quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Voltas por S. Vicente de Lafões

Pelas nossas terras - S. Vicente de Lafões, a dois passos da sede do concelho Com cerca de 751 hectares, a freguesia de S. Vicente de Lafões ocupa uma zona planáltica de média altitude, situando-se em posição contígua à sede do concelho, Oliveira de Frades, tocando, curiosamente, no município de Vouzela nas freguesias de Paços de Vilharigues e Cambra. Com uma posição privilegiada e a rondar os setecentos e cinquenta habitantes, espraia-se pelos lugares de Água Levada, Bandonagens, Cajadães, Corredoura, Postasneiros, Santiaguinho, S. VICENTE, Sernada e Sernadinha. Tem na agricultura e na avicultura os seus principais polos de vivência económica, mas é nos sectores secundário e terciário que se emprega a maior parte de sua população. Local escolhido por diversos povos para ali se instalarem, assistiu a importantes obras pré-históricas, de que há vestígios de uma anta, com pinturas, situada na coordenada Gauss W978145, bem perto da EN 333, que liga Caveirós a Vilharigues, e que já tive o prazer de visitar com meu Amigo e Colega António Nabais, sendo, porém, a marca romana aquela que mais se evidencia, na estrada que passa por Cajadães, Postasneiros, onde há um dos mais afamados troços de toda a região de Lafões, Santiaguinho, limites da Sernadinha, prosseguindo por esse mundo além. Também os árabes, por via de Aben Donages, aqui estiveram presentes, deixando-nos Bandonagens, como prova toponímica. Com localização na Corredoura, a Igreja Paroquial pode ter existido noutros pontos, havendo algumas referências que indiciam essas mudanças, quer em “Terras de Santa Maria”, quer nas “Igrejas Velhas”, sítios que se podem ver nesta mesma freguesia e que a podem ter acolhido noutros tempos. Em nomes mais duros, o “Campo da Forca” e o “Homicidia” remetem-nos para tristes acontecimentos, que aqui, porventura, tiveram lugar. Deixando de lado esses aspectos menos recomendáveis, voltando à História, são vários os documentos que atestam a longevidade destas paragens: 1086, 1092, 1100, 1258, 1527 e aí por diante, sempre S. Vicente de Lafões teve honras de registos imortais. Um deles fala-nos da Irmandade de Nossa Senhora da Assunção de Cajadães, fundada no ano de 1687, com aprovação em 1688 pelo Dr. Cristóvão de Quintanilha, provisor do Bispo de Viseu, de que era prelado o bispo inglês, D. Richard Russel, como se lê no Santuário Mariano, transcrito no livro “Oliveira de Frades”, da autoria de António Nabais, natural desta mesma paróquia, de mim próprio e de Manuel Martinho, um bom Homem desta Casa durante muitas décadas, com edição da CM de Oliveira de Frades, em 1991. Em termos de dados notórios, em 1795, a Companhia Geral do Alto Douro explorava aqui um destilador de aguardente, enquanto que, em 1910, era constituída uma Comissão Paroquial Republicana pelos Padres António Dias D’Almeida, Joaquim Pereira dos Santos Aragão e ainda Bernardino Pereira, sendo substitutos Joaquim Pereira dos Santos e José Francisco Mariano. Escolarmente, a Corredoura e Cajadães foram os locais fortes da freguesia, havendo também um Jardim de Infância no edifício da Junta de Freguesia, este imóvel inaugurado em 1993. Com uma antiga Estação do Caminho de Ferro do Vale do Vouga, ainda de pé, e um Apeadeiro no Fojo, em Ferreiros, eis outro bom testemunho da importância que sempre demonstraram estas localidades. A zelar por estas terras, lá temos o S. Vicente, a Santa Eufêmia, o S. Tiago, a Nossa Senhora da Assunção, a Nossa Senhora do Rosário em festas anuais. Recorda-se ainda a extinta Filarmónica que deixou de actuar em 1883. Com várias unidades comerciais, sobretudo em Cajadães, na Corredoura e S. Vicente, é de destacar-se a sua componente de restauração. Rica é também a sua floresta, parte dela a explorar pela Portucel. Passado há aqui e futuro também. E ainda bem que assim é.

