sexta-feira, 26 de abril de 2019

Como Lafões responde às crises

As respostas às crises em Lafões Com as perspectivas económicas a dizerem que ainda não estamos a salvo da última crise, podendo os alertas virem a chover de novo, nenhum espaço territorial português está a salvo de outros e perigosos estremeções. Com receio do que possa vir a acontecer, as previsões de crescimento, na Europa, no mundo (FMI) e Portugal, têm vindo a descer de projecção para projecção. Só com respostas seguras se consegue sobreviver, se algo de pior vier a acontecer. As grandes metrópoles já começaram a desenhar programas para enfrentar quaisquer turbulências que venham a surgir. Sem sabermos se são as melhores, porque o turismo a sério depende muito das condições financeiras de quem o pratica, os alojamentos locais, talvez demais e a esmo, parecem ser a almofada que trave esses eventuais desastres. Com a conversão de muitos edifícios em infraestruturas hoteleiras, o mealheiro tem aí, assim se crê, a ranhura aberta para continuar a receber as boas moedas. Por outro lado, as zonas de maior intensidade turística estão um pouco já salvaguardadas. Pergunta-se agora: e Lafões o que está a fazer? Com motivos de sobra para serem oferecidos a quem nos visita, aqueles que ninguém daqui arrancará são as paisagens, a geografia e orografia, os monumentos, a nossa hospitalidade as águas termais, uma gastronomia de sonho, as novas e velhas propostas culturais, sendo necessário tirar-se o devido resultado destas condições. Um dos caminhos passa pela construção de capacidade hoteleira e de restauração de qualidade, onde abundam, sobretudo nas Termas de S. Pedro do Sul, exemplos de bom quilate. A juntar aos tradicionais equipamentos, surgiram, como está a acontecer um pouco por todo o país, ideias e concretizações em termos de alojamento local que começam a fazer história. Concelho a concelho, citamos alguns desses locais, em jeito de antigas freguesias, onde podemos encontrar esta modalidade: em Oliveira de Frades – Vila, Souto de Lafões, Arcozelo das Maias, Pinheiro de Lafões e S. Vicente de Lafões; em S. Pedro do Sul – Várzea (Termas), Cidade, Santa Cruz da Trapa, S. Martinho das Moitas, Valadares, Carvalhais, Sul, Covas do Rio, Manhouce, S. Cristóvão de Lafões, Candal e Serrazes; em Vouzela – Vila, Paços de Vilharigues, Figueiredo das Donas, Cambra e Fataunços. Quanto a sítios onde comer, a lista é bem maior, porque, a par destas novas propostas, temos as antigas que foram capazes de resistir à força trituradora dos tempos. Com pitéus que fazem a delícia de quem os saboreia, eis a vitela de Lafões, o frango do campo, o cabrito da Gralheira, os rojões tradicionais, a sopa seca de Alcofra, sem esquecer a pastelaria e doçaria variada, como se comprova com as recentes candidaturas apresentadas recentemente por cada município. Aproveitando as boas vias de comunicação que nos servem, está nas mãos de todos nós potenciar a angariação de clientela. Sabemos que quem vem leva daqui boa imagem e essa publicidade, boca a boca, é uma via publicitária de extraordinário alcance. Para lhe dar vida e cor, nada melhor que as boas maneiras e a excelência dos produtos e serviços prestados. Acreditando que esses ingredientes nunca faltam, estão abertas as portas para um futuro seguro. É nisso que acreditamos para bem de toda a nossa região. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Abril 2019

EN 16 em petição pública

