quinta-feira, 23 de julho de 2009

Inverno em S. Bento

Estamos em Julho, quase em Agosto. Por estranho que pareça, chove em S. Bento, praticamente de uma forma torrencial. Com ventos fortes e vindos de várias direcções, não há guarda-chuva que valha, nem capa que cubra os fatos daquela gente.

Agora, uma das grandes vergastadas chegou do " Compromisso Portugal ", que ali entrou de enxurrada. Portas e janelas tombaram e as salas ficaram inundadas. Com tal bátega de água, andam numa fona os mordomos daquela casa e o seu senhorio-mor, afadigado com novas promessas, teve até de calçar botins e pôr-se a andar pela estrada fora, que são difíceis os tempos presentes e poucos auspiciosos os que aí vêm.

Com tal borraça, diz o citado " Compromisso " que não estamos nada melhor do que há quatro anos. Lá se começa e descobrir que de pouco valeram os sacrifícios pedidos e que as reformas estruturais ou ficaram a meio, ou mal saíram do baú onde se encontravam.

Sócrates não fica bem no retrato que estes críticos lhe tiraram, mas, deve dizer-se a propósito, que as culpas não são todas suas: os temporais da crise global não podem ficar de fora deste quadro, nem a nossa, talvez, apatia em circunstâncias que exigiam de nós um comportamento mais activo e um rigor mais selectivo.
Todos somos culpados, mas uns mais que outros e o Primeiro-Ministro, que tem a honra de ser o timoneiro, está entre aqueles que maior responsabilidade tem, para o bem e para o mal. Alega o " Compromisso " que, nestes quatro anos, tendeu mais para o abismo que para o céu. E isso é que nos preocupa e nos tira o Verão mesmo em Julho, quase em Agosto.
Se chove em S. Bento quem se molha somos, afinal, todos nós.
Nem o deputado Manuel Alegre, com 34 anos de Parlamento e hoje em maré de despedida, escapa a este temporal, por mais que queira fugir de um comboio onde passeou anos e anos a fio.
Nem ele. E muito menos todos aqueles que, com as suas atitudes e comportamentos, puseram em risco o bom nome de um país que merecia outros políticos.
Refiro-me, obviamente, aos estilhaços do BPN e às vergonhas que por lá se passaram.

domingo, 19 de julho de 2009

Espanha, aqui tão perto

Saio de casa, meia distância entre Aveiro e Viseu, para, passado pouco mais de hora e meia andar, regalado, por terras de Espanha, tudo isto porque o A25 nos traz o mundo às mãos, por dá cá aquela palha.
É, por isto, que dou comigo a pensar: as grandes obras só estão a mais se tivermos a vantagem de as possuirmos. No meu caso, sou um felizardo, quanto a este aspecto das acessibilidades, que faltas há-as por aqui até dar com um pau...
Mas voltemos ao tema deste momento - a ida a Espanha. Foi um mimo ver aquela Cidade Rodrigo com o património elevado a prioridade absoluta em termos de recuperação, imagem e cartaz turístico. A zona nobre em redor da Praça Maior é toda ela uma evocação extrema da arte e engenho dos nossos antepassados ibéricos, colocando a pedra no topo dos materiais.
Com um Centro assim, apetece ali viver e olhar sempre para trás antes de fazer subir mais um qualquer prédio novo, daqueles que são iguais em todo o lado, com cimento, paredes direitas, varandas a metro, sem sabor, nem cheiro.
Ali, em Cidade Rodrigo, é obrigatório olhar para o céu, que cada esquina, cada arcada, cada janela, cada portada, cada palmo, em suma, merece uma atenção especial. Quando, nas nossas urbes, os Centros Históricos são, em geral, uma lástima de abandono, desassossego, sujidade e um desperdício dos nossos valores, aquela lição ficou-me na retina e na memória. Para que conste, aqui a conto tal como a senti.
Por outro lado, foi com prazer que vi, numa montra, uma alusão turística à nossa Costa Nova, com preços de fazer inveja aos da " casa " - 38 euros por um dia de estadia, 90 por um fim de semana inteirinho. Eles lá sabem as linhas com que se cosem, mesmo quanto a preços...
Esta referência pôs-me ainda esta questão: o seu mar é o nosso oceano e ponto final. Porque têm de passar por estas bandas de Lafões, saibamos apanhá-los, em vez de os vermos viajar apenas, olhando para as nossas placas. Precisamos, para esse efeito, de uma outra estratégia e de outras políticas em favor de um turismo de captação e permanência...
Com as horas a fugir, venho por aí fora e dou com as Torres de Pinhel também bem preservadas, mas ainda longe do esforço conjunto que vi em Espanha. Há por ali uns atropelos, uns " modernismos " incrustados que bem se dispensavam. Mas aceitam-se razoavelmente.
Como começo de reanimação desses pedaços de história, ali em Pinhel já vi algo que me agradou. O mesmo poderei dizer de Marialva, de Sortelha, de Monsanto e um pouco ainda por mais um punhado de sítios apetitosos e de boa figura. Mas Cidade Rodrigo a todos esses aglomerados leva a palma... Importa agora é sabermos colher informação para a aplicarmos depois, que copiar os bons exemplos não é nada que se possa levar a mal.
Em caminho para a Guarda, dei de caras, à beira de uma via bem rasgada, com uma anta, mesmo à mão de semear: a da Pêra do Moço, que nos entra pelos olhos dentro. Bem conservada, bem estimada, é um bom modelo de trabalho e esforço colectivo no sentido de salvarmos o muito que nos resta de um passado que não podemos perder.
Mas, por mais que diga, nenhuma das antas que conheço - e são muitas - ultrapassa em arte e beleza a minha - a de Antelas, aqui no concelho de Oliveira de Frades. Essa, sim, essa é de se lhe tirar o chapéu e chorar por mais. Sempre.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Nova vida do Parlamento Europeu