Vamos até ao passado de Campia

Campia, a terra do ouro verde, com visto para o futuro O título que encima esta notícia é uma espécie de montagem de dois tempos: há anos largos, em trabalho de reportagem sobre esta terra, Campia, em conversa com António Ferreira e um grupo de outros amigos, vendo tanta riqueza florestal, logo pensei em associar esse factor, ao ouro, verde, aqui; hoje, passado todo este tempo e por força da dedicação de muita gente, ao longo dos séculos, o futuro está a ser escrito, nesta freguesia, com bons e sólidos alicerces e muitos projectos com larga visão. Desta forma, venham os anos, que a vida está assegurada. E com saúde. Muito embora assim seja, a sua principal matéria-prima, as pessoas, está a fugir, principalmente, desde os anos sessenta do século passado, em que se contavam cerca de dois mil habitantes, quando agora, no Censos 2011, apenas ali víamos a viver 1558 boas e laboriosas almas. Mal do interior, nem o arreganho de quem por aqui anda a sonhar com melhores dias de amanhã consegue fazer estancar essa terrível e mortífera doença. Mas, se não fosse essa vontade de aqui teimar em fazer a sua vida, seria muito, muito pior. Acontece que Campia, pela sua centralidade, pela sua importância, pela vinda de novos investimentos, tem tudo para dar a volta e, de novo, vir a atrair mais gente, que bem a sabe acarinhar e integrar. Com pouco mais de 36 quilómetros quadrados, as povoações de Adside, Albitelhe, Cambarinho, que chegou a pertencer a Cambra, CAMPIA, Cercosa, Crasto, Fiais, Lousa, Malhadouro, Rebordinho, Seixa, Selores e Vales são os espaços onde apetece continuar. Banhadas pelos Rios Alfusqueiro e Lousa, com mais uma boa série de ribeiros e corgas, estas localidades fazem justiça ao seu topónimo especial, Campia, “terra lavradia”, no dizer de Mário João Pereira Loureiro ( in “Toponímia do concelho de Vouzela, CMV, 2008”). Com estas qualidades, vários foram os povos que aqui tiveram interesse em se fixar, como atestam, por exemplo, o Castro do Cabeço do Couço ( Jorge Adolfo Marques – Vouzela, Património Arqueológico, CMV, 2005), as mós romanas de Rebordinho, os vestígios da via também romana da Seixa (Amorim Girão – Antiguidades Pré-Históricas de Lafões, Coimbra, 1921), entre outros pontos patrimoniais de relevo, como sejam também as Casas de Cambarinho e da Ti’ Bernarda, Campia de Cima, estas muito mais tardias, obviamente. Entretanto, numa viagem por milénios de história, fica a saber-se que a sua área encolheu. Veja-se: em 1258, abrangia as “villas” de Alcofra, Campia, Carregal (Destriz), Cercosa, Covelo, Paranho (de Arca), Rebordinho, Reigoso, Selores, Varzielas, para apenas se citarem alguns dos povoados mais emblemáticos dessa época. Alguns séculos depois, em 1527, perdera-se Reigoso, Arca, Alcofra e Varzielas. Administrativamente, pertenceu aos concelhos de Lafões, S. João do Monte, Oliveira de Frades, para se fixar em Vouzela, após o ano de 1871. Cioso da defesa de seus cidadãos, fregueses e paroquianos, o S. Miguel, vigiando, a partir da parte frontal da Igreja de Campia, não pára de zelar pelo interesse de quem também tanto estima este Santo, dedicando-lhe, em Setembro, uma Festa à altura dessa sua imensa devoção. Porém, com corações largos, também Nossa Senhora de Fátima, S. João, S. Tiago, Santa Ana, São Domingos, Nossa Senhora do Milagres e, de certa forma, Nossa Senhora das Neves, em Cambarinho, com uma lindíssima e riquíssima Capela, que ostenta, entre outras relíquias, uma bula papal, gravada em pedra, do ano de 1779 (como escreveu Maria do Carmo Correia, no seu livro “ Campia – História e alma de uma aldeia beirã, CMV, 2005”), são credores de igual entrega à componente religiosa, sinal e marca