quarta-feira, 30 de março de 2016

Angola

Depois de ter visto a condenação daqueles jovens a penas de prisão, eu que esperei, liricamente, agora o sei, pela sua libertação, sinto que em Angola ainda falta muita coisa e uma delas é a liberdade de expressão, de opinião e até de leituras. E isto dói-me. Com um pé na comunicação social, o maior dos bens que se pode ter dá pelo nome, esse mesmo, de liberdade, de liberdade, de liberdade. Quando a não há, nem os petrodólares, também esses ali em decadência, valem um tostão que seja. Se a sua condenação assenta nos pressupostos que tenho lido e ouvido, assumo que aqueles jovens são presos políticos. Sem tirar, nem pôr. E não há forma de esconder tal situação. Espero ainda que haja o bom senso político de se rever esta afronta à dignidade humana e à liberdade de pensamento. Faça-se isso e depressa!...

terça-feira, 29 de março de 2016

Caminhar em conjunto na Região de Lafões...

Lafões pode e deve caminhar em conjunto Num tempo em que as distâncias físicas, sociais e psicológicas são cada vez menos tensas e em que as novas necessidades e realidades exigem respostas de tipo diferente, menos fechadas e mais abertas, saudamos tudo quanto se faça em benefício do intermunicipalismo. Por esta mesma razão, ouvimos, com agrado, no passado domingo, em Oliveira de Frades, o Secretário-Geral da Comunidade Intermunicipal Viseu Dão-Lafões (onde Viseu é redundância absoluta…), Dr. Nuno Martinho, dizer que estava em curso a programação de acções e candidaturas conjuntas, em elo de união entre as catorze câmaras municipais que constituem aquela entidade. Estando nós, quando esta comunicação foi feita, em ambiente de Protecção Civil, foi esta esfera de acção que ali foi colocada em cima da mesa, numa altura em que Lafões estava a concluir uma louvável iniciativa, de âmbito florestal, na modalidade intermunicipal, uma tradição que, felizmente, se vai mantendo. Deste modo, o que o Dr. Nuno Moutinho garantiu é que se está a trabalhar para gerar operações mobilizadores dos 14 concelhos em projecto comum, adaptado, como convém, a cada especificidade verificada no terreno, agora que se têm em vista os financiamentos da União Europeia, 2014/2020. Anunciou ainda que a mesma filosofia se aplica noutros sectores, o que mais aguça o nosso apetite por esse tipo de atitudes. Com as CIM a terem de assegurar uma cada vez maior supramunicipalidade, que substitua, por exemplo, a inexistente regionalização, pensar globalmente para aplicação local é uma boa medida e um eixo de ideias que faz todo o sentido. Por outro lado, os contributos locais, potenciados à escala global, aqui na dimensão dos 14 municípios, também podem ser, e são-no, de grande utilidade. Dito isto, em 2014, é chegado, com maior pertinência, o momento de se cruzarem sonhos, de se rabiscarem projectos, numa perspectiva de Comunidade e esta palavra fala por si. Descendo um pouco a fasquia, caiamos na nossa Região, Lafões, para dela fazermos o melhor dos territórios onde as boas práticas de gestão e visão em conjunto sejam a regra e não a excepção. Aliás, a três, o seu peso e a sua identidade sairão reforçados no momento em que as negociações venham a ser despoletadas. Não cairão, a ninguém, os parentes na lama se assim procederem, cada um, no entanto, com suas valências e pergaminhos de modo a que, pela diversidade, a unidade tenha mais encanto. Dados estes passos pelo nosso raciocínio, vêm-nos à memória dois casos, que nos merecem comentários de natureza bem diferente, porque vamos falar de elogios e de críticas mais azedas, mas francas. Em primeiro lugar, temos de manifestar o nosso apoio à construção da Ecopista do Vale do Vouga, que, aliás, ultrapassa a nossa própria terra lafonense. Se, como para aí se diz, ela não vai avançar por falta de financiamento, esse é um prejuízo evidente para a nossa oferta turística e social, pelo que há que tudo fazer para a não deixar cair. Já agora, com toda a nossa franqueza e independência de espírito, achamos que o luxo, que para ela se prevê, pode muito bem ser repensado e, dessa forma, os seus custos baixarão significativamente. Olhando para exemplos da mesma ordem, há pisos que nos parecem exagerados na sua projecção e construção e isso custa dinheiro, obviamente. E há até uma crítica, por vezes ouvida, que tanto requinte desvia do uso que lhe deveriam dar as comunidades por ela servidas. As suas cinco estrelas são, assim, potenciadoras de eventuais rejeições. Para evitar que isso aconteça, porque as obras devem, também e muito, estar ao dispor de quem as tem à porta, uns retoques a menos talvez venham a calhar. Sendo esta uma opinião muito pessoal, mesmo assim não deixamos de a partilhar, pretendendo com ela, modestamente, ajudar a que os custos da sua construção sejam mais amenos e não haja razões para cortarem o necessário financiamento. E se essa condição se não verificar, de todo, há soluções muito mais económicas que os municípios poderão, talvez, assumir e com essa decisão fazer andar a Ecopista que tão bem fará as estas nossas localidades. Já agora, a pista em si mesmo é obra de vulto, mas se for acompanhada de divulgação complementar, passo a passo, de carácter gastronómico, hoteleiro, paisagístico e monumental e outras valências, tanto melhor. É a cereja no topo do bolo. A questão mais complicada de exprimir e de atirar para a esfera pública tem um nome muito concreto: Festival da Vitela de Lafões. Teimosamente, continuamos a dizer que é grossa asneira haver um evento destes em Vouzela e outro em S. Pedro do Sul, com pouco tempo de intervalo. Sem apontar culpados, repense-se esta matéria enquanto é tempo de todos ficarmos a ganhar e ninguém a perder. Lafões agradece. Carlos Rodrigues, Notícias de Vouzela, 2014 NOTA – Depois de este ano de 2016, uma vez mais, os três Municípios terem levado a cabo a Semana Florestal em conjunto, de se terem sentado à mesma mesa no chamado Almoço da Amizade, realizado sempre no sábado da Páscoa, desta vez, no passado dia 26, sentem-se passos no bom sentido. Mas é preciso ter uma passada mais larga, mais clara, mais consequente, mais firme, mais unida e mais generalizada.

