quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Tradições religiosas em Campia - Vouzela

S. Miguel em Campia com festa rija Ao encerrar-se o mês de Setembro de cada ano, a freguesia de Campia veste o fato domingueiro, o melhor de todos eles, para vir para a rua festejar o seu Padroeiro, S. Miguel Arcanjo. Estabelecida esta data como feriado local, que sem o ser o é sempre, são vários dias de animação e de religiosidade a que ninguém, por aqui, fica indiferente. O calendário assim determina, a tradição faz permanecer vivo e revivificado este costume que o povo desta terra admira e venera. Por ser localidade importante no contexto concelhio, Campia não se contentou com um Santo qualquer, tendo escolhido um Arcanjo, o santo dos santos. É tão forte a crença em S. Miguel que várias doutrinas religiosas, tais como a judaica, a cristã e a islâmica, lhe prestam uma enorme atenção e todas o estimam nas suas crenças. Porém, a santidade fica apenas para os cristãos. Visto como líder designado por Deus para combater as forças do mal, associa-se, no imaginário e na estatuária, ao poder de esmagar o diabo, representado também pela serpente, tal como se pode ver na fachada da Igreja Paroquial de Campia, em local bem notório e bem ao alcance da vista de todos quantos ali vão ou por ali passam. Tido como Príncipe dos Exércitos, a sua função principal é estar ao serviço do bem do Povo, tudo fazendo para o defender e salvar. Na idade média, era patrono da respectiva cavalaria, havendo santuários a si dedicados desde o século IV, o que prova a longevidade do culto que lhe é tributado ao longo dos tempos. Rezam as crónicas que nem sequer chegou a ser canonizado, até porque já eram frequentes as referências a seu respeito no Antigo Testamento, isto é, muito antes de Cristo e, por isso, anteriores ao próprio cristianismo e á Igreja de Roma. Deste modo, tais cerimónias e designação papal não se aplicaram a S. Miguel. Na sua pessoa, aparece ligado ao bem-estar dos doentes, à protecção dos crentes na hora da morte, intercedendo pela sua entrada nos céus da felicidade eterna, pelo que, nestas múltiplas facetas, se torna mesmo o santo dos santos, para estas gentes da paróquia em festa e para tantas outras espalhadas por esse mundo fora. Se dissemos que é seguido em religiões diversas, as monoteístas, as igrejas católica, anglicana e luterana festejam-no a 29 de Setembro, sendo que noutras latitudes há datas diferentes. Neste mesmo dia, assinalam-se também as devoções a S. Gabriel e S. Rafael. Dada a sua importância e a fama de seus feitos, raramente se ficam por um dia apenas os seus festejos. Neste ano de 2016, como se nota pelo programa em causa, a tradição mantém-se, fruto do trabalho e dedicação dos Mordomos que têm como sua responsabilidade honrar e glorificar o seu Padroeiro, uma vez por ano. Por este ser tempo de colheitas, ao falar-se de S. Miguel, na cultura popular, a operação de cortar o milho e fazer as vindimas anda frequentemente associada ao fazer o S. Miguel agrícola. Este é mais um pormenor que aqui registamos. Com várias orações a seu respeito, terminamos com parte de uma delas: “ ... São Miguel, São Miguel, São Miguel/Aonde quer que eu vá/ Eu sou o seu amor, que me protege aqui e agora... “. Festa religiosa e popular, na união entre o sagrado e o profano, em Campia estes são dias de muita animação. Esta gente de trabalho bem merece estes “intervalos” na sua labuta. E a devoção ao seu Padroeiro dá-lhe ainda mais força para o ano que aí vem. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 2016

Tópicos para a história da televisão em Oliveira de Frades

A televisão e Oliveira de Frades Em mais um aniversário assinalado pela Rádio Televisão Portuguesa, nascida em Março de 1957, queremos aqui trazer umas notas sofre esse notável facto que, em matéria de conhecimento e de lazer, veio mesmo mudar o mundo. E que razões nos levam a que associemos esta efeméride ao concelho de Oliveira de Frades? Poucas, mas significativas: é que o que hoje é uma banalidade e já não é sequer notícia sabermos que temos centenas de canais ao nosso dispôr, em 1957 não era nada assim. Por estranho que pareça, passados apenas (?) quase sessenta anos, nessa altura, a maior parte das terras deste município ficou de fora dessa nova conquista, por duas ordens de grandeza: em primeiro lugar, por falta de acesso à energia eléctrica e, em segundo, porque a marcha da cobertura pela nova Televisão foi muito lenta, demorando a chegar às diversas localidades. Fenómeno novo, em maravilha da técnica, tornou-se, desde logo, um bem escasso e mais um factor de negativa discriminação. Quem a tinha, estava em nítido avanço em relação com quem a ela não podia aceder. Lembramo-nos de ter sido com espanto que a espreitávamos nos poucos cafés que então a possuíam e a punham ao dispôr de seus clientes e ávidos mirones. Se a memória nos não trai, foi no saudoso Café Ideal, então da gestão e responsabilidade de Aureliano Gouveia, que assistimos, pela primeira vez, a um espectáculo de tourada com enorme abrir de olhos e alta curiosidade. Por pouco, não fugimos daquele mágico local, com medo de que o touro viesse ter connosco, por logo termos percebido que, a preto e branco, entre nós havia um vidro inquebrável e uma distância abismal. Em negócio do século, as casas comerciais, com destaque para os citados Cafés, enchiam-se muitas vezes para as pessoas verem TV, mais do que com o desejo de consunirem alguma coisa. Só que, fora alguns locais onde este “serviço” se pagava ( e sabemos que assim era, ainda que noutras terras, ou talvez também por aqui), atrás dessa espreitadela para o écran, lá vinham uns copos de vinho e uns acepipes quaisquer, o que resultava em lucro para os donos desses mesmos estabelecimentos comerciais. Com esta alta tecnologia a ser, durante décadas, repetimos, décadas, mais a excepção que a regra geral, vamos passar a ilustrar com dados algumas das localidades onde esse alto benefício só veio muito mais tarde. A luz em Oliveira de Frades Dez anos depois, em 1967, eis o panorama (parte), no concelho de Oliveira de Frades, em termos de fornecimento de energia eléctrica: este foi o tempo de nova iluminação pública na vila, quando presidia aos destinos da Câmara Municipal o Dr. António Lopes Ferreira, de Virela, que, aliás, por essa altura da vinda da TV, já tinha pedido a sua demissão; ao mesmo tempo, dava-se início aos trabalhos da electrificação em S. Vicente de Lafões, sendo que Postasneiros, Cajadães e ainda Vilarinho (Souto de Lafões) recebiam a comparticipação relativa à segunda fase desta obra e, em Abril, ali se viam já as linhas de alta tensão. Em Arcozelo das Maias, as queixas iam noutro sentido: falava-se na falta de luz ( e água) no edifício da Sede da Junta de Freguesia. Mas, em vários lugares de Ribeiradio e na freguesia de S. João da Serra, estava-se, depois de dois anos à espera de nova concessão, numa 2ªa fase; em Travanca, a dois passos da Vila, em S. João da Serra, Sejães e Reigoso era ainda apenas de projectos que se davam notícias. Com Dezembro a ser o mês de festa estrondosa em S. Vicente de Lafões, por ter podido acender as lâmpadas eléctricas e vir a ter a possibilidade de ver Televisão, ficariam ainda distantes tais benefícios em muitas outras localidades. Terras houve que só após o 25 de Abril, já com novos poderes locais, vieram a poder carregar no botão e verem acender-se, como que por milagre, as lâmpadas em cada casa e nas ruas. Em extensões para pontos mais distantes, tal aconteceu mesmo muito mais tarde. Para terminar, digamos que, nas Festas da Vila de 1976, a povoação de Travassós desfilou pelo arraial com lanternas a petróleo e tochas, porque de luz eléctrica nem o “cheiro” sentiam. Por tudo isto, aqui trouxemos este tema, em conversa que é como as cerejas. Recordando, melhor conhecemos as nossas origens e mais estimamos a nossa identidade e a dureza de outros tempos. Compará-los com a actualidade, é muito mais acentuada a diferença, imagine-se, que entre água e vinho. Isso é. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”

Um pouco de história da União Desportiva Sampedrense (UDS)