Petições públicas e necessidades Uma EN 16 de cara nova, bem lavada e bem fardada será o folar de uma Páscoa qualquer. Quando? Desde que não seja para as calendas gregas, qualquer data é boa para se receber prendas desta grandeza. (...) Nestes últimos dias, assistimos ao lançamento de uma petição pública destinada a gritar por obras no troço da EN 16 entre as Termas de S. Pedro do Sul e Vouzela e vice-versa. Bem justificada, tal o degradante estados daquela via, em nosso modesto entendimento, só pena por não ser mais audaciosa esta reivindicação. Olhando, globalmente, para toda esta estrada, de S. Pedro do Sul, por exemplo, até Pessegueiro do Vouga, toda ela bem merece uma visão e uma acção de fundo. Presumimos e sentimos que nos vão argumentar que a zona em questão está bem servida pela A25. Verdade, em parte, mas não mostra toda a realidade. Dir-nos-ão ainda que, há anos, houve trabalhos de beneficiação entre Ribeiradio e Oliveira de Frades e, há bem mais tempo, entre Pessegueiro e os estaleiros da Barragem. Outra questão que não oferece discussão. Só que, num e noutro caso, não se foi além de uns remendos, de uns pedaços de ganga nova, quando se precisa de um fato novo, talhado com vistas largas e que sirva, estruturalmente, esta região. Ou seja: com potentes máquinas, ponham-se abaixo barreiras, tirem-se curvas e alargue-se o piso em toda ela. O ideal seria mesmo a sua conversão numa via de quatro pistas, em alternativa segura e credível à citada A25. Ouvimos dizer, com agrado, que, mais tarde, ou mais cedo, se pensa em avançar-se para a parte que vai de S. Pedro do Sul para Viseu, servindo ainda o concelho de Vouzela. Essa é parte boa desta equação, mas não deixa, por isso, de ser curta demais. Falando-se no município de Oliveira de Frades, deve notar-se que cerca de 75% da sua população tem na EN16 a sua estrada de sempre, desde a velha ER 41 da monarquia à via que hoje existe. As freguesias de Ribeiradio, Arcozelo das Maias, Pinheiro de Lafões, União Oliveira de Frades/Souto de Lafões/Sejães e ainda S. Vicente de Lafões bem atestam esta verdade. Não querendo nós estragarmos o efeito pretendido com a citada petição pública, se ela se alargasse a estas pretensões melhor seria. De qualquer maneira, em exercício de uma activa cidadania, o exemplo deixado por esta tomada de posição, ao fazer escola, bem pode ser o princípio de outras atitudes do mesmo género. As boas causas são para ser seguidas e louvadas e esta é uma delas. Agora, não deixamos de pensar e sonhar assim haja bons padrinhos. E é destes que precisamos. Carlos Rodrigues, NV, Abril 2019

Egas Moniz e a sua ligação a Alcofra

EcosAbril2019 Alcofra não se esquece deste seu herói Egas Moniz, 70 anos depois do Prémio Nobel Médico e cientista, Egas Moniz, de seu nome completo António Caetano de Abreu Freire, que, em 1949, recebeu o Prémio Nobel da Medicina ex-aequo, tem profundas e maternais ligações a esta nossa região de Lafões. Educado por seu tio e padrinho, o Reverendo Caetano de Pina Rezende Abreu de Sá Freire, entendeu este juntar ao afilhado “Egas Moniz”, para vincar uma desejada costela mais nobre. Tendo nascido a 29 de Novembro de 1874, faleceu no dia 13 de Dezembro de 1955. Sua mãe, Maria do Rosário de Almeida Sousa Abreu, tinha raízes em Alcofra, na Quinta do Carril, sendo filha de Rafael de Almeida e Sousa, um lutador notável pela causa liberal no século XIX. Num ano em que se assinala o 70º aniversário de tão alta distinção, por esta zona preparam-se comemorações à altura da dignidade desse acontecimento. Figura multifacetada, Egas Moniz, dividiu a sua vida pela política, pela medicina e investigação, depois de ter andado de um lado para o outro em termos de formação académica. Entalado entre dois pólos sociais e políticos antagónicos, da parte da família de seu pai havia uma clara inclinação para posições absolutistas, enquanto que os ares de Alcofra levavam para direcções totalmente opostas. Consta que seu avô materno nunca se deu por rendido à ideologia vivida na mansão do Marinheiro, sempre que ali se encontrava o