sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Oliveira de Frades cantou e bailou em Festival de Folclore

No passado doimngo Festival folclórico trouxe vida e animação a Oliveira de Frades Na tarde quente do dia 26, domingo, o centro da vila de Oliveira de Frades encheu-se de gente em virtude da realização do Festival Folclórico que a Câmara Municipal pôs em marcha e com bastante sucesso, acrescente-se. Além dos três grupos concelhios, as atenções voltaram-se também para os visitantes com as suas vistosas danças minhotas e do litoral centro. Numa organização que privilegiou as actuações descentralizadas, em três palcos, por onde passaram, em cada um deles, todos os ranchos participantes, foi assim possível assistir a diversos espectáculos em locais e ambientes diferentes, na “Praça das Finanças”, no Jardim Sá Carneiro, em palco montado no canto próximo dos Paços do Concelho e junto ao Museu Municipal. Entretanto, tudo começou com a recepção oficial no Salão Nobre da Câmara Municipal, em cerimónia presidida pelo Presidente, Paulo Ferreira, tendo comparecido ainda a representante da Assembleia Municipal, &&&, os vereadores Carlos Pereira e Clara Vieira e o Presidente da União de Freguesias, José Cerveira. Seguiu-se um desfile, em conjunto, até ao primeiro dos palcos acima citado, local escolhido para a saudação geral, ao ar livre, feita por Paulo Ferreira, antes de por aí desfilarem todos os ranchos convidados. Esta parte do programa permitiu, desde logo, fazer-se uma espécie de apreciação global e abrir o apetite para as danças e cantares que se iriam espalhar pelos outros sítios. Se o concelho se fez representar pela totalidade do seu folclore, saudaram-se assim o Rancho Floclórico da ACRENE – Nespereira, o de S. João da Serra e as Danças e Vozes da Aldeia, de Santa Cruz. De fora, vieram as Cantarinhas de Buarcos – Figueira da Foz e o Grupo Folclórico de Viana do Castelo. Sendo esta uma primeira experiência a este nível e nestes moldes, prova-se que o êxito dos espectáculos apresentados e a metodologia seguida têm pernas para andar no futuro. Uma garantia fica já no ar: se se verificar a tendência desta edição de 2018, público não faltará em próximas ocasiões. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Agosto, 2018

81 anos em cima de um tractor por parte de João da Silva Reis, Vilharigues...