UDS com 70 anos de história Decorria o ano de 1946, quando, no dia 1 de Fevereiro, em S. Pedro do Sul se veio a criar a UDS – União Desportiva Sampedrense. Comemoram-se, então, em 2016, setenta anos de vida e história desta Associação. Nascida num período de agudas dificuldadades, por se ter saído da 2ª Grande Guerra apenas um ano antes, em 1945, foi nesse ambiente, ainda a ferver, que se deu este importante passo. Aliás, um pouco por toda a parte, assiste-se, por esta altura, a um certo incremento em termos de aparecimento destas novas formas de agir em sociedade. Embalados por essa nova onda de uma aragem passageira, as gentes desta terra não esperaram mais, dando corpo a esta iniciativa de carácter desportivo. Como todos os começos, também este não aconteceu num mar de rosas nem em berço de ouro. Foram, pelo contrário, muitas as dificuldades e os improvisos, o que facilmente se compreende. Em caminhada constante, um dia chegou a construir-se o Campo de Futebol na Pedreira, na margem esquerda do Rio Vouga, a curta distância do centro da então vila. Era mais um avanço, que, aliás, se tem mantido desde esses tempos, se bem que agora muito renovado e ampliado, a beneficiar, inclusivamente, de um relvado sintéctico e de condições gerais já bastante agradáveis. Recordamos que (ainda não se passaram assim tantos anos!), as respectiva Direcções fizeram chegar à Câmara Municipal as suas preocupações quanto ao estado menos positivo em que se encontravam os balneários, “doença” que motivou um certo e aceitável tratamento. Por algumas notícias e documentos a que tivemos acesso, viemos a descobrir que, nos anos cinquenta do século passado, deve ter havido uma série de problemas complicados e uma paragem nas suas actividades, uma vez que, em 1961, se dá como adquirido que houve necessidade de reanimar e revitalizar esta mesma UDS, falando-se mesmo numa sua refundação. Alguém confessou, a propósito desta injecção de sangue novo, que tal se deveu ainda à necessidade de se encontrar um guarda.chuva para certas actividades políticas, sociais e culturais, pelo que esta Instituição foi o meio de que se serviram para encobrir essas práticas que, nessa época, eram reprimidas a torto e a direito. Ou seja, duma só cajadada mataram-se dois coelhos. Habilidade? Sim. Mas da boa. Com um percurso recheado de sucessos desportivos e também de alguns fracassos, alimentando o futebol e, em tempos, ainda o andebol e o basquetebol, modalidades que emigraram para outras paragens e plataformas novas, entretanto, surgidas neste concelho, a vida da UDS tem sido sempre mais integrada nos escalões da Associação de Futebol de Viseu, mas com boas incursões em patamares superiores. Numa curta resenha, venceu-se o campeonato distrital da 1ª Divisão nas épocas de 1964/1965 e 1976/ 1977, pelo que se subiu, nessas duas vezes, à 3ª Divisão Nacional. Já mais perto dos nossos dias, o mesmo aconteceu em 2010/2011, por ter sido primeira na Divisão de Honra, e 2011/2012. Quanto a outras vitórias, ganhou a Taça da AFV em 1976/1977 e o campeonato distrital de Juniores também da AFV em 2006/2007. Em 2009/2010, sagrou-se vencedora da Taça Sócios de Mérito. Actualmente, milita na Divisão de Honra da AFV, tendo inciado a época de 2015/2016 com esta equipa: treinador – Rui Almeida; atletas – guarda- redes – Márcio Rodrigues e Bártolo; defesas – Jorgito, André Pereira, Luís, Márcio Anastácio, Miguel Vargas e Polaco; médios – Kiko Mendes, Jimmy, Fábio Gouveia, Bruno Regueira, Bebé, Henrique Gouveia, Baixote; avançados – Bruno Anciães, Chiquinho, Santiago, Marco e Dieng. Como forma de festejar os 70 anos de história, a 26 de Março passado, realizou-se um jantar comemorativo e o 2º encontro de seus antigos jogadores, em dinamização de João Heitor e Miguel Vargas. Com a cor preta no equipamento a ser a sua imagem de marca, a UDS, agora em casa mais apetecível, aí está para as curvas. Boa sorte lhe desejamos. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 2016

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

CORRECÇÕES

Isto dos computadores prega-nos partidas: queria falar de despovoamento, em trabalhos feitos, e apenas me saiu a Casa de Lafões e os seus 100 anos. Azar, por um lado, benefício pelo outro, ao reforçar a vida desta Instituição centenária. Seja como for, o meu pedido de desculpa...

