quarta-feira, 29 de abril de 2009

Novas tecnologias nas campanhas

Este é um bom sinal: o aproveitamento das novas formas de comunicação, para informar, atrair e , por mau ricochete, " moldar " os cidadãos tem a grande virtude de mostrar que se está atento a este recente fenómeno, que o Presidente Obama sabiamente explorou até ao tutano. Em Portugal, a moda está a chegar e parece pegar. Bem-vinda seja ela!
Com tais ferramentas, espera-se que, concomitantemente, haja mais cuidado no conteúdo que se veicula ou se pretende que entre nas camadas populacionais. Não basta ser-se moderno na forma, sendo necessário e urgente que os políticos se consciencializem que têm de cuidar melhor das suas missões e funções, enriquecendo o conteúdo.
Abrir o telefone ao comum dos mortais, dar-lhe todos os programas sociais, que a Internet faculta, pôr-se a jeito para ouvir são bons caminhos. Mas são pouco, ou mesmo nada, se as mensagens recebidas caírem em saco roto, se as ideias postas à disposição dos seus destinatários não valerem dez réis de mel coado, se isto não passar de um vulgar "mostrar serviço", se se ficar pela aparência de que se está a par do que é "fixe", isto é, se o testo não der com a panela.
Como somos gente de bem, não desconfiamos das intenções, por exemplo, para citar os casos mais recentes, do PSD e do PS, mas ficamos sempre com um pé atrás, porque, com frequência, quer dar-se mais do que aquilo que se possui, até para não perder o dito comboio das novas tecnologias... E isso pode deitar tudo a perder e fazer sair o tiro pela culatra.
Com o coração aberto, aguardemos e participemos todos nesta grande obra que é construir um mundo melhor.

sábado, 25 de abril de 2009

Um 25 que foi a 26

Perdido na imensidão moçambicana, algures entre a Beira húmida e Tete seco e a ferver de calor, não tive a sorte de ter contactado com o 25 de Abril no dia em que teve mais encanto. Um tanto ao retardador e a conta-gotas, só com ele comecei a conviver no dia seguinte: 26, obviamente. Mesmo assim, veio ter comigo mais lento e vagaroso que um pachorrento caracol. Apareceu carregado de nevoeiro, atascado da dúvidas, incerto e inseguro. Ali, onde tudo era escorregadio e a vida andava sempre amarrada com arames mais finos que linha de renda, nada podia ser visto como seguro ancoradouro. Nem o 25 de Abril, lá do "puto", que se percebia sem se perceber, de que se falava sem nada se saber, mas que se vivia porque assim tinha que ser.
Em Lisboa, os camaradas das armas, caldeavam-nas com ramos de cravos. Ali, ao lado do Zambeze, a jusante de Cabora Bassa, em cima dos carris da via-férrea Beira-Tete, não se viam nem cravos, nem espingardas mansas: eram material a sério, pronto para o que desse e viesse.
No dia 26, começámos a acreditar que algo de novo acontecera. Disseram-no os rádios de algibeira, sussurraram os comandos, cochicharam uns e outros, mas ninguém sabia nada de nada.
De repente, lembrei-me das Caldas, do passado dia 16 de Março, quando, por coincidência, me encontrava na então metrópole. Fez-se luz e um incrível " Eureka ": aquilo era mesmo uma vida nova, aquela com que tanto sonhara e que, por vias enviesadas, me chegava às mãos. Lera-o nas cartas amigas, nos jornais meio clandestinos, estilo " Independência de Águeda ", " Comércio do Funchal ", " Opinião " e, sobretudo, devorara-o, horas a fio, nas canções de Zeca Afonso, que ouvíamos a torto e a direito, com a conivência de todos e o agrado de muitos.
Descobri, então, que em Lisboa se ia escrever a história de uma outra maneira.
E chorei de alegria.
Mesmo a 26, o meu 25 de Abril de 1974 veio para ficar.
E marcou-me.
Para sempre.
Mas quero deixar de lado os excessos que teve.
Dele guardo a essência: a liberdade, a democracia, o humanismo, o rasgar de horizontes.
Dele retenho o Portugal novo que fez despontar. E o homem novo que fez em cada um de nós.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Dia Mundial do Livro