sábado, 26 de março de 2016

Continuar a lutar pela reabertura dos Tribunais

Reabertura dos Tribunais é exigência dos povos Os problemas da Justiça e a sua ligação com as comarcas inserem-se numa discussão que parece nunca ter fim. Quando agora pensamos, pelo que nos dizem, que estamos perante a boa novidade da possível reabertura dos nossos Tribunais, vamos tentar analisar este tema à luz das considerações que se filiam nas razões do acesso à justiça, no desenvolvimento de nossas comunidades, na sua vertente simbólica e como imagem de marca de cada concelho. Por não ser matéria da nossa “conta”, fugimos dos códigos diversos, da organização em si, da formação, da existência de pessoal ou não e outros factores que, por agora, preferimos que fiquem de fora deste trabalho. Enquanto territórios despovoados, agora chamados de baixa densidade, as políticas públicas são por nós vistas como meios que ora contribuem positivamente para o seu desenvolvimento, ora o fazem atenuar, ou mesmo anular. Esta é uma lógica que nos faz enveredar pela investigação, procurando perceber quem é quem neste contexto e o que foi feito em cada época. Assim, falarmos de Justiça faz sempre todo o sentido e agora tanto como ontem, ou ainda mais: há anos, batemo-nos fortemente pela manutenção das Comarcas e Tribunais como os víamos desde há décadas, depois dos nossos antepassados muito terem lutado por isso. Veio a Troika e o célebre Memorando de Entendimento de 17 de Maio de 2011 e tudo começou a ir por água abaixo. Com protestos, com manifestações, com contactos autárquicos ao mais alto nível, não fomos capazes de travar esse apetite devorador e os resultados foram desastrosos, para o sector em causa e para a economia de nossas localidades. Com as decisões que se seguiram a esse Memorando, que foi objecto de 11 revisões regulares, atiraram-se às malvas os princípios da cidadania e da confiança, do acesso capaz à justiça e de todos os equilíbrios que nunca deveriam ter sido postos em causa. Mas foram-no. Em 2014, a Coordenadora Executiva do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa, Conceição Gomes, já alertava então para o facto de se estar a destruir a qualidade da democracia e da cidadania com o encerramento desses serviços públicos nas localidades onde tal se veio a concretizar, incluindo Oliveira de Frades e Vouzela. Vendo com muito peso na busca de justiça a questão das distâncias geográficas, tese que aceitamos, impede-se assim o acesso aos Tribunais, accrescentando que se corta o desenvolvimento social e económico das terras em causa. Por sua vez, Susana Santos, em comentários à aplicação do Memorando de Entendimento, escreveu na Revista de Sociologia, em “ Novas Reformas, velhos debates...”, que a então reorganização judiciária se pautou pelo vector económico em detrimento de uma boa justiça, não se olhando ainda para as obrigações do Estado perante os seus terriotórios e coesão social. Tendo como pano do fundo a crise económica e a intervenção externa, pedida em 2011, não se acautelou a vida concreta das pessoas, vendo-se os Tribunais apenas como uma mera fonte de receita, o que veio a impôr, em contenção financeira, os ditos cortes cegos na Justiça e noutros sectores. Curiosamente, já em 1992, Francisco Ramada Curto, em “ A dimensão social da Justiça”, expusera claramente que este mecanismo do acesso a uma Justiça global, por parte de todos os cidadãos, é a forma de