avô paterno. A certa altura, seu avô Rafael chegou a ter este desabafo: “Não pertenço a esta Casa, não respirei este ar de planície, menos agreste e menos excitante do que o da minha Alcofra”. Assim o confessou o próprio Egas Moniz na sua grande obra literária, páginas 383/384. Se Alcofra lhe era terra querida, em Avanca passou a sua infância. Mas, desde cedo, foi viver para casa de seu tio, na altura Abade de Pardilhó. Aqui frequentou a escola do Padre José Ramos, tal como relata no seu livro “ A nossa casa”, do ano de 1950. Tinha, porém, na citada Casa do Marinheiro, hoje Museu, o local preferido para suas brincadeiras e momentos de férias. Entretanto, passou pelo Lobão, por Avelar, pela Torreira em banhos. Estamos convictos que a Alcofra, na sua infância e juventude, não veio muitas vezes. Caso contrário, tê-lo-ia dito no seu livro. No entanto, esta terra nunca por si foi esquecida e a ela voltou já mais maduro, como, por exemplo, em 1953, ano em que ali foi recebido triunfalmente, acabando por ser designado seu “cidadão honorário”. Já debilitado de saúde, dizem que, quando ali ia ou passava, pedia que lhe trouxessem um copo de água da sua Quinta do Carril. Entretanto a sua primeira vinda data do ano de 1939... Nestas suas andanças, a certa altura, vê-se confrontado com vários problemas financeiros no seu agregado familiar, que levaram à “hipoteca” da casa de Avanca e outros haveres, que o Tio veio a comprar e assim continuou nas suas mãos. Foi tão forte esse abalo que seu Pai, alegando não poder pagar os estudos de seus filhos, decide mesmo emigrar para Moçambique, instalando-se na Beira. Para agravar todo este quadro, a morte apanhou-o nessa terra distante algum tempo depois. Por ironia do destino, também Miguel, um dia, segue o mesmo destino e ali acaba por falecer, assim se juntando, no Além, a seu Pai. Na história de Egas Moniz em termos de carreira académica, citam-se os tremores antes do exame na Escola Conde de Ferreira, de Estarreja, onde concluiu a antiga quarta classe. Veio depois o Colégio de S. Fiel, no distrito de Castelo Branco (onde ficou com o número 66), da responsabilidade dos Jesuítas que”sabem ensinar”. E foi esta uma das razões que ali o levou. Outra, tinha a ver com o desejo de o verem seguir funções eclesiásticas. A certa altura, juntou-se a seu irmão Miguel, em Viseu, para prosseguir os estudos, dizem que para evitar gastos duplos, quando, como dissemos, as agruras económicas bateram à porta de sua família. Foi nesta nossa cidade que soube da morte de seu Pai, pelo que este já não assistiu à sua ida para Coimbra, nem à sua fulgurante carreira académica e política. A vida agitada de Egas Moniz Antes de se instalar em Coimbra, onde concluiu o seu curso de Medicina, tendo ainda sonhado com uma carreira militar (talvez recordando seu avô paterno), passou por várias peripécias, andando, como vimos, de um lado para o outro, com o tio-padrinho a ter sempre uma mão protectora. Sendo uma espécie de seu banco e ainda de seu irmão Miguel, muitas das decisões que Egas Moniz tomou na sua vida passaram pela opinião do Reverendo Caetano. Ao partir para a cidade dos estudantes no ano de 1891, este jovem, se leva a ideia de estudar, jamais deixou de se ligar às farras próprias desta academia, vivendo mesmo numa República com todo o ambiente que tal implica. Ele assim se confessa: “ Às quartas e sábados não se pegava num livro. Eram vésperas de feriado. Ia-se à Baixa ao Café do Marques Pinto, onde as arruaças aos caloiros eram insuportáveis, mas todos gostavam de ir... “. Para evitar males maiores, os “padrinhos” lá estavam para os ajudar sempre que a trupe os topava na rua. Entra aqui uma faceta de Egas Moniz que nem sempre é conhecida: o seu amor pela canção coimbrã, sendo