terça-feira, 26 de maio de 2015

Falar da minha terra: santos de ao pé da porta não fazem milagres

Pelas nossas terras - Reigoso, terra de solidariedade viva Não é fácil para nós, que temos esta terra como grande matriz e referência genética e social, falarmos de Reigoso sem deixarmos de lado a emoção. Mesmo que assim seja, nesta caminhada pelas “Nossas Terras”, não seria justo passar-lhe ao lado e dela não trazermos aqui toda a sua importância e encanto. Aliás, nunca se deve ser filho ingrato, ainda que a carteira profissional de jornalista nos imponha regras de conduta e ética que nos dizem que não podemos privilegiar nada, nem ninguém acima dos outros. Posto isto e feito este registo de interesses, vamos à obra e há muito que dizer. Em primeiro lugar, começamos por afirmar que, no contexto nacional, há uma outra freguesia de Reigoso, no concelho de Montalegre, que, por acaso, já visitámos, na companhia do bom amigo e colega, Professor Manuel Martinho, aqui há um bom par de anos, mas é desta nossa terra que queremos conversar. As razões abundam, em passado e presente. Recuando no tempo, há que subir aos montes que os maiores testemunhos dessa antiguidade estão estampados no Murado da Várzea, um repositório de antigas muralhas, onde se notam vestígios de um castro acastelado, com um poder de visão estratégica sobre vastos horizontes. Enquadrado este espaço com as Antas da Vessada do Salgueiro e de Antelas, entre outros locais, verifica-se assim a existência de um “continuum” habitável bem expressivo por estas paragens. Com a vinda dos romanos, desce-se para patamares mais baixos, em altitude, e com um potencial agrícola muito maior. Era assim a postura de Roma: criar boas vias de comunicação, cabendo a Reigoso o privilégio de ser rasgado por uma estrada de largo movimento, unindo o mar e a serra, a partir do Marnel (Águeda) e à grande via que ia de Lisboa para Braga e Santiago de Compostela. Estabelecidos estes circuitos, havia que povoar as terras e dar-lhe sustentabilidade em cultivo de cereais, azeite, vinho, animais e outros alimentos e equipamentos básicos. Com vestígios palpáveis desta via na Ponte e em Entráguas, os seus marcos miliários podem ver-se no Museu Municipal de Oliveira de Frades, em grande plano. Percorrendo toda a Idade Média, é por esta altura, aí a partir dos séculos X a XIII, que “Radicosu” atinge todo o seu esplendor e funcionalidade. Criada a ALBERGARIA de Reigoso, em que teve papel preponderante o Alcaide Cerveira, que a cede ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, assim como manda sagrar a respectiva Igreja, estava dado mais um bom tiro de partida para altos voos. Para memória perene, neste templo, da invocação de S. Lourenço, padroeiro, uma placa regista estes factos e feitos. Foi tal a importância desta Albergaria – Hospital que, à beira da estrada se haveria de erguer um padrão (também existente no citado Museu) em que se pedia, muito claramente, aos peregrinos que ali se dirigissem, porque lá havia casa, cama, água, azeite e sal. Fazendo parte da rede de apoios aos caminhantes de Santiago e todos os demais, esta infraestrutura durou praticamente até ao século XX. Com ligações aos concelhos de Lafões e S. João do Monte, Reigoso pertence hoje, desde meados do século XIX, a Oliveira de Frades, sendo que, como freguesia, faz parte, na actualidade, mercê da Lei 11-A/2013, da União das Freguesias de Destriz e Reigoso. Com uma marcha populacional bastante descendente, anotemos os respectivos números: 1911 – 419 habitantes; 1940 – 444; 1960 – 471; 1970 – 420; 1981 – 402; 1991 – 390; 2001 – 375 e 2011 – 341. Com duas povoações de maior dimensão, Sobreira e Reigoso, há ainda os povoados da Ponte, Feira, Entráguas e Várzea, sendo que um dado curioso se pode citar que é o de Entráguas ser, muito provavelmente, a terra do concelho com maior percentagem de novas construções. Condenada a desaparecer e a deixar o Santo António sozinho, hoje tem uma série de novos moradores, estando assim assegurado o seu futuro. Dotado este espaço de uma Zona Industrial, mostra alguma apetência pelos investimentos, a nível geral, sendo de destacar as empresas Ramos e Ramos, Levi Carvalho, Cisfra, Avizela, Autojac, Violantecar, Café Larides, Emílio Rodrigues (mel), entre outras. Associativamente, evidencia-se logo a UMJA – União Musical Juventude e Amizade, havendo ainda a ARCUSOPOF, a AJOR, devendo referir-se que em 1929, 1946 se falava na Sociedade Musical Agrícola Reigosense, assim se provando uma boa apetência pelas Filarmonias desde tempos antigos, passando ainda pela mais recente Reigravo e sua sucessora, desaparecida há algumas décadas. A fazer fronteira com o distrito de Aveiro, estas terras têm, assim, uma posição geográfica de alta importância estratégica, facto que foi amplamente dilatado, primeiro com o IP5 e, mais tarde, com a A25, que aqui tem um nó central. Com pergaminhos aos montes, com estas novas vias, Reigoso tem tudo para almejar um bom futuro. Deus queira que assim aconteça. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Maio 2015

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Quando se pensava navegar no Rio Vouga...