Quando se comemoram trinta anos após a primeira eleição directa dos deputados do Parlamento Europeu, ei-los agora a reiniciar funções, muitos como caloiros, com vista a um novo mandato.
Para quem sente este projecto como uma parte substancial da sua cidadania - como é o meu caso, confessando-o sem quaisquer peias -, ver aquela gente ser minha representante a tão alto nível é um privilégio e uma honra. Nada me incomoda que ganhem, dizem alguns, um balúrdio. Espero é que consigam prosseguir a árdua e ingente tarefa de dotar esta nossa UE da força necessária para ser capaz de liderar o mundo, em ideias, em projectos e em boas práticas.
A minha Europa tem de ambicionar sempre essa dimensão: ser um exemplo e um baluarte de todos os mundos novos, este que esperamos e os mais que vão, necessariamente, aparecer, que isto da história nunca, nunca mesmo, está concluída e há sempre muito de imprevisível a bater-nos à porta.
Nestes dias, os deputados europeus andaram numa lufa-lufa para conhecerem os cantos à casa e até arrumarem as suas trouxas. Para além disso, creio eu, trataram de entabular conversa com os seus pares, de modo a não partirem do zero absoluto. Que tudo isso lhes tenha servido de pontapé de saída para os trabalhos que têm pela frente!
Em Bruxelas, Estrasburgo e Luxemburgo, que conheço razoavelmente, não se pode brincar à política, nem as capelinhas ali fazem sentido: ou se é capaz, ou então é melhor arrepiar caminho e regressar a casa, que outros deverão pegar nesses objectivos grandes, de modo a não perder esse carácter visionário - sempre preciso e essencial - de que a Europa tem vivido ao longo dos tempos.
Convém dizer-se que este é o projecto maior, em termos de capacidade e paz afirmativa, de uma Europa que, não esquecendo o Império Romano, o esboço de Carlos V, a tentativa de Napoleão, etc., alguma vez tem trilhado. Essa é a responsabilidade que recai sobre a cabeça desses mais de setecentos nossos representantes, vinte e dois deles, por sinal, portugueses.
Daqui a uns tempos, um outro pilar, o da Comissão presidida pela segunda vez por um nosso conterrâneo - Durão Barroso - vai entrar em funções também.
Mas agora foi a hora de esta gente não assinar o ponto apenas, mas comprometer-se com o nosso futuro europeu, onde tem de estar inscrito o sentir deste recanto, que não pode, nunca, ficar arredado desta sua nobre e alta missão: inscrever Portugal nesta caminhada colectiva, peso que quero que recai-a, inteirinho, sobre os ombros destes nossos amigos - 22 - que ali têm de prestar o melhor dos serviços.
Foi para isso - e só para isso - que foram eleitos.