garantia de que todos os demais direitos humanos não são postos de lado. Ir por caminhos diferentes Depois de todas estas considerações, e muitas mais poderiam ser aqui trazidas, vislumbram-se agora bons sinais de mudança positiva, defendendo-se que é preciso inverter o caminho que foi trilhado nos últimos anos, em palavras da própria Ministra da Justiça, que condenou, com veemência, na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias da Assembleia da República, a reforma que tinha sido colocada no terreno, deixando a ideia de que iria rever os 20 tribunais que tinham sido encerrados e as 27 Secções de Proximidade que se seguiram em alguns municípios, como os de Oliveira de Frades e Vouzela, não obstante terem sido mostradas provas, pelos Autarcas, que essa era uma asneira de todo o tamanho e honra lhes seja feita. Sabendo que os poderes locais muito fizeram pela defesa de seus Tribunais, a nossa convicção vai ainda mais longe: esta nova postura, esta vontade de vir a repor a Justiça, onde ela deve estar e de onde nunca deveria ter saído, têm a sua génese maior na força dos povos que nunca calaram a sua indignação. Em algumas situações por nós vividas, podemos testemunhar quantos transtornos recaíam sobre populações indefesas e altamente vulneráveis que se viam incapazes de ir, por exemplo, de Ribeiradio e de Alcofra a Viseu para tratar das questões de direito que viam ser-lhes sonegadas, porque tais deslocações eram incomportáveis e o sistema de transportes públicos é, por estas bandas, altamente deficiente. Num outro patamar, era uma dor de alma ir aos nossos Tribunais e deparar-nos com um funcionário e um montão de prateleiras vazias, em desperdício atroz de recursos e meios em pessoas e de outra índole, incluindo em termos de instalações, sendo que, no nosso caso, os Palácios da Justiça são de construção bastante recente, num e noutro dos dois concelhos que citámos. Tendo lido que a Ministra pretende revisitar comarca a comarca, município a município, para travar os “efeitos perversos” que se criaram, pondo em execução um outro possível figurino que é o de levar os serviços da Justiça a deslocarem-se em certos dias a cada espaço, eis que vislumbramos uma luz ao fundo do túnel. Sempre nos pareceu que esta via, razoavelmente aceitável, tinha pés para andar e, se no momento em que foram encerrados ou convertidos em Secções de Proximidade os anteriores Tribunais, de onde saíram, em camiões militares, toneladas de papéis e móveis, tendo ido atrás disto tudo o próprio pessoal, esse tivesse sido o modelo adoptado, talvez nada do que aconteceu de mau tivesse surgido. Ou, no mínimo, bem menos. Este é um tempo novo. Agora, com tais determinações oficiais, pede-se a todos nós, autarcas, comunicação social, entidades diversas e todas as forças vivas que se venham a recuperar, como é de sagrada justiça, os serviços que, infelizmente, há tempos, viemos a perder. Só em esforço colectivo é que conseguiremos (re)alcançar aquilo que aos nossos antepassados tanto custou a conquistar. Assim o exigem os povos que têm direito a uma Justiça próxima e eficiente ao seu alcance nas terras que habitam. Para o “Notícias de Vouzela”, esta é uma questão de honra, de dignidade e de justiça que, como jornal, nunca poderemos esquecer. Por isso, esta é, claramente, uma de nossas lutas, tal como ontem e como mostrámos há dias. Carlos Rodrigues, “Notícias de Vouzela”, 2016, Março, 24