conhecido do Hilário, o grande estudante do fado e natural de Viseu, que, aliás, haveria de morrer muito cedo. No curriculum do nosso conterrâneo, inscreve-se ainda que foi Presidente da Tuna e com este Grupo viajou muito por Portugal e pela Galiza, em espectáculos diversos. Concluído o curso (1899), sendo que, a meio, ainda pensou vir a ser Professor liceal, que só não avançou pelo facto de a sua família o ter disso desviado, iniciou-se uma notável carreira de cientista e de político. Tendo leccionado na sua Faculdade de Medicina, a certa altura saltou para Lisboa onde afirmou todo o seu valor. Em 1911, assume a Cátedra de Neurologia, já na capital, na recém Faculdade de Medicina. Foi a invenção de um procedimento neurocirúrgico, a leucotomia pré-frontal, que o haveria de guindar ao estrelato como médico e investigador. Com várias nomeações para Prémio Nobel, desde 1928 em diante, atinge esse objectivo no ano de 1949. Nesta área da medicina e da cirurgia, passou ainda por Paris e Bordéus. A propósito do seu Prémio Nobel, logo nesse ano, a Assembleia Nacional, pela voz dos deputados Lima Faleiro e Sousa da Câmara, presta-lhe uma grande homenagem. Em outros palcos, a sua figura recebeu as mais altas distinções, em condecorações, toponímia, centros de investigação em sua memória, tendo sido mesmo patrono de um Hospital com seu nome. A par destes feitos médicos, teve ainda uma forte passagem pela política, tendo sido fundador do Partido Republicano Centrista, Embaixador de Portugal em Madrid, Ministro dos Negócios Estrangeiros, Presidente da Delegação Portuguesa na Conferência da Paz, após a 1ª GG, e um dos apoiantes de Sidónio Pais. Entretanto, em 1901, casara com Elvira de Macedo Dias, em Canas de Sabugosa, mas não chegaram a ter filhos, alegando Egas Moniz que, consigo, se acabara a sua linha familiar. Sofrendo a dureza da “gota”, suas mãos vieram a ficar de tal maneira deformadas que o obrigou a deixar de operar. A sua vida descreveu-a no referido livro “ A nossa casa” e mostra-se no Museu em Avanca, com muitas alusões à sua obra e ao seu amor pela arte ali exposta. Com imensa bibliografia onde se fala de si, nem toda ela é abonatória. O seu grande feito, a lobotomia pré-frontal, tem sido bastante criticado em vários círculos da ciência médica e cirúrgica. Seja como for, no seu tempo, a sua inovação foi de um valor incalculável, tal como se justifica com o Prémio Nobel que lhe foi atribuído. Por tudo isto, Alcofra está a mobilizar-se para assinalar os 70 anos deste feito, numa série de iniciativas que têm, inclusivamente, o Alto Patrocínio do Presidente da República, Professor Marcelo Rebelo de Sousa. Carlos Rodrigues

Baldios em Campia

Campia com uma extensa área Os baldios com força nas nossas aldeias O regime de exploração de baldios, ou terrenos maninhos, tem séculos de história e muita controvérsia. Sem se saber bem quem os deve explorar, reconhecemos que há uma corrente de opinião que defende, com todas as suas forças, a gestão por cada lugar(es) que os detêm. Nesta linha, se inserem o saudoso Jaime Gralheiro e Manuel Rodrigues, dois ilustres lafonenses que a este tema têm dedicado uma grande atenção. Se JG, de S. Pedro do Sul, já se não encontra entre nós, a sua obra póstuma o atesta. Quanto a MR, de Fornelo/Arcozelo das Maias/Oliveira de Frades, continua com o vigor de sempre na luta por estas e outras causas. O mesmo se pode dizer de João Carlos Gralheiro, filho de peixe, que a este tema também vem consagrando parte de seu tempo e devoção. Se bem que baldios e maninhos se confundam, em conceito, muitas vezes, começaram, porém, a balizar-se e a individualizar-se estas realidades, sobretudo a partir do século XVIII. A partir dessa época, consagraram-se as respectivas