Despovoamento, mais tópicos

Centenário – Casa de Lafões Um tempo de reflexão e homenagem I – Das origens ao futuro Ao recuarmos cem anos, é nossa obrigação dirigir as nossas primeiras palavras e sentimentos para quem, em maré de tantas dificuldades e limitações, teve a ousadia, o arrojo, a missão e a visão de se lançar numa aventura que já dura há cem anos e ainda tem, assim o cremos, muito tempo pela frente, logo que haja força e determinação para, procurando inovar, não deixar perecer este nosso emblemático património. Esta Casa de Lafões nasceu do sonho de nossos dedicados antepassados. Mais do que, nesse momento, pensar em Lisboa, na capital que os acolheu, à mente vinha-lhes continuamente a terra lá tão distante, praticamente no fim do mundo de então. Desta forma, quando se procurava ampliar a rede ferroviária, hoje, infelizmente, objecto de severos tratos de polé, o Vale do Vouga não poderia ficar na gaveta do esquecimento, ou dos adiamentos sucessivos e Lafões era zona que não podia ficar de fora desse sinal de progresso, desenvolvimento e modernidade. Erguido à categoria de utopia, o comboio que, na hora da inauguração fora objecto de tanta tareia e desconfiança, povoava os sonhos e conversas dos lafonenses-lisboetas. Com destaque para o mundo do comércio, onde uns firmavam carreira como empresários e outros subiam essa corda a pulso e dor, aí se fazia escola, ágora de interesses locais, talvez até um pouco de conspiração e intriga, que todo isso faz parte do ser-se homem activo e criativo. No rescaldo de um mundo novo surgido com a agitada República, que acicatou cidadanias adormecidas – ou talvez não – e abriu portas ao debate e às reivindicações, esta Instituição começou por ser essa forma de exigência de condições de mobilidade e bem- estar para as gentes da terra-mãe. O Grémio Lafonense, que haveria de sustentar esta designação até ao ano de 1939, foi fruto do cruzamento entre o amor às origens e a necessidade de encontrar para esse espaço afectivo o melhor que pudesse ser alcançado. Como ponto de partida, constituiu-se uma Comissão Dinamizadora da Linha do Vale do Vouga com a participação de António Pinto de Azevedo, Daniel Gonçalves de Almeida, António Rodrigues Portinha, Estêvão de Vasconcelos e Manuel Rodrigues de Abreu. Escolhido o sítio adequado, que foi o estabelecimento comercial do citado Daniel, na Calçada do Garcia, n.ºs 44 a 46, a presidência dessas “conferências” estava a cargo de Alfredo Augusto Ferreira, associando-se ainda José Bento Gonçalves de Almeida e Benjamim Rodrigues Costa. Por curiosidade, diga-se que ali se abrigava já o “Grupo dos Amigos de Vouzela”. Foi em redor desta gente e com a ambição de conseguir que o comboio cruzasse Lafões, objectivo alcançado em pleno, que a via-férrea entrou em Ribeiradio, depois de ter servido Cedrim do Vouga, e foi por aí além até S. Miguel do Mato e Bodiosa, unindo os concelhos de Sever, Oliveira de Frades, Vouzela, S. Pedro do Sul e Viseu, apanhando, de uma só vez, Lafões inteiro. Grande mérito teve quem se aventurou a levar por diante a obra das obras de então. Com este trunfo na manga, um outro passo se impunha: agarrar nessas sinergias e pô-las a render e a criação de uma forma mais estável, credível e duradoura de exercer o prazer de uma cidadania activa estava ali, à mão de semear: a criação de uma Instituição a sério, que se veio a chamar Grémio Lafonense. Impõe-se que registemos o nome desses heróis de 1911, herdeiros, à nossa escala, dos novos ideais da República recém-nascida. Foram eles: Daniel Gonçalves de Almeida, António Pinto de Azevedo, Joaquim e Artur Alves Ribeiro, Alfredo Augusto Ferreira, Adelino Gonçalves de Almeida, Benjamim Rodrigues Costa, David Sul da Costa, Custódio de Sousa Melo, Daniel Dias Costa, António Rodrigues Gonçalves, Cap. António Ferreira Neves, Bernardino Henriques de Almeida, Eusébio Fernandes, Joaquim Rodrigues Lourenço, Manuel Rodrigues de Abreu, Bernardino José Marques, António Rodrigues Portinha, Daniel Bastos, Aires de Oliveira, António Ladeira e Álvaro P. Basílio. Se a primeira reunião aconteceu no Rés-do-Chão de um palacete situado ao lado da Igreja de Santa Isabel, da família de Alves Ribeiro, as Sedes andaram de um lado para o outro, nos anos de arranque: - 1912 – Rua Capelo, 6 – 1º - Freguesia dos Mártires - 1913 – Agosto – Travessa da Glória, 22A – 2º - 1915 – Dezembro – Rua da Madalena , 201(199?), 1º Com o acento tónico numa grande carga regional, tinha como suporte físico “ … A união do número indeterminado de indivíduos, moral e socialmente idóneos, naturais da Região de Lafões, residentes no continente ou fora dele, inclusive no estrangeiro” . Num parágrafo único, dizia-se: “ Os sócios da CL praticarão nas suas mútuas relações os preceitos da mais estreita fraternidade e terão por norma este princípio – Por todos e por Lafões”. Apontavam-se as suas finalidades, que se cingiam, sobretudo, a estes factos: “ … unir os esforços de todos os associados, incessantemente velar pelos interesses dos mesmos e da região e promover os seus progressos morais, materiais e económicos”. Como em todas as organizações humanas de carácter associativo, que se desenvolveu bastante com a Revolução Liberal de 1820, se concretizou na Constituição de 1822, com o seu conceito jurídico e social relacionado com estes temas, se ampliou na República de 1910, tendo cristalizado com o Estado Novo, para rebentar em força com o 25 de Abril de 1974, também este Grémio não foi imune às quesílias que, normalmente, surgem. Por razões da mais variada índole, quando o homem quer emperrar qualquer empreendimento, isso acontecerá quase de certeza. Neste caso, em 1915, o desentendimento teve origem, curiosamente, nos convites a fazer, sendo que um deles viria a recair sobre a filha do Dr. Afonso Costa, um fervoroso republicano, apoiada por uns, rejeitado por outros, para incendiar os ânimos de então, quando o comboio já circulava em grande pela Linha que todos tinham defendido, felizmente. Mas os problemas seriam ampliados ao tratar-se do poder, que, às vezes, mina os espíritos, mesmo os mais sensatos. Por essa altura, criam-se dois blocos: um liderado pelo Capitão António Ferreira Neves, outro, por Alfredo Augusto Ferreira e Benjamim Rodrigues Costa. Deste braço-de-ferro, saiu vencedora esta segunda opção, o que motivou, desde logo, uma aberta cisão: saem Joaquim Rodrigues Lourenço, José Bento Gonçalves de Almeida, David Saul da Costa, Manuel Rodrigues de Abreu e António Ferreira Neves, que fundam o Grémio Beira Vouga, o Grémio Beirão de 1917 e a futura Casa das Beiras, de 1933. Ou seja: a mãe, Casa de Lafões, iria dar à luz uma filha que, por estranho que pareça, era espaço bem maior e onde essa progenitora se situava. Paradoxo? Nem por isso. É que, em 1911, um desejo concreto e bem definido fora cimento bem mais sólido que qualquer interesse mais diluído, como era este de uma grande Beira, do mar à serra, do Oceano a Espanha. Há, porém, um velho provérbio que nos diz que “ o bom filho à casa torna”, facto que se cumpriu com vários dos dissidentes, que ao solo inicial acabariam por regressar, nomeadamente Joaquim Rodrigues Lourenço, alguns anos mais tarde, homenageado na sua terra-natal, Quintela de Ventosa, onde tem um Largo com seu nome desde 1951. Passou um ano sobre a primeira Acta de Reunião de Direcção, em 9 de Outubro de 1912, em que estiveram presentes Manuel Rodrigues de Abreu, Joaquim Ribeiro, Benjamim Rodrigues Costa e António Rodrigues Portinha…. Em matéria de Estatutos, podem citar-se alterações em 1915, 1917, 1926, 1927, 1928, 1931, 1979….. Neste emaranhado de acontecimentos, em 1924, o Governo Civil de Lisboa autoriza o funcionamento da sociedade de recreio Grémio Lafonense, pedindo-se que para ali seja enviado um exemplar do BI e de outro qualquer distintivo usado pelos sócios e que se comunique qualquer mudança de Sede, ou de corpos gerentes. Por outro lado, devem as portas ser franqueadas aos funcionários dessa Repartição ou qualquer agente de autoridade, sempre que tal se justificar. Assiste-se aqui a um crescente apetite das entidades oficiais em controlar estes movimentos da sociedade civil, postura que se acentua depois de 1926 e, sobretudo, de 1933 com o advento do Estado Novo. Já agora, deve anotar-se que, em virtude do disposto no Artº 11º do Decreto-Lei nº 29332, de 8 de Dezembro de 1938(?), acaba o Grémio e começa a Casa de Lafões, como atesta a Secretaria do Governo Civil de Lisboa em 4 de Setembro de 1939. Num campo de acção que sai de Lisboa para a região de origem, em 1940, parte-se para as Termas de S. Pedro do Sul, a fim de participar nas Festas do Oitavo Centenário da Fundação da Nação Portuguesa, colocando-se uma lápide na velha piscina, em homenagem a D. Afonso Henriques, 1º Rei de Portugal, que ali passou algum tempo de sua vida, em várias ocasiões. Em 1946, 47, 57 e 59, apoiam-se Cortejos de Oferendas em favor dos hospitais das Misericórdias de Oliveira de Frades e S. Pedro do Sul. No ano de 1951, como já dissemos, procedeu-se, em Quintela-Ventosa-Vouzela, ao