quinta-feira, 24 de março de 2016

Quinta-feira

Há anotes, nos meus tempos de rapazote, a quinta-feira só era meio santa: apenas da parte da tarde. De manhã, ainda que em férias da Páscoa, havia que bulir. À tarde, fato novo e cerimónias religiosas com a leitura de longos textos da caminhada de Jesus Cristo para a morte. Na sexta, acontecia o mesmo, aqui na Serra do Ladário, concelho de Oliveira de Frades, onde o litoral acaba e o interior começa. De manhã, tudo normal, mãos calejadas e fatiota de trabalho. De tarde, Igreja, para o momento solene da morte de Jesus Cristo. Outro dado de vulto: dia de jejum e abstinência, nem uma dentada em carne. Apenas peixe. Ou ainda: uma espécie de meia fome, para maior sacrifício. O mundo mudou: a sexta é dia santo de manhã à noite e é mesmo feriado nacional. A quinta perdeu a sua meia categoria anterior. Como lembrança de suas santas tarde, acontece que, por vezes, o Estado dá tolerância de ponto, depois do meio dia, e muitas Câmaras Municipais fazem-no quase sempre, haja ou não o exemplo vindo de cima, como aconteceu neste ano da graça de 2016...

quarta-feira, 23 de março de 2016

Português do mundo

Um dia, em criança mostrei todo o interesse em ser caixeiro-viajante ou turista todos os dias. Acrescentei mais tarde: turista-militante. Agora digo: quero continuar a ser cidadão do mundo. Ontem, chorei com Bruxelas, envaideci-me com os novos tempos de Cuba e nem sei o que pensei sobre o Brasil. Deste País-irmão, o que escrever cheira sempre a tristeza. Não é este o Brasil que defendo, nem que imagino. Não gosto das práticas políticas ali, agora, em uso. Nem dos cargos criados para fazer desviar as atenções e espantar a justiça. Não sei se Lula tem pedras nos sapatos. Não sei. Mas já me habituei a não pôr a mão no lume por ninguém. Agora o que não entendo são os expedientes que no Planalto se engendraram. Assim, cidadão do mundo, olhando para a Europa vejo-a a arder. Dando um salto ao Brasil, é aquela bagunçada dos diabos. A minha África continua a sofrer. O Médio-Oriente não pára de andar em rebuliço atroz. Parece que apenas a Austrália e a Nova Zelândia, lá no outro lado do meu mundo, se safam. Assim, que Deus nos ajude, agora que a Páscoa está e chegar...

terça-feira, 22 de março de 2016

Luto

É de luto que estou. É em luto que me sinto. Tocado o coração da Europa, Bruxelas, foi a mim também que este vil ataque foi dirigido. A cada um de nós, europeus e cidadãos livres. Em luto, reafirmo os valores da liberdade, da igualdade, da fraternidade, do direito, da justiça, da coesão social, da paz entre os povos e as pessoas. Em luto, choro por quem nos deixou e espero que nós, os que ainda por cá andamos, continuemos a fazer o bom combate, o dos valores citados e muitos outros. RIP. Mas em frente!

