, total e ofensivamente seco, o Estado dá um péssimo sinal: foge dessa ligação às suas terras como o diabo da cruz. Depois, que não espere sol, pois só foi capaz de semear tempestades.
Com um certo ar eleitoralista nos aumentos para os funcionários públicos, aqui mostra alguma sensibilidade, assim como em medidas - pequenas e avulsas - de cariz social. Mas não resolve os problemas das empresas e das famílias, que já não são apenas aquelas que antes tinham carências, mas, de momento, se viram alargadas a um tecido social cada vez mais frágil e mais roto.
Em suma, temos Orçamento, mas o dinheiro real, vivo, sem artifícios especulativos, esse não vai aparecer, como era nosso desejo e uma necessidade absoluta. Aqui é que a porca torce o rabo, para nosso mal colectivo e individual.

sábado, 4 de outubro de 2008

Dinheiro certo e sonhado

Agora que as questões económicas andam mais nas bocas do povo, por razões que não são as melhores - muito pelo contrário! - acabamos de aprofundar os nossos conhecimentos em matéria de dinheiro e do seu aparecimento nos nossos bolsos. Numa teoria de trazer por casa, vemos que há dinheiro com suporte real e um outro que nasce do sonho dos seus mentores, que o inventam a torto e a direito.
No primeiro caso, a moeda tem valor por si mesma, estando coberta por bens seguros. No segundo, não passa de uma miragem, suportada por " produtos " que voam à velocidade da luz: hoje podem ser apetecíveis e com força capaz de se segurarem, enquanto amanhã desaparecem sem deixar rasto.
Ou seja, quando se avalia a economia em função daquilo que não tem existência física, mais cedo ou mais tarde, o desastre virá a acontecer. Faz-nos lembrar uma espécie de conto do vigário em que se propõe a venda de prédios em papel, não correspondendo estes a qualquer realidade.
Ao que parece foi isto que aconteceu por esta altura, negra, quase trágica: sem alicerces, sem pedras, sem casas, sem licenças, sem saber de onde viria a contrapartida, engendraram-se miragens financeiras, alienaram-se bolas de sabão, negociou-se o visível e o invisível e o dinheiro, estendido por elásticos bem frágeis, não pôde aparecer, na altura em que dele se precisou, a sério.
Sem capacidade de mostrar aquilo que foi " oferecido" como o futuro dos futuros, nem este se conseguiu, nem o presente deu as uvas que era suposto ver nas videiras. Sem matéria-prima, agarrou-se em água e esperou-se pelo milagre, mas, desta vez, este ficou pelo caminho.
Agora, sem moeda e sem bens, todos gritam e ninguém tem razão, dando-se lugar às falências em cadeia, como se o mundo, todo ele, nesta globalização de dois bicos, fosse um imenso castelo de cartas, que se desmorona com um pequeno sopro. Para tentar impedir esta derrocada, eis que, no local da origem de toda esta borrasca, surge o programa " salvador". Oxalá, então, que da América venham as uvas, que a água, que se pretendia apresentar como vinho, até existe, mas, neste caso, é moeda falsa, é fumo sem fogo, é casa de cartão, que o vento leva para longe, de onde nunca mais voltará.
Talvez seja o tempo ideal para se repensar todo o sistema financeiro, dando-lhe solidez, credibilidade e segurança. Isto está mau demais para se continuar na mesma cepa torta.