quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Setembro negro e seco

Estando o Verão a acabar e o Outono a chegar, esperava eu que tivesse vindo um pouco mais de chuva. Sabendo que quase tudo o que se come vem da terra e que à água se deve o milagre da vida, vegetal, ou animal, é natural que deseje que as nuvens não sejam avarentas, pelo menos, de vez em quando. Se, por hipótese, continuasse em Lisboa, talvez fosse mais uma daquelas pessoas que só vê na chuva o lado chato de ter de andar com um guarda-chuva, de meter o pé ( para ser bem educado) na poça, de receber uns pingos vindos de quem, ao lado, não caminha, corre apressado. Como essa não é a minha realidade, tenho pena de que não tivesse o chão molhado, as árvores e plantas regadas, os rios com mais caudal e outras coisas que tais. Continuando a onda do contraste entre aquilo que eu queria e o que me vem ter à mão, este mês de Setembro tem sido um desastre completo: aquele céu de S. Bento só trouxe fumarolas pretas, ventos agrestes, trovoadas secas, martelada da grossa e, de água criadora, nada. Azar meu, azar nosso. Com este sol, por estranho que pareça, por aquilo que dali vem só me apetece ficar em casa a carpir mágoas, a praguejar, pelo menos, para dentro. Assim foi desde o dia sete, quando o PM se lembrou de correr à vassourada a curta alegria dos trabalhadores, cortando-lhe, em anúncio, sete - estranha coincidência, dia 7 e 7% - pontos nos seus vencimentos. Aumentou esse mau estado de espírito, no momento em que VG veio agravar tudo isto. Houve um dia lindo, a 15 de Setembro com o povo em festa nas ruas e praças. Sol de pouca dura, porque, logo por essa altura, vi amuos de vulto na coligação governamental e, por mais que me apeteça protestar, cair o governo será o princípio do fim, uma espécie de bilhete para Atenas e isso é tudo o que não quero Se não gosto do trabalho desta gente, o que eu quero é que ali haja reciclagem da grossa, mas que se continue a caminhar... Agora, tenho uma vela acesa voltada para Belém, um nome que tem muito de místico e faz parte de todo o meu imaginário civilizacional. Tenho medo é de me enganar no nº da porta, ou encontrar o inquilino com quem quero falar em dia não. Mas que espero melhores dias, lá isso espero...

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Folhas caídas

Caem as folhas da esperança/amarelecem no chão/Pisadas, uma a uma, aos montes/São filhas despidas/ Num Portugal moribundo/ Que seus filhos desorienta/ e não tenta/ emendar a mão/ Quando a árvore seca/ e o chão; fica atolado de folhas podres/ mau é o sinal: /é o estertor de Portugal...

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Universidade do campo

Digo que gosto muito de conhecimento e que é este que faz girar o mundo. Tenho cá para mim que só ele deve preocupar quem pensa e faz educação, acrescentando-lhe os valores, a responsabilidade, a ética, a honestidade e outras dimensões que tais. Louvo, por isso, as ditas Universidades de Verão, mas vejo nelas uma lacuna muito vincada: enviesam esse mesmo conhecimento, que deve ser plural e aberto e despido de cargas partidárias. Mas, fora isso, é bem melhor do que fazer política com uma sardinha na mão e, noutra, um naco de broa. Tudo tem o seu lugar e o seu tempo. Por estas bandas de Oliveira de Frades, proponho uma outra ideia: uma Universidade do Campo, que estude a terra e seus usos, que potencie formas adequadas de organizar, por exemplo, a floresta de modo a não arder como tem estado a acontecer, que mostre como aproveitar conhecimentos ancestrais e os dinamizar, que faça compreender o valor da terra como meio de riqueza e de equilíbrio ambiental, que tem de ser encarada com muito juizinho, para se não estragar aquilo que de melhor temos. Também quero dizer que me recuso a aceitar uma certa ideia de divisão dicotómica entre os continuadores da habitabilidade destes territórios e aqueles que foram para as metrópoles, olhando agora para as suas origens como uma espécie de reserva museológica: por aqui há vida própria e modernidade e, com as acessibilidades,vai-se mais depressa a uma Biblioteca, um Museu, um Teatro que nesses grandes centros, onde anda tudo empanturrado de trânsito e empurrões. É este o desequilíbrio e velhos mitos que essa Universidade do Campo tem de ajudar a desfazer. Com pouca apetência para aceitar ditames vindos de fora, por ser filho de uma terra, um couto criado por D. Afonso Henriques,logo, habituado a viver em autonomia, não digo nada disto à Troika. Quero é que essa gente vá de abalada!... Guardo este segredo, o da Universidade do Campo, cá bem para nós. É assim mesmo: se têm a mania que mandam em toda a gente, enganam-se: para cá do Caramulo mandamos nós. E mandaremos sempre.