domingo, 20 de março de 2016

Recordar o criador do Hino de Lafões, Celestino Severino

A vida do autor do Hino de Lafões O povo da Região de Lafões, que abrange, grosso modo, os concelhos de Oliveira de Frades, S. Pedro do Sul e Vouzela, a que se juntam algumas freguesias periféricas dos municípios vizinhos de Sever do Vouga, Castro Daire e Viseu, abraça-se a uma série de símbolos comuns, desde o Vale do Vouga às Serras do Caramulo e da Gralheira, para além de muitos outros, sendo que um deles é especial e constitui um poderoso traço de união – o nosso Hino. Na sua origem, temos um cidadão ilustre, nosso antepassado, que viveu nos séculos XIX e XX, nascido no remoto e pequeno lugar da Malhada, freguesia de Alcofra, a 24 de Janeiro de 1863, que se chamou Celestino Henriques Correia Severino. Seu Pai era o Dr. Manuel Henriques Correia Severino e sua mãe, a D. Margarida Henriques Almira, como assinalou Arlindo Correia, de Campia, em escrito sobre este poeta que tão bem retratou, com sua pena, estas nossas terras. Juntou ainda mais uma série de informações, tais como a de ter, na altura, um irmão a paroquiar Pinheiro de Lafões, o Padre Diamantino Severino, e de ter estudado em Viseu, no Liceu, para tirar o curso de Direito em Coimbra. Na tumultuosa divisão administrativa desse século XIX, Alcofra pertencia então ao concelho de Oliveira de Frades, passando em 1871, para Vouzela. Ou por essa primeira ligação, ou por outras razões, o futuro Dr. Celestino Henriques Correia Severino viveu vários tempos naquela vila de Oliveira, na Quinta do Cabeço, lá bem no alto, num local com uma vista prodigiosa sobre parte do território de Lafões. Partindo desse posto de observação e dando largas à sua imaginação poética, no ano de 1882 escreve o Hino de Lafões. Dois anos antes, porém, em Viseu, já tinha escrito e publicado um verso solto, “ Um filho de Minerva”, seguindo-se-lhe, também em 1882, com base no texto de Arlindo Correia, o “Cântico dos Cânticos de Salomão” e, em 1885, “ Terramoto em Espanha”. Nesta cidade, ganha notoriedade como Advogado e cidadão activo e o seu nome aparece, com alguma frequência, em contribuições diversas nos jornais locais. Esta sua veia para a escrita, havia de o conduzir, com o Dr. António Figueirinhas (outro lafonense, notável pedagogo, fundador da Livraria com seu nome e com extensa obra educativa, em Oliveira de Frades, Viseu e no Porto, a par de outros locais e altas funções), a fundarem ambos um jornal naquela vila, “ O Lafões”, a começar de ser publicado no dia 5 de Maio de 1892, de que daremos nota mais detalhada na parte final deste trabalho. Com uma intensa vida cívica e social, o Dr. Celestino Henriques Correia Severino, um republicano de gema, ainda no período da Monarquia, seria um dos participantes da Revolta do 31 de Janeiro de 1891, no Porto, em que se pretendeu instaurar a República, operação condenada ao fracasso, tendo sido derrotados os seus promotores. Como prova desta sua ligação a esse acto revolucionário, vemo-lo a receber uma distinção oficial alusiva a essa fase da nossa vida colectiva, no ano de 1921, como se regista em obra de Paulo Jorge Estrela, do Instituto Geográfico Português/Academia Falerística de Portugal, 2011, no Anexo A, Relação das Instituições e Cidadãos Condecorados com a Medalha Comemorativa da Revolução de 31 de Janeiro de 1891, através de Decreto de 28 de Fevereiro de 1921, OE, 4, 2ª série, onde seu nome aparece bem referenciado. Quanto à sua passagem por Viseu, cidade onde também deixou marca, em edição referente ao Centenário dos Vinhos do Dão de 2008, para assinalar o dia 18 de Setembro de 1908, em que fora publicada a Carta de Lei que delimitava a área de produção da Região, ficou