destaque da entrega ao regionalismo por parte de Joaquim Rodrigues Lourenço, ali se registando, em designação toponímica, o seu nome para a posteridade, no Largo principal da aldeia, ainda ali bem presente, aliás. Com activas participações em eventos culturais e sociais de grande significado, são de relevar os Congressos Beirões, o 1º Colóquio Regional de Turismo e Termalismo de Lafões, no centro ideal, as nossas Termas, as maiores agora da Península Ibérica, uma organização que teve na sua génese, formatação e desenvolvimento um decisivo contributo do nosso Amigo e Sócio, o Dr. Carlos Matias. É ainda de referir-se a acção levada a cabo no Conselho Superior de Regionalismo. Por sua vez, em 1938, cria-se a Comissão de Beneficência e Auxílio aos Desempregados da Região de Lafões, enquanto em 1925 se inscreve a CL na Federação Portuguesa das Colectividades de Cultura e Recreio, tendo-lhe sido atribuído o nº 17. Cinco anos após esta decisão associativa, esquecem-se mágoas e diferendos, quando se entra no seio do Grémio Beirão/Casa das Beiras. Em campanhas de solidariedade, apoia-se a luta dos agricultores de Lafões quanto à defesa dos seus vinhos verdes, mormente em 1929 e 1932. Quando eram escassos os meios e formas de comunicação, já os responsáveis deste Grémio e Casa se dedicavam à edição de Boletins e Jornais, onde o regionalismo era nota dominante: Apareceu, em primeiro lugar, o “ Porvir de Lafões”…… …………………………………………………………………………………………. II - A actualidade vista à luz dos anos setenta em diante É inegável que, em termos de causa, o regionalismo, tal como fora vivido e apreciado durante décadas, se viria a ressentir dos novos fenómenos sociais. O primeiro abalo sofreu-o com outros pólos de migração, sobretudo essa Europa de sessenta em diante que suga a grande força activa das nossas gentes, fazendo com que a esponja, que era Lisboa, perdesse a primazia das deslocações. Mesmo assim, lá foi resistindo. Mas a machadada determinante, que quase abafou toda a costela regionalista, adveio com o avanço dos transportes e com a melhoria das vias de comunicação, mormente o IP5 e o actual A25, a sucederem-se ao A1. Desde então, Lisboa fica quase à mão de semear e a Casa de Lafões deixa de ser o porto de abrigo, o coração maternal, a praça da aldeia, que se visita, agora, com bastante facilidade. Acabara-se o desterro de viver na capital e, sobretudo, nos arredores, por anos e anos a fio, sem pôr pé em chão de origem. Acabara-se o tempo das despedidas em lágrimas, dos acenos de adeus prolongados e sonoros, ao ver o velho comboio partir, ou os carros de praça, esses mensageiros da estrada que uniram Lafões e Lisboa por métodos que a polícia perseguia, mas que as pessoas, que a eles acorriam, tanto elogiavam. Os Poças, os Arinhos, os Florindos, o amigo Zé “Galo”, a passar, neste momento, por uma grande tristeza familiar, e tantos outros, bem merecem o nosso muito obrigado. Mais tarde, muito mais, vieram os “Expressos” e então ainda se agrava mais a crescente distância entre os lisboetas-lafonenses e a sua Casa de Lafões. Com os auto-estradas, pronto, soou a campainha de alarme, à medida que a mobilidade crescia a uma velocidade estonteante, para não falarmos já da televisão, das novas tecnologias, das Internet e seus pares. São estas as razões que levaram às mudanças de paradigma e de filosofia desta nobre Instituição. Face a este novo contexto e à necessidade de dar vida a uma herança que se não pode perder, entenderam os seus vários responsáveis, todos eles - e ainda bem - e cada um à sua maneira, mas com uma boa cartilha comum, insuflar novo ar, renovar o sangue que nos corre nas veias e empurrar para a frente este projecto que agora faz cem anos. Nasceram assim os encontros e almoços no berço que todos une, acentuaram-se as idas a Lisboa de associações e grupos locais, criou-se uma nova esfera de intercâmbio, olhou-se um e outro espaço, curiosamente, de uma outra maneira: a capital perdeu a sua auréola de um mundo à parte, acima dos outros, Lafões perdeu a vergonha e apresentou-se ali de cara levantada, de igual para igual. Se recuarmos alguns anos atrás, todos somos testemunhas de quanto de” admiração” se tinha, no Verão, pelos nossos lisboetas. Enfeitava-se a aldeia, melhorava e aprimorava-se a gastronomia e culinária, vestia-se uma roupa melhor, para não parecer mal, evitava-se até o cruzamento com essa gente de fato bem cheiroso, sempre que se entendia que se não estava à altura de um diálogo a dois, sendo “conveniente” manter uma certa distância… Hoje, a esse nível, tudo mudou. Ao vermos quem chega e quem está, não se nota qualquer sinal distintivo. Nem na roupa, nem nos temas a tratar, nem nessa postura de um ponto acima, outro abaixo. Regressando às novas programações, eis-nos a ver Lafões na Feira Popular, no Teatro da Trindade, na Praça do Comércio e ruas da Baixa, nos Restauradores, no Rossio e muito mais na Praça da Figueira, na Rua da Madalena, em frutuoso diálogo com a Junta de Freguesia, sobretudo a partir da dedicação e visão de seu Presidente, Jorge Ferreira, no Monsanto e tantas outras zonas que se ganharam para a causa do regionalismo renovado. A Sede passou a ser palco privilegiado para Conferências, Palestras, lançamento de livros, actuações de grupos diversos, convívios, torneios de cartas e afins, sendo ainda, como que a resistir a tudo isto, um ponto de encontro de saudade de gerações que não perdem o hábito de ir com regularidade à Rua da Madalena. Por assim ser, esta Casa tem toda a legitimidade para estar viva, de pé e mesmo em força. Justificam-se, deste modo, outros e novos caminhos que se estão a procurar. Regionalistas quanto baste? Temos dúvidas. Suportes essenciais ao desbravar de pistas novas para sobreviver e prosperar, são isso tudo e muito mais: aos poucos até passam a saber que Lafões afinal existe e ali se mostra diariamente. Essas outras culturas que por aqui desfilam, o rock, as danças latinas e de salão, o forró, as febres de sexta à noite, a “metálica” pesada, afinal, são linguagens que trazem mundividência ao nosso regionalismo e lhe rasgam novos horizontes, numa troca onde todos ficam a ganhar. São a globalização ao vivo e a cores. III - E agora o futuro Aqui chegados, carregados de certezas, não deixamos também de estar repletos de dúvidas, até medos, porque, se o futuro a Deus pertence, cabe também aos homens engendrar os seus contornos. E esta Casa de Lafões tem de saber que esta regra é de ouro e não pode ser esquecida. Impõe-se que, em conjunto, possamos agarrar no presente para virmos a ter um futuro melhor, que deve radicar na tradição de cem anos, mas também de ser capaz de alavancar os tempos que aí vêm, misturando-lhe a modernidade e as exigências de uma época que, olhando para trás, precisa é de pisar trilhos de um devir que ninguém conhece, mas que vai aparecer, de certeza . É nossa convicção que “ A noção de identidade colectiva pode englobar ao mesmo tempo a imagem consciente que uma sociedade alimenta de si mesma e a imagem inconsciente que poderá ter idealizado ou recalcado” ( in “ O futuro da Europa…”, 2002) e esta verdade leva a que pensemos que o futuro passa por reavivar estas componentes de cada ser humano, criando um projecto de valores-chave onde encontramos, de certeza, o apego às raízes. Saindo de uma postura reivindicativa para um espaço de são e vivo regionalismo dos inícios do século XX, nos alvores de uma República agitada, mas prenhe de cidadania, a Casa de Lafões é um cimento que evita a pulverização de sentimentos de pertença e também um “tampão” contra os efeitos de uma globalização, cada vez mais galopante, que quer pôr toda a gente a entoar as mesmas e únicas canções, deixando de lado o nosso Hino, e a comer maçãs de um só calibre, quando as nossas árvores teimam em primar pela diferença e pela qualidade pura de um chão que nos é tão querido. Cada região dá aquilo que de melhor tem. Lafões não foge a essa regra. Assim, ofereceu a Lisboa gente e saber, braços e vontade, querer e vida, ambição e trabalho, criação e empreendedorismo, pelo que é chegada a hora - e este é o local certo! – de tributarmos a nossa homenagem a todos aqueles que, por circunstâncias várias, para aqui vieram, aqui se entregaram de alma e coração aos seus ofícios e desejos, aqui constituíram família e fizeram desta terra, Lisboa, uma terra de ninguém e de todos, uma terra dos outros e de nós mesmos. Este foi o passado e não deixa de ser o presente. Mas seria miopia ficar por aqui, de braços cruzados, a gozar louros conseguidos com sangue, suor e lágrimas, a bater palmas, ou a chorar sobre leite derramado. A ir-se por esse caminho, seriam cem anos ganhos por esses nossos queridos antepasssados (bem haja, Pai, pelo tempo que estiveste na “Portugal e Colónias”) e perdidos, por inércia de nossa parte, por falta de consideração por quem nos legou este património tão humano, tão vasto e tão rico. Mas não é isso que esta Casa quer fazer. Está-lhe na massa do sangue nunca enjeitar responsabilidades futuras, por mais difíceis que sejam. Carlos Rodrigues, 2011

