terça-feira, 24 de agosto de 2010

No rescaldo do acidente do A25

Vinte e quatro horas depois do pavoroso acidente em cadeia de ontem, no A25, na zona das Talhadas do Vouga, nada faz supor que ali se viveram, das dezasseis horas em diante, momentos absolutamente dramáticos.
Hoje, apenas ali se vê uma equipa a reconstruir parte do pavimento que as chamas destruíram, no sentido Aveiro-Viseu. Ontem, foi o caos total, o desespero e dor, muita dor, porque houve quem partisse para sempre, assim terminando suas viagens terrenas. Paz à sua alma! Mas os feridos, alguns deles, ao que sabemos, ainda em estado grave, merecem também uma nossa palavra de conforto.
Por vizinhança do local desta catástrofe, pude observar o pandemónio que se gerou, em termos de um eficiente socorro e demais estruturas de apoio, que marcaram pontos no panorama das respostas nacionais a dar em casos desta envergadura.
Mas, minutos antes daquele momento fatal, por ali circulei, entrando em Aveiro e saindo no nó de Reigoso-Oliveira de Frades. Posso então testemunhar que era absolutamente negro o nevoeiro que se fazia sentir, misturado com uma intensa e persistente chuva, a primeira deste verão - o que pode explicar, em parte, o que ali sucedeu - e que as condições de visibilidade e de condução eram do pior que pode haver. Por sua vez, o piso, a escorregar como manteiga, era um outro factor negativo que contou, assim o cremos, para o terrível desfecho deste monumental e trágico desastre.
No entanto, urge que saibamos não diabollizar este A25, já que, na nossa história, o imprevisível acontece sempre, quando e onde menos se espera. Via de montanha, em dia de chuva e denso nevoeiro, propiciou, naquela hora, tão triste e grave situação. Mas houve factores, talvez de ordem humana ou mecânica, que não podem ser descartados.
Para nos ajudar a compreender a ideia de que o A25 não é uma perigosa excepção, vejamos:
- Santarém, 2001, A1, com 105 carros envolvidos, 4 mortos e 73 feridos;
- Torres Novas, A23, em 2004, com 85 veículos e 23 feridos, sem vítimas mortais;
- Aveiras, A1, 2005, com 4 mortos, 2 feridos graves e 30 ligeiros , num total de 80 viaturas;
- Ontem mesmo, nos Açores, outro despiste em cadeia com 12 carros.
Por aqui se vê que não é o A25 que tem de ser catalogado como estrada maldita. É o azar e, talvez, um pouco de descuido dos condutores, o que é grave.
Mas também é caso para pensar que as vias alternativas não estiveram, de maneira nenhuma, à altura das respostas que seriam de exigir-se.
Cabe a quem decide vir a reponderar a estafada questão das portagens, que aqui não podem ser aplicadas de modo algum.
Sabia-se. Confirmou-se ontem pelas piores e lamentáveis razões.
Aqui, a dois passos de minha varanda, onde as vias secundárias rebentaram pelas costuras e mais adensaram a dimensão trágica daquele fim de tarde,ainda se não fala doutra coisa e que importa esquecer, mas dele, deste emaranhado de carros e sofrimento ímpar, não podemos deixar de tirar as devidas lições. Todas e todos.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Escolas a fechar, país a desertificar

De olhos fechados, diria que este encerramento, em massa, das nossas escolas, nos últimos anos, é reflexo de medidas desabridas, não-pensadas, aparecidas ao acaso. Aprofundando esta questão, constata-se que tem um pouco de tudo: aquilo que dissemos e, infelizmente, bastante de realidade actual.

Foge-se das aldeias, escapa-se o pessoal dos centros históricos e tudo se desertifica. O interior passa a quase reserva natural, o casco velho das nossas cidades vai pelo mesmo caminho do despovoamento, converttendo-se em amontoado de pedras e ruínas.

Fecham, de seguida, as escolas. Perde-se o fio de vida que poderia fazer ponte entre o passado e o futuro. Ontem, foram as mais pequenas, hoje desaparecem aquelas que têm menos de 21 alunos. Amanhã, as de quarenta, de cinquenta e o que me assusta é este passo acelerado para os grandes centros, a milhas de distância do berço familiar. O autacarro vai ser rei e senhor para as crianças de cinco/seis anos em diante. O acordar far-se-á sentir na noite escura, altura em que os olhos mal se abrem e assim continuarão pelas estradas fora.

Chegar à grande escola, impessoal e distante, vai ser um sacrifício de meses e anos.

Mas são estas as opções que povoam o "sonho" de quem decide. Cá, por nós, ficaríamos pelo meio termo: nem estabelecimentos de reduzida dimensão, nem esse pavor de umas casas enormes onde tudo mexe e a pessoa perde-se um pouco...

No momento em que me dizem que vão ser trancadas mais 701 escolas, é de pesar que tenho de falar.

O meu país desertifica-se e está cada vez mais pobre, mais cinzento, mais sem vida e sem entusiasmo. Culpados? Todos nós, de certa maneira. Mas há quem tenha uma responsabilidade maior e aqueles que nos legaram uma nação que se aninha, quase toda, à beira-mar estão entre os maiores de todos os coveiros.

Tudo isto dá que pensar.