a saber-se que, a 22 de Outubro desse mesmo ano, em sessão havida no Salão de Baile do Grémio de Viseu, entre as pessoas e entidades que se fizeram associados, lá estava o Dr. Celestino Henriques Correia Severino. Dito isto, ficando ainda muito por desvendar acerca de sua obra de uma intensa vida cultural e profissional, recheada de episódios bem dignos de menção, há a registar a sua morte em 1924 e a oferta que faz de sua Biblioteca pessoal e demais documentação à Câmara Municipal de Oliveira de Frades, assim dando mais um contributo ao enriquecimento daquela que considerou ser a sua terra. Se múltiplos aspectos de sua vida ainda não estão totalmente desvendados, é certo que na Região de Lafões o seu nome está para sempre imortalizado, por ter sido o autor da letra do Hino que a todos nos une. Isso praticamente bastaria para perpetuar sua memória e seus feitos, tendo, por esse facto, o seu nome registado na toponímia da vila de Oliveira de Frades. Porque importa, agora, fazer mais umas considerações acerca do jornal que ajudou a fundar precisamente nestas mesmas paragens, “ O Lafões”, a ele vamos dedicar mais meia dúzia de parágrafos. Já o dissemos, mas vamos agora repeti-lo: o nº 1 saiu para a rua a 5 de Maio de 1892, sendo o nº 42 de 9 de Fevereiro de 1893. Partimos, para estas simples referências, de um nosso livro, em elaboração, dedicado aos mais de oitenta anos do actual jornal “Notícias de Vouzela”, em fase de ultimação. Foi seu Editor – José de Almeida Couto; Administradores – Tomaz Osório Saraiva e Custódio Pereira de Carvalho; Colaboradores Principais – Gomes Leal, Dr. António de Almeida Silva Campos de Melo, Serafim Fernandes, Dr. Emílio A. Ribeiro de Castro e Dr. Pedro Tavares (1910). Com uma vida agitada, cheia de altos e baixos, desaparecimentos e reentradas bruscas, algumas mais efémeras que outras, depois de em 1893 ter deixado de ser publicado, vemo-lo, de novo, em 1900 para seguir até 1911, voltando a encerrar, para regressar, uma vez mais, em 15 de Agosto de 1923, sensivelmente um ano antes da morte de um de seus fundadores, o Dr. Celestino Severino, em 1924. Na versão de 1900, era dominical e tinha como Editor – José de Almeida Couto; Encarregado de Redacção – Baltazar da Costa Azevedo; Impressão – Tipografia Universal, Cedofeita, Porto. Quanto a 1910, tínhamos nas duplas funções de Director e Proprietário – Manuel Ferreira Diogo; Editor – José Coelho Pinto da Costa Ferraz; Administração – Rua Bandeira Coelho; Impressão – Tipografias Minerva, Vila Nova de Famalicão e Casa Moderna –S. Pedro do Sul. Saltando para a nova série, a de 1923/1930, tinha uma periodicidade quinzenal, sendo seu Director e Editor – Padre Dr. António Rodrigues de Oliveira; Redactor Principal – Dr. João Ferreira Tavares; Secretário – Dr. Alexandre Armênio Maia; Redacção e Administração – Oliveira de Frades; Impressão – Tipografia Central de Viseu, Vouga –Albergaria-a-Velha, Minerva (Vila Nova Famalicão) e Silva, ainda Albergaria, de novo. Em 1926, era Secretário o Padre Manuel Tavares da Silva, havendo as colaborações especiais do Dr. Manuel Ferreira Diogo, Dr. Amorim Girão, A. Barbosa e os irmãos Augusto e Daniel Pinheiro de Almeida. Tendo nós começado com a evocação do Dr. Celestino Henriques Correia Severino, é justo que com ele terminemos estas curtas deambulações: partindo do Hino de Lafões, de que foi autor, acabámos com o jornal “ O Lafões”, que também partiu de sua iniciativa. Era tal a sua dedicação a esta Região, que a usou, em títulos, nestes dois de seus “monumentos” culturais e em muitos outros pontos e aspectos de sua vida. Merece, por tudo isto, a nossa consideração e o nosso grato reconhecimento. Carlos Rodrigues, Março, 2016.