Nlafões13mai15 O Rio Vouga pensado no século XIX com barcos em S. Pedro do Sul Hoje, olhamos para o Rio Vouga e vemo-lo preenchido com uma extensa albufeira, que parte da Ermida-Sever do Vouga, sector mais a jusante, e se prolonga de Ribeiradio para cima, pelo Médio Vouga em grande parte de seu percurso, até aos limites das freguesias de Sejães, Valadares e Souto de Lafões, esta um tanto de raspão, ou nem por isso, tudo isto devido às novas Barragens. A paisagem e o seu uso mudaram irremediavelmente. Das águas tumultuosas do Inverno e de um fio apagado no Verão, passamos, agora, para a serenidade de um enorme lençol de líquido azul que, em muitos locais, mais separa, unindo, as respectivas margens. É um novo mundo, este, o que aqui presenciamos e sentimos, a exigir respostas a desafios maiores, como os do turismo e outros que venhamos a encontrar. Deste presente, muito se tem dito e escrito. Nestas páginas do “Notícias de Lafões” é, porém, do passado que queremos falar, para repescar memórias e as trazer ao nosso convívio actual. Uma delas, a de hoje, tem a ver com este nosso Rio Vouga e os frutos que dele se quiseram tirar em pleno século XIX, há cerca de duzentos anos. Se, na actualidade, a ideia de uma navegação deste elo de união entre a zona de Lafões e a de Aveiro nos parece uma miragem e uma mera especulação extra-terrestre, nesse tempo tal foi visto como uma boa hipótese plausível, a ponto de ter merecido legislação oficial, ainda que inconsequente. Vamos aos factos, já a seguir: - Um certo ano, um médico que veio parar a Vouzela nos primeiros decénios do século XIX, Dr. Joaquim Baptista, embalado pelos efeitos previsíveis do novo Porto de Aveiro, acabado do construir, logo se pôs a sonhar com um então desejado notável aproveitamento, em navegabilidade, do Rio Vouga, propondo que se avançasse com uma obra deste arrojo e atrevimento até S. Pedro do Sul, que ele via como o grande entroncamento das estradas em direcção ao Porto e a Coimbra. Esta sua ideia, tendo como suporte “ A Região de Lafões – Subsídios para a sua História, Manuel Barros Mouro, Coimbra Editora, 1996” e, muito especialmente, “Reflexões sobre a navegação do Rio Vouga – 1829, Estante Editora, 1989, Dr. Joaquim Baptista, Introdução e Notas de A. Lúcio Vidal”, não se ficou pelos seus papéis manuscritos, tendo chegado à mesa da Rainha D. Maria II, que, por sugestão dos Deputados João Gualtero de Pina Cabral e Paulo Midosi, lhe dá seguimento através de Portaria de 29 de Dezembro de 1837. Dada a ordem para se andar para a frente com o respectivo concurso, tudo ficou, porém, em águas de bacalhau devido às muitas querelas políticas então existentes, uma constante que sempre exitiu e assim vai continuar, se a democracia, como defendemos fortemente, for sempre o regime político em que nos apoiamos. Para dar sustentabilidade económica a este seu projecto, o Dr. Joaquim Baptista trazia a talhe de foice os produtos que podiam circular pelas águas do Rio Vouga: vindo do Litoral para as nossas bandas, sal, sardinha, louça, cal, ferro, bacalhau, açúcar, arroz, chapéus, papel, vidro, panos de linho, descendo, no sentido inverso, os nossos bens agrícolas e pecuários, os cereais, a lã, azeite, cortiça, casca (?), castanha, fruta, presuntos, coiros, porcos, bois, panos de lã, vinho verde de LAFÕES, vinagre e aguardente, apelando à memória dos decisores dessa época para lhes fazer ver que, aqui, a Companhia da Agricultura do Alto Douro tinha quatro alambiques fixos e alguns volantes, podendo acrescentarmos nós ( Ver monografia “Oliveira de Frades, 1991”) que, em S. Vicente de Lafões, se verificava esta realidade. Em visão estratégica, aproveitando a mancha empreendedora das novas correntes de desenvolvimento, de