identitária que se reanima em cada dia que passa. A correr fama localmente e nos arredores, são ainda as comemorações da Semana Santa com as “Endoenças”, uma tradição que se vai mantendo, ano após ano. Sinais de modernidade Com boas vias de comunicação e acesso, Campia foi pilar central da construção do IP5 e da A25, por aí se terem instalado o estaleiro, o escritório e serviços centrais da Empresa Mota e C.ia, responsável por essas monumentais obras. Entretanto, em 1802, falara-se na estrada de ligação da Seixa a Cambarinho, EM de 2ª classe (Maria do Carmo Correia), para, já nos inícios do século XX, se terem dado, neste sector, importantes saltos com a EN 333, 333-2 e outras vias rodoviárias de alcance e dimensão estruturantes. Em todo o século XIX, escreviam-se, como forma de alicerçar o futuro e avançar para a modernidade, muitas e boas linhas quanto à educação, com o arranque das primeiras escolas, até se chegar aos tempos de hoje, em que é predominante o raio de acção da actual Escola Básica Integrada, uma obra nova, que não apaga, porém, uma outra triste evidência: o encerramento das saudosas “primárias”, agora em fase de despedida de suas tão nobres funções. Com uma inegável capacidade para agarrar as pontes que se necessitam para se não parar no tempo, o serviço público de autocarros aparece em 1953, o telefone em 1939, os Correios em 1958, a electricidade em 1969, sendo esta fundamental para o sucesso empresarial, bem patente em cerca de uma centena de empresas, espalhadas por toda a freguesia, vindo, de seguida, o Parque de Leilão de Gado, como que sucessor da antiga Feira, a Casa do Povo, a Extensão de Saúde, a Segurança Social, os Bombeiros, o Centro Social com Lar e Creche, sem esquecer a Mini-Hídrica de Cercosa. Forte sob o ponto de vista comercial, em Campia são muitos os locais onde esta actividade é exercida, tendo-se mantido, apesar de todas as vicissitudes, bem segura durante décadas e décadas, podendo mesmo dizer-se que a inovação é aqui palavra a ter muito em linha de conta: a nova Farmácia, a Agência da Caixa de Crédito Agrícola, os restaurantes, a Agência Funerária, as lojas de diversos produtos atestam esta nossa afirmação. Também os serviços se destacam, desde as cabeleireiras à óptica, passando por várias outras áreas de inegável interesse. Lá bem no alto do pódio, temos a dinâmica e crescente Zona Industrial, que tem a acompanhá-la ainda outras unidades empresariais de relevo, em diversas localidades desta freguesia, algumas delas com um bom e longo historial. Na base destas iniciativas, há agentes empreendedores que merecem toda a nossa consideração e aplauso. No plano de aproveitamento sustentável de recursos naturais, vemos esta terra dotada de um aprazível Parque Fluvial, que foi muito dinamizado em finais da década de setenta, em Porto Várzea, no Rio Alfusqueiro. Porém, o seu selo maior, em matéria de espécies muito apreciáveis, em biodiversidade, com projecção e destaque mundiais, temos a Reserva Botânica de Loendros, em Cambarinho, espaço de uma beleza ímpar sobretudo no mês de Maio. Vida social e associativa Desde criança, sempre temos ouvido dizer que Campia não deixa os seus créditos por mãos alheias, quanto ao gosto e dedicação a causas sociais. Comprovamo-lo ao longo dos tempos, por conhecimento próprio e por outros meios e testemunhos. Recordamos a notória Associação Cultural, que se lançou em cheio na criação do citado Parque e Praia Fluvial, assistimos ao nascimento do primeiro Rancho Folclórico, hoje com a designação de Recordações de Campia, vemos e vimos como singrou o Grupo Desportivo, descobrimos os Bombos de Cercosa, os Escuteiros, o Clube de Caça e Pesca, o Grupo de Amigos de Cambarinho, o Grupo