Despovoamento, umas ideias

Centenário – Casa de Lafões Um tempo de reflexão e homenagem I – Das origens ao futuro Ao recuarmos cem anos, é nossa obrigação dirigir as nossas primeiras palavras e sentimentos para quem, em maré de tantas dificuldades e limitações, teve a ousadia, o arrojo, a missão e a visão de se lançar numa aventura que já dura há cem anos e ainda tem, assim o cremos, muito tempo pela frente, logo que haja força e determinação para, procurando inovar, não deixar perecer este nosso emblemático património. Esta Casa de Lafões nasceu do sonho de nossos dedicados antepassados. Mais do que, nesse momento, pensar em Lisboa, na capital que os acolheu, à mente vinha-lhes continuamente a terra lá tão distante, praticamente no fim do mundo de então. Desta forma, quando se procurava ampliar a rede ferroviária, hoje, infelizmente, objecto de severos tratos de polé, o Vale do Vouga não poderia ficar na gaveta do esquecimento, ou dos adiamentos sucessivos e Lafões era zona que não podia ficar de fora desse sinal de progresso, desenvolvimento e modernidade. Erguido à categoria de utopia, o comboio que, na hora da inauguração fora objecto de tanta tareia e desconfiança, povoava os sonhos e conversas dos lafonenses-lisboetas. Com destaque para o mundo do comércio, onde uns firmavam carreira como empresários e outros subiam essa corda a pulso e dor, aí se fazia escola, ágora de interesses locais, talvez até um pouco de conspiração e intriga, que todo isso faz parte do ser-se homem activo e criativo. No rescaldo de um mundo novo surgido com a agitada República, que acicatou cidadanias adormecidas – ou talvez não – e abriu portas ao debate e às reivindicações, esta Instituição começou por ser essa forma de exigência de condições de mobilidade e bem- estar para as gentes da terra-mãe. O Grémio Lafonense, que haveria de sustentar esta designação até ao ano de 1939, foi fruto do cruzamento entre o amor às origens e a necessidade de encontrar para esse espaço afectivo o melhor que pudesse ser alcançado. Como ponto de partida, constituiu-se uma Comissão Dinamizadora da Linha do Vale do Vouga com a participação de António Pinto de Azevedo, Daniel Gonçalves de Almeida, António Rodrigues Portinha, Estêvão de Vasconcelos e Manuel Rodrigues de Abreu. Escolhido o sítio adequado, que foi o estabelecimento comercial do citado Daniel, na Calçada do Garcia, n.ºs 44 a 46, a presidência dessas “conferências” estava a cargo de Alfredo Augusto Ferreira, associando-se ainda José Bento Gonçalves de Almeida e Benjamim Rodrigues Costa. Por curiosidade, diga-se que ali se abrigava já o “Grupo dos Amigos de Vouzela”. Foi em redor desta gente e com a ambição de conseguir que o comboio cruzasse Lafões, objectivo alcançado em pleno, que a via-férrea entrou em Ribeiradio, depois de ter servido Cedrim do Vouga, e foi por aí além até S. Miguel do Mato e Bodiosa, unindo os concelhos de Sever, Oliveira de Frades, Vouzela, S. Pedro do Sul e Viseu, apanhando, de uma só vez, Lafões inteiro. Grande mérito teve quem se aventurou a levar por diante a obra das obras de então. Com este trunfo na manga, um outro passo se impunha: agarrar nessas sinergias e pô-las a render e a criação de uma forma mais estável, credível e duradoura de exercer o prazer de uma cidadania activa estava ali, à mão de semear: a criação de uma Instituição a sério, que se veio a chamar Grémio Lafonense. Impõe-se que registemos o nome desses heróis de 1911, herdeiros, à nossa escala, dos novos ideais da República recém-nascida. Foram eles: Daniel Gonçalves de Almeida, António Pinto de Azevedo, Joaquim e Artur Alves Ribeiro, Alfredo Augusto Ferreira, Adelino Gonçalves de Almeida, Benjamim Rodrigues Costa, David Sul da Costa, Custódio de Sousa Melo, Daniel Dias Costa, António Rodrigues Gonçalves, Cap. António Ferreira Neves, Bernardino Henriques de Almeida, Eusébio Fernandes, Joaquim Rodrigues Lourenço, Manuel Rodrigues de Abreu, Bernardino José Marques, António Rodrigues Portinha, Daniel Bastos, Aires de Oliveira, António Ladeira e Álvaro P. Basílio. Se a primeira reunião aconteceu no Rés-do-Chão de um palacete situado ao lado da Igreja de Santa Isabel, da família de Alves Ribeiro, as Sedes andaram de um lado para o outro, nos anos de arranque: - 1912 – Rua Capelo, 6 – 1º - Freguesia dos Mártires - 1913 – Agosto – Travessa da Glória, 22A – 2º - 1915 – Dezembro – Rua da Madalena , 201(199?), 1º Com o acento tónico numa grande carga regional, tinha como suporte físico “ … A união do número indeterminado de indivíduos, moral e socialmente idóneos, naturais da Região de Lafões, residentes no continente ou fora dele, inclusive no estrangeiro” . Num parágrafo único, dizia-se: “ Os sócios da CL praticarão nas suas mútuas relações os preceitos da mais estreita fraternidade e terão por norma este princípio – Por todos e por Lafões”. Apontavam-se as suas finalidades, que se cingiam, sobretudo, a estes factos: “ … unir os esforços de todos os associados, incessantemente velar pelos interesses dos mesmos e da região e promover os seus progressos morais, materiais e económicos”. Como em todas as organizações humanas de carácter associativo, que se desenvolveu bastante com a Revolução Liberal de 1820, se concretizou na Constituição de 1822, com o seu conceito jurídico e social relacionado com estes temas, se ampliou na República de 1910, tendo cristalizado com o Estado Novo, para rebentar em força com o 25 de Abril de 1974, também este Grémio não foi imune às quesílias que, normalmente, surgem. Por razões da mais variada índole, quando o homem quer emperrar qualquer empreendimento, isso acontecerá quase de certeza. Neste caso, em 1915, o desentendimento teve origem, curiosamente, nos convites a fazer, sendo que um deles viria a recair sobre a filha do Dr. Afonso Costa, um fervoroso republicano, apoiada por uns, rejeitado por outros, para incendiar os ânimos de então, quando o comboio já circulava em grande pela Linha que todos tinham defendido, felizmente. Mas os problemas seriam ampliados ao tratar-se do poder, que, às vezes, mina os espíritos, mesmo os mais sensatos. Por essa altura, criam-se dois blocos: um liderado pelo Capitão António Ferreira Neves, outro, por Alfredo Augusto Ferreira e Benjamim Rodrigues Costa. Deste braço-de-ferro, saiu vencedora esta segunda opção, o que motivou, desde logo, uma aberta cisão: saem Joaquim Rodrigues Lourenço, José Bento Gonçalves de Almeida, David Saul da Costa, Manuel Rodrigues de Abreu e António Ferreira Neves, que fundam o Grémio Beira Vouga, o Grémio Beirão de 1917 e a futura Casa das Beiras, de 1933. Ou seja: a mãe, Casa de Lafões, iria dar à luz uma filha que, por estranho que pareça, era espaço bem maior e onde essa progenitora se situava. Paradoxo? Nem por isso. É que, em 1911, um desejo concreto e bem definido fora cimento bem mais sólido que qualquer interesse mais diluído, como era este de uma grande Beira, do mar à serra, do Oceano a Espanha. Há, porém, um velho provérbio que nos diz que “ o bom filho à casa torna”, facto que se cumpriu com vários dos dissidentes, que ao solo inicial acabariam por regressar, nomeadamente Joaquim Rodrigues Lourenço, alguns anos mais tarde, homenageado na sua terra-natal, Quintela de Ventosa, onde tem um Largo com seu nome desde 1951. Passou um ano sobre a primeira Acta de Reunião de Direcção, em 9 de Outubro de 1912, em que estiveram presentes Manuel Rodrigues de Abreu, Joaquim Ribeiro, Benjamim Rodrigues Costa e António Rodrigues Portinha…. Em matéria de Estatutos, podem citar-se alterações em 1915, 1917, 1926, 1927, 1928, 1931, 1979….. Neste emaranhado de acontecimentos, em 1924, o Governo Civil de Lisboa autoriza o funcionamento da sociedade de recreio Grémio Lafonense, pedindo-se que para ali seja enviado um exemplar do BI e de outro qualquer distintivo usado pelos sócios e que se comunique qualquer mudança de Sede, ou de corpos gerentes. Por outro lado, devem as portas ser franqueadas aos funcionários dessa Repartição ou qualquer agente de autoridade, sempre que tal se justificar. Assiste-se aqui a um crescente apetite das entidades oficiais em controlar estes movimentos da sociedade civil, postura que se acentua depois de 1926 e, sobretudo, de 1933 com o advento do Estado Novo. Já agora, deve anotar-se que, em virtude do disposto no Artº 11º do Decreto-Lei nº 29332, de 8 de Dezembro de 1938(?), acaba o Grémio e começa a Casa de Lafões, como atesta a Secretaria do Governo Civil de Lisboa em 4 de Setembro de 1939. Num campo de acção que sai de Lisboa para a região de origem, em 1940, parte-se para as Termas de S. Pedro do Sul, a fim de participar nas Festas do Oitavo Centenário da Fundação da Nação Portuguesa, colocando-se uma lápide na velha piscina, em homenagem a D. Afonso Henriques, 1º Rei de Portugal, que ali passou algum tempo de sua vida, em várias ocasiões. Em 1946, 47, 57 e 59, apoiam-se Cortejos de Oferendas em favor dos hospitais das Misericórdias de Oliveira de Frades e S. Pedro do Sul. No ano de 1951, como já dissemos, procedeu-se, em Quintela-Ventosa-Vouzela, ao destaque da entrega ao regionalismo por parte de Joaquim Rodrigues Lourenço, ali se registando, em designação toponímica, o seu nome para a posteridade, no Largo principal da aldeia, ainda ali bem presente, aliás. Com activas participações em eventos culturais e sociais de grande significado, são de relevar os Congressos Beirões, o 1º Colóquio Regional de Turismo e Termalismo de Lafões, no centro ideal, as nossas Termas, as maiores agora da Península Ibérica, uma organização que teve na sua génese, formatação e desenvolvimento um decisivo contributo do nosso Amigo e Sócio, o Dr. Carlos Matias. É ainda de referir-se a acção levada a cabo no Conselho Superior de Regionalismo. Por sua vez, em 1938, cria-se a Comissão de Beneficência e Auxílio aos Desempregados da Região de Lafões, enquanto em 1925 se inscreve a CL na Federação Portuguesa das Colectividades de Cultura e Recreio, tendo-lhe sido atribuído o nº 17. Cinco anos após esta decisão associativa, esquecem-se mágoas e diferendos, quando se entra no seio do Grémio Beirão/Casa das Beiras. Em campanhas de solidariedade, apoia-se a luta dos agricultores de Lafões quanto à defesa dos seus vinhos verdes, mormente em 1929 e 1932. Quando eram escassos os meios e formas de comunicação, já os responsáveis deste Grémio e Casa se dedicavam à edição de Boletins e Jornais, onde o regionalismo era nota dominante: Apareceu, em primeiro lugar, o “ Porvir de Lafões”…… …………………………………………………………………………………………. II - A actualidade vista à luz dos anos setenta em diante É inegável que, em termos de causa, o regionalismo, tal como fora vivido e apreciado durante décadas, se viria a ressentir dos novos fenómenos sociais. O primeiro abalo sofreu-o com outros pólos de migração, sobretudo essa Europa de sessenta em diante que suga a grande força activa das nossas gentes, fazendo com que a esponja, que era Lisboa, perdesse a primazia das deslocações. Mesmo assim, lá foi resistindo. Mas a machadada determinante, que quase abafou toda a costela regionalista, adveio com o avanço dos transportes e com a melhoria das vias de comunicação, mormente o IP5 e o actual A25, a sucederem-se ao A1. Desde então, Lisboa fica quase à mão de semear e a Casa de Lafões deixa de ser o porto de abrigo, o coração maternal, a praça da aldeia, que se visita, agora, com bastante facilidade. Acabara-se o desterro de viver na capital e, sobretudo, nos arredores, por anos e anos a fio, sem pôr pé em chão de origem. Acabara-se o tempo das despedidas em lágrimas, dos acenos de adeus prolongados e sonoros, ao ver o velho comboio partir, ou os carros de praça, esses mensageiros da estrada que uniram Lafões e Lisboa por métodos que a polícia perseguia, mas que as pessoas, que a eles acorriam, tanto elogiavam. Os Poças, os Arinhos, os Florindos, o amigo Zé “Galo”, a passar, neste momento, por uma grande tristeza familiar, e tantos outros, bem merecem o nosso muito obrigado. Mais tarde, muito mais, vieram os “Expressos” e então ainda se agrava mais a crescente distância entre os lisboetas-lafonenses e a sua Casa de Lafões. Com os auto-estradas, pronto, soou a campainha de alarme, à medida que a mobilidade crescia a uma velocidade estonteante, para não falarmos já da televisão, das novas tecnologias, das Internet e seus pares. São estas as razões que levaram às mudanças de paradigma e de filosofia desta nobre Instituição. Face a este novo contexto e à necessidade de dar vida a uma herança que se não pode perder, entenderam os seus vários responsáveis, todos eles - e ainda bem - e cada um à sua maneira, mas com uma boa cartilha comum, insuflar novo ar, renovar o sangue que nos corre nas veias e empurrar para a frente este projecto que agora faz cem anos. Nasceram assim os encontros e almoços no berço que todos une, acentuaram-se as idas a Lisboa de associações e grupos locais, criou-se uma nova esfera de intercâmbio, olhou-se um e outro espaço, curiosamente, de uma outra maneira: a capital perdeu a sua auréola de um mundo à parte, acima dos outros, Lafões perdeu a vergonha e apresentou-se ali de cara levantada, de igual para igual. Se recuarmos alguns anos atrás, todos somos testemunhas de quanto de” admiração” se tinha, no Verão, pelos nossos lisboetas. Enfeitava-se a aldeia, melhorava e aprimorava-se a gastronomia e culinária, vestia-se uma roupa melhor, para não parecer mal, evitava-se até o cruzamento com essa gente de fato bem cheiroso, sempre que se entendia que se não estava à altura de um diálogo a dois, sendo “conveniente” manter uma certa distância… Hoje, a esse nível, tudo mudou. Ao vermos quem chega e quem está, não se nota qualquer sinal distintivo. Nem na roupa, nem nos temas a tratar, nem nessa postura de um ponto acima, outro abaixo. Regressando às novas programações, eis-nos a ver Lafões na Feira Popular, no Teatro da Trindade, na Praça do Comércio e ruas da Baixa, nos Restauradores, no Rossio e muito mais na Praça da Figueira, na Rua da Madalena, em frutuoso diálogo com a Junta de Freguesia, sobretudo a partir da dedicação e visão de seu Presidente, Jorge Ferreira, no Monsanto e tantas outras zonas que se ganharam para a causa do regionalismo renovado. A Sede passou a ser palco privilegiado para Conferências, Palestras, lançamento de livros, actuações de grupos diversos, convívios, torneios de cartas e afins, sendo ainda, como que a resistir a tudo isto, um ponto de encontro de saudade de gerações que não perdem o hábito de ir com regularidade à Rua da Madalena. Por assim ser, esta Casa tem toda a legitimidade para estar viva, de pé e mesmo em força. Justificam-se, deste modo, outros e novos caminhos que se estão a procurar. Regionalistas quanto baste? Temos dúvidas. Suportes essenciais ao desbravar de pistas novas para sobreviver e prosperar, são isso tudo e muito mais: aos poucos até passam a saber que Lafões afinal existe e ali se mostra diariamente. Essas outras culturas que por aqui desfilam, o rock, as danças latinas e de salão, o forró, as febres de sexta à noite, a “metálica” pesada, afinal, são linguagens que trazem mundividência ao nosso regionalismo e lhe rasgam novos horizontes, numa troca onde todos ficam a ganhar. São a globalização ao vivo e a cores. III - E agora o futuro Aqui chegados, carregados de certezas, não deixamos também de estar repletos de dúvidas, até medos, porque, se o futuro a Deus pertence, cabe também aos homens engendrar os seus contornos. E esta Casa de Lafões tem de saber que esta regra é de ouro e não pode ser esquecida. Impõe-se que, em conjunto, possamos agarrar no presente para virmos a ter um futuro melhor, que deve radicar na tradição de cem anos, mas também de ser capaz de alavancar os tempos que aí vêm, misturando-lhe a modernidade e as exigências de uma época que, olhando para trás, precisa é de pisar trilhos de um devir que ninguém conhece, mas que vai aparecer, de certeza . É nossa convicção que “ A noção de identidade colectiva pode englobar ao mesmo tempo a imagem consciente que uma sociedade alimenta de si mesma e a imagem inconsciente que poderá ter idealizado ou recalcado” ( in “ O futuro da Europa…”, 2002) e esta verdade leva a que pensemos que o futuro passa por reavivar estas componentes de cada ser humano, criando um projecto de valores-chave onde encontramos, de certeza, o apego às raízes. Saindo de uma postura reivindicativa para um espaço de são e vivo regionalismo dos inícios do século XX, nos alvores de uma República agitada, mas prenhe de cidadania, a Casa de Lafões é um cimento que evita a pulverização de sentimentos de pertença e também um “tampão” contra os efeitos de uma globalização, cada vez mais galopante, que quer pôr toda a gente a entoar as mesmas e únicas canções, deixando de lado o nosso Hino, e a comer maçãs de um só calibre, quando as nossas árvores teimam em primar pela diferença e pela qualidade pura de um chão que nos é tão querido. Cada região dá aquilo que de melhor tem. Lafões não foge a essa regra. Assim, ofereceu a Lisboa gente e saber, braços e vontade, querer e vida, ambição e trabalho, criação e empreendedorismo, pelo que é chegada a hora - e este é o local certo! – de tributarmos a nossa homenagem a todos aqueles que, por circunstâncias várias, para aqui vieram, aqui se entregaram de alma e coração aos seus ofícios e desejos, aqui constituíram família e fizeram desta terra, Lisboa, uma terra de ninguém e de todos, uma terra dos outros e de nós mesmos. Este foi o passado e não deixa de ser o presente. Mas seria miopia ficar por aqui, de braços cruzados, a gozar louros conseguidos com sangue, suor e lágrimas, a bater palmas, ou a chorar sobre leite derramado. A ir-se por esse caminho, seriam cem anos ganhos por esses nossos queridos antepasssados (bem haja, Pai, pelo tempo que estiveste na “Portugal e Colónias”) e perdidos, por inércia de nossa parte, por falta de consideração por quem nos legou este património tão humano, tão vasto e tão rico. Mas não é isso que esta Casa quer fazer. Está-lhe na massa do sangue nunca enjeitar responsabilidades futuras, por mais difíceis que sejam. Carlos Rodrigues, 2011

