sábado, 23 de fevereiro de 2019

Dez razões para ir ao Restaurante "Margarida" - Vouzela

Em plena vila de Vouzela, sempre a possibilitar uma boa olhadela para as belezas das Serras da Gralheira e da Arada, localiza-se o Restaurante Margarida, uma casa com imagem de marca, boa mesa, bom ambiente e um agradabilíssimo serviço. Entre muitas outras, encontramos dez razões para ali ir: - 1 - Ter uma boa e útil conversa com o Fernando; 2 - Saborear, com água a crescer na boca na escolha, uma boa ementa; 3 - Optar pelo óptimo que aqui não é inimigo do bom; 4 - Ir com tempo até para poder falar de negócios e da vida; 5 - Aproveitar os minutos de espera para criar um bom ambiente familiar; 6 - Usufruir de um espaço acolhedor para pequenos encontros e festas familiares; 7 - Ficar a conhecer a singularidade do Parque Natural Vouga-Caramulo; 8 - Dar uma espreitadela pelas notícias frescas e pela boa literatura; 9 - Comer com apetite em ambiente de excelência; 10 - Prometer voltar, porque vale sempre a pena.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Arquivos em Viseu, as falas do passado

Arquivos de Lafões em Viseu Numa terra e região com milhares de anos de um riquíssimo passado, Lafões tem espalhados documentos por uma série de locais, sobretudo desde que a escrita começou a ser usada com maior frequência. Antes dessa fase histórica, muitos outros testemunhos se reportam a esta nossa zona e cada uma de suas localidades. Hoje, porém, a nossa viagem é bem curta, porque fomos apenas até Viseu, melhor, colhemos do seu Arquivo Distrital uma série de informações que podem ser (e são-no muito úteis) para quem busque dados sobre a sua própria família, propriedades, negócios, vias judiciais, vida autárquica, religiosa ou de outras quaisquer áreas. Em cerca de 357 mil entradas de vária ordem, cada paróquia, cada freguesia, concelho, famílias e pessoas, a nível individual, neste local, que está ligado ao ANTT – Arquivo Nacional Torre do Tombo – ali se encontram depositadas dados que nos ligam a um passado de tudo e de todos. Com incidência maior nos séculos XV e XVI e daí para diante, podemos saber quem nasceu, morreu, se casou em cada uma de nossas localidades. Agarrando na teia que encontramos, os laços estabelecidos levam-nos sempre bem longe. De repente, damos de cara com um nosso familiar e, pegando nele, avançamos para a família toda. Naquele espaço mágico, que nos ajuda a desvendar quem somos e fomos, numa linha genealógica que nos desperta o maior dos interesses, temos de saber trepar para outras dimensões. Ficarmos pelos nascimentos, óbitos, casamentos, é muito pouco A contabilidade das câmaras municipais, os inventários e fundos do Governo Civil, os registos da emigração, os elementos relacionados com o mundo da educação tornam-se acessíveis e nos “falam” de tudo. Com uma cola que nos faz pegar em tudo e ter dificuldade em largar cada ponta, em termos de contabilidade municipal, em Oliveira de Frades partimos do ano de 1850, em S. Pedro do Sul de 1846 e, em Vouzela, de 1849. Há, porém, rubricas, a este nível, que ainda podem oferecer outras datas. Em instrução pública, recuamos até aos anos 1800 e aí deparamos com as rubricas de aposentações de professoes, autos de inspecção, de juramento e posse, notícias de abandono escolar, circulares diversas, movimento de alunos, necessidades mais urgentes da instrução primária, faltas ao serviço, provas efectuadas, vencimentos dos professores, edifícios escolares e outros assuntos de interesse para o sector. Paramos, por enquanto, na então “Câmara Municipal de Lafões”, com registos ali existentes desde 11 de Julho de 1695 e a prolongarem-se até 11 de Abril de 1834. Na explicação dada, esclarece-se que “ Até ao século XIX subsistia na região de Lafões uma complexa divisão administrativa. De facto, toda a região era dominada pelo concelho de Lafões, constituído pelas vilas de Vouzela, S. Pedro do Sul e o Couto do Banho. Encravados na área concelhia, mas sem lhe pertencerem, encontravam-se ainda os concelhos de Sul, Santa Cruz da Trapa, Oliveira de Frades e a Comenda de Ansemil, da Ordem de S. João de Malta. Assistiam ao