Em Vilharigues João do Tractor não mais perdeu o nome Com 81 anos de idade, João da Silva Reis nasceu em Vilharigues, Vouzela, e nesta aldeia tem passado quase todos os seus dias. A certa altura, a aquisição de uma máquina agrícola conseguiu mesmo mudar-lhe o nome, passando a ser conhecido por João do Tractor. Do rapaz que serviu à mesa mais de uma dezena de anos na hotelaria das Termas de S. Pedro do Sul, haveria de renascer o homem que, ao volante da sua viatura, revolveria a terra dos campos agrícolas da sua aldeia e das redondezas e faria milhares de viagens em transportes diversos, desde a madeira aos materiais de construção. Com oitenta e sete contos amealhados, comprou, aí pelos anos de 1972/73, um Fergusson 135. O pior é que, sem dinheiro para mais, aquela peça não lhe servia para quase nada. A salvação veio da sogra que lhe ofereceu uma centena de pinheiros para adquirir dois carroços. Este era, vê-se, um tempo em que a floresta era um bom mealheiro, a tábua de salvação para fazer frente a bolsos vazios. Sem ser o primeiro tractor da freguesia, que José Bica, em meados dos anos sessenta, já se lhe tinha antecipado (talvez a ser pioneiro destas andanças mesmo no concelho de Vouzela) com a compra de um também Fergusson 30, mas para seu uso exclusivo, apenas ao João da Silva Reis estava destinado que assim começasse a ser conhecido até aos nossos dias. Ao fazer do seu novo e útil brinquedo um instrumento de trabalho, cedo o pôs ao serviço da sua economia pessoal: desde então começou a lavrar os campos seus e de quem requisitava as suas funções, passando para o transporte de madeiras, pedras, aterros, materiais de construção e tudo quanto um tractor pudesse executar. Correndo montes e vales, andou por Ventosa, Covas, Fornelo do Monte, Póvoa dos Codeçais, Vila Chã do Monte, Queirã, Moçâmedes, Lourosa da Comenda, Serra da Arada, Carvalhais e por tantos outros lados. Noite e dia fundiam-se num só tempo, porque queria muito angariar umas massas para a casa em construção e para a sua vida em todas as suas vertentes. Uma longa carreira Fiel à marca com que se celebrizou nas suas novas actividades, há 26 anos trocou de tractor por um outro Fergusson, este 245, que é seu companheiro de praticamente todas as viagens, salvo as idas a Viseu ou outras cidades, pelas redondezas. Com charrua, grade, fresa, malhadeira de milho, arrancador de batatas, charrueco de abrir regos, ceifeira e outros equipamentos mecânicos, agora vai-se entretendo que os trabalhos para fora começaram a escassear há uns anos. Os subsídios europeus e a invasão de novas máquinas em quase todas as casas ditaram a sua nova sorte, uma espécie de chave para o descanso forçado. Do alto dos seus 81 anos e de uma vasta experiência sem um único acidente, ao falar daqueles que por agora vão acontecendo, atribui-os à velocidade e ao descontrolo, à falta de treino e cuidado. E disse-nos que os travões destas máquinas também não são muito de confiar. A caminhar para os cinquenta anos da sua nova profissão, depois da passagem pelas Termas e pela loja de Vilharigues, onde foi empregado comercial, ainda está para a curvas. Este nosso amigo João do Tractor é assim mesmo: unha e carne com o seu veículo de quatro rodas, é pau para toda a colher nestes serviços, mas, nestes dias, mais para seu uso próprio. Os anos de trabalho louco já lá vão. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Agosto, 2018

A fusão dos Bombeiros em S. Pedro do Sul...