Cem anos da Casa de Lafões, 2011

Centenário – Casa de Lafões Um tempo de reflexão e homenagem I – Das origens ao futuro Ao recuarmos cem anos, é nossa obrigação dirigir as nossas primeiras palavras e sentimentos para quem, em maré de tantas dificuldades e limitações, teve a ousadia, o arrojo, a missão e a visão de se lançar numa aventura que já dura há cem anos e ainda tem, assim o cremos, muito tempo pela frente, logo que haja força e determinação para, procurando inovar, não deixar perecer este nosso emblemático património. Esta Casa de Lafões nasceu do sonho de nossos dedicados antepassados. Mais do que, nesse momento, pensar em Lisboa, na capital que os acolheu, à mente vinha-lhes continuamente a terra lá tão distante, praticamente no fim do mundo de então. Desta forma, quando se procurava ampliar a rede ferroviária, hoje, infelizmente, objecto de severos tratos de polé, o Vale do Vouga não poderia ficar na gaveta do esquecimento, ou dos adiamentos sucessivos e Lafões era zona que não podia ficar de fora desse sinal de progresso, desenvolvimento e modernidade. Erguido à categoria de utopia, o comboio que, na hora da inauguração fora objecto de tanta tareia e desconfiança, povoava os sonhos e conversas dos lafonenses-lisboetas. Com destaque para o mundo do comércio, onde uns firmavam carreira como empresários e outros subiam essa corda a pulso e dor, aí se fazia escola, ágora de interesses locais, talvez até um pouco de conspiração e intriga, que todo isso faz parte do ser-se homem activo e criativo. No rescaldo de um mundo novo surgido com a agitada República, que acicatou cidadanias adormecidas – ou talvez não – e abriu portas ao debate e às reivindicações, esta Instituição começou por ser essa forma de exigência de condições de mobilidade e bem- estar para as gentes da terra-mãe. O Grémio Lafonense, que haveria de sustentar esta designação até ao ano de 1939, foi fruto do cruzamento entre o amor às origens e a necessidade de encontrar para esse espaço afectivo o melhor que pudesse ser alcançado. Como ponto de partida, constituiu-se uma Comissão Dinamizadora da Linha do Vale do Vouga com a participação de António Pinto de Azevedo, Daniel Gonçalves de Almeida, António Rodrigues Portinha, Estêvão de Vasconcelos e Manuel Rodrigues de Abreu. Escolhido o sítio adequado, que foi o estabelecimento comercial do citado Daniel, na Calçada do Garcia, n.ºs 44 a 46, a presidência dessas “conferências” estava a cargo de Alfredo Augusto Ferreira, associando-se ainda José Bento Gonçalves de Almeida e Benjamim Rodrigues Costa. Por curiosidade, diga-se que ali se abrigava já o “Grupo dos Amigos de Vouzela”. Foi em redor desta gente e com a ambição de conseguir que o comboio cruzasse Lafões, objectivo alcançado em pleno, que a via-férrea entrou em Ribeiradio, depois de ter servido Cedrim do Vouga, e foi por aí além até S. Miguel do Mato e Bodiosa, unindo os concelhos de Sever, Oliveira de Frades, Vouzela, S. Pedro do Sul e Viseu, apanhando, de uma só vez, Lafões inteiro. Grande mérito teve quem se aventurou a levar por diante a obra das obras de então. Com este trunfo na manga, um outro passo se impunha: agarrar nessas sinergias e pô-las a render e a criação de uma forma mais estável, credível e duradoura de exercer o prazer de uma cidadania activa estava ali, à mão de semear: a criação de uma Instituição a sério, que se veio a chamar Grémio Lafonense. Impõe-se que registemos o nome desses heróis de 1911, herdeiros, à nossa escala, dos novos ideais da República recém-nascida. Foram eles: Daniel Gonçalves de Almeida, António Pinto de Azevedo, Joaquim e Artur Alves Ribeiro, Alfredo Augusto Ferreira, Adelino Gonçalves de Almeida, Benjamim Rodrigues Costa, David Sul da Costa, Custódio de Sousa Melo, Daniel Dias Costa, António Rodrigues Gonçalves, Cap. António Ferreira Neves, Bernardino Henriques de Almeida, Eusébio Fernandes, Joaquim Rodrigues Lourenço, Manuel Rodrigues de Abreu, Bernardino José Marques, António Rodrigues Portinha, Daniel Bastos, Aires de Oliveira, António Ladeira e Álvaro P. Basílio. Se a primeira reunião aconteceu no Rés-do-Chão de um palacete situado ao lado da Igreja de Santa Isabel, da família de Alves Ribeiro, as Sedes andaram de um lado para o outro, nos anos de arranque: - 1912 – Rua Capelo, 6 – 1º - Freguesia dos Mártires - 1913 – Agosto – Travessa da Glória, 22A – 2º - 1915 – Dezembro – Rua da Madalena , 201(199?), 1º Com o acento tónico numa grande carga regional, tinha como suporte físico “ … A união do número indeterminado de indivíduos, moral e socialmente idóneos, naturais da Região de Lafões, residentes no continente ou fora dele, inclusive no estrangeiro” . Num parágrafo único, dizia-se: “ Os sócios da CL praticarão nas suas mútuas relações os preceitos da mais estreita fraternidade e terão por norma este princípio – Por todos e por Lafões”. Apontavam-se as suas finalidades, que se cingiam, sobretudo, a estes factos: “ … unir os esforços de todos os associados, incessantemente velar pelos interesses dos mesmos e da região e promover os seus progressos morais, materiais e económicos”. Como em todas as organizações humanas de carácter associativo, que se desenvolveu bastante com a Revolução Liberal de 1820, se concretizou na Constituição de 1822, com o seu conceito jurídico e social relacionado com estes temas, se ampliou na República de 1910, tendo cristalizado com o Estado Novo, para rebentar em força com o 25 de Abril de 1974, também este Grémio não foi imune às quesílias que, normalmente, surgem. Por razões da mais variada índole, quando o homem quer emperrar qualquer empreendimento, isso acontecerá quase de certeza. Neste caso, em 1915, o desentendimento teve origem, curiosamente, nos convites a fazer, sendo que um deles viria a recair sobre a filha do Dr. Afonso Costa, um fervoroso republicano, apoiada por uns, rejeitado por outros, para incendiar os ânimos de então, quando o comboio já circulava em grande pela Linha que todos tinham defendido, felizmente. Mas os problemas seriam ampliados ao tratar-se do poder, que, às vezes, mina os espíritos, mesmo os mais sensatos. Por essa altura, criam-se dois blocos: um liderado pelo Capitão António Ferreira Neves, outro, por Alfredo Augusto Ferreira e Benjamim Rodrigues Costa. Deste braço-de-ferro, saiu vencedora esta segunda opção, o que motivou, desde logo, uma aberta cisão: saem Joaquim Rodrigues Lourenço, José Bento Gonçalves de Almeida, David Saul da Costa, Manuel Rodrigues de Abreu e António Ferreira Neves, que fundam o Grémio Beira Vouga, o Grémio Beirão de 1917 e a futura Casa das Beiras, de 1933. Ou seja: a mãe, Casa de Lafões, iria dar à luz uma filha que, por estranho que pareça, era espaço bem maior e onde essa progenitora se situava. Paradoxo? Nem por isso. É que, em 1911, um desejo concreto e bem definido fora cimento bem mais sólido que qualquer interesse mais diluído, como era este de uma grande Beira, do mar à serra, do Oceano a Espanha. Há, porém, um velho provérbio que nos diz que “ o bom filho à casa torna”, facto que se cumpriu com vários dos dissidentes, que ao solo inicial acabariam por regressar, nomeadamente Joaquim Rodrigues Lourenço, alguns anos mais tarde, homenageado na sua terra-natal, Quintela de Ventosa, onde tem um Largo com seu nome desde 1951. Passou um ano sobre a primeira Acta de Reunião de Direcção, em 9 de Outubro de 1912, em que estiveram presentes Manuel Rodrigues de Abreu, Joaquim Ribeiro, Benjamim Rodrigues Costa e António Rodrigues Portinha…. Em matéria de Estatutos, podem citar-se alterações em 1915, 1917, 1926, 1927, 1928, 1931, 1979….. Neste emaranhado de acontecimentos, em 1924, o Governo Civil de Lisboa autoriza o funcionamento da sociedade de recreio Grémio Lafonense, pedindo-se que para ali seja enviado um exemplar do BI e de outro qualquer distintivo usado pelos sócios e que se comunique qualquer mudança de Sede, ou de corpos gerentes. Por outro lado, devem as portas ser franqueadas aos funcionários dessa Repartição ou qualquer agente de autoridade, sempre que tal se justificar. Assiste-se aqui a um crescente apetite das entidades oficiais em controlar estes movimentos da sociedade civil, postura que se acentua depois de 1926 e, sobretudo, de 1933 com o advento do Estado Novo. Já agora, deve anotar-se que, em virtude do disposto no Artº 11º do Decreto-Lei nº 29332, de 8 de Dezembro de 1938(?), acaba o Grémio e começa a Casa de Lafões, como atesta a Secretaria do Governo Civil de Lisboa em 4 de Setembro de 1939. Num campo de acção que sai de Lisboa para a região de origem, em 1940, parte-se para as Termas de S. Pedro do Sul, a fim de participar nas Festas do Oitavo Centenário da Fundação da Nação Portuguesa, colocando-se uma lápide na velha piscina, em homenagem a D. Afonso Henriques, 1º Rei de Portugal, que ali passou algum tempo de sua vida, em várias ocasiões. Em 1946, 47, 57 e 59, apoiam-se Cortejos de Oferendas em favor dos hospitais das Misericórdias de Oliveira de Frades e S. Pedro do Sul. No ano de 1951, como já dissemos, procedeu-se, em Quintela-Ventosa-Vouzela, ao