governo deste concelho (Lafões), um juiz de fora, vereadores, um procurador do concelho, escrivão da câmara, juiz dos órfãos com seu escrivão, oito tabeliães, um meirinho e um carcereiro. Para as questões judiciais, existia no concelho uma ouvidoria, sendo o o juiz de fora nomeado pelo Duque de Lafões. Este concelho tinha a particularidade de funcionar paralelamente em S. Pedro do Sul e Vouzela”. Porque este tema nos obriga a um estudo bem mais profundo, a ele nos referiremos numa próxima edição, conjugando a nossa análise, como vimos, com o Arquivo Distrital de Viseu. Numa cerejeira que não pára de nos entregar sempre mais e mais tópicos, com eles iremos “dialogar” numa próxima ocasião. Porque vale a pena saber e o conhecimento não ocupa lugar. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Fev19
Cuidados sociais em grandes mudanças Há uma boa realidade que a nossa actual sociedade está a viver: o aumento da esperança de vida é um sinal de que a evolução não é só tecnológica, mas estende-se também ao ser humano no seu todo. Com mais vida, sucedem-se aspectos positivos e de excelência a oporem-se a outros menos desejáveis, mas que não deixam de surgir. Com mais anos pela frente, à alegria de viver juntam-se, em muitos casos, as necessidades de cuidados de saúde e sociais, quando as forças humanas entram em colapso, ou em vias disso. Institucionalmente, as instâncias governativas e legislativas, ao longo dos anos, têm tentado criar condições que possam dar respostas aos problemas que vão surgindo. Em geral, caminhou-se, em apoios sociais, pela via dos lares e centros de dia e de lazer, a maioria como IPSS ou Misericórdias, sem esquecer outras alternativas, como a entrada em acção da iniciativa privada, às vezes, de uma forma demasiado pura e dura, com todos os inconvenientes daí decorrentes. Numa outra área de actuação, as famílias assumiram, em boa medida, as responsabilidades que lhes incumbem na linha e na onda da solidariedade geracional que devia ser sempre, até aos limites da possibilidade inerente aos apoios e cuidados a ter, da sua alçada. Só que as sociedades modernas, com a sua organização social e laboral, não permitem que, a esse nível, se possa estar à altura desse ideal de vida. Na sombra, mas com uma notável dedicação e abnegação pessoal, os cuidadores informais jamais deixaram de estar à altura destes objectivos de apoio a seus familiares. Muitos são os exemplos, felizmente, que se encontram um pouco por todo o lado. De vez em quando, foram aparecendo alguns esforços no sentido de dar corpo legislativo e pecuniário a estes heróis de todos os dias e horas que, sem descanso, se doam de corpo e alma a tão nobres funções. Colocando-se ao lado dos filhos, dos pais, dos avós, dos tios e outras pessoas com laços sanguíneos, ou, a outra escala, afectivos, que deles necessitam e dependem para tudo, abdicaram mesmo de viver as suas vidas. Numa alta mudança de paradigma, fala-se agora em considerar esse trabalho como um enorme contributo dado à causa do apoio a quem o Estado não pode (nunca) abandonar. Assim sendo, sempre que este tema possa ser encarado como uma matéria a ter em linha de conta no campo das verbas a gastar com quem carece de ser apoiado a fundo, temos de ver nessas intenções de passar a incluir a rede de cuidadores informais nessas verbas um enorme passo em frente. Num outro campo, que se liga ao Ministério da Justiça, o novo Regime do Maior Acompanhado, para quem for declarado incapaz de gerir a sua vida, é outro ponto bem positivo. A terminar, a Estratégia Nacional para a Hospitalização Domiciliária (atitude a que o nosso Hospital de Viseu/Tondela pretende aderir, o que se saúda), dando atenção individualizada a cada doente no seu contexto familiar, é outro bom modelo de humanização dos serviços públicos. Pondo-se a pessoa no centro de tudo, estas novas formas de actuação, em termos de um novo olhar para os cuidadores informais e os outros modelos citados, não podem deixar de merecer o nosso aplauso e consideração. Agora, é preciso passar das intenções para a realidade. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Fev19