Carnavalesco e sua expansão e afirmação, para mostrarmos quanto aqui se valoriza o associativismo e suas dinâmicas. Neste contexto, é impossível esquecer o esforço de todos os seus dirigentes e dinamizadores e os muitos apoios que têm vindo a mobilizar. A este propósito, há dois nomes que não podem deixar de aqui se registarem em nomes gravados a letras douradas: Amadeu Rodrigues Tavares e Salomão Dias. Activos empresários na Venezuela, a sua Campia está-lhes na alma e no sangue. Ao falar destes beneméritos, saltam-nos aqui muitas de suas obras. Uma delas, do foro religioso, assume particular destaque: a imagem de Nossa Senhora Milagrosa, lá bem no alto com os seus 15 metros de altura, perto das Malfartas, que evoca a saúde recuperada de Teresa Rodrigues, em gratidão de seu Pai, Amadeu Rodrigues, que ali imortalizou a sua devoção. Em terra deste quilate, com homens e alma a sério e a valer, como diriam Maria Glória Carvalho, Francisco Cunha Marques e Teresa Tavares, autora esta que é de Campia, que foram obreiros do livro “ Vouzela – A terra, os homens e alma, CMV, 2001”, é fácil esperar então por um futuro risonho. Assim o esperamos e desejamos. Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Vouzela”, Fevereiro de 2015

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Uma viagem por Alcofra

Alcofra: de refúgio cristão a terra de futuro Esta terra, que fica encravada entre montes, que faz a ligação entre Lafões e o Caramulo, que conquistou, a pulso, uma estrada condigna nos anos sessenta, setenta do século e milénio anteriores, que tudo fez para ter escolas públicas a sério, que foi esconderijo de cristãos em zona de árabes, na caminhada de norte para sul, ainda antes da nossa nacionalidade, é hoje, mesmo que tenha perdido uma grande parte de sua população, uma freguesia com força para continuar o seu futuro. Se, nos citados anos, a dura luta pela estrada mobilizou as suas populações, levando a discussão até à então Assembleia Nacional, na actualidade ganhou outras e novas vias, para além da EN 333-2, a da polémica, como aquela que, passando por Farves e Mogueirães, se converteu na melhor ligação à sede do concelho, Vouzela, numa outra que serve o Couto e Carvalhal de Vermilhas, a que se pode ainda juntar aquelas que, circulando pelas póvoas de Campia, também chegam a Alcofra. Em rodovias, muito se ganhou, sem sombra de dúvida. Talvez devido a esse bom e poderoso factor, estas localidades ( com a curiosidade de nenhuma se designar por Alcofra, que é a “soma” de todas) são bem servidas de comércio e uma certa vitalidade social que se saúda e aplaude. Paróquia milenar, foi couto com autonomia desde os tempos do nosso primeiro Rei, D. Afonso Henriques, que lho concedeu em 1134, isto é, teve um estatuto praticamente equiparável a concelho, e sempre gozou, nessas épocas, desse estatuto. Isto prova a sua sustentabilidade e importância, reconhecida pelos sarracenos, que a viram como All-Kafre, ninho de infiéis, que não renegavam a sua cristandade e não foram na onda da moçarabização, que Coimbra, por exemplo, abraçou desde cedo. Diz-se também que o padroeiro municipal, S. Frei Gil, tinha uma de suas boas costelas dessa origem, atribuindo-se-lhe, por exemplo, a tradução de livros árabes sobre medicina. Mas, em Alcofra, a moda não pegou, pelo menos facilmente. Como ninguém dava nada a ninguém sem ter havido uma forte razão para essa doação, Alcofra veio a atingir esta categoria, porque o seu D. Cid prestou, ao ainda Infante, D. Afonso Henriques, um bom “serviço que me tendes feito e fareis”. Com esta carta de recomendação, com brasão próprio, que serviu de base ao “selo” da Casa de Lafões, do Rio de Janeiro, assim galgando mares, esta terra