quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Querem matar a pequena agricultura

Acabei de ler as palavras escritas por um amigo meu, o Henrique, de S. Félix-S. Pedro do Sul, em que se insurge, e com carradas de razão, contra as exigências feitas aos nano-agricultores relativamente à inscrição nas Finanças para venda de um pau de cebolas e um saco de batatas, à "carta" para usar produtos fito-sanitários, sulfatos e afins,tudo a complicar a sua vida e nada a fazer com que este sector continue de pé. O "Notícias de Vouzela" mostrará este texto quinta-feira, dia 27. Antecipo a mensagem deixada, assinando por baixo. É uma tristeza: quando é preciso voltar a pôr os campos e florir e a produzir, o Estado, em vez de ajudar, com tanto simplex que diz ter, só está a estragar... Merece, por isso, um valente puxão de orelhas, este e outros...

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Em tempo de chuva, falar de floresta é exercício preventivo...

A floresta em Oliveira de Frades, uma pequena visão Em tempo de incêndios, que são o nosso pavor de todos os verões, ao olharmos para a floresta do concelho de Oliveira de Frades, não obtemos um quadro que seja muito diferente dos municípios vizinhos, da região em que se integra e do interior nacional em geral. A haver especificidades, que as há, são mais do domínio dos pormenores que de leitura global. Numa viagem breve e não muito aprofundada, são visíveis alguns aspectos que resultam de acções de ontem e de hoje, com infraestruturas construídas ao longo dos tempos, umas em bom aproveitamento, sempre que necessário, outras nem por isso, ou pior, não passam de esqueletos mortos que os homens foram continuamente esquecendo. Neste último caso, temos o Aeródromo da Pedra da Broa, que nasceu sob um espírito de visão de futuro, ligado ao combate a fogos florestais, em apoio aéreo, campo em que foi muito útil, mas que a incúria de alguns responsáveis do sector, para não falarmos em outro tipo de atitudes, se encarregou de ir apagando do mapa. Por ali vegeta em triste e lamentável abandono. Contrariamente a esta área, a dos pontos de água, recordando de cor alguns deles, continua de pedra e cal ao serviço dessas causas: referimos a Vessada do Salgueiro, o Rio Águeda, em Paranho, o Rio do Carregal, a Barragem das Cainhas ( em emergência, por se destinarem as suas águas a consumo público), a de Pereiras (de rega), o Rio Vouga, o Teixeira e o Alfusqueiro, como reservas naturais, entre outros. Também em matéria de aceiros e caminhos, há obra a registar e que ainda hoje é bom suporte em travão ao avanço das chamas e em acessibilidades, podendo dizer-se, como se lê em “ O risco de incêndio no distrito de Viseu – uma visão integrada das estruturas existentes, Helder Viana, Nuno Amaral e Rui Ladeira, Governo Civil de Viseu, 2005”, que há “… uma boa densidade de estradas e caminhos florestais”, até porque, de 1997 a 2003, ano da extinção das CNEFF, este concelho viu serem aplicados nestas áreas de apoio à floresta322795,50 euros, um dos maiores investimentos a nível distrital. Há, ainda, dois equipamentos, que, sendo pertença da Direcção Geral das Florestas, são de um inestimável valor, falando nós aqui dos Postos de Vigia de Arca (Urgueira) e do Ladário (Cruzes), com os identificadores 150 e 151, respectivamente, e ambos na região da Beira Litoral, freguesias de Arca e Destriz, de acordo com as informações da página oficial. Ladeiam estes pontos, os de Sever do Vouga, Arestal e Doninhas, de S. Pedro do Sul, Gravia e