Banda de Vouzela, 147 anos

Sociedade Musical Vouzelense mais uma vez de parabéns Fevereiro é mês de aniversário na grande casa que é a Sociedade Musical Vouzelense (SMV), que este ano assinalou 147 anos de existência, em duas vidas. Assim aconteceu no sábado, dia 8, durante todo o dia. De manhâ, as atenções viraram-se para as actividades religiosas, para a recordação de quem já partiu e para os actos solenes, em sessão na sede nova, a que se seguiu um agradável almoço e um saudável convívio. De tarde, as ruas e o Cine-Teatro João Ribeiro foram o palco escolhido para a Banda mostrar a sua arte e que é muita como se sabe. Com a chuva a dar tréguas, até o tempo deu o seu bom contributo, em cada um dos desfiles, a caminho da Igreja para a Missa Solene, e, posteriormente, para o Concerto. Ainda com a imagem, sempre brilhante da ida ao Palácio de Belém, a música que se foi ouvindo em cada ponto destas cerimónias trazia sempre essa boa carga de alta qualidade. Em emoção, a romagem ao Cemitério, para evocar quem ali se encontra, depois de ter feito parte desta enorme família, teve também um significado muito especial. No seu ar de felicidade, notava-se que o Presidente desta SMV, Luís Paiva, e seus pares eram a prova de que este 147º aniversário estava a correr bastante bem. Para o Presidente, dois momentos, na sessão solene, foram de altíssimo valor. Foram eles a apresentação da fotografia oficial, assinada pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e o descerramento do brasão em pedra, uma oferta do saudoso Aurélio Cosme que seus filhos acabaram por apresentar a todos os presentes. Como sempre, o Concerto à tarde, em que se tocaram seis peças de muito nível e com uma boa maestria de Diogo Tavares (que inclusivamente deu à estampa a sua última composição “Acácio Silva”, para recordar os 60 anos de música deste executante, ali presente),encheu os corações e a alma de quem teve a sorte de tudo escutar. Entretanto, assegurou-se ali o futuro ao entrarem em cena mais nove novos músicos, frutos da parceria com a Jobra, como acentuaram Luís Paiva e o Presidente da Câmara, Rui Ladeira. Com mais de 50 executantes neste momento, a SMV precisa agora de uma farda nova e esse apelo ecoou por toda a sala. Assim como se ouviu a gratidão demonstrada aos anteriores Maestros Fernando Silva e Armando Neves e ao Compositor Amílcar Morais. Daqui a trés anos, assinalar-se-á século e meio de vida. É muito tempo e do bom. Carlos Rodrigues, parcialmente in “Notícias de Vouzela”, Fev2019