domingo, 12 de julho de 2009

Nova forma de desenvolvimento

Está de rastos o esquema de desenvolvimento que tem norteado - com acentuados desvios - o nosso mundo. Ideias e programas, tudo tem andado às avessas. Com muito mais tecnologia, com a ciência em ponto altíssimo, com as máquinas a quase fazerem esquecer a necessidade do homem, o que se afigura desastroso, nada disto resulta em termos de verdadeiro progresso para a humanidade.
Cada vez mais, cavam-se fossos e aumenta a miséria e a desgraça, reforçam-se perigosamente desníveis sociais, distanciam-se os muito pobres dos poucos imensamente ricos, caminha-se para um qualquer abismo e nós teimamos em nada querer fazer para alterar radicalmente este quadro.
Ainda há poucas horas, vi correr Mogadíscio para o terror em que se mantém há anos, com a morte a espalhar-se pelas ruas sem ordem e sem sossego. Ouvi também falar de um Iraque a ferro e fogo, senti o choro de gente que sofre por não ter eira nem beira, nem pão nem saúde, nem feficidade nem alegria. Um pavor!
Vejo reunir os 8, os 20, os 12, os 1000 e tudo continua praticamente na mesma.
Descobri, no Vaticano, uma fresta de esperança: a encíclica " Caritas in Veritate ", que infelizmente não conheço ao pormenor. Associo-a ao Presidente dos EUA, Barack Obama, ao novo Parlamento Europeu a uma nova UE, ao diálogo inter-civilizações e a todos os esforços, tendentes a encontrar um mundo novo.
Misturando tudo isto, talvez se dêem passos mais seguros, de modo a termos uma maior e melhor redistribuição da riqueza, um outro mecanismo de desenvolvimento sustentado, justo e equilibrado, que o actual modelo já provou que está esgotado e morto.
Também Portugal deve saber aproveitar a oportunidade de duas eleições para dizer o que, de facto, quer: ficar como dantes não basta...
É preciso arrojo nas políticas e nas decisões, antes que seja tarde demais.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Um relatório desalinhado

Tenho pena que na Assembleia da República ainda não tenha havido um curso, integrado no programa " Novas Oportunidades ", destinado a ensinar métodos de elaboração de relatórios, que agradem a todos e sejam o reflexo de tudo aquilo que devem conter: a matéria versada nos temas que servem de base à sua existência. Se não preencherem estes requisitos, de nada servem e bem podem seguir o caminho do caixote do lixo.
Como pontos a abordar, eis algumas pistas:
1 - Saber escrever bem, em português de primeira
2 - Introdução e corpo do relatório
3 - Os diversos contributos
4 - Leitura e releitura
5 - Eventuais correcções
6 - Apresentação experimental
7 - Entrega final
8 - Discussão generalizada
9 - Tempo de aprendizagem: um mês, em regime pós-laboral
10 - Formadores: gente independente e séria
11 - Avaliação: um teste que não fale do Banco de Portugal
12 - Certificado final
Posto isto, é hora de se saber que isto de andar a brincar aos relatórios já não é jogo que se ponha na mão daquela gente que ali se senta para, dizem os entendidos, nos defenderem e representarem.
Mas, se, depois de meses de trabalho - e até parece que foi muito bom - se desentendem no momento de passarem a limpo as devidas conclusões, algo ali vai mesmo muito mal.
Precisam, então, de escola e depressa. Quando se aproximam as próximas candidaturas, exija-se um requisito básico: ser capaz de fazer um relatório digno. Só assim, cumprida essa formalidade, podem assinar a respectiva adesão, tal como aquela que tem a ver com a necessidade de preencher uma, uma só lista e nada mais. Embarcar em dois veleiros, à espera de um deles chegar a bom porto, não é política que se cheire, porque nela se vê um interesse muito pessoal e pouco social.
Aplicadas estas regras, mesmo com efeitos rectroactivos, é um dever de cidadania e um imperativo ético.
Boa sorte para todos!