S. Macário e de Vouzela, Penoita. Destinados a detectar focos de incêndio e a comunicá-los, logo de seguida, são peças essenciais e determinantes no campo do combate aos fogos que despontam, até porque estão alerta 24 horas por dia, nas épocas determinadas para esse efeito. Com uma Associação de Bombeiros com grande força de operacionalidade, a actuar nos 14535 hectares do concelho e nos seus 8847 ha de floresta, constituindo 60.9% daquele total, com dois grupos de Sapadores, em Oliveira de Frades, a Verde Lafões, e em Ribeiradio, a Biosfera, meios humanos, a esse nível, não escasseiam. Mas há condições e adversidades que têm de estar em linha de conta, desde o clima à falta de limpeza das matas, primeiro, em grossa omissão dos próprios Serviços Florestais e, depois, também dos particulares, estes a olharem para mais essa despesa, na ordem dos 350 euros por hectare, muitas vezes sem quaisquer resultados práticos, porque, se houver uma falha na vizinhança, é dinheiro deitado ao lixo, sem apelo nem agravo. Ao aludirmos aos Serviços Florestais, vejamos os respectivos Perímetros, partindo da fonte citada, em que se integra o município de Oliveira de Frades, o que dá uma ideia dos agentes que têm a direcção destas matas, com a inerente confusão que pode gerar: CARAMULO – Vouzela, Oliveira de Frades (OFR) e Tondela; LADÁRIO – OFR, Vouzela e Sever do Vouga; PRÉSTIMO – OFR e Águeda; VOUGA – OFR e S. Pedro do Sul; ARCA – OFR e Vouzela e S. PEDRO DO SUL – SPS, OFR e Castro Daire. Com uma taxa de arborização de 53.7% e uma média de 2.1 ha de superfície por unidade de exploração, em meia dúzia de parcelas, eis os ingredientes para as dificuldades que há em encontrar o bom ponto de equilíbrio e as melhores respostas preventivas, que passam muito pelo corte dos matos em tempo útil. Tendo como outra fonte a www.unimadeiras.pt, constata-se que, com enfoque na produção de eucaliptos, em áreas das explorações, temos estas percentagens, regra geral: até 1 ha – 55%; de ½ a 1 ha – 19.70%; de 1 a 2.5 – 17.60%; de 2.5 a 5 – 4.20%; de 5 a 10 – 2.20 e com mais de 10 ha apenas 1.30%. Isto diz tudo quanto a índices de dispersão e dificuldades de gestão e rentabilização. Operando nas freguesias de Pinheiro de Lafões, Arcozelo das Maias, Ribeiradio e Destriz, em 2011, a Unimadeiras levou a cabo operações de controle de vegetação, fertilização, selecção de rebentos, manutenção de caminhos, etc. Ali se cita uma ideia veiculada pelo então Secretário de Estado do Desenvolvimento Rural e da Floresta, que, no ano de 2006, em pleno monumental incêndio que destruiu a Serra do Ladário, veio declarar que este mesmo Baldio seria um dos primeiros a ter um Plano de Gestão Florestal devidamente concluído. Temos de confessar que não sabemos se assim aconteceu. Entretanto, nesse mesmo ano de 2006, aprovara-se o Plano Regional de Ordenamento Florestal do Dão e Lafões, com o Decreto Regulamentar nº 7/2006, de 18 de Julho, publicado no DR nº 137. Se muito mais haveria a dizer sobre estas matérias, uma das outras condições de cuidados a ter com a floresta está na constituição, em 2005, do Gabinete Técnico Florestal, que tão boa conta de si tem dado, desde então até agora. Porém, sendo este sector um poderoso meio no xadrez das nossas economias locais, muito dele haveria a dizer. Mas hoje ficamo-nos por aqui, com votos de que seja e se mostre sempre muito próspero. Carlos Rodrigues, “Notícias de Vouzela”

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Tempo e políticas às avessas, como escrevia há dias