A floresta e novas organizações, UGF

Unidades de Gestão Florestal Novos programas para a nossa floresta Com os montes a mostrarem a devastação dos incêndios de 2017 e outros, a nossa floresta ainda se encontra praticamente ao abandono e a piorar de dia para dia. Com muita legislação produzida, em concreto pouco se tem feito e também não são fáceis as soluções. Mortas as árvores autóctones e as respectivas manchas que, nalguns locaiapresentavam com enorme potencial económico e ambiental, destruídos os pinhais, queimados os eucaliptais, só estes têm despontado em assustadora progressão geométrica. O resto ou é um deserto, ou um campo selvagem de silvas e outras infestantes. Foi a pensar nestes problemas que a Cooperativa Três Serras organizou, na passada sexta-feira, dia 7, em Vouzela, uma reunião e debate para apresentação de um novo programa, as UGF – Unidades de Gestão Florestal, criadas pela Lei 111/2017 e que, agora, se encontram em plena discussão, havendo já aguns exemplos da sua criação, como a de Nelas. Pena foi que esta acção tivesse tão pouca gente, quando é altamente necessário mostrar as virtudes (e também os defeitos) destes mecanismos de gestão florestal. Por outro lado, importa que se desmonte a lei e se ofereça aos potenciais aderentes as propostas que se pretendem alcançar de uma forma que toda a gente entenda e se mostre atraente e realista. Na mesa que presidiu a estes trabalhos, estavam Carlos Oliveira, em representação do Município, António Minhoto, da Florestal/Nelas, António Bica, proprietário e advogado e Eng. Rui, da entidade organizadora, a Cooperativa Três Serras. Feita uma perspectiva histórica e abordada a questão do despovoamento e seus impactos nas nossas matas, autênticos minifúndios, muito repartidos e de áreas altamente reduzidas, chegou-se à conclusão que é necessário encontrarem-se formas e mecanismos de gestão que rentabilizem estes mesmos territórios. Criticaram-se ainda os poderes públicos que, durante décadas e séculos, nada fizeram pela defesa de uma agricultura e silvicultura rentáveis, investindo, pelo contrário, todas as fichas na industrialização do litoral. Por outro lado, neste momento, ainda os espaços ardidos estão cheios de detritos a impedirem mesmo que se avance para o seu aproveitamento. Com enormes potencialidades em possíveis e diversificados aproveitamentos, as Unidades de Gestão Florestal (UGF) nasceram para ser possível, em associações ou cooperativas, dar força aos investimentos em múltiplas áreas, desde a plantação de árvores aos usos e costumes habituais, como a exploração de mel, do turismo e das culturas agrícolas tradicionais, ou outras. Com o possibilidade de cada proprietário aderir ou não, o certo é que quem entrar neste esquema não perde nada dos seus terrenos, participando antes na sua rentabilidade, na proporção dos seus espaços e das condições em que se encontram no momento da entrada neste esquema e programa de gestão. Completando as ZIF – Zonas de Intervenção Florestal, estas UGF viram-se mais para os interesses individuais. Cada proprietário pode entrar com parcelas até 50 ha, por número, sendo que a área territorial mínima para se constituir uma UGF deve ser de 100 hectares e 5000 máximo. Sendo um processo livre e voluntário, importa que os esclarecimentos se aprofundem e se desfaçam todas as dúvidas, de modo a que o processo avance de uma forma aberta e solidária. Porque a floresta não pode ficar como está, há que procurarem-se soluções que sejam do interesse de cada uma de nossas comunidades e suas diversidades. NOTA – Em tempos de Inverno, está a estranhar-se que o Estado esteja a exigir uma série de requisitos, tidos como altamente inconvenientes para pedir a respectiva autorização, quanto a queimadas de resíduos nos diversos espaços territoriais. Para esse efeito, é preciso contactar-se os Serviços de Protecção Civil, dez dias antes, e ter no acto a presença de um técnico de fogo controlado, uma equipa de bombeiros ou de sapadores. Isto é carga a mais sobre o ombro de quem já está cheio, até ao tutano, de obrigações atrás de obrigações, muitas delas sem qualquer retorno útil para tão depauperadas economias domésticas, olhando para esta estação do ano. Lá mais para a frente, não diríamos nada disto, bem pelo contrário. Mas há épocas para tudo. Neste sentido, o nosso conterrâneo de Pinheiro de Lafões, Henrique Pereira dos Santos, veio, recentemente, insurgir-se contra esta mesma medida, ao criticar que se tenha pedido aos párocos para tal avisarem nas Missas... Valha-nos Deus!... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Fev19

domingo, 3 de fevereiro de 2019

Lafões repartido por várias esferas de decisão...

