quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A morte nos incêndios no Caramulo, em 1986 e 2013

No momento em que a Serra do Caramulo continua a ser tragada pelas chamas, com ondas de destruição, de ferimentos e mortes, evoco aqui quem ali faleceu nos últimos dias, a Ana Rita Pereira, de Alcabideche, Bernardo Figueiredo, do Estoril, e, hoje, Cátia Pereira, de Carregal do Sal. Relembro ainda quem, numa cama de hospital, sofre por se ter dedicado à causa pública de salvar pessoas e bens. Obrigado a todos. Ao passar, de manhã, por Águeda, quando o fumo cobria o céu e tapava o sol, de olhos húmidos, resolvi fazer uma pequena visita a quem, em anos anteriores, também tombou em idênticas circunstâncias: no Quartel dos Bombeiros desta cidade, seus nomes se encontram perenemente registados. Fui prestar-lhe a minha homenagem, ao mesmo tempo que, naquele mesmo local de morte, o fogo avançava a galope, indiferente ao esforço de centenas de homens e mulheres, de meios terrestres e aéreos e muita entrega pessoal. Curvadamente, parei e li, aproveitando para aqui trazer os HOMENS que Águeda perdeu ao longo dos tempos: 24/07/72 - Víctor Manuel M. Silva; 14/06/86, em plena Serra do Caramulo, no sítio da Castanheira, onde um monumento assinala esta tragédia: António Eduardo C. Pires, Abel Ferreira, Arsénio Oliveira Silva,Cândido Oliveira Marques, Armando Rodrigues C. Loura, António Pereira Matos, Fernando António J.R. Guerra, Domingos Brás e Luís Graça Gonçalves; 5/10/92 - José Augusto S. Tavares. Adoptando como minhas as palavras de um poema que ali se estampa, ei-lo:" Heróis com nome" ... Bombeiros mártires; no amor/Os primeiros.../Heróis com nome.../Dão vida à vida/Na chama que os consome/E, quando o amor é forte/ Não há morte/Sois, no tempo, a saudade/ O sol da eternidade/..." - Direcção e Comando, 14/06/96 Numa prece, englobo-os a todos, os de ontem, acima citados com eterna saudade, e os de hoje, Cátia Pereira - Carregal do Sal; Bernardo Figueiredo - Estoril; Ana Rita Pereira - Alcabideche; Pedro Rodrigues - Covilhã; e António Ferreira - Miranda do Douro. Voltando atrás, olho ainda para António "Cifra", de Vouzela, que caiu para sempre em Oliveira de Frades e José Vaz, de Arca, que se apagou na freguesia de Arcozelo das Maias. Que descansem em paz. OBRIGADO, mil vezes Obrigado. Não esqueço estas vossas dádivas totais, meus AMIGOS... Nunca mais.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Incêndios por aqui na Serra do Ladáro

A minha Serra do Ladário, aqui em Oliveira de Frades, está a arder desde ontem, domingo. A noite foi de intensas e rápidas labaredas, num grande pavor. A manhã acordou com cerca de trezentos e oitenta Bombeiros, com o Comando junto às Bombas de Paredes de Gravo, com helicópteros e aviões em acção...E muitas chamas e fumos... Ontem, numa volta pela Serra do Caramulo, deparei-me com o mesmo cenário... Recordei, com tristeza e saudade, a Bombeira Rita Pereira, de Alcabideche, morta ao serviço de uma causa pública, e o meu Amigo, Professor Mendes, de Queirã, que luta com o sofrimento num Hospital do Porto( a quem desejo rápidas melhoras), assim como outros feridos... E outros prejuízos, sempre menores quando comparados com tragédias humanas...

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A minha ideia sobre freguesias, há muitos meses em "Notícias de Vouzela"...