quarta-feira, 16 de março de 2016

Dados para a educação no século XIX

Instrução popular a preocupar os políticos em 1845 - OFR Ao longo dos tempos, a educação tem sido objecto de crescentes e oscilantes preocupações. Foi sempre assim. Antes, durante e depois dos povos clássicos da Grécia e Roma, espalhando-se pela Idade Média, pelo Renascimento, Iluminismo, Positivismo, sempre, e por todo o lado, se pensou que era preciso fazer “alguma coisa”. No ano de 1845, lê-se no Arquivo Municipal de Oliveira de Frades, o Governo Civil, tendo como base uma Lei de 20 de Setembro de 1844, dirige-se às Administrações Municipais no sentido de se defender a “instrução popular, tão atrasado em nosso país, mais pela inércia natural do povo do que por falta de estabelecimentos literários… “ De uma forma muito concreta e, talvez, muito exagerada põe-se a culpa no elo mais fraco: a gente de cá de baixo, do povo, como foi escrito. Lá em cima, nos comandos, há de tudo, até condições físicas para esses fins, dizem. Como muito tempo depois, vemos que há falta de casas para escolas, que se tem de recorrer ao arrendamento e ao empréstimo, aquela não é mais do que uma figura de retórica. Mas aceita-se a boa vontade em ter-se uma população com bases de saber. Recorde-se que se vive, naqueles anos, o período do liberalismo, já um tanto distante das fratricidas guerras civis, entre as tropas fiéis dos irmãos Miguel e Pedro, pelo que a educação aparecia como uma peça do pretendido desenvolvimento. Ia-se mesmo mais longe: como é necessário persuadir os povos acerca das vantagens da instrução da mocidade, apela-se, exortando-os, aos párocos para que, nas suas igrejas, não esqueçam estas matérias. Nesta azáfama, a 28 de Maio do mesmo ano de 1845, vem, de novo, à carga o Governo Civil. Apoiando-se na já referida legislação de 1844, no que se refere à distribuição das escolas do ensino público e respectiva regulação, faz chegar às Câmaras Municipais e Párocos, numa busca de sintonia entre estas duas esferas da sociedade de então, a religiosa e civil, as devidas instruções. Um ano antes, em Março de 1844, era a vez de a Junta de Paróquia de Ribeiradio e seu Regedor lavrarem o seu protesto pelo facto de a escola daquela localidade ter sido desviada para Arcozelo das Maias, desprezando-se assim a centralidade – é o argumento invocado - e a possibilidade de receber também os alunos de Cedrim do Vouga. Como alvo da fúria local, aí temos as críticas a choverem sobre a principal culpada: a Câmara Municipal. Aconteceu isto em 1844… Carlos Rodrigues, “Notícias de Vouzela”, 2012

terça-feira, 15 de março de 2016

Nicolau e a chuva

Ontem, com a morte de Nicolau Breyner, até o céu escureceu, começou de ganhar lágrimas e hoje, terça-feira, dia 15, as descarrega cá para baixo. As estrelas, perdendo uma das mais brilhantes da constelação dos artistas, desfazem-se em choro e connosco mantêm um diálogo de dor, tristeza e maior solidão cultural. Só os grandes Homens têm este poder de falar com os astros e o Deus do tempo. E Nicolau Breyner foi (é) um desses. Até sempre. Descansa em paz!

sábado, 12 de março de 2016

Às vezes, pouco nos basta...