diferenças. Em linhas gerais, por baldio passaram a entender-se os terrenos no uso e posse das comunidades que os possuem, uma ou várias povoações, reservando-se para os maninhos os espaços tidos como incultos, públicos ou mesmo privados. No meio de imensas e duras controvérsias, ora a prevalecer uma tese, ora outra, é certo e sabido que estas questões dos baldios têm feito correr muita tinta. Em Portugal, após 1974, os debates e as polémicas têm sido mais que muitas. Com a entrada em cena das Assembleias de Compartes e respectivos Conselhos Directivos, muitas povoações assumiram o seu controle. Mas casos há em que as Juntas de Freguesia, até por omissão, ou falta daquelas estruturas associativas, os mantêm na sua posse. Um caso curioso que despertou a nossa atenção, ontem e hoje, está relacionado com a freguesia de Campia, do concelho de Vouzela, onde os baldios ocupam uma boa parte da sua área territorial, gerando, mais em tempos idos que agora, boas maquias para as respectivas entidades gestoras. Se, na actualidade, predominam os Conselhos Direectivos, houve uma época, não muito distante, que estavam sob a tutela da Junta de Freguesia, daí tirando imenso proveito. Anos houve em que o seu orçamento chegou a ser maior que o da própria Câmara Municipal, isto antes do 25 de Abril e das novas leis de financiamento das autarquias locais. Na pesquisa que temos vindo a fazer, deparámo-nos com uma “Escritura de divisão e demarcação dos baldios da freguesia de Campia entre esta e a Câmara de Vouzela em 30 de Junho de 1921”. Vê-se, neste documento, que uma outra entidade, esta à escala municipal, também chamou a si a titularidade destes espaços. Para pôr preto no branco, sentaram-se à mesa, nesse dia, o primeiro outorgante, Custódio Ribeiro Pereira d’ Amorim Girão, na qualidade de presidente da Comissão Executiva da CM deste concelho, e Agostinho Lopes Santos, como presidente da Junta de Paróquia campiense. Para a gestão municipal, passaram a ficar o baldio dos limites da povoação de Campia, com as respectivas confrontações bem definidas, regra que se aplicou a esta e todas as parcelas a citar: um trato de terreno nos mesmos limites; um outro nas Covas da Raposa; mais um na povoação da Igreja; uma parcela na Lomba das Queirozes; nos Passadouros; na Lousa; na Fonte Silbela; no Cabeço Grande; na Adside; na Lomba da Cruz; no Malhadouro; em Albitelhe; em Selores; em Cercosa; na Lomba da Rocha; na Lomba da Corga da Rocha; no Porto Souto; em Fiais; na Gândara; na Seixa; em Cambarinho; junto ao Rio Alfusqueiro; em Rebordinho; na Lomba do Açor; na Lomba Gorda; do Ramalhal à Quinta de José Bernarda; no Castro. Para não deixar dúvidas, escreveu-se: “ Todos estes tratos de terrenos mencionados e descritos ficam pertencendo à Câmara Municipal deste concelho e os restantes baldios da referida freguesia de Campia não mencionados nesta escritura ficam pertencendo à Junta de Paróquia... “. Assim se registou em 1921, perante as testemunhas Virgílio da Silva Giestas e José Custódio Tavares Júnior e do notário e chefe de secretaria José Ribeiro de Sousa. Como forma de melhor conhecermos estas problemáticas, aqui se deixa uma síntese deste importante documento, com duas notas: a propriedade dos baldios também em mãos municipais e o facto de as JF se designarem, ainda nos últimos anos da primeira República, Juntas de Paróquia. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Abril 2019

Números das Termas de S. Pedro do Sul