Fusão de Bombeiros brevemente em S. Pedro do Sul No recuado ano de 1885, nasceu no concelho de S. Pedro do Sul a primeira corporação de Bombeiros, os Voluntários. Começando por umas instalações provisórias, fixou-se posteriormente no actual local para nunca mais dali sair. Ao responder a um apelo do associativismo então em fase de crescimento, curiosamente tinha-se deixado ultrapassar pela Banda Filarmónica Harmonia, que vira a luz do dia vinte anos antes em 1865. Mas apareceu quando pôde e nada mais há a dizer. Durante anos, até 1925, viveu sozinha a Associação dos Bombeiros Voluntários de S. Pedro do Sul, convivendo, ao lado em termos de vizinhança com a de Vouzela, que em Oliveira de Frades este fenómeno só viria a despertar perto dos anos trinta do século passado. Um dia, sabe-se lá como, mas presume-se que por divergências internas, arrancou-se nesta terra sampedrense para mais uma entidade desta mesma natureza: assim, em 2 de Fevereiro de 1925, veio para a rua o Corpo Voluntário de Salvação Pública, instituindo-se como que os bombeiros de cima, mais antigos, e os de baixo, os novatos. Com vidas próprias, lá se foram organizando, como puderam e quiseram, ao longo destas dezenas de anos, muito embora nem sempre tenham sido muito pacíficas as relações entre as duas Corporações. Irmãs nas funções, mas nada de confusões. Pelo meio, despontou ainda, no concelho, uma nova Associação, a de Santa Cruz da Trapa, pelo que, depois desse facto, tudo foi disputado a três. Para o Município, se se vê enriquecido com mais um agente de prestação de serviços de apoio às populações, as dores de cabeça triplicaram: a partir desse momento o bolo tinha se ser repartido por três entidades da mesma área e esfera de actuação. Do mal, o menos. Quis a força do destino que, na sede do concelho, se começassem a esboçar esforços para a criação de um Agrupamento comum de Bombeiros, o que se concretizou, logo em 2010, com a criação dos respectivos estatutos. Agora, fala-se já no seu efectivo lançamento para o próximo mês de Setembro, quase como que uma experiência piloto a nível nacional. Não é virgem, porém, esta tipologia de organizações: temo-las, por exemplo, nas escolas e nos centros de saúde. Mas, diga-se, em abono da verdade, que, nestes casos, nem sempre com aplausos generalizados. Oxalá que, com os Bombeiros, tudo corra pelo melhor. No historial destas duas casas, a de cima e a de baixo, há muito que contar. Entre tantas notícias, reportagens, comentários e opiniões, uma boa fonte, a do cinema, traz-nos um magnífico relato da vida da Associação dos Bombeiros Voluntários de S. Pedro do Sul, relativa a uma festa do dia 1 de Janeiro de 1927. Foi realizador dessa película Artur Costa de Macedo (1894/1966), e, há uns anitos, um nosso conterrâneo de Fataunços, José Alexandre Cardoso Marques, um grande entusiasta e historiador destas artes cinematográficas, presenteou-nos com esta preciosidade, tendo-nos sido permitido ver uma cerimónia de distribuição de dinheiro aos pobres, uma corrida em simulacro de incêndio para acudir a uma casa em chamas, os bombeiros em azáfama pegada a empurrarem um velho carro e até a Banda a tocar pelas ruas da vila. Se estes são dados que enobrecem e enriquecem o nosso património, a verdade é que a história actual nos mostra que tudo isto está em grande aceleração para novas caminhadas como esta do Agrupamento que está prestes a nascer a sério. Oito anos depois de ter sido passado para o papel, agora já com Comandante nomeado, Carlos Matos, com o projecto do novo Quartel comum aprovado, sendo seu autor o Arquitecto Paulo Loureiro, tudo ponta para que este seja um processo irreversível. Num concelho com cerca de 350 quilómetros quadrados e com 16900 habitantes, o que denota uma penosa sangria populacional, ter uns Bombeiros operacionais em meios, em pessoal e em organização, é sempre uma boa aposta. Aponta nesse sentido a criação desta nova estrutura, o citado Agrupamento. Convém não perdermos de vista nem esquecermos que, por mais que, em Lisboa, às vezes assim se não pense nem actue, os Bombeiros foram, são e serão sempre a espinha dorsal de todos os esquemas de protecção civil que se pretendam lançar no terreno. Fugir desta regra é mesmo má política e um desconhecimento da força e dedicação que os nossos Voluntários têm neste mecanismo de apoio às nossas populações. Por tudo isto, este novo passo dado em S. Pedro do Sul pode vir a ser um bom caso de estudo e uma forma de ficarmos a saber que todas as divergências, mais tarde ou mais cedo, pode ser resolvidas a bem do interesse comum. A fusão da Associação dos Bombeiros Voluntários de S. Pedro do Sul com o Corpo Voluntário de Salvação Pública aí está a chegar, em casamento que se saúda e ao qual se deseja longa vida!. Dizem que a boda acontecerá em Setembro. Assim seja. Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Lafões”, Agosto, 2018

A desconfiança nas ofertas para as vítimas dos incêndios, em Pedrógão...