serrana foi sempre muito apetecível ao longo de todos os tempos. Abrigada entre os píncaros montanhosos, sulcada de rios e ribeiros com águas criadoras, com uma boa localização para uso de solos agrícolas, primeiro ali tinham arribado os povos pré-históricos, como se prova pelo Castro do Gralheiro. Numa caminhada provavelmente sempre contínua, atinge-se a fase de um forte domínio senhorial, de que a Torre, muito bem restaurada, é testemunho credível e duradouro, desde a Idade Média. Prova-se assim que ali se fixaram as gentes que registariam a sua obra no decurso das vivências em tais paragens. Hoje, integrada no concelho de Vouzela, a freguesia de Lafões, pertenceu a S. João do Monte e a Oliveira de Frades, antes das grandes alterações dos anos trinta, século XIX, prolongados por 1855, fim da circunscrição concelhia de S. João do Monte, e de 1871, ano em que Vouzela fica sede municipal de uma forma clara e definitiva com jurisdição sobre estas áreas da Serra do Caramulo. Personalidades de peso Com tanta história, é fácil descobrir gente que se notabilizou nesta mesma freguesia, ou que aqui teve fortes raízes e ligações. D. Cid e seu filho, D. Cid Aires vêm logo na linha da frente, em antiguidade, mas o Dr. Egas Moniz, de seu nome competo, António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz, com projecção mundial com o seu Prémio Nobel da Medicina, teve, na Quinta do Carril, o berço materno, na pessoa de sua mãe, D. Maria do Rosário de Almeida e Sousa Abreu, filha de Rafael de Almeida e Sousa, um grande liberal e apoiante dos quatro costados de Maria da Fonte e da Patuleia, que muito lutou por estas causas. Também o Monsenhor António Marques de Figueiredo se destacou como Pároco e Professor em S. João do Monte, como Docente e Director do Colégio dos Órfãos, em Coimbra, como Vice-Reitor do Seminário de Viseu, como Vigário-Geral da Diocese ( de 1904 a 1927), passando a Vigário-Capitular com o Bispo Dom José da Cruz Moreira Pinto, de 1928 a 1943. Entretanto, são ainda de destacar o Comendador Cid Loureiro, que, no Brasil, tudo fez pela valorização de sua terra, bem como os cantores Fernando Farinha e Paulo Alexandre, numa lista enorme de tantas personalidades, de que não podemos esquecer os Morgados de Alcofra, instituídos por Cid Aires: Martim Àlvares, Lourenço Vicente, N. Peres, Francisco Lopes, Tomé Machado, Miguel Machado de Andrade, Tomé Machado de Andrade e Arcângela Machado, seguindo nós a documentação referida no antigo jornal paroquial, “ O Alcofrense”. Por ser merecido, aqui incluímos o Dr. Telmo Antunes, pelo seu percurso autárquico, político e social de relevo, desde muito jovem, iniciando-se, convém que se diga, nas lides jornalísticas neste nosso “Notícias de Vouzela” aos catorze anos de idade. Falar destas localidades e não trazer à liça a Casa do Povo/Centro Social, o Posto Médico, a Farmácia e outros equipamentos sociais, seria uma ingratidão face à importância que foram colhendo, pela obra feita, desde há várias e muitas décadas, sobretudo a partir dos anos setenta do século XX. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Oliveira de Frades, a boa restauração

Esta minha terra, Oliveira de Frades, que tem na avicultura e no frango da campo produtos de excelência, sendo Capital deste último bom produto, possui unidades de restauração que são uma de suas boas imagens de marca, desde um fenomenal Solar ao bem situado e moderno Mirante do Olheirão, passsando por muitos outros, como os Lafonenses, o Forno do Rabino, o Cantinho, o Pelicano, a Estrela da Serra, sei lá, quanto de apetitoso por aqui há. E, à hora do almoço, isto começa de fazer crescer água na boca. Prometendo voltar a este tema, por agora é tudo...