Viagem pelos números nas Termas Falar da idade das Termas de S. Pedro do Sul é um exercício complicado, porque teríamos de recuar muitos, muitos anos, na ordem de milénios. No entanto, em época, não temos quaisquer dificuldades em as situar no período romano, tempos em que atingiram um notável fulgor. Dessa constatação é testemunho o Balneário agora em fase adiantada de reconstrução e recuperação, num empreendimento de vistas largas e que só pecou por tardio. A «villa» do Banho também, em toponímia, nos oferece uma boa prova da sua continuidade até aos tempos de D. Afonso Henriques, a iniciar a primiera dinastia, e da Rainha D. Amélia quase a finalizá-la. Não é, propriamente, hoje de história que vamos falar. O nosso foco vai mais para as estatísticas e para a evolução da sua frequência em aquistas de termalismo clássico e de bem-estar, este a ser uma conquista bem mais dos nossos dias. Sendo o turismo de uma enorme importância na nossa economia, e, naquele, as estâncias termais têm uma certa palavra a dizer, em média nacional cada frequentador destes locais deixa neles, de acordo com Joaquim Antunes ( Turismo de saúde e bem estar, Escola Superior de Tecnologia/Instituto Politécnico de Viseu), 236, 1 euros, em valores de 2007. Indo mais ao pormenor, temos: Moledo – 522 euros; Felgueira – 380; Curia – 324; Monchique – 320; Luso – 305 (... ); TERMAS de S. PEDRO do SUL – 296; mais abaixo, Fadagosa de Nisa – 144; Eirigo – 143; Carvalhal (Castro Daire) – 137; Unhais da Serra – 101; Vale da Mó – 56. Numa outra esfera de análise, em Portugal, 78.9% de quem procura estes sítios, para bem-estar, frequenta os hotéis, cerca de 9 dias, enquanto os aquistas em tratamento ficam na ordem dos 15 dias. Seguindo a mesma fonte, é esta a dimensão dos utentes das várias estância termais nacionais, desde 1998, com 87054 pessoas; 1999 – 83548; 2000 – 85226; 2001 – 91186; 2002 – 95586; 2003 – 91757; 2004 – 89827; 2005 – 85841; 2006 – 80508 e 2007 – 80018. Ao verificar-se uma tendência descrescente, sobretudo nestes dois últimos anos, esta mesma trajectória acentua-se em anos posteriores, tal como podemos ver mais adiante, por exemplo, em concreto no que às nossas Termas se refere. Antes, porém, anotemos alguns tópicos que nos ajudam, talvez, a compreender estas quedas. Sendo este sector, em tempos, apoiado pelo Estado em comparticipações aos tratamentos, mormente desde 1976 a 1982, era natural que essas ajudas contribuíssem para maiores frequências. Acontece que, neste último ano, apenas resistiu a ADSE aos cortes verificados e até este sistema veio também a desaparecer já nos últimos anos deste século XXI. Finalmente, neste mês de Abril de 2019, acabou por ser reposta essa prática até 90 euros por utente para um período mínimo de 12 dias. Se as quebras se não podem explicar tão linearmente, estas achegas são parte dos suportes argumentativos que se podem encontrar. Ainda assim, temos 41 locais com termas, sendo 18 no norte, 19 no centro e 4 mais a sul, incluindo a Grande Lisboa, como nos relata Ália Joana Ferreira Grácio, in “ Turismo termal em S. Pedro do Sul, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2016”. Indicando que a sua atracção advém, num prisma global, para além dos tratamentos terapêuticos, das diversões, vida social, conforto hoteleiro, clubes e casinos e ainda das belezas naturais e dos equipamentos, constituem-se estes pontos em pólos de desenvolvimento local e regional. Falando das nossas Termas, eis a sua relevância hoteleira, a avaliar por estes números: ano de 2008 – 112 568 dormidas com 20707 hóspedes; 2009 – 124496/20663; 2010 – 117899/ 20414; 2011 – 135448/20832; 2012 – 123475/20206; 2013 – 120010/20323 e 2014 – 136630/20642. Para testemunharmos a referida diminuição do número de frequentadores nestas mesmas Termas, repare-se nestas valores: ano de 2004 – 25237 procuras de termalismo clássico; 2005 – 23375; 2006 – 19281; 2007 – 18135; 2008 – 17017; 2009 – 16650; 2010 – 19182; 2011 – 16345; 2012 – 13117 e 2013 – 12395. Entretanto, no Relatório de Gestão e Contas referente