Incêndios, dádivas, dúvidas e revolta Temos por norma acreditar sempre na bondade dos homens e das instituições. Se, quanto àqueles, ainda podemos ter algumas desconfiançazitas (?), no que a estas diz respeito, valha-nos Deus, Nosso Senhor, nada a temer. Recordamos os trágicos acontecimentos de Pedrógão Grande de Junho de 2017 e a imensidão de dor e destruição que por ali aconteceu. Quando se lançou aquela fantástica e fenomenal recolha de dádivas e apoios, recordamos sempre as palavras que dirigimos a muitos amigos, no sentido de os estimularmos a participarem nessa campanha. Veio Outubro e fomos nós a precisar dessas boas vontades, que as calamidades não escolhem nem local nem raças, nem cores, nem credos. Por aquilo que, agora, descobrimos, na comunicação social, falhámos redondamente. Devemos, por isto pedir desculpa, a quem induzimos em erro. Foi com uma dor profunda no nosso coração que viemos a saber que, em Pedrógão, muita coisa falhou e trafulhices, assim mesmo, apareceram um pouco por todo o lado, mesmo em quem jamais imaginávamos tais comportamentos. Impossível, mas dizem que aconteceu. Inacreditável! O nosso dinheiro, as verbas do Estado não podem servir estes fins hediondos. Quando nos dispomos a abrir os cordões à bolsa é com a melhor das intenções que o fazemos, nunca para sermos cúmplices em jogadas de mau gosto e de aldrabices pegadas. Assim, tudo se perde, mesmo a confiança e esta é a derrota maior. As desgraças nunca podem ser a tábua de salvação para oportunismos doentios e expedientes perversos para dar cabo de fundos comuns. Se, acima de tudo, têm coberturas ao mais alto nível (ainda que municipal), está tudo estragado. Quando tal sucede, há que agir em termos judiciais e cíveis até às últimas consequências. Sem quaisquer espírito judicialista, longe disso, há situações que bradam aos céus e esta, a de Pedrógão, é uma delas. Quando a revolta se apodera destes casos, tanto pior. Estranhamos mesmo que, da parte de quem se diz que, estando por dentro do sistema e se fala em que tem alegadas culpas no cartório, não venha a agir em conformidade. Os cargos implicam responsabilidade e dignidade. Perdidas estas premissas, pouco mais há a fazer que não um profundo pedido de desculpas públicas e um adeus às funções até então desempenhadas. Isto é o mínimo que se exige numa sociedade e numa democracia sãs. Não podemos é deixar que a desconfiança total mine a nossa sociedade de alto a baixo e que a solidariedade seja posta de lado. Uma nódoa, por mais negra que seja, tem de se conseguir limpar. E esta tristeza de Pedrógão em malbaratar o dinheiro de todos nós não pode nem ficar impune nem levar a que a desistência em colaborar com quem, na realidade, precise do nosso apoio, se venha a impôr! Com a vergonha estampada no rosto por mais estas tropelias, acreditamos, apesar disso, nas virtudes de cada um de nós. E só assim descobrimos que o futuro comum seja cada vez melhor.... Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Lafões”, Agosto, 2018

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Convívio na Pedra da Broa, Oliveira de Frades, com dezenas de anos