que vem a sobressair o Fontismo, era assim que se via o Rio Vouga, o mesmo acontecendo, pela pena deste mesmo autor, com o Rio Cértima, ali para os lados da Bairrada. Curioso é sentir-se que a tudo isto presidia uma visão integrada, com o seu eixo fundamental a aparecer com o novo Porto de Aveiro. E, no caso do nosso Rio, porque “.... Entre as terras altas da borda ocidental de meseta hispânica e a campina da Beira-Mar, há um traço de união líquido, o Vouga (Obra II, p.9), em caso de falta de água nos estios, advogava-se a eventual necessidade de transvases com origem no Rio Paiva, sendo que, para ultrapassar desníveis e outras dificuldades de obras, se previa a construção de eclusas. Grande capacidade de pensar Lafões aqui lemos, esta, a que aqui nos trouxe hoje e nos vai alimentar mais uns outros trabalhos, em próximas edições!... (Continua) Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 14 de Maio de 2015

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Mais coesão territorial...

“Coesão territorial não pode ficar no papel” 2 – Uma urgência e uma evidência para salvar o País Dentro de cerca de quinze dias, a Assembleia da República receberá o próximo Orçamento de Estado para 2015, em ambiente político renovado, em função dos resultados das primárias do PS e a subida ao pódium da discussão desta e doutras matérias do Dr, António Costa. Perspectivam-se mudanças na condução da oposição por parte do novo líder socialista e esse facto obriga a que se olhe para as propostas a apresentar pelo Governo, quem sabe, de uma maneira mais assertiva e mais amiga das pessoas, dos portugueses. “Isto” mudou, sem sombra de dúvida. Não perceber esta evidência é esquecer questões elementares e essenciais. Não era, porém, acerca destes temas que queríamos escrever umas curtas linhas, porque tínhamos ( e mantemos essa ideia em mente) a vontade de continuar a falar dos novos fundos europeus que aí vêm para os anos de 2014 a 2020. Mas a nova realidade obrigou-nos a ter de assim começar, porque, como vulgarmente se diz, nada será como dantes. Por outro lado, a ligação ao novo Orçamento de Estado também tem aqui todo o seu enquadramento. Ou este consagra a integração de rubricas condizentes com uma nova forma de encarar Portugal como um todo, à luz das premissas do Acordo de Parceria e Estratégia Europeia 2020, ou, então, mais vale nada levar à Assembleia, por violar o solene e necessário princípio da coesão, isto é, da equidade territorial e social que tardam demais. Sem caminharmos pela via do choradinho, preferimos antes afirmar a defesa de valores que julgamos intocáveis, se se quiser fazer uma política honesta e séria. Também não se trata de qualquer caridadezinha para com os “desgraçados” do Interior, dos espaços de baixa densidade, como agora são vistas as nossas terras e até partes de muitas de nossas cidades, nos seus bairros mais antigos e tradicionais. Não é uma questão de esmolas, mas, sim, de justiça social, de dignidade, de direito. Como o Orçamento deve conter normas para políticas públicas e como no tal Acordo estabelecido entre Portugal e a União Europeia há claras referências a esses aspectos determinantes para a sustentabilidade nacional, negar estes caminhos é trair o próprio povo, que se verá defraudado, uma vez mais, se essas boas práticas não forem aplicadas. Não cremos que os nossos governantes possam cair na asneira de não verem o nosso País com outros olhos, sob pena de não merecerem a confiança que neles depositamos. Mas não basta inscrever piedosas rubricas, à semelhança do que acontecia com os PIDDAC de anos anteriores, em que, para agradar às comunidades locais, lá aparecia o anúncio de obras e investimentos que só serviam para inglês