Estas pontinhas de sol quente são um poderoso alento. Gosto. Defendo até uma ideia: fazer com que, em amplitude térmica, os anos só comecem em Abril e acabem em Setembro. Já me lembrei de pôr a correr na Net uma petição desse género. Pura fantasia. De nada valeria, que o tempo, como se diz aqui por terras da Serra do Ladário, em pleno concelho de Oliveira de Frades, só a Deus pertence. Ainda bem. Se assim não fosse, andava tudo à batatada, em equipas opostas, estilo, as do sol na eira e as da chuva no nabal. Mas há uma petição que, na senda da forma como o novo e atarefado Presidente da República escreveu no "Expresso", usando a antiga ortografia, eu subscreveria de imediato e vezes sem conta: uma que fizesse com que o Novo Acordo Ortográfico fosse dar uma curva ao Bilhar Grande e nunca mais voltasse. Ficava tão - e muito mais - feliz do que com o solzinho que hoje me veio aquecer...

terça-feira, 8 de março de 2016

Bem-vindo, novo PR

Amanhã, pouco depois de acordar, em Portugal passa a viver-se uma era nova, com a entrada em funções do novo Presidente da República, Professor Marcelo Rebelo de Sousa. Sei que me vai ser difícil desligar do "colega" da comunicação social e das funções docentes, mas, a partir do dia 9 de Março, é mesmo o nosso Presidente. Sei que vem por bem e para bem de todos nós. Sei que não vai deixar perder aquele ar brincalhão, mas sei, ao mesmo tempo, que saberá desempenhar, em alto nível, as funções que lhe foram confiadas. Olhando para a vida, vejo-o, comigo, um dia, em plena campanha eleitoral autárquica em Oliveira de Frades, no velho Pavilhão da então Escola Secundária, hoje Palácio da Educação com obras de cerca de 20 milhões de euros, oriundos do tão falado parque Escolar. Ainda sinto as graçolas que disse o sorriso rasgado que connosco partilhou. Revejo-o em muitas outras circunstâncias, mas tenho a certeza que, agora, isto é outra louça... O seu Palácio é o de Belém e as suas responsabilidades passam pela defesa de um País inteiro... Boa sorte, MRS!...

sábado, 5 de março de 2016

Olhar para o Interior

Acabou de ser anunciada hoje uma Unidade de Missão para salvar o Interior. Sendo esta uma de minhas paixões e o objecto de uma Tese de Doutoramento em execução, saúdo a ideia, vista aqui da minha Serra do Ladário, no concelho de Oliveira de Frades, onde se respira um duplo ar, um misto de aragem que vem desse mesmo Interior e umas lufadas de brisa do litoral. Aplaudo, mas tenho de o confessar: vem com séculos de atraso e, talvez, já não possa remediar quanto de mal fizeram as políticas públicas em desfavor destas zonas de baixa densidade. No meio disto tudo, que venha para deitar a mão a quem tanto se tem visto abandonado pelos diversos (todos) os poderes centrais. Se não fosse existirem empreendedores como o meu amigo Alberto Henriques, há dias condecorado pelo Presidente da República, pelo seu espírito de iniciativa industrial com várias unidades fabris na ZI deste meu concelho, Oliveira de Frades, passos que também têm sido dados por muitos outros, centenas deles (Ver Martifer, outro bom exemplo, etc. etc.), ao Estado pouco estamos a dever. Muito pouco, mesmo. Apareça então a bem-vinda Unidade de Missão!...

quarta-feira, 2 de março de 2016

A triste dança das cadeiras

Não é de agora, mas esta ideia de que, mudando o governo, tem de se mexer em tudo, desde a chefia da cozinha aos cuidadores da relva do Estádio Nacional, NUNCA foi do meu agrado. Entendo que tem de haver, a nível de quadros da coisa pública, segurança, estabilidade, competência, maleabilidade para encaixarem novas directrizes políticas, não tocando em nada, por exemplo, da Direcção-Geral para baixo. Trata-se de uma questão de regime, de bom senso e de boa "governance". Meter as mãos nas LAMAS não é coisa que me agrade. Nem penso que seja o caminho para credibilizar o sistema político. Nas Lamas, nos Lagos e em tudo que seja chefia, dita menor... Mas as tentações para acolher os amiguinhos não se perdem, sempre se transformam e isto é continuação de mau sinal. Esta gente dos Governos é de aprendizagem lenta, ou então age por aselhice... Isso mesmo: aselhice...

terça-feira, 1 de março de 2016

Março

Só duas palavras que, por hoje, me enchem a alma: sol e amizade. Ponto final.