No sábado, dia 11 A velha e renovada tradição da Pedra da Broa São dezenas e dezenas de anos a virarem-se as sardinhas de uma forma muito especial e numa operação feita por gente que sabe da poda. Por tudo isto, a Sardinhada da Pedra da Broa tem uma fama que chega longe, às terras de Lafões e às nossas comunidades espalhadas pelo mundo. No segundo sábado de Agosto, os diversos GPS apontam para aquele destino, tal como aconteceu no passado dia 11. Junto a uma decrépita Casa do Guarda Florestal, um local mítico, dezenas e dezenas de pessoas ali passam uma boa tarde em almoço e convívio bem saborosos. Para que tudo aconteça sem grandes sobressaltos, a Comissão incumbida de realizar todas as tarefas preparatórias e em cima do acontecimento, não se poupa a esforços para que nada faltasse. Nas semanas anteriores, como manda a tradição, nas reuniões de Oliveira de Frades e de Arcozelo das Maias, tratou-se de todos os pormenores, nomeadamente a escolha do segundo prato, o da carne, que, neste ano de 2018, constou de um apetitoso arroz de feira, uma homenagem aos almoços da Feira de Oliveira de Frades, que se comiam nas respectivas tascas. Imprevistos e alterações Se a programação é feita atempadamente, os imprevistos acontecem por vezes. Este ano, por exemplo, devido às restrições impostas em matéria de proibição de quaisquer operações em que se usasse o lume e as brasas, lá tiveram as sardinhas que andar de um lado para outro, tendo sido assadas a alguma distância em instalações fechadas. Em carrinhas, foram transportadas em sucessivas levas para preservarem a sua habitual frescura e sabor de modo a não perderem pitada da tradição de sempre. Esta foi uma alteração de fundo. Quanto às restantes operações, a azáfama de sempre para pôr as mesas, para limpar o espaço, para fazer as saladas e os molhos especiais, para cozinhar o já citado arroz de feira, para fazer a respectiva distribuição, chegada a hora da refeição, executaram-se nos moldes do costume, sem faltar as boas regadelas do terreno em causa e à sua volta. De tudo isto, cuida a Comissão em tarefas já bem estudadas e desempenhadas por equipas especializadas. Infelizmente, que já nem toda a gente pode dar o seu contributo, ou porque nos deixou de vez em profunda saudade, ou porque a sua saúde já não o permite. Por isso mesmo, a renovação vai acontecendo, mas sempre no respeito por quanto se foi aprendendo ao longo dos tempos. Em democracia e com contas à moda do Porto, primeiro satisfazem-se os estômagos, contando-se depois os pagadores para por eles dividir as despesas feitas. Geralmente, a aceitação dos valores a cobrar é a regra geral. Como aqui, neste evento, o lucro não está nas intenções de quem o organiza, a não ser amealhar uns tostões para equipamentos e problemas que impeçam a sua realização em cima do acontecimento, como, por exemplo, uma tromba de água ou outros problemas de maior, as receitas e as despesas pautam-se pelo equilíbrio sustentado. Uma Associação a caminho Olhando para tanto tempo de realização do Convívio da Pedra da Broa em modos algo improvisados, agora decidiu-se dar um salto para um novo e institucional enquadramento desta situação: a Comissão resolveu constituir a “Associação dos Amigos da Pedra da Broa”, com o objectivo de valorizar este almoço e alargar o seu âmbito ao campo da defesa da floresta e o do ambiente. No imediato, estão a elaborar-se os necessários estatutos para oficializar e respectiva escritura. Futuramente, outros sonhos estão já na forja, que a seu tempo serão anunciados. A intenção aqui descrita foi aceite em documento provisório, no passado dia 20 de Julho, por 16 dos elementos que têm estado na base da Sardinhada em causa e outros virão a aderir por certo. Visando ser uma colectividade aberta, espera-se que a participação nesta Associação venha a ser uma realidade cada vez mais alargada porque são arrojadas as tarefas que se têm pela frente. A Casa do Guarda, o antigo viveiro, a floresta e o ambiente no seu todo esperam pelo nosso contributo. É essa a ideia da Associação que está, neste momento, na forja, assim a ajudem as entidades oficiais. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Agosto , 2018

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

As lições de Monchique a seguir a tantas outras, tristes e trágicas....

Monchique a arder e a espalhar brasas por todo o lado Durante uma semana o concelho de Monchique, tal como em 2003, foi varrido pelas chamas, apesar de, há bem pouco tempo, ter sido apontado, com pompa e circunstância, pelo Primeiro Ministro, António Costa, como um exemplo de excelência em operações de protecção e defesa da floresta. O pior é que, quando o lume arde a valer, todo o passado em lições parece ter sido pouco, ou mesmo nulo: face à força da natureza e do avanço do fogo, a impotência (talvez com alguma incompetência nos comandos) manda e contra isso nada há a fazer. Não nos querendo armar em peritos de nada, mas como observadores atentos e empenhadíssimos na defesa do papel dos nossos Bombeiros Voluntários, por sermos um deles sem farda (Oliveira de Frades) e, por isso, nada imparciais, muitas das mazelas que temos vindo a descobrir, nas altas esferas, é o desprezo a que têm votado os homens de cada uma de nossas terras e no conhecimento que delas têm. Com o poder a ter demasiadas componentes centralizadoras, algo tecnocratas, perde-se proximidade e, talvez por essa distância, o descontrole passa a ser a regra, quando devia não passar da excepção. Neste grande fogo do Algarve, o maior da Europa por estes dias, assistimos a atropelos na cadeia de comando que nada nos agradam: de um dia para outro, Faro foi atirado para o lado e Lisboa pôs-se ali a gerir aquele mar de chamas. Posteriormente, quando por lá passaram o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o Primeiro-Ministro, António Costa, recebidos com poses militares, os Bombeiros foram postos de lado, atirados, barbaramente, para o caixote do lixo. E isto é INADMISSÌVEL. É mesmo. Com 27 mil hectares ardidos, em três concelhos, 50 casas destruídas, 41 feridos, 49 desalojados, felizmente não houve mortos a registar e esse é um facto que TEM de ser realçado. Sabendo tudo isto, como alguém que tem no seu sangue a força dos Bombeiros Voluntários, estes mesmos, deste gigantesco incêndio de Monchique retiramos algumas lições: a primeira é aquela que nos leva a não gostarmos nada de ver a nossa gente desviada de todo este processo; a segunda é que ainda temos muito a aprender e a concretizar em termos de correcto planeamento florestal; a terceira é que não podemos esquecer o efeito de ricochete que estes fenómenos causam, por exemplo, ao nosso turismo e à imagem que, negativa, podem construir e ampliar. Por último, a percepção de uma certa descordenação não abona nada a nosso favor. Nada mesmo. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Agosto 2018