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Umas palavras sobre Lafões

Lafões 5 Este Lafões em que vivemos - 5 – Os primeiros documentos escritos em Lafões Nos temas anteriores, temos andado a recolher as fontes que sustentam a nossa vivência colectiva, em termos de testemunhos analisados nas construções, nas rochas, nos utensílios e outras evidências e sua interpretação. Por não haver escrita organizada e institucionalizada, tinha de assim ser, já que a oralidade se perdeu no tempo, como facilmente se conclui. Além disso, seria muito difícil assegurar credibilidade e veracidade dessa transmissão de dados, se, por exemplo, atendermos ao velho ditado de que quem conta um conto, acrescenta um ponto… Na evolução das sociedades, houve um momento que se pode considerar excepcional, que foi aquele em que o Homem foi capaz de descobrir a escrita e o seu poder: primeiro, utilizando as pedras, como vimos com os Romanos, e a cerâmica, o que foi determinante num dos berços da nossa civilização, a Mesopotâmia, posteriormente, com o apoio de peles e de pergaminhos, para, com a criatividade chinesa, entrarmos na fase do papel, o cume desta montanha, antes de tomarmos contacto com as informáticas e sua actual revolução. Lafões, inserido como região na fileira da frente da nossa civilização, cedo aproveitou estas benesses da transmissão de mensagens, muitas delas altamente duradouras, para não sermos mais papistas que o papa e dizermos eternas, como aconteceu com os registos, já aqui referidos, dos marcos miliários e outros. Mas, um dia, haveria de chegar a fase de outro tipo de documentação mais prática, mais maleável, de tal modo que hoje a ela podemos aceder nos Arquivos, nos armários da papelada com um valor incalculável. Para provarmos a sua falta, nesta nossa Região, há dois acontecimentos que nos privaram de uma grande parte dos testemunhos desse passado comum: um deles foi o incêndio que devorou, há séculos, o Mosteiro de S. Cristóvão, o que fez desaparecer a maior parte do material – e muito seria ele! – e das peças escritas que foram sendo construídas desde o século XI em diante; mais recentemente, o desastre do fogo nos Paços do Concelho de S. Pedro do Sul, para além de haver a lamentar uma morte em pleno combate às chamas devoradoras, fez com que também aí se evaporasse muito daquilo que seria útil para melhor nos conhecermos. Infelizmente, esse é um património irremediavelmente perdido e contra factos não há argumentos. Temos, por isso, de nos servirmos do que temos à mão e que a zelosa acção dos nossos antepassados, gentil e eficazmente, nos legou. Muito embora possa haver papéis anteriores aos séculos X e XI, o certo é que não será muito comum depararmos, a cada passo, com eles. A aparecerem, não deixam de ser uma raridade e, por isso, são tesouros de valor inestimável. Para esta fase do nosso trabalho, aqui, no jornal “Notícias de Lafões”, vamos começar a circular por aquelas épocas posteriores, com incidência a partir do ano 1000 da Era Cristã, optando pela datação hoje usada, que difere da de César em 38 anos, para menos. Numa abundante confusão entre o sagrado e o profano, a realidade é esta: a maioria dos testemunhos tem origem na Igreja, até porque o Clero era, na Idade Média, um dos poucos sectores das nossas comunidades que sabia escrever. Aliás, o Povo estava, por natureza, arredado desses palcos da cultura e a Nobreza, ciosa de nada fazer, entendia que era algo que não tinha de usar. Conclusão: quem tinha esse poder, não pôs de parte a boa utilização que dele fez, muitas vezes em seu proveito. Por esta razão, é de registos de bens da Igreja que se fala com uma enorme frequência. E, mesmo que se abordassem pontos e aspectos da sociedade civil, eram sempre visíveis a marca e a força dos membros eclesiásticos, ou gente que em seu redor gravitava. Sendo esta uma regra praticamente geral, as possíveis e raras excepções só a confirmam, até na nossa zona de Lafões, esta terra que habitamos desde há recuados milénios. Entretanto, pegamos nas conquistas de Fernando Magno para descobrirmos uma das boas alusões inscritas em material observável em arquivos, aquela que se refere à tomada de Viseu aos Mouros, a do ano de 1057. Será este um testemunho dos mais antigos que tem a ver connosco. Quanto a estas berças, diz-nos o Dr. António Nazaré de