quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Lafões precisa de novos transportes públicos

Transportes públicos em Lafões precisam de um bom abanão Está na ordem do dia a magna questão da alteração do preço dos passes sociais nas redes de transportes públicos, uma iniciativa que teve a sua origem nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto, mas que tem tendência a espalhar-se pelo país todo e só assim se fará justiça e coesão social. Ao ficar-se apenas por aquelas duas zonas, que já são altamente beneficiadas e privilegiadas, o nosso Interior ficaria ainda pior. Com o Governo a declarar que a medida vai ter alcance nacional, esta é já uma boa ideia, mas, por aquilo que sabemos, ainda não contempla as vertentes necessárias, por falar somente em deslocações inter-concelhias, deixando de fora o cerne da questão: as viagens dentro dos próprios municípios e que são as mais relevantes. Na evolução das redes de transportes, começamos logo por um lamento, o do fim da linha do Vale do Vouga e dos serviços que prestava em toda a extensão de Lafões, desde Ribeiradio a Bodiosa, passando pelos três concelhos, suas sedes e muitas outras localidades. Iniciando as viagens nos anos de 1913 e 1914, no que a estas nossa zonas diz respeito, foi perdendo vapor e, em 1990, fechou as portas, de vez. Hoje, funciona, com regularidade, sobretudo entre Águeda e Aveiro. Numa curta resenha, em 1970, existiam 6 ligações entre Espinho/Aveiro e Viseu, em cada sentido, tendo diminuído para 2 circulações em 1985, um perigoso sinal de que algo já por ali corria muito mal. Em fases, foram-se os comboios a vapor (1972), ficaram as automotoras e até estas vieram a desaparecer, tendo sido subsituídas por autocarros, com grande descontentamento das populações residentes no eixo da velha linha. Registe-se que, nos anos gloriosos da via-férrea, uma alternativa, esta em autocarros, ligava S. Pedro do Sul ao Porto, por Carvalhais, Santa Cruz da Trapa, S. João da Serra e aí por diante, com a pomposa designação do “comboio da serra”. Diminnuindo em intensidade, esta corda ainda subsiste, mas já não é o que era, sem dúvida. Falando nas ligações actuais e nas condições em que os transportes públicos por aqui se processam, há que dizer-se que a CIM Viseu Dão Lafões tem uma importante palavra a dizer, porque tem incumbências e responsabilidades neste sector. De acordo com as informações prestadas pelo Presidente da Câmara de Vouzela, Rui Ladeira, essa questão não está esquecida, adiantando que está para breve o lançamento de um concurso para serviços públicos de transportes a nível intermunicipal e mesmo municipal, concelho a conecelho. Ora aqui está um bom princípio para a aplicação dos passes sociais, à imagem e semelhança do que se pretende para as duas cidades sanguessugas, Lisboa e Porto. Esperamos é que não arrefeçam os ânimos e tudo se faça para que assim aconteça. Transportes em Lafões Numa análise ao quadro de carreiras existentes, os três municípios de Lafões continuam com um eixo horizontal, em parte e um tanto parecido com o saudoso comboio, unindo Viseu a Ribeiradio, por Real das Donas, e vice-versa, e estes mesmos pontos pela EN16. Em geral, há quatro circuitos diários e mais dois em tempo de aulas. Falta aqui um aspecto essencial e fulcral que se perdeu: a não ligação a Aveiro, de uma forma directa, nesta linha, e à sua Estação da CP. Em matéria de autocarros internos, das sedes diversas, saem ligações para a maior parte de cada uma das freguesias de cada concelho, no sentido vertical, em princípio. Casos há em que são ainda mobilizados redes de táxi para completarem estas funções públicas. O problema maior é que os horários nem sempre condizem com as necessidades, como por exemplo em Oliveira de Frades: se se pensa nos acessos à Zona Industrial, as oito horas da manhã são determinantes. Se se privilegia o sector escolar (não obstante haver meios municipais específicos), essa hora não se enquadra nos costumes e determinações actuais. Por outro lado, o interface com outros destinos também não é, em geral, bem acautelado. Vejam-se as ligações para Lisboa, Porto e outras, e os desfasamentos e inconvenientes que se notam. A este nível, da região de Lafões partem autocarros diários, estilo rede de expressos, mormente entre S. Pedro do Sul e Aveiro e Porto, Lisboa-Coimbra-Viseu-Oliveira de Frades, pelo Dão, Lisboa-Coimbra-Aveiro-Oliveira de Frades-S. Pedro do Sul, via Albergaria-a-Velha, entre outros, sempre a passarem estas carreiras por Vouzela. Curiosa é a existência de uma carreira que liga mesmo os três concelhos em parte das suas localidades, entre o Vouga e a Serra do Caramulo, partindo de S. Pedro do Sul: passa por Oliveira de Frades, Vilarinho, Cajadães, Cambra (ramificando para Carvalhal de Vermilhas), retomando-se Cambra de Baixo, Pés de Pontes, Paredes Velhas, Campia, Rebordinho, Adside, Covelo, Areal, Arca, Varzielas e, por fim, Caramulo e vice-versa. Curiosamente, entre 1 de Julho e 9 de Setembro, há uma Linha da Praia, que une Castro Daire à Barra, com paragens nos nossos três municípios. Em termos de passes, tomando como bitola valores anteriores a qualquer alteração que se venha a fazer no avanço das negociações decorrentes das tomadas de posição das AM de Lisboa e Porto, temos as seguintes modalidades: passe social, 4-18 A, 4-18 B, Sub-23, Sub 23 – 25%, isto no que se reporta ao ano de 2018. Muito mais haveria a dizer, em pormenores e em linhas de passagens diversas. Sendo uma lista extensa, deixámos apenas estas notas e uma ideia básica, a da exigência do sentido de justiça, equidade e respeito pela coesão social e territorial do país visto como um todo e não apenas como imagens reflectidas nas águas dos Rios Tejo e Douro. Há muitos mais rios por Portugal além, de norte para sul, de leste para oeste. Reclamem-se direitos que são nossos e muito nossos. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Set 2018