Freguesias com grande proximidade ao povo que representam Há lugares comuns que nunca são demais. Afirmar que as freguesias são o mais próximo elo político-administrativo de ligação entre os cidadãos e os eleitos, repetimos, eleitos, é um desses axiomas sem tirar nem pôr. Dispensando comentários, fala por si. As suas origens, muito embora durante séculos integradas numa organização que confundia o sector religioso com o civil, numa amálgama profunda, podem ver-se nos períodos romanos e da reconquista, com um interregno lógico, naquele figurino, durante a supremacia árabe. Assim, às paróquias associa-se, regra geral, uma freguesia, facto tanto mais de relevar quanto se sabe que o termo radica em «filius eclesiae», filho da igreja, o conhecido freguês, que adquire também, em termos comerciais, um outro significado, bem conhecido de todos nós. Ligadas aos municípios ou concelhos, estes com existência mais concreta e definida desde há séculos, são, porém, muito mais serôdias quanto ao seu actual enquadramento histórico na esfera do direito da nossa arquitectura de estruturas institucionais civis. Mas isso não lhes retira credibilidade e muito menos razão de ser. Aliás, como organismos de ordem mista, como vimos, têm um papel próprio e inalienalável, Ao virem a ser reconhecidas pelo legislador no ano de 1830, como Juntas de Paróquia, era-lhe então confiada um a extensa missão, que passava pela reparação de templos, administração de bens e rendimentos da Igreja, conservação de fontes, poços, pontes, caminhos e baldios, subindo mesmo a mais altas esferas, como sejam as de cuidar da saúde pública e das escolas do ensino primário. Em 1835, são consideradas parte da divisão administrativa. Mas já em 1832, pelo Decreto nº23 de Mouzinho da Silveira, sem efeitos práticos, no entanto, detinham um estatuto idêntico. Com os Códigos Administrativos de 1836 e outros, estas formas de poder apareciam com vida própria, com um apagão em 1840, sendo que, no ano de 1867, vemos aparecer a chamada Paróquia Civil, que o Código de 1878 consagra, retocado posteriormente, para a 1ª República o repescar em termos de maior autonomia e descentralização política. Chegado o Estado Novo, surge, então, uma espécie de seu apoucamento. Com o 25 de Abril de 1974 e a Constituição, adquirem esplendor, sangue, vitaminas e fulgor em dose imensa, respondendo com propósito e vontade aos desafios que lhes são colocados, a ponto de, hoje, ser necessário repensar a legislação que está em cima da mesa e que lhes não é, de todo, favorável, em muitos casos. Muito embora possamos e devamos distinguir freguesias urbanas e rurais e, dentro desta categoria, olhar bem para a sua essência, temos o dever de exprimir a nossa posição: neste poder de ao pé da casa não se pode tocar por dá cá aquela palha. È preciso muito cuidado e muita canja de galinha, antes de se tomar qualquer decisão. Para ilustrar este raciocínio, remetemos os nossos leitores para o nosso último jornal, onde se fala de uma brilhante iniciativa da Junta de Freguesia de Valadares, do vizinho concelho de S. Pedro do Sul. Ao ler aquilo que ali se está a fazer, nota-se que estas e outras freguesias (que, parece, nem é o caso desta autarquia) não podem morrer assim, só porque têm menos habitantes que a tabela, de régua e esquadro, acabou por registar. Com tempo e com obra, umas outras suas dimensões não têm paralelo: a proximidade, a cumplicidade, o conhecimento dos problemas e a capacidade de os resolver. Isso, não há dinheiro que o pague. Ao deterem uma vasta teia de funções próprias e outras delegadas, a que se junta um extraordinário espírito de voluntariado e bem fazer, tudo quanto a elas diga respeito merece uma atenção especial, que os responsáveis políticos, lá em cima, não podem descurar. Nem atirar pela janela fora. Muito menos isso. Carlos Rodrigues