domingo, 12 de agosto de 2018

Os nossos comboios estão a morrer de morte macaca...

Comboios em marcha atrás Desinvestimento leva ao retrocesso Numa época em que se procuram alternativas ao consumo de combustíveis fósseis, em que se pregam boas doutrinas quanto ao uso de energias renováveis, em que o combate às alterações climáticas está na ordem do dia, é com manifesta estranheza que estamos a presenciar o brutal declínio do investimento ferroviário em Portugal. Quando era necessário modernizar esse sector, electrificando-o em grande escala, o que tem acontecido vai precisamente no sentido inverso: encerram-se as linhas e ponto final. Ou cortam-se as circulações diárias. Com a qualidade a descer, a procura retrai-se e gera-se um efeito bola de neve: quanto menos passageiros, menos respostas se colocam para uso público. Daí até ao fecho do sistema, a demora é curtísima. Se os séculos XIX e XX apresentaram grandes sucessos, desde que, a 28 de Outubro de 1856, se fez a primeira ligação de Lisboa ao Carregado, desde 2000 para cá praticamente só se tem recuado, a ponto de Nuno Miguel Guedes Teixeira, em 2016, na sua dissertação “ Sistemas de Transportes Ferroviários”, ter dito que “ ... O desinvestimento, em contraciclo com o resto da Europa, foi algo marcante do século XXI”. Olhando para os primeiros anos do seculo XX, vem-nos logo à memória o esforço heróico desenvolvido pela nossa comunidade lafonense em Lisboa, que, em geral, se empenhou a fundo na reivindicação da passsagem da Linha do Vale do Vouga por todas as nosssas terras. Nasceu dessa sua luta, coroada de glória, a criação do Grémio Lafonense em 1911, hoje Casa de Lafões. Ao ter-se encerrado e desmantelado esta via, já em finais do século passado, foi uma enorme desfeita que se fez a essa nossa valente gente. Entretanto, todo o sistema começou a fraquejar e as linhas a caírem uma atrás da outra e sempre a penalizar o Interior. Se, nos anos 50, tínhamos 3750 quilómetros de vias e hoje andamos pelos 2630, a maioria dessas perdas afectou as ligações para as pequenas cidades e vilas do nosso Portugal. O mapa amputado da rede ferroviária mostra isso mesmo. O pouco que ainda se vai fazendo situa-se em redor dos grandes centros e na orla do litoral. Por exemplo, na Linha do Norte, que tem obras de Santa Engrácia, que nunca mais acabam, lançaram-se os comboios alfa e intercidades, a estenderem o seu serviço a caminho do Algarve, do Minho e da própria Beira Alta. Rápidos, agradáveis, cedo conquistaram a sua malha de passageiros. Agora, corta-se no ar condicionado, suprimem-se horários e circulações e as queixas surgem de todo o lado. Fala-se bastante na Ferrovia 2020, um programa de 2000 milhões de euros para investimentos futuros. O tempo anda e as obras desandam. Com o desinvestimento em manutenção do material circulante e das vias, o desfecho afigura-se-nos negro. E triste. Mas ainda temos esperança em dar a volta por cima. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 9 ago18