destaque da entrega ao regionalismo por parte de Joaquim Rodrigues Lourenço, ali se registando, em designação toponímica, o seu nome para a posteridade, no Largo principal da aldeia, ainda ali bem presente, aliás. Com activas participações em eventos culturais e sociais de grande significado, são de relevar os Congressos Beirões, o 1º Colóquio Regional de Turismo e Termalismo de Lafões, no centro ideal, as nossas Termas, as maiores agora da Península Ibérica, uma organização que teve na sua génese, formatação e desenvolvimento um decisivo contributo do nosso Amigo e Sócio, o Dr. Carlos Matias. É ainda de referir-se a acção levada a cabo no Conselho Superior de Regionalismo. Por sua vez, em 1938, cria-se a Comissão de Beneficência e Auxílio aos Desempregados da Região de Lafões, enquanto em 1925 se inscreve a CL na Federação Portuguesa das Colectividades de Cultura e Recreio, tendo-lhe sido atribuído o nº 17. Cinco anos após esta decisão associativa, esquecem-se mágoas e diferendos, quando se entra no seio do Grémio Beirão/Casa das Beiras. Em campanhas de solidariedade, apoia-se a luta dos agricultores de Lafões quanto à defesa dos seus vinhos verdes, mormente em 1929 e 1932. Quando eram escassos os meios e formas de comunicação, já os responsáveis deste Grémio e Casa se dedicavam à edição de Boletins e Jornais, onde o regionalismo era nota dominante: Apareceu, em primeiro lugar, o “ Porvir de Lafões”…… …………………………………………………………………………………………. II - A actualidade vista à luz dos anos setenta em diante É inegável que, em termos de causa, o regionalismo, tal como fora vivido e apreciado durante décadas, se viria a ressentir dos novos fenómenos sociais. O primeiro abalo sofreu-o com outros pólos de migração, sobretudo essa Europa de sessenta em diante que suga a grande força activa das nossas gentes, fazendo com que a esponja, que era Lisboa, perdesse a primazia das deslocações. Mesmo assim, lá foi resistindo. Mas a machadada determinante, que quase abafou toda a costela regionalista, adveio com o avanço dos transportes e com a melhoria das vias de comunicação, mormente o IP5 e o actual A25, a sucederem-se ao A1. Desde então, Lisboa fica quase à mão de semear e a Casa de Lafões deixa de ser o porto de abrigo, o coração maternal, a praça da aldeia, que se visita, agora, com bastante facilidade. Acabara-se o desterro de viver na capital e, sobretudo, nos arredores, por anos e anos a fio, sem pôr pé em chão de origem. Acabara-se o tempo das despedidas em lágrimas, dos acenos de adeus prolongados e sonoros, ao ver o velho comboio partir, ou os carros de praça, esses mensageiros da estrada que uniram Lafões e Lisboa por métodos que a polícia perseguia, mas que as pessoas, que a eles acorriam, tanto elogiavam. Os Poças, os Arinhos, os Florindos, o amigo Zé “Galo”, a passar, neste momento, por uma grande tristeza familiar, e tantos outros, bem merecem o nosso muito obrigado. Mais tarde, muito mais, vieram os “Expressos” e então ainda se agrava mais a crescente distância entre os lisboetas-lafonenses e a sua Casa de Lafões. Com os auto-estradas, pronto, soou a campainha de alarme, à medida que a mobilidade crescia a uma velocidade estonteante, para não falarmos já da televisão, das novas tecnologias, das Internet e seus pares. São estas as razões que levaram às mudanças de paradigma e de filosofia desta nobre Instituição. Face a este novo contexto e à necessidade de dar vida a uma herança que se não pode perder, entenderam os seus vários responsáveis, todos eles - e ainda bem - e cada um à sua maneira, mas com uma boa cartilha comum, insuflar novo ar, renovar o sangue que nos corre nas veias e empurrar para a frente este projecto que agora faz cem anos. Nasceram assim os encontros e almoços no berço que todos une, acentuaram-se as idas a Lisboa de associações e grupos locais, criou-se uma nova esfera de intercâmbio, olhou-se um e outro espaço, curiosamente, de uma outra maneira: a capital perdeu a sua auréola de um mundo à parte, acima dos outros, Lafões perdeu a vergonha e apresentou-se ali de cara levantada, de igual para igual. Se recuarmos alguns anos atrás, todos somos testemunhas de quanto de” admiração” se tinha, no Verão, pelos nossos lisboetas. Enfeitava-se a aldeia, melhorava e aprimorava-se a gastronomia e culinária, vestia-se uma roupa melhor, para não parecer mal, evitava-se até o cruzamento com essa gente de fato bem cheiroso, sempre que se entendia que se não estava à altura de um diálogo a dois, sendo “conveniente” manter uma certa distância… Hoje, a esse nível, tudo mudou. Ao vermos quem chega e quem está, não se nota qualquer sinal distintivo. Nem na roupa, nem nos temas a tratar, nem nessa postura de um ponto acima, outro abaixo. Regressando às novas programações, eis-nos a ver Lafões na Feira Popular, no Teatro da Trindade, na Praça do Comércio e ruas da Baixa, nos Restauradores, no Rossio e muito mais na Praça da Figueira, na Rua da Madalena, em frutuoso diálogo com a Junta de Freguesia, sobretudo a partir da dedicação e visão de seu Presidente, Jorge Ferreira, no Monsanto e tantas outras zonas que se ganharam para a causa do regionalismo renovado. A Sede passou a ser palco privilegiado para Conferências, Palestras, lançamento de livros, actuações de grupos diversos, convívios, torneios de cartas e afins, sendo ainda, como que a resistir a tudo isto, um ponto de encontro de saudade de gerações que não perdem o hábito de ir com regularidade à Rua da Madalena. Por assim ser, esta Casa tem toda a legitimidade para estar viva, de pé e mesmo em força. Justificam-se, deste modo, outros e novos caminhos que se estão a procurar. Regionalistas quanto baste? Temos dúvidas. Suportes essenciais ao desbravar de pistas novas para sobreviver e prosperar, são isso tudo e muito mais: aos poucos até passam a saber que Lafões afinal existe e ali se mostra diariamente. Essas outras culturas que por aqui desfilam, o rock, as danças latinas e de salão, o forró, as febres de sexta à noite, a “metálica” pesada, afinal, são linguagens que trazem mundividência ao nosso regionalismo e lhe rasgam novos horizontes, numa troca onde todos ficam a ganhar. São a globalização ao vivo e a cores. III - E agora o futuro Aqui chegados, carregados de certezas, não deixamos também de estar repletos de dúvidas, até medos, porque, se o futuro a Deus pertence, cabe também aos homens engendrar os seus contornos. E esta Casa de Lafões tem de saber que esta regra é de ouro e não pode ser esquecida. Impõe-se que, em conjunto, possamos agarrar no presente para virmos a ter um futuro melhor, que deve radicar na tradição de cem anos, mas também de ser capaz de alavancar os tempos que aí vêm, misturando-lhe a modernidade e as exigências de uma época que, olhando para trás, precisa é de pisar trilhos de um devir que ninguém conhece, mas que vai aparecer, de certeza . É nossa convicção que “ A noção de identidade colectiva pode englobar ao mesmo tempo a imagem consciente que uma sociedade alimenta de si mesma e a imagem inconsciente que poderá ter idealizado ou recalcado” ( in “ O futuro da Europa…”, 2002) e esta verdade leva a que pensemos que o futuro passa por reavivar estas componentes de cada ser humano, criando um projecto de valores-chave onde encontramos, de certeza, o apego às raízes. Saindo de uma postura reivindicativa para um espaço de são e vivo regionalismo dos inícios do século XX, nos alvores de uma República agitada, mas prenhe de cidadania, a Casa de Lafões é um cimento que evita a pulverização de sentimentos de pertença e também um “tampão” contra os efeitos de uma globalização, cada vez mais galopante, que quer pôr toda a gente a entoar as mesmas e únicas canções, deixando de lado o nosso Hino, e a comer maçãs de um só calibre, quando as nossas árvores teimam em primar pela diferença e pela qualidade pura de um chão que nos é tão querido. Cada região dá aquilo que de melhor tem. Lafões não foge a essa regra. Assim, ofereceu a Lisboa gente e saber, braços e vontade, querer e vida, ambição e trabalho, criação e empreendedorismo, pelo que é chegada a hora - e este é o local certo! – de tributarmos a nossa homenagem a todos aqueles que, por circunstâncias várias, para aqui vieram, aqui se entregaram de alma e coração aos seus ofícios e desejos, aqui constituíram família e fizeram desta terra, Lisboa, uma terra de ninguém e de todos, uma terra dos outros e de nós mesmos. Este foi o passado e não deixa de ser o presente. Mas seria miopia ficar por aqui, de braços cruzados, a gozar louros conseguidos com sangue, suor e lágrimas, a bater palmas, ou a chorar sobre leite derramado. A ir-se por esse caminho, seriam cem anos ganhos por esses nossos queridos antepasssados (bem haja, Pai, pelo tempo que estiveste na “Portugal e Colónias”) e perdidos, por inércia de nossa parte, por falta de consideração por quem nos legou este património tão humano, tão vasto e tão rico. Mas não é isso que esta Casa quer fazer. Está-lhe na massa do sangue nunca enjeitar responsabilidades futuras, por mais difíceis que sejam. Carlos Rodrigues, 2011