Hoje é um dia especial, porque nele se assinala um dos pilares básicos da cultura de um povo, convertendo-se em poderosa alavanca de um desenvolvimento integrado e sustentado: o livro, essa fonte de conhecimento, de pensamento, de reflexão, de acção consciente e construtiva, de prazer, de enriquecimento individual e colectivo.
Antes deste computador, que suporta a minha escrita e me fornece muitas leituras, me traz novidades, notícias e muito do que se passa e se viveu por todo o mundo, era na lousinha, no caderno e nas folhas que imprimia as minhas letras e dava forma aos textos e ideias, assim como era apenas no livro que bebia grande parte daquilo que aprendi e sou. Por tudo isto, transporto comigo a mais bela de todas as cargas: a dos livros, que me enfeitiçam, me entram pelos olhos dentro, me convidam a, com eles, confeccionar o mais nutritivo dos alimentos, me consomem alguns, muitos, euros, me enchem a casa, me atafulham os armários, me fazem andar sempre numa fona à procura de espaço para os colocar, os olhar e, depois, os arrancar desses pedestais e, novamente com eles, partir para longas caminhadas...
Sem eles, talvez o meu mundo não fosse aquilo que é. Talvez, não. De certeza, evidentemente.
Hoje, quando um dia lhe é consagrado, teço-lhe um hino de agradecimento, dizendo que nem o citado computador, que muito aprecio, deles me faz separar.
Mas tudo isto é assim, porque as minhas professoras da velhinha e inesquecível primária, aquela que ensinava e transmitia valores, me estimularam a consumi-los, com voracidade, com interesse, com força, com alegria. A elas devo esse enorme favor, que, em minha casa, o livro só entrava por essa porta - a da escola, antes e depois das aulas, sobretudo depois de horas e horas de sala de aprendizagem, de muito estudo, de viagens sem fim pelos comboios virtuais, pelos rios que não eram melhores que o meu, o do Eirô, mas que tinham honras de cátedra, eles e os seus afluentes, de passeio pela história de Portugal, do Minho a Timor, pela geografia, pelos ossos e demais partes do corpo humano, pelas plantas, com tronco, espique, colmo, caule, folhas, flores e frutos, pelas rochas, pelos ditados, redacções, palavras difíceis e tantas coisas mais. Agradeço a meus pais, que sempre me mostraram que o saber não ocupa lugar. Integro aqui todos os meus professores, que fui encontrando pela vida fora.
Mas uma palavra especial é devida ao falecido benemérito, Comendador Manuel Fernandes Gomes, que ao concelho de Oliveira de Frades (entre outros), a todas as suas escolas, ofereceu, quando esses gestos eram raros, bibliotecas, em armários próprios, que, a partir das décadas de cinquenta e sessenta do século passado, fizeram, então, as minhas delícias. Sei que hoje, dia 23 de Abril de 2009, ainda por aí andam. Essa longevidade é o maior dos elogios que se podem fazer a essa dádiva tão especial, mas, sem a visão altruísta e visionária, do Comendador Manuel Fernandes Gomes, nada disso teria sido possível. Bem haja, esteja onde estiver. A minha gratidão eterna aqui fica.
O mesmo quero registar, quanto à Fundação Calouste Gulbenkian e às suas carrinhas ambulantes. Obrigado, também.
Porque hoje é Dia do Livro, há hinos que não podem ser esquecidos e o do reconhecimento está nessa primeira linha, como é óbvio.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

O excesso das Finanças

Que andam mal as finanças portuguesas e mundiais, isso nós sabemos de cor e salteado e o FMI não se esquece de o relembrar, como agora aconteceu ao prever uma queda do PIB em 4,1%, enquanto o nosso BP, bem mais meigo, se inclina para os 3,5%. Mas garante o Primeiro-Ministro, em mais um festim na Assembleia da República, ainda há poucos minutos, as despesas, na ordem dos 21%, estão debaixo de controle, o que nos deixa mais aliviados, se a realidade o não desmentir, dentro de poucos dias. A ver vamos...
Mas duro de ouvir foi a sua teimosia em permitir que os idosos, aqueles que pouco recebem e a quase tudo se calam - estranha sina! -, venham a ser punidos com coimas, por não terem entregue a declaração do IRS, referente a 2007, assim procedendo porque nunca lhes passara pela cabeça que estavam perante tão bizarra obrigação. Por interpostas pessoas e vias, fizeram ecoar as trombetas do seu descontentamento, aqui mostrando que não querem ficar sempre calados, mas parece que as suas vozes se perderam, ou, ao baterem na portas de S.Bento, só encontraram a força empedernida de quem apenas lhes passa cartão para receber os seus votos...
Conscientes de que têm o dever de responder às solicitações do Fisco, o tal cesto dos velhos impostos, quanto a 2008 não regatearam qualquer entrega. Sem acessos a "offshores", deram-se ao trabalho de ir às Finanças, ou até pela Internet, para não deixarem esse seu dever passar ao lado. Outros, porém, nesse mesmo momento, desviaram somas infindas e toda a grande gente se cala, mas aos idosos tudo fazem para lhe sugarem mais uns cêntimos. É isso um abuso e uma descarada medida que, sem um pingo de vergonha, arranca a estes nossos amigos mais sono que, propriamente, dinheiro. Mas onde pouco há, uma migalha que se tire faz mossa e da grossa.
Para que conste, o caso é este: como antes os montantes recebidos estavam isentos, agora em 2009 repesca-se 2008, face a novos valores, o que pode ter alguma lógica. Mas ir até 2007 é um disparate de todo o tamanho e até uma ofensa à dignidade e integridade desta nossa querida gente.
Recuar, aqui e agora, impõe-se. Avançar é cair no ridículo de uma decisão que a todos faz perder.
Se assim for entendido, eis uma sugestão: se a indignação não chega, passe-se à desobediência civil... Eles, aqueles que têm um coração mais duro que um calhau, bem merecem que assim se proceda. Vamos a isso!...