Um território a necessitar de se repartir por vários locais Incongruências com anos e séculos de existência Nestas andanças em busca de decisões de carácter superior para o ramo da agricultura, das autarquias, da educação, da justiça e outras áreas, as diversas regiões do país dividem-se em redor de blocos, que, muitas vezes, as partem ao meio. Um dos exemplos claros e evidentes acontece no nosso próprio distrito: parte dele, inclui-se na Região Centro, com 14 dos seus concelhos, e dez juntam-se ao Norte. Desta forma, vivem sob regras e programas diferenciados e a unidade distrital desfaz-se cada vez mais. Aqui há uns anos, no Congresso Viseu Século XXI, o Eng. Armínio Lemos Quintela, um nosso bom amigo, no que se refere ao Sector Agrário – Assimetrias e Desenvolvimento, acentuava a ideia perniciosa de que “ A divisão actual, ao fazer coincidir as áreas territoriais das Regiões Agrárias com as Delegações Florestais (anteriormente designadas Circunscrições Florestais), levou à repartição do distrito de Viseu por três Regiões Agrárias, com sedes no Porto, Vila Real e Coimbra, ficando no distrito só três Zonas Agrárias e outras tantas Florestais com base em Lamego, Viseu e Tondela, enquanto em outros distritos, em vários casos, as sedes das Zonas Agrárias e Florestais estão em concelhos diferentes, embora com área territorial comum”. Em matéria de consequências, retira, de imediato, vários aspectos negativos, nesta frase lapidar “ Tal incongruência tem conduzido ao estrangulamento e à fragmentação de zonas de produção homogénea por diversas regiões, originando, por vezes, tratamentos diferenciados e contraditórios para os mesmos produtos regionais” Em casos mais pormenorizados, só a Serra do Montemuro se divide pela Beira Litoral – Castro Daire, Cinfães e Resende – Entre Douro e Minho, Lamego – Trás-os-Montes e Alto Douro. No ano de 1999, os programas de fomento florestal na região Dão-Lafões, além dos 14 municípios habituais, tínhamos ainda os de Aguiar da Beira (Guarda) e Tábua (Coimbra), que, aliás, são parte também da Associação de Municipios da Região do Planalto Beirão, para recolha e tratamentos de resíduos sólidos. Recuando aos anos de 1992/94, com os Programas de Desenvolvimento Agrícola Regionais (PDAR) e outros, os concelhos de Oliveira de Frades e Vouzela foram postos num lado e S. Pedro do Sul, noutro. Esta metodologia seguiu-se no LEADER, em que parte de S. Pedro do Sul se associa à ADRIMAG e os outros dois encaixam-se totalmente na ADDLAP. Também na educação estas disparidades são a regra, com a anexação às zonas centro e norte do tecido educativo distrital. E o mesmo se pode dizer de vários outros sectores. Em turismo, são três os polos pelos quais se foi espalhando o nosso distrito, com Mortágua a unir-se a Coimbra, grande parte ao Dão-Lafões e o norte ao Porto. Cabe, nesta análise, uma palavra especial para a nossa própria sub-região de Lafões, que junta aos três concelhos de base algumas outras freguesias retiradas de Castro Daire, parte de Alva e Gafanhão; Ribafeita e Bodiosa (Viseu) e Cedrim e Couto de Esteves (Sever do Vouga). Naquilo que à justiça se refere, cada concelho pode muito bem ter de se dividir por várias instâncias, nomeadamente com os menores, trabalho, administrativo e fiscais, juízos vários, etc. Nada disto seria prejudicial se, com estas divisões, os cidadãos não perdessem algo com todas estas separações. Vejamos um exemplo mesquinho: se precisar de algo de maior sobre educação lá vai para Coimbra, se, no mesmo dia, necessitar de matérias de índole jurídica pode muito bem ter de avançar para Viseu. E assim por aí adiante. Logo, estas questões não são apenas banalidades para encher papel. Não. São uma realidade que pesa sobre os ombros de cada um de nós em cada dia de nossas vidas. Por isso mesmo, merece estas e outras considerações e, sobretudo, a acção e o cuidaddo de quem tem a missão de planear e decidir. Pensamos mesmo que urge fazer-se um estudo a sério que olhe para estes temas, de uma forma integrada. Carlos Rodrigues, Notícias de Lafões, Jan19

Património de Lafões a morrer aos bocadinhos...