A meteorologia e a política de cara à banda - Até os Tribunais já fugiram Há dias em que escrever duas linhas é mesmo um frete, porque nada sai bem e a janela, com o temporal que nos mostra, não é fonte de inspiração que se cheire. Quem paga é o computador e suas teclas, carregadas vezes sem conta, mas sem darem algo que preste. Poupamos, ao menos, no papel. Outrora, em folhas rasgadas e amarrotadas, algumas quase com raiva, era de desperdício ambiental que se tratava. Agora, valha-nos isso, a poupança aqui tem nome: não há estragos de monta, a não ser meia dúzia de neurónios queimados, prestes a fazerem faísca. - 1 – Sendo o TEMPO e o FUTEBOL boas muletas para um começo de conversa, é a primeira que vamos usar. Caramba, isto vai mesmo muito mal: chuva, vento, trovoada, granizo, nevoeiro, mar revolto, eis uma carrada de ingredientes de Inverno que, neste ano de 2014, vindo já de 2013, são uma constante por estas nossas terras de Camões. O seu Gigante Adamastor, assanhado, anda por aqui. A tempestade Stephanie tocou-nos à porta, entrou pela casa dentro e deixou marcas, não muito boas, por sinal. Temos escrito e dito que não comungamos da tese urbana que diz que, quando está a chover, logo estamos perante um qualquer mau tempo. Sentimos e defendemos que, para quem vive, por opção, em meio rural, a chuvinha, bem caída, por vezes é ouro e do bom, por ser criadora, por ser suporte de vida. Mas, convenhamos, agora essa gente tem toda a razão: há mau tempo e ponto final. A costa marítima tem dado cuidados até mais não. São tantos os episódios, que já não estamos a enfrentar aspectos pontuais, mas a sofrer algo que exige cuidados e medidas estruturais. As ondas gigantes, que se não confessam e tudo arrasam, são uma chamada de atenção que não pode deixar ninguém insensível. Isto é mesmo um problema da Humanidade e o Homem tem as maiores culpas neste cartório. As alterações climáticas, com todo o cortejo de seus efeitos e até horrores, estão aí, por mais que se queira contestar esta ideia. Face a isto, temos de pôr mãos à obra e não são umas pazadas de areia que resolvem o problema. Isso é como querer encher o mar com dedais de água. Nada mais do que isso. Infelizmente. - 2 – Se o tempo nos anda a pregar tais partidas, veja-se o que fazem os seres humanos por aqui e pela Suíça. Vamos, para já, falar daquilo que de mal nos coube em sorte nas nossas terras, ficando o triste Referendo da Suíça para o ponto número três, já a seguir. Sem qualquer esforço de memória, elegemos a JUSTIÇA como palco de nossas críticas, preocupações e mil cuidados. O que temíamos, directa ou encapotadamente, veio a concretizar-se: os Tribunais foram fechados em 20 concelhos, sobretudo situados em zonas do Interior, e 27 passaram às famigeradas Secções de Proximidade, estilo apeadeiro para comboio parar apenas a pedido e em certas horas. Temos também a Especialização, mas as nossas Comarcas perderam em toda a linha. Na nossa Região e arredores, houve de tudo quanto seja mau: fechou Sever do Vouga, ficaram como Secções de Proximidade Castro Daire, Oliveira de Frades e Vouzela, mantendo-se, porém, intacto S. Pedro do Sul. Há quem diga: do mal o menos. Somos desses. Mas esta afronta é isso mesmo: uma bofetada de todo o tamanho. Nasceu, por sua vez, a grande Comarca de Viseu, ou seja, o acesso a este mundo da justiça complica-se e afasta-se do nosso seio. Isto é o pior que nos pode acontecer. Símbolo de soberania amordaçada, pilar da confiança nas Instituições destruído, aqui temos a continuação de um lastimável e condenável caminho que as políticas centralizadoras de Lisboa teimam em impor-nos. A culpa desta situação vem do Memorando da Troika. Mas quem a está a colocar no terreno são os responsáveis governamentais que, agora, ocupam as cadeiras do (mau) poder. Uns e outros, ou seja, quem está, neste momento, na oposição e quem “manda”, ninguém escapa à nossa crítica frontal, aberta e assumida. E sem rodeios. Acabar com os Tribunais, ou fazer com que funcionem a meias, é osso duríssimo de roer. As nossas terras não merecem este tratamento de cidadãos descartáveis. Olhar para estas zonas com a régua e o esquadro numa mão e as estatísticas na outra, é não querer saber que este despovoamento só se combate, criando condições para aqui se viver. Por isso é que os políticos, todos eles, devem ter a cabeça a doer: decisão a decisão, estão a matar o nosso Interior. No banco dos Tribunais, que nos estão a levar, são culpados com todas as letras. E, na nossa mente, não escapam a serem considerados parte da desgraça que nos estão a fazer viver. Todos eles. Talvez menos D. Dinis e D. Sancho I. Para completar este nosso raciocínio, ver os trabalhos da Lurdes Pereira e da Salete Costa acerca deste mesmo tema… - 3 – Nesta crónica azeda, ainda há mais vinagre estragado em cima da mesa e a ementa de que vamos falar chega-nos da Suíça onde um Referendo, vencendo à tangente (50,3% de sins e 49.7% de nãos), veio fazer perigar a vida da nossa emigração, com a votação do projecto “Contra a Imigração de Massas”, nascido na extrema-direita, o Partido do Povo Suíço. Tudo ali pode piorar para os nossos emigrantes, mas confiamos em que a mais valia dos seus contributos e o historial que foram conseguindo sejam capazes de travar essas más intenções, que não são, aliás e ainda bem, a carga genética actual da Europa onde estamos, com a Suíça como país associado, embora não elemento… Carlos Rodrigues, Notícias de Vouzela, 2014