ver, porque nunca mais se concretizavam, em muitos casos. Estes são tempos de claras exigências de compromisso em termos de criação de políticas que vejam a nossa nação como um espaço a povoar de medidas que sirvam para equilibrar o que tão inclinado tem andado e sempre com os pratos da balança a penderem, abusivamente, para as grandes metrópoles de Lisboa e do Porto, ou outras curtas manchas do litoral. Reconhecendo-se no Acordo de Parceria 2014/2020 que há significativos desequilíbrios territoriais, é necessário passar das intenções aos actos, concretos e palpáveis. Com novas abordagens, com prioridades bem calibradas, com um correcto Programa Nacional de Políticas de Ordenamento do Território ( e não é por falta de documentos, nessa esfera, que estamos como estamos), com a incidência objectiva no Desenvolvimento Rural, que está muito para além do mundo agrícola, com a aplicação exaustiva dos Regulamentos Comunitários relativos aos diversos Fundos Europeus de Políticas de Coesão, em mobilização de recursos e pessoas, em busca de energias positivas endógenas, locais, a combinar com os apoios externos, numa lógica de subsidiariedade, conseguir-se-á inverter o quadro em que nos temos movido e muito mal, por sinal. Já agora, temos de ser criteriosos no uso dos vários instrumentos que teremos ao nosso dispor. Ao olharmos para tempos recuados, e não é preciso virar muitas folhas dos calendários, em termos, por exemplo, de FSE – Fundo Social Europeu – e de outros, incluindo o FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, facilmente concluiremos que os desperdícios são uma vergonha e uma desgraça. Não é disso que estamos à espera, nem o desejamos. O que queremos é que haja seriedade na atribuição dos fundos e regulação apertada nos seus usos, para bem de todos nós. Com cerca de 26 mil milhões de euros ( mais do que os 21 mil milhões previstos inicialmente) para serem gastos entre 2014 e 2020, com a Região Centro e ter de gerir, só por si, dois mil milhões, mais aqueles que saem do bolo nacional, com a PME – Pequenas e Médias Empresas – a serem dotadas de 800 milhões de euros, isto é obra. Mas de pouco pode valer, em valor acrescentado, se não for bem atribuído e melhor controlado. Numa visão abrangente e minuciosa, com um novo modelo de governação destes bens públicos, é preciso criar a convergência nacional, combatendo as assimetrias regionais, em pactos para o desenvolvimento e em cooperação benéfica para todos nós. As entidades locais têm nas mãos muito a fazer. Esta é a sua hora. E não parece haver outra igual tão cedo e tão boa… Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela” Coesão territorial não pode ficar no papel 1 – Passar do folclore aos investimentos é o caminho a seguir Por mais que esgravatemos nos compêndios e nas estatísticas, há dados que são manifestamente evidentes e o do despovoamento do Interior vem logo na linha da frente, para mal da Região em que nos situamos. Em poucas décadas, sensivelmente a partir de 1950/1960, os nossos concelhos perderam milhares e milhares de habitantes, mesmo entre 2001 e 2011, os dois últimos Censos realizados por todo o lado. Aquelas que foram as migrações em massa de há anos, regressaram, de novo, agora, com fato chique e formação de alto grau. Numa sina negra, as nossas terras estão sempre a perder os seus melhores trunfos, as pessoas. Em cima da mesa, para os anos de 2014 a 2020, temos aí um Acordo de Parceria, assinado entre o nosso Governo e a Comissão Europeia, no passado mês de Julho, que vale mais de vinte mil milhões de euros em apoios e comparticipações. Precisamos, nestes momentos, é de boas unhas para tocar tão importante guitarra. Face ao quadro que vivemos, anotamos aqui uma premissa, muito