Uma ideia sobre as autarquias publicada em NV há largos meses

Poder local à espera de machadada forte e feia - 1 – Uma leitura geral Anunciada vezes sem conta e outras tantas alturas adiada, a reforma do poder local parece que, daqui a tempos (?), vai mesmo aparecer. Pelo menos, já tem Livro Verde e um Ministro, Miguel Relvas, com vontade de mexer nessa estrutura da nossa organização política e administrativa. Só lhe falta uma condição: ter a força de Mouzinho da Silveira, aquela veia de estadista que não toca a todos. Sendo a maior conquista do 25 de Abril, as Autarquias são isso mesmo: donas de si e do seu destino. Porque lhes assiste uma força imensa, a do voto e a da proximidade, têm marcado um caminho, que é o de seguirem o seu rumo, em função de programas, agentes activos e dinâmicos, conhecidos, estimados (também odiados), pessoas de carne e osso, que se cruzam com seus fregueses e munícipes ao virar da esquina e deles quase percebem o que desejam, pelo menos aparentemente. Se, em 1975 e 1976, foi fácil definir um rumo e encontrar um quadro legislativo para o nosso figurino democrático mais imediato e genuíno, que se consubstanciou numa lei que agradou a todos, se as fronteiras pegaram nos limites do anterior século XIX, em que tudo andou em bolandas, mas que, nesse último quartel de século XX, se entendeu não retocar, muito menos alterar, salvo um ou outro aspecto de pormenor, tudo se conjugou para que tivesse – como aconteceu - êxito assinalável. Temos assistido a arremessos vários ao longo destes tempos, nesta matéria. Chegou a ser praticamente assinado um acordo que, por razões que só a política e o tacticismo sabem entender, veio a ser rasgado. Agora, com a Troika, colocados perante um cutelo ameaçador, Deus nos acuda, temos de puxar pelos cordelinhos da imaginação e encontrar as soluções miraculosas. Uma delas, talvez nunca a melhor, nem a mais sensata, veio fazer inscrever no papel a tese dos números, das distâncias, das estatísticas, da contenção (?) de gastos, mas esqueceu aquilo que é mais importante e sagrado: a identidade das pessoas e de suas comunidades. Mesmo que assim falemos, não descartamos a hipótese de ver este tema ser repensado, alterado, melhorado, se for possível, mas nunca desvirtuado. E o que vemos em cima da mesa, para sermos fiéis a posições com anos de assumido destaque pessoal, têm carimbos de que não gostamos e um deles, talvez o mais forte, é este: defender-se a ideia de vereadores de estufa, sem serem eleitos e, pelo contrário, escolhidos pelo cidadão mais votado da lista para a Assembleia Municipal. Essa é uma tese que nos desagrada vivamente. Para nós, um vereador é isso mesmo, desde a Idade Média e até, às vezes, mais entroncado que os “presidentes” que, nesses tempos, podiam ser juízes de fora, alguém com legitimidade de voto e não um “quadro” que ora se aceita, ora se atira pela borda fora. Dizem que, com esta medida, se defende a funcionalidade das autarquias, se evitam entraves diversos, se agilizam procedimentos, se dá forma de governo nacional a entidades locais. Certo. Mas imensamente errado: retira-se ao poder local aquilo que ele é – a expressão viva, discutida, dificilmente conseguida, mas, também por isso mais enriquecida, do que tem de mais nobre a função política, que é o facto de encontrar soluções entre as diferenças e andar em frente. Acrescentam que as Assembleias lá estarão para fazerem a devida fiscalização. Certo. Mas imensamente errado, se soubermos, como sabemos, que os seus tempos de funcionamento nada têm a ver com uma AR, aberta todos os dias e com outros poderes. Se estas são questões de princípio, outras nos atormentam e uma delas tem a ver com as supressões e fusões que se pretendem ver consagradas nas Juntas de Freguesia, o mexilhão de todo este edifício do poder local que temos, democrático e que nelas tem o pilar básico – o mais próximo elo de ligação com os cidadãos. Repare-se: nas Câmaras não se toca, recomenda-se, angelicamente, a constituição de uma espécie de associações… Ao passarmos os olhos pelo respectivo Livro Verde, que queremos aprofundar em termos de um maior conhecimento de pormenor, temos a clara noção de que, quanto a teoria, há ali terreno a lavrar, mas, se cavarmos mais fundo, são muitos os calhaus que iremos encontrar. Discutível é a terminologia das freguesias maioritária ou predominante urbanas, ou rurais, assim como o números de habitantes e densidade populacional, bases de trabalho para futuras tomadas de decisão. Aqui, tudo é verdade e o seu contrário. Preto e branco não são critérios que se possam utilizar. Talvez o cinzento também tenha o seu lugar. Depois, quem é quem no caso de extinções ou fusões, sendo que defendemos a máxima de que ninguém pode ser privado do melhor que a democracia tem: a possibilidade de encontrar um interlocutor à mão de semear. Dito isto, nenhuma freguesia que, eventualmente, venha a eclipsar-se, pode ficar sem representantes eleitos e com a devida legitimidade. Esse é um ponto que nunca, em tempo algum, pode vir a ser perdido. Por ser este um fato difícil de cortar e coser, a ele voltaremos, proximamente, com mais dados e pormenores. Carlos Rodrigues

terça-feira, 13 de agosto de 2013

A nossa Pedra da Broa

Em véspera do convívio da Pedra da Broa, lembrei-me de lhe dedicar estas linhas: - "... Vou à Pedra da Broa/ à procura de sardinha assada/recordo, coisa boa,/a amiga de sempre da patuscada...// ... No princípio, era o Gomes, florestal/vinha e vem também o Quintela, engenheiro/começou a festa, não levem a mal/mais de meio século, por inteiro...//... O grupo foi crescendo, anos a fio/ em cada mês de Agosto, mês quente/refresca-se este anual estio/ com muita e boa nossa gente...//... É o sábado, o segundo/E Lafões ali vai parar/Vêm amigos de todo o mundo/ à Pedra da Broa, para à mesa estar...//...A sardinha é rainha em brasa feita/ as batatas, a salada, o vinho e o pão/ são companhia e grande peita/ pr'a estes convivas do coração...//... Muitos aqui estão, outros são saudade/esta a tradição que perdura/tempos fora sem maldade/ que esta Pedra rija nem água a fura...///