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Portagens na A25, ontem e hoje

A 25 e outras vias de comunicação, portagens e problemas Nesta velha questão que tem a ver com a A25 e gratuitidade ou pagamento, a introdução do sistema SCUT teve apoiantes e detractores poderosos, de um ou outro lado da barricada. Se a ideia de circular hoje e pagar amanhã, Sem Custos para o Utilizador, tem sido reivindicada em nome da solidariedade e coesão nacional, qual contraponto ao financiamento recebido pelos transportes, por exemplo, de Lisboa e Porto, o peso financeiro desta medida não deixa de ser posto em causa. Numa opinião pessoal, assinada sem quaisquer temores, temo-nos inclinado sempre para a necessidade de apoiar o crescimento e desenvolvimento destas nossas regiões, por via do estímulo se outros métodos não surgirem. O IP5 teve, a esse propósito, um papel insubstituível, apesar das dores e agruras que veio a suscitar. A A25 pode (se se mantiver alguma visão estratégica de futuro!...) seguir o mesmo caminho. Mas a cegueira dos números imediatos, sem pesar efeitos perversos e colaterais, está prestes a ditar o contrário: com a introdução de portagens, cujos pórticos e placas estão a dizer-nos que é essa a tese que vai vencer, é nossa convicção que este interior alto e médio vai sofrer, na carne, a teimosia de quem, podendo ver, teima em ficar às escuras, para mal de todos nós. Tenho um NIF que me marca. Muitos outros – e o meu! - por aí existem que, daqui a tempos, vão reflectir a recessão de tempos de crise mais esta que, por força de más políticas, se aproxima a passos perigosamente largos. Enquanto é tempo, acautele-se o futuro, como dizem as 35702 assinaturas que entraram no Parlamento pela mão da Comissão de Utentes Contra as Portagens. Mesmo que dos poderes instituídos nada nos tenha sido adiantado, ainda que pedido, tudo leva a crer que o golpe final já está preparado. Contra ele, entendemos que é altura de sempre lutarmos. Enquanto por aqui isto pode vir a acontecer, no IP3, numa estrada com poucas dezenas de anos ( que saudades, meu Deus, dos romanos!), uma ponte ameaça ruir, no Chamadouro, apesar de recentes obras de restauro. Num Portugal assim, com obras mal feitas e uma gestão territorial sem horizontes, é difícil ser-se optimista, ou mesmo razoável nos anseios e expectativas. Sendo o país que somos, resta-nos esta atitude de firme protesto, neste caso, e de gratos elogios em muitos outros… Carlos Rodrigues, “Notícias de Vouzela”, a propósito das portagens, há poucos anos