pessoal, que deve ser seguida: isto não vai lá com operações de cosmética, com tamanquinhos e pipinhos artesanais, com mantas e tigelas de cerâmica, com compotas e docinhos, ou coisas equivalentes, que são o regalo das televisões em passeio pelos “museus” do Interior, mas que pouca riqueza e valor acrescentado fazem aparecer. Ou somos capazes de gerar investimento forte, produtivo e sustentável, mas a sério, ou esses paninhos quentes só servem para adiar a sepultura dos territórios em que gostamos de viver. Como o mercado, só por si, não consegue fazer a inversão de que precisamos, cabe ao Estado, sem meias palavras, avançar com boas e eficientes políticas públicas. Distante de nós anos e décadas a fio, agora está na hora de ele actuar. Estamos convictos que nos vão apelidar de keynesianos, mas isso que importa se se trata de lutar pela salvaguarda de mais de 75% das terras nacionais e do seu espaço geográfico? Alega-se nesse documento estruturante que, com dados de 2012, mais de 50% do PIB português e 41.7% da nossa população se concentram nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto, em exíguos 5.1% do nosso espaço continental. Culpados desta situação: os governos de sempre, desde a Monarquia à República, com ligeiras excepções, como as dos nossos primeiros Reis, tal como já registámos neste mesmo jornal. Ninguém aprendeu as melhores lições a seguir, num desastre total. As divergências, longe de se esbaterem, acentuam-se, pelo que o PIB per capita, por exemplo, desde 1995 a 2005, não deixou de fazer ainda maiores feridas num corpo já todo dilacerado, e esta tendência, de antes e depois, não deixa de nos dar cabo do juízo. Reconhecendo-se, no citado Acordo de Parceria, que há activos territoriais que poderão “sustentar estratégias de crescimento (confessamos que gostamos mais de falar em desenvolvimento) … na fileira agroalimentar ou no sector do turismo… “, entre outros pilares, a coesão social e a todos os níveis ainda não foi encontrada. Nesta medida, subsistem “… os desequilíbrios territoriais…”, impondo-se, em políticas públicas, ser-se capaz de corrigir essas assimetrias, arrancando com projectos de desenvolvimento integrados, aqui se devendo incluir a vinda de indústrias sustentáveis, de comércio de vistas largas, de centros de altas tecnologias, disseminando a sua implantação pelo todo nacional, o que só é possível e viável se, como base, houver o cuidado em erguer e trazer equipamentos à altura das prementes necessidades aos mais diversos níveis, desde as infraestruturas à cultura, educação, lazer, saúde, justiça, etc, etc, para alimentar o desenvolvimento das capacidades e oportunidades de nosso tecido populacional. Só que, em movimento abismalmente oposto a este caminho, pouco nos dão, muitos nos tiram. E isto não tem classificação, nem perdão. No documento em análise, na Estratégia Europa 2020, a “Política de desenvolvimento económico, social, ambiental e territorial” é moeda forte em cima da mesa, mas apenas está escrita e, agora, tem de ser posta a circular. Instrumentos, em intenção, há bastantes, desde o “Desenvolvimento Local de Base Comunitária” (DLBC) às políticas de base territorial, sem deixar de lado outros programas temáticos e regionais. Escasseiam é, até ao momento, as passadas decisivas que nos tirem desta apatia, isto é, faltam as políticas verticais e horizontais que ponham tudo a mexer e a andar para a frente, em partilha e cooperação tanto quanto possível e desejável… Sendo esta uma matéria que tem muito para ser analisado, este trabalho é apenas a primeira parte de algo com âmbito mais lato, que será continuado em próximas edições. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”

Coesão territorial precisa-se...