terça-feira, 14 de abril de 2009

Balanço da Primavera em dia de Inverno

O Banco de Portugal falhou na escolha do dia para apresentar o Relatório da Primavera. Com a chuva que cai e o frio que se faz sentir, estava mesmo a ver-se que dali não sairia qualquer coisa de sossego. Assim foi: uma desaceleração de mais de três por cento ao ano, uma forte quebra na expectativa de crescimento, um certo ar de deflação, uma visão de desemprego que ronda os limites do equilíbrio, uma esperança adormecida, para não dizer em coma, um mundo que teima em não encontrar meios e formas de sair da crise, um país carregado de dores de um parto que nunca mais faz aparecer o bebé do nosso contentamento, uma terra que, disseram, só se salva se a outra parte da Europa der sinais de ser capaz de saltar do abismo em que se encontra, eis um quadro que nada nos agrada.
Valha-nos esta consolação: o PSD, do saco das hipóteses, tirou aquela que, sendo a mais cinzenta, traz o selo MFL, descartando todas as pressões, mesmo a de S. Marcelo que tanto acenou com o Dr. Marques Mendes. Recaindo a opção no Dr. Paulo Rangel, aí temos uma cópia do CDS, que também descapotou a Assembleia da República para descalçar a bota da Europa. De uma rajada, a direita não foi capaz de sair dos baralhos com que sempre tem jogado, o que pode ser uma virtude - a da continuidade e a da persistência - mas também uma desvantagem - a da inacapacidade de se abrir à sociedade.
Salvo uma ou outra excepção, os partidos, todos eles, parecem olhar para o Parlamento Europeu como um expediente a resolver e não como a escolha dos nossos representantes para o mais alto órgão da nossa UE. Tenho de dizer que isso é um erro de todo o tamanho e uma visão mesquinha, quando a realidade imporia outro raciocínio e outro rasgo: apresentar trunfos em vez de manilhas, reis ou até uma espécie de duques... como se isto seja um acto de menor importância.
Sendo este o último dos dados em presença, arrancado a ferros, quase a cesariana, agora é altura de se ver quem, tendo dedos - ainda que tortos - melhor toca guitarra. Sem qualquer Carlos Paredes em palco, com uma plateia entristecida com as notícias vindas do Banco de Portugal, com uma Europa ainda não totalmente segura de si, não é animadora a peça que nos vão oferecer. Mas venha ela, que é preciso dar voz ao povo e as eleições servem para isso mesmo.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Eleições europeias