Mas é sempre verdade: por cada escola que se fecha, abre-se a porta ao avanço do deserto e é, por mais que esta frase cheire a conceitos ultrapassados, uma espécie de farol que se apaga.
Se as escolas ditas pequenas não têm bibliotecas, ginásios, piscinas, etc.etc, criem-se alternativas, que se possam, por exemplo, estender a toda a comunidade, numa perspectiva intergeracional.
Mas pôr as crianças a devorarem quilómetros de estradas, no meio de um sono matinal e ao fim da tarde e princípio de noite, não é resposta que se cheire.
Encerrar um estabelecimento minúsculo, sem hipóteses de sociabilidade, impõe-se.
Trancar as portas a eito, brada aos céus.
Eliminar todas as que têm menos de 21 alunos, dá que pensar.
Fazê-lo a escassos dias do início de aulas, não tem classificação...

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Adeus, dorido, meus Bombeiros

Sinto que o céu está demasiado escuro, mesmo que seja ainda dia e muito dia. Não é apenas o fumo intenso que o tolda. Não. Nele se pode ver que tombaram, em plenos incêndios, dois Bombeiros, um em S. Pedro do Sul, o fogo dos fogos deste ano de 2010, outra, em Gondomar.
Vê-los partir é uma dor-ferida que dificilmente deixa de sangrar. Cair em maré de dádiva total aos outros e seus bens é uma ida cheia de glória, mas é um sacrifício que nos esfrangalha o próprio ânimo.
Se este calor de Agosto se revela estranho, porque queima em Portugal e na Rússia e arrasa de água o centro desta nossa Europa, por aqui são demasiado fortes os seus sinais. A morte é, sem dúvida, o mais duro golpe deste Verão quente e cheio de fumo.
Se o calor mata por si mesmo, se este potencia outras causas de partida anunciada, o desenlace de gente que tudo dá sem nada querer em troca, os Bombeiros, torna-se um peso demasiado, um poço sem fundo de tristeza e desconsolo.
Mas este facto de saber que a morte os encontrou em actividade meritória e voluntária, em vinda sem regresso para ajudar os outros, mais nos faz sentir o apreço enorme - e sem medida que temos por estas pessoas de alma enorme! - que nos prende da cabeça aos pés.
Alcobaça e Lourosa estão de luto.
Mas eu também.
Dolorosamente, muito doridamente.
Obrigado, amigos que nos deixaram.
Saibam que nunca vos esquecemos, assim como recordamos Sintra, Águeda, Armamar, Oliveira de Frades, Ventosa-Vouzela e tantos outros locais onde um qualquer Bombeiro caiu, bem de pé, para sempre.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Viseu em alta

O dia de hoje, que assinala setenta e cinco anos de Rádio pública, trouxe a Viseu, numa outra vertente, uma irmã mais nova dessa mesma RDP, a sua actual vizinha, RTP 1.
De manhã, passeou-se por Tondela, uma terra cheia de trunfos, incluindo o seu Presidente de Cãmara, que por ali foram desfilando um a um. Ao assistir a esse programa, apercebi-me de que, no Caramulo, há uma grande jóia museológica e uma menina, a Susana Tavares, que tão bem a mostrou. Arte em geral e automóveis, em particular, eis dois bons motivos para uma enriquecedora visita cultural ao Museu ali existente.
À tarde, Viseu recebeu o arranque da Volta a Portugal em bicicleta, facto que serviu de base para uma boa olhadela por essa bela e velha cidade, cada vez mais nova e atraente, tão forte tem sido a marca deixada pelo Dr. Fernando Ruas, seu Presidente de Câmara e com o mesmo cargo na ANMP.
Foi assim um dia em cheio para este distrito.
Mas é muito maior para a RDP, a festejar as suas Bodas de Diamante. Parabéns!
Já agora, apetece-me dizer que tem a mesma idade de um notório meio de comunicação regional, o "Notícias de Vouzela", que está em festa por esse mesmo motivo.
Com a Volta à nossa volta, que tudo corra bem!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A morte à minha beira

Se parece estranho este título, passo a explicá-lo: nas últimas horas, soube do falecimento de duas pessoas a quem me sinto, por mil laços de afinidades, muito ligado, quer pela via dos Bombeiros, quer pela minha outra costela, a do jornalismo.
Ontem, aqui tão perto, na Mealhada, um acidente de viação roubou a vida a um Soldado da Paz, atirando para as camas dos hospitais outros seus colegas. Foi o primeiro sinal de dor que me bateu à porta, aqui no meu recanto, em Oliveira de Frades.
Ainda não estava refeito desta pancada - e quem pode estar, depois de saber que morreu alguém que tudo deu à causa pública! - e logo um outro alerta, também muito pesado, me chegou de Lisboa.
As notícias da manhã traziam algo de triste para o mundo do jornalismo: o desaparecimento de Mário Bettencourt Resendes era, afinal, uma realidade que me custa a aceitar...
Impotente para travar tão dura novidade, convertendo em notícia, quem dela fez estilo e prática de vida, resta-me pensar que, na roda da vida, ninguém escapa ao fatal destino.
Sem o conhecer, convivi vezes sem conta com Mário Resendes, quer como leitor do seu jornal, o "DN", quer como ouvinte e espectador de muitos de seus comentários.
Concordei e discordei inúmeras vezes. Mas lê-lo e ouvi-lo sabia-me sempre bem.
Fica-me agora a certeza de que só o encontrarei algures, não sei bem onde.
A estes amigos que acabei de perder, que vivam em paz.
A seus familiares, os meus sentimentos de profundo pesar.