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Tribunal a meias, a nova triste modalidade da justiça

Ontem, ficámos a saber que havia 20 Tribunais a fechar, sobretudo no interior do interior deste nosso país, assimetricamente destroçado, e outros a serem convertidos em secções de proximidade, um palavrão para dizer que ali vamos ter uns serviços de meia tigela, numa espécie de remedeio para inglês ver. Na altura, ficámos meio contentes, por sabermos que as nossas terras, Oliveira de Frades e Vouzela, tinham escapado aos cortes antes anunciados. Mas tínhamos dúvidas quanto ao seu real destino. Acabámos de ver, em mapa publicado pelo JN, que, afinal, só ficámos com meio rebuçado, por sinal, bastante amargo. No meio desta confusão, calhou-nos a fava de passarmos a ser as ditas "secções de proximidade"... Mau sinal. Mesmo sem sabermos ainda o que seja isto, cheira-nos a esturro,sendo assim como que uma justiça a meias, o que não deixa de ser uma tremenda injustiça encapotada... Entretanto, cá estamos para ver... E falar, depois... Por isso, os foguetes que queríamos estoirar ficam recolhidos, até por solidariedade com o concelho vizinho de Sever do Vouga, a quem coube uma sorte bem mais madrasta: perdeu o seu Tribunal e nós, vá lá, ainda o temos por cá...

O futuro e as energias pensados em 2011, no "Notícias de Vouzela"