ao ano de 2014, apresentado pela Termalistur ( que foi constituída em 2004), alude-se a estes aquistas: ano de 2011 – 19078, com uma facturação média individual de 251, 88 euros, 2012 – 16567/256.26; 2013 – 14710/260.73; 2014 – 15541/243.66. As diferenças talvez se possam deduzir desta nossa leitura: acima, tínhamos em cima da mesa o “termalismo clássico” e aqui um nível mais geral. Como quer que seja, há um outro factor que nos faz pensar: a diminuição nos gastos por pessoa, como se nota na comparação entre o ano de 2014 e os anteriores. Dito isto tudo e muita mais matéria por aí se encontra onde vemos estampada a vida das Termas de S. Pedro do Sul, a quota de mercado nacional desta estância (Joaquim Antunes) situa-se nos 22.6% e, em número de inscrições, em 28.4%. Com as novas medidas que aí vêm, o futuro mostra um ar ainda mais risonho, mas não se pode dormir à sombra dos louros conquistados, por muito bons que eles sejam – e são-no, de certeza. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 1º trimestre, 2019

terça-feira, 9 de abril de 2019

S. Miguel do Mato com uma longa história

S. Miguel do Mato, dos imperadores de Leão a Angola Hoje, vamos falar de uma terra de que recordamos um dos pinheiros mais exóticos do mundo, aquele que escolheu para sua morada a torre de um velha Igreja, a de S. Miguel do Mato, visto da antiga linha do caminho de ferro do Vale do Vouga, nas muitas viagens feitas entre Pinheiro de Lafões e Viseu e vice-versa, em anos que se vão perdendo na nossa memória. Impávido e sereno, resistente e teimoso, por lá continuou anos a fio, uma boa cepa, assim o cremos. Com esta evocação arbórea, aproveitamos esta boa oportunidade para falarmos de uma das freguesias do concelho de Vouzela, que muito o tem engrandecido, S. Miguel do Mato. Prenhe de história, nela viveu, por exemplo, um dos mais ilustres nobres da Idade Medieval peninsular, D. Ramiro, Rei (?) de Viseu, Imperador de Leão, que residiu na Quinta do Paço nos primeiros anos de 900, ao mesmo tempo que vagueava pela citada nossa capital de distrito e pela Galiza, onde haveria de afirmar sua crescente importância. Séculos depois, na história deste território, haveria de nascer D. Isabel Almeida Ferreira (cerca de 1659), que viria a estar na origem de uma das mais notáveis casas e famílias da nossa região – os Malafaias de Serrazes e Santa Cruz da Trapa. Consta que os célebres Pastéis de Vouzela tiveram a sua doce origem em religiosas de Moçâmedes, que passaram pelos Conventos no Porto, antes de virem fixar-se na vila que tem a fama e o muito proveito de ser o berço desses mesmos Pastéis. Mas esta terra não se ficou por aqui. No século XVIII, um nosso conterrâneo, José de Almeida e Vasconcelos do Soveral de Carvalho da Maia Soares de Albergaria, um nome grande de Portugal, de Angola e do Brasil, o Barão de Moçâmedes e Visconde da Lapa, Coronel de Cavalaria, Governador de Goiás/Brasil e Capitão-General de Angola, fez surgir a cidade de MOÇÂMEDES, lá em baixo, na África, hoje designada por NAMIBE, o que é uma enorme carta de recomendação para estas povoações de S. Miguel do Mato. Senhor de alma enorme, com saudades de sua aldeia, replicou seu nome nas paisagens africanas para que nunca mais viesse a ser esquecida. Boa ideia, melhor concretização! - Mas o passado de S. Miguel do Mato é muito mais antigo Se estes são dados, por assim dizer, quase contemporâneos, S. Miguel do Mato vai buscar os seus pergaminhos a outros tempos muito anteriores a estes. Por aqui andaram povos ancestrais com milénios de vivências. Um deles, os Romanos aqui estamparam a sua força empreendedora, vincada nos vestígios de duas estradas. De acordo com “Vias romanas em Portugal – Itinerários”, esta freguesia era bafejada por duas