Coesão territorial não pode ficar no papel 1 – Passar do folclore aos investimentos é o caminho a seguir Por mais que esgravatemos nos compêndios e nas estatísticas, há dados que são manifestamente evidentes e o do despovoamento do Interior vem logo na linha da frente, para mal da Região em que nos situamos. Em poucas décadas, sensivelmente a partir de 1950/1960, os nossos concelhos perderam milhares e milhares de habitantes, mesmo entre 2001 e 2011, os dois últimos Censos realizados por todo o lado. Aquelas que foram as migrações em massa de há anos, regressaram, de novo, agora, com fato chique e formação de alto grau. Numa sina negra, as nossas terras estão sempre a perder os seus melhores trunfos, as pessoas. Em cima da mesa, para os anos de 2014 a 2020, temos aí um Acordo de Parceria, assinado entre o nosso Governo e a Comissão Europeia, no passado mês de Julho, que vale mais de vinte mil milhões de euros em apoios e comparticipações. Precisamos, nestes momentos, é de boas unhas para tocar tão importante guitarra. Face ao quadro que vivemos, anotamos aqui uma premissa, muito pessoal, que deve ser seguida: isto não vai lá com operações de cosmética, com tamanquinhos e pipinhos artesanais, com mantas e tigelas de cerâmica, com compotas e docinhos, ou coisas equivalentes, que são o regalo das televisões em passeio pelos “museus” do Interior, mas que pouca riqueza e valor acrescentado fazem aparecer. Ou somos capazes de gerar investimento forte, produtivo e sustentável, mas a sério, ou esses paninhos quentes só servem para adiar a sepultura dos territórios em que gostamos de viver. Como o mercado, só por si, não consegue fazer a inversão de que precisamos, cabe ao Estado, sem meias palavras, avançar com boas e eficientes políticas públicas. Distante de nós anos e décadas a fio, agora está na hora de ele actuar. Estamos convictos que nos vão apelidar de keynesianos, mas isso que importa se se trata de lutar pela salvaguarda de mais de 75% das terras nacionais e do seu espaço geográfico? Alega-se nesse documento estruturante que, com dados de 2012, mais de 50% do PIB português e 41.7% da nossa população se concentram nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto, em exíguos 5.1% do nosso espaço continental. Culpados desta situação: os governos de sempre, desde a Monarquia à República, com ligeiras excepções, como as dos nossos primeiros Reis, tal como já registámos neste mesmo jornal. Ninguém aprendeu as melhores lições a seguir, num desastre total. As divergências, longe de se esbaterem, acentuam-se, pelo que o PIB per capita, por exemplo, desde 1995 a 2005, não deixou de fazer ainda maiores feridas num corpo já todo dilacerado, e esta tendência, de antes e depois, não deixa de nos dar cabo do juízo. Reconhecendo-se, no citado Acordo de Parceria, que há activos territoriais que poderão “sustentar estratégias de crescimento (confessamos que gostamos mais de falar em desenvolvimento) … na fileira agroalimentar ou no sector do turismo… “, entre outros pilares, a coesão social e a todos os níveis ainda não foi encontrada. Nesta medida, subsistem “… os desequilíbrios territoriais…”, impondo-se, em políticas públicas, ser-se capaz de corrigir essas assimetrias, arrancando com projectos de desenvolvimento integrados, aqui se devendo incluir a vinda de indústrias sustentáveis, de comércio de vistas largas, de centros de altas tecnologias, disseminando a sua implantação pelo todo nacional, o que só é possível e viável se, como base, houver o cuidado em erguer e trazer equipamentos à altura das prementes necessidades aos mais diversos níveis, desde as infraestruturas à cultura, educação, lazer, saúde, justiça, etc, etc, para alimentar o desenvolvimento das capacidades e oportunidades de nosso tecido populacional. Só que, em movimento abismalmente oposto a este caminho, pouco nos dão, muitos nos tiram. E isto não tem classificação, nem perdão. No documento em análise, na Estratégia Europa 2020, a “Política de desenvolvimento económico, social, ambiental e territorial” é moeda forte em cima da mesa, mas apenas está escrita e, agora, tem de ser posta a circular. Instrumentos, em intenção, há bastantes, desde o “Desenvolvimento Local de Base Comunitária” (DLBC) às políticas de base territorial, sem deixar de lado outros programas temáticos e regionais. Escasseiam é, até ao momento, as passadas decisivas que nos tirem desta apatia, isto é, faltam as políticas verticais e horizontais que ponham tudo a mexer e a andar para a frente, em partilha e cooperação tanto quanto possível e desejável… Sendo esta uma matéria que tem muito para ser analisado, este trabalho é apenas a primeira parte de algo com âmbito mais lato, que será continuado em próximas edições. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”