Índices de desenvolvimento referentes a 2010 com o Interior na mó de baixo

Desenvolvimento com números na mesa Da Universidade da Beira Interior, Covilhã, tem-nos chegado, anualmente, uma tabela que pretende organizar, em lista ordenada, os ainda 308 concelhos do país. Seu autor e coordenador é o professor universitário José Pires Manso, que, assim, nos mostra como vamos nós em matéria de desenvolvimento. Sendo um estudo académico, é isso mesmo. Mas não pode deixar de ser instrumento de meticuloso trabalho para a comunicação social e para quem se interesse, ou venha a fazer parte dele, por este mundo maravilhoso de fazer alguma coisa, cada um a seu jeito, pelas nossas terras. Como elas precisam de todos e muito mais as nossas, estas do interior, o nosso jornal de 10 de Janeiro de 2013 dedica-lhe uma especial atenção. Fazendo-o de propósito, para melhor pôr em evidência forças e fraquezas dos territórios em que habitamos, aqui teremos este modesto contributo, uma outra referência em rubricas semanais e uma detalhada exposição da Salete Costa. Não se aplicando aqui o velho ditado de “o que é demais, é moléstia”, muito pelo contrário, convém que todos reflictamos sobre estes mesmos dados. E deles retiremos o sumo que ali há, para cada um dos gostos e comentários que venham a suscitar. Começamos por aclarar a base que preside a esta pesquisa e sua divulgação: a) – Condições materiais: equipamentos de comunicação, de saúde, culturais e educativos; b) – Condições sociais: ambiente, cultura, desporto, saúde e respectivas despesas, mais população, natalidade, mortalidade, envelhecimento e outros diversos índices ; c) – Condições económicas: dinamismo económico, mercado de trabalho, de habitação, rendimento e consumo, turismo, etc. Ponderados estes factores, tendo como suporte as referências obtidas no INE, ano de 2010, e seu carácter de credibilidade nacional e internacional, distribuem-se esses valores por cada concelho e os resultados aparecem depois: aqueles que nos chegam às mãos. Analisados com rigor, podem servir como bons suportes para os fundamentais mecanismos de planeamento e, mais do que isso, para ponderar medidas a tomar, correcções ou reforços a fazer e outras operações do mesmo género. Se nos debruçarmos sobre as suas linhas gerais – e os detalhes não deixam de ser importantes e decisivos – e se os pusermos em confronto, a realidade comparativa, não dizendo tudo, traz-nos à baila um diálogo e uma introspecção que não podem deixar de ser feitos: se estamos desta ou daquela maneira, isso a que se deve/eu? Quando o distrito de Viseu, em 308 municípios, tem quatro nos trinta piores classificados, depois de vistos os 48 ítens deste estudo, é impossível ficarmos calados perante este quadro. O meio e os pontos abaixo desses patamares de posições também nos não agradam: o 159º lugar de Vouzela e o 249º de S. Pedro do Sul são murros no nosso estômago que não deixam de doer. Assim como Cinfães em 293º, Penalva em 293º e Sátão em 302. Mas já nos dá um certo prazer vermos Oliveira de Frades nos 76 primeiros, à frente dos concelhos do distrito, e isso tem, para nós em especial, um significado extraordinário. O mesmo se diga de Mortágua em 79º lugar e Viseu em 90º. Lisboa, Porto e Albufeira lideram e Coimbra aparece em 5º lugar. Nos trinta primeiros, o Algarve entra com 11 municípios e, seu azar, Câmara de Lobos, na Madeira, é o último. Assim sendo, dizer que o turismo é a chave da nossa salvação também não se afigura conclusão a tirar, de ânimo leve. Aliás, a melhor via passa por uma miscelânea de bons índices, fonte praticamente de sucesso presente e futuro assegurado. Numa outra linha de raciocínio mais aprofundada e com uma maior carga política, vamos dar sempre ao mesmo: quem mais sofre é, regra geral, o interior, que surge, muitas vezes, cá em baixo, onde ninguém quer ficar. Nem que seja por um bocadinho. Com mais este ponto de partida, em ano de eleições, os futuros autarcas terão aqui muito a aprender. E os actuais, com um pé noutro eventual mandato, também… Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Vouzela”, Janeiro de 2013

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Casa de Lafões, Lisboa, associou regionalismo e gratidão

Por ocasião da comemoração da efeméride relativa aos seus 105 anos de existência, um longo historial ao serviço das gentes da sua região, a Casa de Lafões, em Lisboa, que congrega, essencialmente, os municípios de Oliveira de Frades. S. Pedro do Sul e Vouzela, para além do almoço mensal, quis, no passado domingo, dia 16, honrar a memória dos seus sócios, recentemente falecidos, para fazer recordar, para sempre, os serviços que deles recebeu ao longo dos tempos. Nesta medida, prestou pública homenagem, a título póstumo, a Fernando Lopes Pereira, Álvaro Cardoso e Chefe António Silva por tudo quanto fizeram por esta Instituição e pelas terras que ali se representam. Carlos Alberto Fernandes, Presidente da Mesa da AG, Alberto Figueiredo, Presidente da Direcção, incumbiram-se de justificar estes solenes e evocativos actos, em palavras de emoção e gratidão, o mesmo tendo acontecido com Carlos Alberto Lobo, da Câmara Municipal de Vouzela, e Víctor Barros, do Município de S. Pedro do Sul. Por sua vez, Carlos Rodrigues, em nome dos homenageados, veio a agradecer tão significativo acto. Como forma de tornar perene estas cerimónias, foram descerradas as respectivas placas, havendo ainda a destacar, quanto a Fernando Lopes Pereira, a colocação duma fotografia sua na Sala dos Fundadores. Com esta cerimónia, festejou-se o presente, lembrou-se o passado e, muito especialmente, soube honrar-se a memória de quem partiu, deixando obra...

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Tribunais, para que se não esqueça a necessidade de os devolver aos seus tempos áureos

Em texto escrito, há meses, assim falava de Oliveira de Frades. Relembro e repito o que então disse, por este ser um tema que volta a estar na ordem do dia: As boas reversões para Oliveira de Frades Fala-se agora muito em reversões de medidas no campo das novas políticas, sobretudo se olharmos para as alterações que se consagram no Orçamento de Estado para 2016. Isto é: pegando em questões que o anterior Governo tinha assumido e aplicado no terreno, em função das exigências do memorando assinado com a Troika e outras mais, agora anulam-se estas e põem-se outras em prática. Não sendo esta a hora para se fazer o seu balanço geral, vamos, desde já, assumir aqui, publicamente, o nosso regozijo pelo facto de se constar que os TRIBUNAIS, que foram encerrados ou empacotados em grande parte de suas nobres funções, podem vir a ser, de novo, postos ao serviço das nossas populações. Aqui está um ponto a destacar, se Oliveira de Frades vier a reconquistar essa grande perda que viveu há cerca de três anos. Caso contrário, se tal não for conseguido, estamos perante mais uma balela que só servirá para nos entreter e cavar mais fundo a forma negativa com que encaramos muitas decisões e posturas dos nossos políticos, sejam eles quem forem. No entanto, como ainda não perdemos a fé de todo, há em nós a esperança de que, na análise que vier a ser feita, se reconhecer que este Município de Oliveira de Frades, pelo nível empresarial que tem, pela dignidade de seus mais de dez mil habitantes, pela atenção que nos deve merecer o nosso passado, pelo esforço actual que os autarcas e as comunidades estão a fazer, voltar a ter-se, em funcionamento pleno, o nosso TRIBUNAL é um acto de justiça, não uma esmola qualquer. Recordamos que os números de processos que estiveram na base dessa triste medida da sua extinção foram objecto de segura contestação, nessa altura, por parte do Presidente da Câmara Municipal, Luís Vasconcelos. Quanto a nós, pensamos que está na hora de se repescarem esses e outros argumentos no sentido de dar força a quem (a Ministra da Justiça), neste momento, se refere a essa boa possibilidade. Ou seja, antes que se perca esse bom comboio, há que levar a Lisboa todo esse material, com um pedido firme de reposição desses mesmos serviços. Escusado será dizer-se que a onda de apoio ao regresso do Tribunal será imensa, total, talvez. Nas nossas memórias, estão frescas as idas a Viseu para tratar de assuntos ligados à Justiça, com todos os inconvenientes que tais deslocações encerram. Há ainda uma outra importante e decisiva questão: é a do prejuízo para a economia local que o fecho deste equipamento público veio a infligir no mundo dos negócios da nossa terra. Por razões intrínsecas ao campo do direito e por aspectos de ordem social, o regresso destes serviços já tarda demais. Como parece pairar no ar um certo espírito de abertura nessa matéria, aproveite-se a maré e peça-se que seja feita justiça a uma terra que bem a merece. Numa outra esfera de actuação, reforce-se ainda mais uma petição: aquela que se liga com a necessidade de se repensar todo o sistema da SAÚDE no nosso concelho, pondo a funcionar, 24 em 24 horas, as urgências ou valências equivalentes, como, aliás, já aconteceu em tempos idos. Será pedir muito? Não o cremos. Estes (e outros) são requisitos essenciais para sentirmos que o Estado se não esquece de nós. Se os poderes públicos fizerem isto, cumprem apenas o seu dever. Nada mais. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Fevereiro, 2016