vias, uma do Porto a Viseu, tocando estes territórios na sua passagem por Lufinha, Quinta da Comenda a caminho de Gumiei. A outra, vinda do Cabeço do Vouga/Marnel também para Viseu, saía de Vouzela por Fataunços, Figueiredo das Donas, Quinta do Paço, Carvalhal do Estanho, Caria, Bodiosa, havendo, a certa altura, uma variante de Queirã a Viseu, via Igarei e Couto de Cima. Com base numa série de fontes, incluindo o Rancho Folclórico de Vilar que, para além do bom trabalho de pesquisa etnográfica, cultural e musical, ainda nos oferece boas informações de História, sabe-se que D. Afonso Henriques, em 1133, doara a “villa” de Moçâmedes a Fernão Peres. Ao entrarmos no período agitado das guerras com Castela, em 1383/1385, esta terra surge ao lado dos castelhanos, através do Senhor de Moçâmedes e de Lafões, Dom Henrique Manuel de Vilhena. Despojado dos poderes, segue-se-lhe Martim Vasques da Cunha e Gonçalo Pires de Almeida. Com o Reis D. Duarte e D. Afonso V, aqui se notabilizaram João de Almeida, Luís de Almeida, Fernão de Almeida, Duarte de Almeida, o Decepado de Toro. Actualmente, com 924 pessoas (2011), já foram bem mais, em 1950 – 1497; 1960 – 1779; 1970 – 1315; 1981 – 1331; 1991 – 1251; 2001 – 1128, descendo a fasquia do milhar, como vimos, precisamente, em 2011 – 924, números que muito nos preocupam. Para se compreender este fenómeno, hoje há apenas um Centro Escolar para toda a freguesia, por sinal, bem moderno e atraente, com trinta e sete crianças, desde o Jardim de Infância ao 4º ano de escolaridade. Ainda há anos, em 2003/2004, tínhamos as escolas de Caria, também com JI, Lourosa e Moçâmedes. Recuando um pouco mais, descobriremos as Telescolas de Moçâmedes e Caria, o que há não passa de uma boa memória. Religiosamente, nestas terras que já pertenceram aos concelhos de Lafões e de S. Pedro do Sul e agora de Vouzela, podemos assistir às Festas de S. Sebastião, Nossa Senhora das Dores, Corpo de Deus, Espírito Santo, S. Miguel Arcanjo (Padroeiro), Santo António, nas Burgetas, Senhor da Agonia, Ermida da Frádega, apinhada de lendas, Nossa Senhora do Milagres, Caria, Sagrado Coração de Maria, Vilar. Com uma Igreja nova, ainda meio recente, a antiga por lá se mantém, dizem-nos que com algumas obras de beneficiação e conservação, o que é muito bom sinal. - Sinais de modernidade Numa breve panorâmica, são evidentes algumas boas marcas de renovação de espaços, como o da velha Estação, a albergar a Sede de Freguesia, o novo Centro Escolar, o Centro Social, nas antigas instalações da Casa do Povo, sendo que as antigas salas da Escola Primária são ocupadas pela Banda e pela Catequese. Destaca-se ainda a Banda, nascida em 1875, e o ACR/Rancho Folclórico de Vilar, com páginas brilhantes na área em que desenvolve a sua actividade, a Associação Social Cultural e Desportiva, a Associação dos Amigos do Senhor da Agonia, a Fundação Padre António de Almeida Oliveira e o Grupo Desportivo. Em matéria de dinamismo empresarial, se outrora as Minas de Volfrâmio e Estanho marcaram estas paisagens, hoje detectam-se boas experiências noutros sectores, alguns deles de ponta, como aqueles em que se fala de uma nova agricultura, sem esquecer outros planos. Importando atrair a juventude, esse é o desafio que nos deve mobilizar a todos. Neste âmbito, por feliz acaso, tivemos o grato prazer de, no passado dia 29 de Março, assistirmos a um sinal de vitalidade de seus jovens, quando o Dr. Ricardo Lopes, um natural destas povoações, fez a apresentação de seu livro “ Uma marioneta na cruz”. E com esta mensagem de esperança para o futuro, nos ficamos por aqui, sendo que S. Miguel do Mato tem muito por onde andar e um vasto caminho a percorrer. Boa viagem! Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Abril, 2015