Nos bastidores das organizações partidárias, vai grande azáfama para colocar na rua os nomes que irão a sufrágio universal. Às pinguinhas, nuns casos, de chofre, noutros, essa gente começa de dar a cara e até já se vêem algumas das frases-chave e digamos que, num dos exemplos que descobrimos, não abunda a originalidade, nem as ideias são grande coisa... Melhor: não passam de uma manifesta evidência, que todos nós trazemos desde o berço.
Isto do " Nós, europeus ", que o PS atirou para os cartazes, sendo " meio fixe ", não acrescenta um pingo de reflexão sobre os desafios de uma nova Europa e de um novo mundo, que têm de ser reerguidos a partir dos destroços da crise que tudo abalou.
Naquela mensagem só nos é repetido que, para fazer recordar o nosso BI, somos habitantes de um continente, que é nosso por natureza. Mas, em política, temos de saber ir mais longe do que e óbvio: transmitir objectivos, inspirar novos contributos, atrair votantes - que a abstenção adivinha-se disparatada, por razões que devem ser combatidas -, dinamizar novas práticas, oferecer outra filosofia, outra economia, outra e mais activa cidadania, dizer qualquer coisa de valor e "aquilo" não mostra nada disso.
Como estamos na fase de arranque, esperam-se mais arrojo e mais ideias. Se ficarmos por "ali", então não se admirem que a opção seja ficar em casa, o que se revela altamente prejudicial numa Europa que precisa que lhe "berrem" aos ouvidos, gritando: VAMOS FAZER ALGO DE NOVO, que o que temos já passou a sua validade.
Mas saibamos aproveitar quem mostrou saber disso e o Dr. Durão Barroso é uma dessas pessoas, assim como a Dra. Ana Gomes e tantos outros dos valores que, nos diversos órgãos, se vão notabilizando.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Para Aquila, já!

Em horas de dor, o nosso coração cai sempre para aqueles lugares onde a tragédia aparece, sorrateira, ameaçadora, destruidora mesmo, sanguinária, suicida, que tudo leva à sua frente e não pode deixar ninguém de lado, quando a solidariedade mais se impõe.
Neste momento, é altura de partirmos para Itália, mais concretamente para a zona de Aquila, a fim de cumprir a máxima pombalina de, primeiro, cuidar dos vivos e, logo a seguir, enterrar os mortos. Dói-nos a partida de toda esta gente, custa-nos ver o sofrimento daqueles que, por entre os escombros, choram o seu dorido destino e anseiam por uma ajuda salvadora.
Correr para Aquila, solo irmão, é um dever e um imperativo. Itália precisa de todos nós, sendo contagiante a vontade de auxiliar uma terra, uma zona, uma nação e um pedaço de mundo que tanto sofre. Se a natureza ali marcou uma passagem de destruição, aos homens cabe contrariar, quanto possível, os seus efeitos.
Ser solidário é dar tudo, sem nada reclamar em troca. Provam esta teoria e este espírito os nossos e os demais bombeiros e até o cidadão anónimo.
Como, fisicamente, por aqui temos de ficar, para Aquila segue o nosso testemunho de pesar por quem nos abandonou, assim tragicamente, e os nossos votos de saúde e felicidade - a possível, quando a desejável está minada por força das circunstâncias - para aqueles que sobreviveram, incluindo, logicamente, os nossos compatriotas que ali se encontram.
Se as lágrimas embaciam todos os olhares, que o sol limpe estes rostos de desânimo e os ajude a percorrer os caminhos novos que, necessariamente, há que trilhar, uma vez mais.

domingo, 5 de abril de 2009

Outro mundo a caminho

Com as cimeiras que decorreram, por estes dias, na Europa, o mundo parece que pode começar a respirar de alívio, tão grandes foram os passos dados. Combatida a descrença no êxito destes encontros com as respostas aplaudidas, estamos na fase em que somos levados a acreditar que " Sim, é possível ", que a crise pode ser derrotada, se os homens se entenderem. Para a História ficarão os sorrisos e os abraços dos governantes mundiais - de parte deles, claro -, enquanto que, para o cidadão comum, como nós, resta sonhar com esses novos dias, que os actuais são negros como a ferrugem, como já dissemos.
Mas, como todo o pobre desconfia de esmolas aos trambolhões, atrás de uma dura crise não queremos que outra se venha a gerar. É que, vaticinam muitos economistas, a seguir às depressões, vêm geralmente os disparos na inflação e, com esse fenómeno, aí veremos os juros, de novo, a trepar, como se o seu mundo só pudesse passar pelo afogamento das pessoas e das empresas.
Não queremos que assim seja, apelando aos mecanismos de regulação, vigilância e controle, que vimos estampados nos acordos estabelecidos, no sentido de estarem atentos e, mais do que isso, actuantes. Fugir dessa responsabilidade é cavar, uma outra vez, a sepultura da saúde financeira e económica mundiais, esse cancro que ameaçou vitimar-nos a todos e que, agora, viu o pescoço torcido, mas sem ter dado, lamentavelmente, o último suspiro.
Com Obama, o seguro das nossas vidas está mais protegido, mas não é o único factor a ter em conta. Sem o nosso contributo, nem esse novo valor e esforço americanos serão suficientes para nos salvar.
O fio, que nos liga à ténue vida, é demasiado frágil e só uma vontade individual e colectiva muito fortes tem o condão de o reforçar. Que assim seja !