Pensar o futuro pela via das novas energias O tema da energia faz mover um grande número de agentes do pensamento em termos de busca de alternativas para o futuro, que o presente assim aconselha: em maré de crescentes dúvidas e de sobressaltos a mais, como este de, sem explicações plausíveis, vermos sempre os combustíveis a aumentar e os bolsos a encolher, mais se faz sentir a necessidade de ir por outros caminhos. Contrariamente ao que atrás dissemos, hoje (?) mesmo sentimos na pele os efeitos dos acontecimentos da Líbia. E este facto mais adensa a urgência de se abrirem novas portas. Na marcha do tempo, queimam-se muitas pestanas para historiar esta área da nossa vida económica e social. Desde a força humana elevada à categoria de propulsora de tantos e tão pesados feitos, como a movimentação de penedias para construção e o domínio dos perigos adversos que surgiam a cada passo, até à descoberta da alavanca e do fogo, vão passos de gigante, talvez milhares e milhares de anos de distância. Com o solo a ser escasso em termos de respostas, vai-se para o subsolo à procura de carvão, minérios e, já perto dos nossos dias, de combustíveis fósseis, de que é expoente de primeira grandeza o petróleo, esse marco civilizacional que veio mudar todos os paradigmas da nossa humanidade. A electricidade, um pouco antes, fora outro dado da maior importância, talvez mesmo bem mais relevante. Mas havia um pormenor que tinha de ser equacionado: a energia pela via eléctrica era praticamente estática, quanto aos seus usos. O petróleo, porém – e daí a sua extrema mais valia - veio revolucionar a locomoção, a produção industrial e dar a volta ao mundo. De mão dada, estes dois factores tornaram-se motor e semente de futuro, desde os séculos XIX e XX. Criando tais argumentos, tudo passou a girar em torno destas fontes de movimento, de colocação de máquinas em trabalho, de parceiros de um homem que desse contexto passou a estar profundamente dependente e até escravo. Tudo isto aconteceu em pouco mais de um século e, no entanto, o género humano já carrega em si milhares e milhares de anos de existência. Este aparente paradoxo tem uma explicação: viveram-se tempos e ciclos longos de estabilidade durante grande parte do passado humano. Cada nova técnica, ao nascer, tinha garantido um risonho futuro pela sua frente. Pouca inovação ameaçava o seu poderoso e dominador reinado. Mas, quando rebentaram outros métodos e centros de saber e experimentação, associados a inventos em cima de inventos, tudo mudou. A dimensão volátil da ciência ganhou estatuto. A velocidade das alterações converteu-se em medida, sempre efémera, de tudo aquilo com que o homem operava. A certeza de hoje constituiu-se em dúvida e chacota de amanhã. Já nada, podemos afirmá-lo, tem agarrado a si a marca de verdade perene e universal. Talvez até os valores se podem enquadrar nestes princípios de ebulição e evaporação constantes. Se esta reflexão tem uma dimensão extensível a muitos e variados domínios, o da energia não passa despercebido à luz deste incrível rolar da história. Antes pelo contrário. Motor e sustento da nossa economia, dela depende a sobrevivência do mundo empresarial e do nosso quotidiano, que, aliás, estão profundamente interligados. A realização, há dias da “Enervida – 11”, em Viseu, levou a que nos sentíssemos quase na obrigação de abordar este tema, tantas são as interrogações e evidências que ali se levantaram, muitas já sabidas, outras, talvez, nem tanto. Ali se soube, por exemplo, que o nosso distrito é, a nível do país, o segundo em produção de energias renováveis e o primeiro no campo das fontes eólicas. Para assim ser, nada disto aconteceu por acaso: o facto de albergarmos esse colosso de determinação e de bem saber fazer, que é a Martifer, de Oliveira de Frades, tem aqui um papel de uma assinalável relevância, para não dizermos mesmo, insubstituível. Junte-se-lhe a ciência de um criativo Politécnico, com o seu carro eléctrico, acrescente-se-lhe a força da AIRV e encontraremos grande parte da resposta para este sucesso. Quando tanto temos criticado muitas das nossas políticas e medidas nacionais, seríamos injustos com outrem e connosco mesmo se não disséssemos que esta é uma clara aposta do nosso Governo que aqui, neste desígnio, tem efectiva concretização e constitui até uma de suas bandeiras, por mérito próprio e por obra de quem abraçou tais projectos. Com a biomassa, o potencial eólico, geotérmico, hídrico, marítimo, solar e do hidrogénio (havendo que somar a tudo isto, como nos confessava o Dr. Fernando Tavares Pereira, a produção de lítio, material essencial para as futuras baterias eléctricas), detemos tudo, em fina nata, para um diferente caminho a percorrer, que seja alternativa ao caro e estafado petróleo, que tanta dor de cabeça nos dá. Se agora já subimos aos 53%, em termos de componente de energias renováveis na composição do pacote eléctrico, ainda temos quase outro tanto de esforço a percorrer até chegarmos ao topo de nossos desejos, aspirações e necessidades. Mas há um lastro, um poderoso arranque, que não pode morrer na praia. Com aquilo que acabámos de descrever, cabe endereçar à “Enervida”, aos seus mentores e operacionais, merecidas congratulações pela oportunidade deste encontro-feira e pela ideia de nos fazer sentir que somos capazes de, inovando, dar saltos enormes em favor do nosso futuro e é por ele, pelas novas gerações, que temos de lutar. A “Geração Deolinda” exige que assim procedamos: que lhe deixemos um mundo melhor, que para mal já basta a inércia que temos tido e a tripa-forra em que se andou a viver, sem rei nem roque. Com esta procura de uma outra energia é na juventude que temos de pensar. Vale, por isso, a pena que se não esmoreça nesta busca incessante. Carlos Rodrigues, NV, 2011