Casas senhoriais e património ao abandono É uma tristeza vermos, pelas nossas terras além, magníficos exemplares de arquitectura, carregados de história e património em estado lastimoso, em destruição quase completa uns, em degradação constante muitos outros e quase desfeitos tantos mais. Sendo chaga que não nos atinge só a nós, os que temos o privilégio de viver em Lafões, um jardim melhor que todos os outros, tal como escrevia Correia Severino “... E não há no mundo um lugar assim... “, não deixa de ser doloroso toparmos esta realidade. Com um mapa à mão, citando praticamente de memória, começamos logo por Santa Cruz da Trapa, onde, à beira da estrada que liga S. Pedro do Sul ao Porto, pela serra, se encontra o Solar dos Malafaias a gritar, com toda a força, por salvação. Ao que se sabe, o seu proprietário fundador, cansando-se do barulho que lhe apareceu com esta nova via, decidiu desfazer-se dele para ir de abalada até Serrazes, localidade onde ergueu novo palácio, este ainda aceitavelmente conservado. No entanto, mantém um estigma e uma mancha, o do célebre crime de Serrazes dos inícios do século XX, que teima em não se apagar. Partimos para o concelho de Vouzela e ali, a caminho de Carvalhal de Vermilhas, na Corujeira, há um outro edifício imponente que também olha para nós a pedir compaixão. Comparando-se com o Solar dos Saldanhas, no centro de Cambra, que foi magnificamente restaurado, quase se sente cada vez mais só e abandonado. Avançamos para o município de Oliveira de Frades, onde, por exemplo, na freguesia de Arcozelo das Maias, em Quintela, o Solar do Ribeiro se mostra praticamente em ruínas. Nos últimos dias, soubemos uma boa notícia: é que já houve alguém que adquiriu parte daquele magnífico imóvel com vista ao seu restauro e uso compatível com o seu passado. Em seu redor, menos vistosas, há todo um conjunto de casas de grande marca que se encontram, em triste sinal dos tempos, ou praticamente destruídas ou quase a cair. Dentro delas, nalgumas, espreitando pelo canto do olho, notam-se peças de inegável valor, como um lagar de varas, ainda em bom estado e outros pormenores. Mais à beira da Barragem de Ribeiradio, uma boa casa solarenga, em Virela, ameaçava seguir o mesmo destino fatal, mas a salvação parece estar a caminho, por ter sido adquirida para fins turísticos. Boa ideia é esta! Em Pereiras e em Antelas, imóveis de grande valor caem como tordos. Num imenso rol de património em decomposição, seria longa a lista a colocar aqui. Estes são alguns lamentáveis exemplos. Mas queremos terminar este trabalho com uma boa notícia: em Fornelo, Arcozelo das Maias, o seu velho solar, embora com muitos erros e falhas, está de pé e com vida. Assim acontecesse com todos os demais. Carlos Rodrigues, Notícias de Vouzela, Jan31

Uma tradição popular, a da matança do porco, que se mantém...

Na Sobreira Matança de porco com laivos de tradição A meio da tarde, um tanto a contrariar tempos antigos, que essa operação era feita de manhã bem cedo, descobrimos, recentemente, a matança de um porco na povoação da Sobreira, Oliveira de Frades. Como já vai sendo raro ver uma operação destas a mobilizar uma família, sendo que, por estes tempos, estes animais são mortos de um modo algo profissional, tal facto despertou a nossa curiosidade. Feita a paragem obrigatória, ali estivemos uns minutos em observação e diálogo. Tal como acontecia outrora, o carro de vacas serviu de ponto de apoio para a respectiva matança. Retirado o cevado de seu curral, que comera petiscos caseiros em grande parte da sua vida e isso é que lhe confere aquele sabor sem igual, foi agarrado e levado para o sítio da sua morte. Estrategicamente colocados, os membros da felizarda família distribuíram-se pela segurança das patas, da frente e de detrás, do focinho e lá se avançou para a operação final. À falta da carqueja, que era usada como material combustível para chamuscar o porco e lhe fazer desaparecer os pelos, foi o maçarico a gás que foi utilizado. Concluído esse trabalho, um outro se lhe seguiu: a lavagem a sério com as telhas e as pedras, as facas velhas a esfregarem todo o seu corpo. Branquinho, bem asseado, uma outra modernidade veio ao de cima: há anos, a força dos braços fazia com que se dependurasse, direitinho, de cabeça para baixo, o que, por estas alturas, se faz com a ajuda de um garibalde (guindaste), uma máquina elevatória. De imediato, porque de um porco nada se perde, se tratou de aparar o sangue, matéria-prima de excelência para o celebérrimo sarrabulho. Para arrefecer, antes de vir a ser desmanchado, ali se manterá por umas horas, em zona fresca e arejada. Tradição, economia e sociabilidade A matança de um porco, nas nossas aldeias, é muito mais do que esse acto em si. Fruto de um aturado trabalho para o engordar, o dia em que ele desaparece converte-se numa tradição secular que anima a vida das famílias e da comunidade local. Se agora já não há propriamente uma época própria (fruto da modernidade e das arcas frigoríficas) que era, antigamente, quase sempre por alturas do Natal, neste caso ainda se olhou para o tempo fresco. Mas é certo que a salgadeira e as panelas do lombo e dos rojões já não são tão usadas. Sendo um contributo essencial para a economia de cada casa, tem, além da função alimentar, uma função social de relevo: ter uma certa quantidade de bons porcos mostra, de certa forma, o estatuto da família que os detém. Ou seja, pelo número destes animais se avalia, um pouco, a sua abastança ou não e ainda o número de elementos que vivem sob um mesmo tecto. Com um ritual próprio, na véspera o porco já não tem direito a ser alimentado, em regra. Depois de morto, as suas iguarias são mais do que muitas: logo no dia da desmancha, as féveras na brasa são um pitéu de se lhe tirar o chapéu. Vem depois a rojoada, ou sarrabulhada, a grande festa, em que o sarrabulho, que nada tem a ver com o de Braga e arredores, o arroz de míúdos, o farto cozido, a chouriça, a morcela, os rojões, o lombo e o fígado, os bolos, as castanhas cozidas, os vinhos caseiros, fazem parte da farta mesa, com muita conversa e convívio à mistura. Tal como Virgílio Ferreira, também nós sentimos uma certa nostalgia, própria das nossas vivências da criancice e juventue, pelos“... Episódios como o vinho novo, a matança do porco (que) assinalam regressos/presentificações de um passado que marcaram o narrador e que ele recorda com profunda intensidade (em) viagens temporais”... Carlos Rodrigues, Notícias de Vouzela, Jan19