Oliveira, em “ Lafões, esboço geo-histórico”, publicado no Suplemento que o “Notícias de Vouzela” fez, em 16 de Maio de 1983, por ocasião do 1º Centenário da Filarmónica Verdi Cambrense, que um dos papéis mais velhotes desta zona se reporta a 1085 e está relacionado com a doação à Sé de Coimbra da Igreja de S. Pedro. Distribuindo datas pelos nossos três concelhos, em Vouzela, fazia-se aí alusão a 1083 e à sua Basílica, que, em 1113, já seria conhecida como Mosteiro; quanto a Oliveira de Frades, era o ano de 1149 (?), quando D. Rodrigo Pais, alcaide de Coimbra, e sua mulher Elvira Rabaldes faziam entrega dessa vila, agora ao Convento de Santa Cruz, na mesma cidade da beira Mondego. Importantes são ainda os seguintes anos: 1120 – alusão feita pelo Cónego José Simões Pedro, em “ A Trapa – Monografia histórica da antiga povoação e couto do real Mosteiro de S. Cristóvão de Lafões, Santa Cruz da Trapa, 1990”, a propósito de uma possível reconstrução desta mesma Instituição por parte de João de Anes e esposa, Maria Rabaldes, que o encontraram abandonado, dando-o aos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, ordem onde estava D. João Peculiar; 1123, refundação (?) deste mesmo Convento, tendo em conta que passou então por diversas fases, incluindo um sector feminino, nos seus primeiros tempos; quanto a este notável monumento, devem assinalar-se também os anos de 1161, em que aparece como Beneditino, e 1163, já como Cisterciense. Havendo muitas dúvidas acerca destas datações, aqui ficam registadas sob reserva. Nesta mesma fonte, refere-se a Carta de Couto da Trapa, em 1161, que, aliás, foi concelho. Entretanto, em 1159, é, de novo, citada uma outra transferência da vila de Oliveira de Frades dada ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, doação confirmada pelo Rei D. Afonso Henriques no ano de 1169, tal como se pode ler, por exemplo, em “António Nabais, Carlos Rodrigues e Manuel Martinho - Oliveira de Frades, edição da Câmara Municipal, 1991”. Neste mesmo livro, entre muitas outras localizações no tempo, fala-se na Igreja de S. Vicente de Lafões, em 1086, e algumas vendas de propriedades nesta localidade em 1092 e 1100. No ano de 1101, Diogo Peres e sua mulher cedem a João Gosendes e sua mulher, Ximena Froiaz, terras em Nespereira e Portoferreiro. Ainda neste século, mas já quase no seu fim, em 1195, é Albergaria de Reigoso que escreve mais uma página da sua história. Madalena da Dores Antunes, em “ Alcofra e a sua gente – Estudo monográfico, edição da Junta de Freguesia e Casa do Povo”, indica que esta paróquia teve Carta de Couto, em 1172, dada também por S. Afonso Henriques. Terminamos hoje com mais um repositório de fontes, estas a saírem da pena de Maria da Glória de Oliveira Girão, Maria Teresa Ferreira e Costa Tavares e Francisco da Cunha Marques em “ Vouzela: a terra, os homens e a alma, Câmara Municipal, 2001”. Aí se declara que um dos primeiros documentos de Lafões teve a ver com Figueirosa, em 1030, e que a “vila” de Moçâmedes foi concedida a Fernão Peres Cativo no ano de 1133. Em destaque, temos o nascimento de S. Frei Gil, em 1185. Por estas alturas, eram governadores de Lafões Piníolo Garcia, 1070; Gonçalo Fernandes – 1120; Fernão Peres Cativo – 1152; Sancho Nunes de Barbosa, Fernando Veilaz de Riba Douro e Egas Afonso de Alvarenga – 1152/1169. Prometendo continuar, ficamos agora por aqui. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Frio, não gosto, mas aceito

Está frio, aqui pelo meu concelho de Oliveira de Frades, mas já o senti bem pior em outras ocasiões. Há cinco anos (2010), por esta altura, assistíamos a um nevão de todo o tamanho. Fazendo fé na tradição oral, ele até é bom para tornar os ossos mais rijos e que bem preciso isso é, quando o cálcio já não é o que era. Toca a ser forte, que esta temperatura são 40 graus ao sol se comparada com a Sibéria e o Nevrasca. Fora de brincadeiras, o que sinceramente me aflige, em tempos de crise continuada ( e a procissão talvez ainda não tenha saído do adro) é a situação penosa e dramática das pessoas sem abrigo, sem tecto e sem comida e com tanto frio a suportarem. Por aqui, mais casaco mais luvas, ou menos, vai-se aguentando. O pior são esses casos e tantos eles são!Dizem que esta vaga de temperaturas baixas veio para ficar uns dias. Não gosto, mas aceito. Que remédio!...