terça-feira, 7 de julho de 2009

Tópicos para um Portugal melhor

Com uma ponta de egoísmo, sinto-me bem por viver numa terra - Oliveira de Frades - que tem um pouco de tudo e pode até ser apontada como exemplo de um modelo de desenvolvimento de sucesso. A dois passos, cruza-a o A25, no seu seio tem uma potente zona industrial, que, com menor ou maior dificuldade, lá vai resistindo à crise. Desemprego é vocábulo aqui não muito comum. Progresso, apreciamo-lo um pouco por todo o lado. Ar de sucesso também. Com tais ingredientes, este meu recanto, sem ser um oásis, há muito tempo que deixou de ser um sítio atrás do sol-posto...
Sinto-me bem por isso.
Ao aproveitar recursos, soube agarrar ainda as energias renováveis, alavancou algumas iniciativas de boas práticas em turismo, não perdeu a pedalada da avicultura, muito embora tenha desperdiçado grande parte de sua agricultura, qual sinal dos tempos...
Numa outra vertente, pegou em equipamentos que lhe conferem um razoável estilo de vida e um pendor cultural que também nos agrada, sobretudo o seu Museu, uma preciosidade de se lhe tirar o chapéu e o vigor associativo que se nota aquém e além.
Perto do mar e a apresentar como pontos altos e fortes as elevações do Caramulo e da Gralheira,
com a minha Serra do Ladário pelo meio, tem nos Rios Vouga, Alfusqueiro, Teixeira, Águeda e o meu Eirô, outros motivos de interesse.
Com as antas de Antelas - a mais rara jóia da pintura rupestre mundial - e de Arca, além de muitas outras, como imagens de um património que nos enche de orgulho, aqui há de tudo, para se contemplar e, mais do que isso, para se viver intensamente.
Estes são tópicos para um Portugal melhor.
Mas se não virmos avançar a barragem de Ribeiradio, se não assistirmos ao arranque de um sistema de saúde capaz e moderno, se não concretizarmos o apoio consequente à terceira idade, se não olharmos a sério para a sustentabilidade ambiental, se o QREN não deixar concluir as obras de saneamento básico em falta, se a justiça teima em não descolar da cepa torta, ainda não podemos dizer que é plena a nossa satisfação.
Se nunca o será, que, ao menos, se aproxime do seu ponto acessível e possível, o que ainda não acontece, como se pode deduzir destas linhas.
Com dois actos eleitorais em vista, um do foro nacional, outro à esfera local, é chegada a hora de todos assumirem as suas responsabilidades. Se assim for, Portugal e a minha terra serão bem melhores, o que se saudará com entusiasmo e alegria.
Assim venha a ser conseguido este nosso desejo e anseio!
Eis então mais uns dados para um Portugal melhor

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Apoio ao combate à leucemia

Depois de uns tempos de paragem, este regresso acontece numa altura em que andam agitadas as águas políticas - que se amanhem! - e serenas as da solidariedade activa e altamente construtiva. Por um lado, por uma intensa e altuísta acção de Duarte Lima, a Associação Portuguesa contra a Leucemia teve hoje um dia muito especial - o seu.
Quanto são importantes estes movimentos, todos nós o sabemos. Mas poucos têm o arrojo e o discernimento para lhe dar corpo e os colocar em velocidade cruzeiro. Duarte Lima conseguiu esse feito e, agora, os doentes com esta terrível patologia podem respirar um pouco e ter uma acrescida esperança em conseguir a cura tão ansiosamente desejada. Honra lhe seja por isso!
Sem poder partilhar o movimento de tudo dar até à medula, por razões de idade, daqui nos associamos a tão generosa atitude que a televisão nacional tão bem divulgou.
Quando olhamos para estes gestos, vem-me sempre à memória a lembrança de meu irmão que, tratado com especial cuidado, durante cerca de uma década no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, de 1966 a 1975, não conseguiu vencer o flagelo de um cancro que o levou aos catorze anos, mas que nunca mais abandonou a sua família, tal a força que mostrou durante todo esse tempo... Para quem tudo lhe deu nessa prestigiada unidade de saúde de então, vai o meu profundo agradecimento, extensivo a minha família que, nessa cidade e por aqui, foi incansável, assim como todos os nossos amigos e vizinhos.
É por tudo isto que estas campanhas têm, para mim, um significado muito especial.
Quero, assim, enviar ao Duarte Lima e seus companheiros de caminhada um forte abraço e um comovido agradecimento.
Englobo neste sentimento todos aqueles que olham para o outro com esta atenção. Assim, ao Pedro Miguel Rocha que, amanhã, vai apresentar o seu " Juntos temos poder ", também não posso deixar de felicitar e desejar, em nome da AMI, os maiores êxitos e venturas, que bem merece ser assim distinguido, tão nobre foi este acto de escrever um livro para o ofertar a essa prestigiada instituição - a AMI.
É com estas acções que se faz um mundo novo. Nunca com aquelas que hoje aconteceram na Assembleia da República, uma vergonha das vergonhas que, às vezes, nos incomodam.
Mas, essas, que se esqueçam!
Agora, vivam os bons exemplos, estes que aqui apontei!