Lafões perdeu um homem da música nacional

Com a morte de José Lopes da Silva Lafões perdeu um vulto da sua cultura Nascido em 1937, na desaparecida Quinta do Calvel, ali entre Antelas e Santa Cruz, concelho de Oliveira de Frades, José Lopes e Silva cedo compreendeu, como dizia, pelo som da água a correr pelas serranias, pelo chilrear da passarada, que a música seria o seu destino. Deixou-nos neste mês de Janeiro de 2019 e com ele Lafões e o país perderam um grande artista, que espalhou a sua criatividade e obra por esse mundo fora. Nesta casa, neste “Notícias de Vouzela”, esteve inúmeras vezes para falar dos projectos e das realizações que ia conseguindo. Dessas suas vivências, aqui fomos dando eco. Sendo um nosso bom amigo, recordamo-lo para sempre com uma grande saudade. Tendo crescido até à idade escolar na citada Quinta, dela apenas saía para ir à escola ou à missa. Um dia, decidiu dar um passo em frente e lá foi para Lisboa, onde encontrou abrigo e trabalho, como marçano, em casa de seus familiares. Mas o seu sonho da música falou sempre mais alto. De início, ainda conciliou essas tarefas com os estudos musicais. Porém, quis dedicar-se de corpo inteiro à arte que lhe invadia toda a sua vontade. Meio dito, meio feito. Sem preocupações cronológicas, fez os estudos de guitarra clássica, no Conservatório Nacional de Lisboa, com Emílio Pujol. Com bolsas do Instituto Cultural de Madrid e da Fundação Calouste Gulbenkian, fez mais cursos em Santiago de Compostela. Em 1962, dá aulas no Conservatório de S. Paulo, Brasil. A partir de 1970, dedica-se ao estudo de música contemporânea, sendo um dos fundadores do Grupo de Música Contemporânea de Lisboa e do Grupo Quadrifonia. No ano de 1972, exerce funções docentes no Conservatório Nacional de Lisboa, onde permanece durante um largo período. Participou, entretanto, em festivais internacionais diversos, tais como em Israel, Brasil, Espanha, França, Alemanha, Polónia, Finlândia e tantas outras paragens, sem esquecer, como é óbvio, o seu Portugal. Em 2012, assinala 50 anos de carreira e lança mais uma das suas inúmeras iniciativas: as Guitarríades XXI, levando-as a Lisboa, Cascais, Estoril, Santarém e outras localidades, em parcerias que foi estabelecendo com os amigos de sempre. Personalidade relevante na música portuguesa, nunca esqueceu as suas origens. Se estas foram o seu ponto de partida, a elas regressou, nos seus últimos anos de vida, para continuar a sua obra de criação de uma dimensão e nível incomparáveis. Mesmo na vazia Quinta do Calvel quis perpetuá-la para sempre em gravações que deixou para a eternidade. Com uma obra enorme, José Lopes da Silva, despedindo-se de nós, não nos deixou órfãos, que o seu legado é eterno. Carlos Rodrigues, Notícias de Vouzela, Jan19