É sempre a mesma coisa: o interior perde sempre...

O litoral come-nos tudo Em matéria de grandes projectos lançados em Portugal na útima década, seguindo uma perigosa tendência de há centenas e dezenas de anos, a sua grande maioria foi, uma vez mais, para as regiões do litoral, as mesmas, as do costume. Em 443 dessas iniciativas, apenas 26, 4% se fixaram em todo o Interior. Mais de setenta por cento, praticamente três quartos encaminharam-se para a beira-mar. É quase sempre assim. Por cada queijo que recebamos, 80% do território recebe uma pequena fatia e a grande dose vai para os pontos que todos nós conhecemos, sobretudo as áreas de Lisboa e Porto. Por isso, não nos podemos admirar quanto ao estado em que o país se encontra: despovoado nas nossas zonas, atafulhado de gente, a acotovelar-se por todo o lado, nas citadas cidades. Ainda há dias, o JN trazia uma listagem que bem ilustra a argumentação que aqui estamos a registar, desde 2008 a 2018, em investimentos tidos como grandes projectos e são abismais as diferenças. Vejamo-las: 2008 – Litoral, 25; Interior, 5; 2009 – 45/17; 2010 – 38/20; 2011 – 28/9; 2012 – 20/10; 2013 – 41/13; 2014 – 21/11; 2015 – 18/6; 2016 – 51/19; 2017 – 22/2 e 2018 – 17/5. Não é preciso fazer grandes contas para logo percebermos o alcance desastrado destas medidas. Quando Pedrógão, em Junho de 2017, e o Centro do País, em Outubro, foram dizimados pelos mais dramáticos incêndios de sempre, apregoou-se por todo o lado que as discriminações positivas não deixariam de aparecer. E o que vemos? Um ano de 2018 com um acentuadíssimo desnível de 17 para 5. Isto é política que se possa aceitar? Por nós, não, de maneira nenhuma. Vem agora uma certa consolação, de acordo com a mesma fonte: mais de 70% do novo alojamento turístico local localizou-se fora dessas metrópoles e os resultados estão à vista, com a este sector a mostar, na região Centro, uma vitalidade assinalável. Só que esta vertente á muito pequena para equilibrar a balança que pende a toda a hora para o mesmo lado, o litoral. Diz-nos Suzanne Daveau (Portugal geográfico, Livraria Figueirinha, Porto, 1995) que” O profundo desequilíbrio e a instabilidade espacial que caracterizam hoje Portugal tornam muito problemática qualquer tentativa séria de ordenamento do território, ainda que a necessidade de repensar a organização administrativa do país seja fortemente sentida... “ (p. 131). E as consequências estão à vista, acrescentando que “ A gente pobre amontoa-se à volta das grandes cidades”. Em 2018, teima-se em seguir os perigosos figurinos de há anos. O que nos trará o Orçamento para 2019? Ficamos à espera, mas pouco animados, infelizmente... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 3 out 2018