sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Quando se sonhava com um Rio Vouga Navegável....

Um Rio Vouga alvo de projectos de navegação O problema dos transportes e das comunicações entre os povos e as nações é, e tem sido, sempre motivo de muitos sonhos, projectos e discussões. Bem o perceberam os romanos, que logo trataram de pôr todos os caminhos a chegarem a Roma e eles lá sabiam porquê: por cada via aberta, eram mais umas toneladas de cereais que, na capital, poderiam ser consumidas e mais uns quilómetros de domínio militar e social que tanto jeito e proveito lhes davam. Na mesma onda andou Fontes Pereira de Melo, quando pensou em dotar a sua pátria, este nosso Portugal, de uma rede de estradas e vias férreas que tudo pusessem em contacto. Assim pensaram e agiram, anos depois, os nossos irmãos lafonenses, em Lisboa, quando, no início do século XX, se lançaram na aventura de reclamar para a sua e nossa Região a passagem do Vale do Vouga, nessa altura em fase de discussão e disputas quanto ao seu traçado. Por entre polémicas, cada nova via de comunicação nunca deixou de motivar paixões, pedidos de troços para aqui e para ali, debates, abaixo-assinados, artigos de jornais, muitas vezes, altamente inflamados, influências, idas a Lisboa e a todo o lado onde pudesse haver poder de decisão. Sempre assim foi e, cremos, jamais deixará de o ser. Nas últimas décadas, o traçado da EN 333, entre Vagos e Vouzela, circulando por Oliveira de Frades entre outros municípios, motivou fortes tomadas de posição; a ligação (ainda não conseguida) entre Arouca e S. Pedro do Sul seguiu o mesmo caminho das tomadas de posição e, mais recentemente, situações diversas merecem aqui também dois dedos de reflexão. Uma destas, bem próxima de nós, foi a grande via dos tempos modernos por estas bandas, o IP5/A25. Como estrada estruturante na ligação entre o litoral centro e norte e a vizinha Espanha, os candidatos a recebê-la apareceram de todos os lados, com dois pólos de interesses divergentes: a corda de Coimbra e a nossa, Aveiro-Viseu-Salamanca. Esgrimindo-se argumentos de uma banda e de outra (confessando nós que não fomos indiferentes a esta contenda, tendo abraçado um dos projectos, o da PROPLANO, em que colaborámos e que estudou as pretensões destas nossas terras), saiu vencedora a zona onde nos integramos. Sendo esta uma história recente, por hoje a abandonamos para ir procurar outros documentos e fontes relativos a empreendimentos, ou projectos, que tiveram como linha de rumo e prisma de actuação virem a servir Lafões. Sem deixarmos de dizer que a obra de que vamos falar cabia mais no domínio da utopia que na realidade, o interesse de que se reveste, tendo em conta a época em que viu a luz do dia, obriga a que aqui a coloquemos, para melhor percebermos o pensamento e as ambições regionais que, no século XIX, estavam em discussão. Os conceitos que vamos tratar neste NL vêm-nos do ano de 1829 e referem-se às “Reflexões sobre a navegação do Rio Vouga”, da autoria do Dr. Joaquim Baptista, um médico que então exercia a sua profissão em Vouzela. Numa versão com “Introdução e Notas de A. Lúcio Vidal”, da Estante Editora, 1989, que nos chegou às mãos por oferta de um saudoso Amigo, o Dr. Celso Cruzeiro, são inúmeros os pontos em análise e o arrojo das propostas então apresentadas. Melhor do que quaisquer das nossas opiniões, mostremos o que se escreve nessa obra. Entre várias considerações gerais, começa-se logo por dizer que “... A importância das comunicações no fomento económico português é preocupação antiga. Delas não se esqueceram os contemporâneos de D. Luís Meneses. O Conselho da Fazenda, ao delinear um plano económico cuja direcção era entregue ao Conde da Ericeira, registava: há outras muitas cousas em que se devia cuidar como (...) a navegação de alguns rios, a conservação dos portos e barras, a sementeira de pinhais e aumento da agricultura, conserto de caminhos e pontes... “. Ontem e hoje, quase sempre as mesmas necessidades e preocupações. Alheio aos ventos que sopravam na direcção das máquinas a vapor e dos comboios, o Dr. Joaquim Baptista remava noutras marés, a das embarcações pelos nossos rios. Profundamente empenhado também na força das águas termais de S. Pedro do Sul, de que escreveu, por exemplo, “Memória sobre as Caldas de S. Pedro do Sul” (1840, logo uns anos mais tarde das suas posições sobre o Rio Vouga), debruçou-se ainda sobre a Estatística deste terrtório, referiu-se a S. Frei Gil e ao seu papel de médico, mas a sua paixão maior, a do encanamento do Rio Vouga, até S. Pedro do Sul, e do Rio Cértima, não lhes saíam da cabeça. A certa altura, assegura mesmo que “... As causas principais que se opõem à prosperidade deste país são a falta de navegação do Vouga, a falta de instrução, e os imensos e pesados foros, tantos a campos de mão morta como a particulares, que vivem em Lisboa... “. Pensador e sonhador, teve o azar, entre outros, de nunca ter visto, como ansiava, os seus trabalhos publicados. No meio destes, o da sua desejada navegabilidade do Rio Vouga até S. Pedro do Sul nunca o abandonou. Hoje, com a nova Barragem de Ribeiradio, a não ser que nela se construísse uma qualquer eclusa, tal objectivo seria de mais difícil concretização, mas, para melhor nos situarmos no tempo e no espaço, o contacto com estas “Reflexões” são um bom motivo para, na actualidade, com elas tomarmos contacto... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Jan 2020

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

A Serra do Caramulo e as suas mil valências....

Riquezas da Serra do Caramulo Um traço de união entre Lafões e Besteiros CR É a Serra do Caramulo um paraíso que combina as paisagens de montanha, os vales dos rios e que oferece uma biodiversidade que tem tudo para ser um alto motivo de interesse para turistas e cientistas e assim tem acontecido. Com efeito, muita gente se tem debruçado sobre este espaço nas suas vertentes naturais e culturais, desde a comunicação social às universidades e outros centros de saber. Se tudo encanta na sua globalidade, há, no entanto, pormenores que sobressaem bastante. Um deles, o dos loendros, jamais passa despercebido, pela sua beleza floral no mês de Maio e pela sua raridade. Escolhendo hoje uma destacada tese defendida por J. V. Silva Pereira, “ A Serra do Caramulo – desintegração de um espaço rural, Coimbra, 1988”, nela percebemos e reconhecemos um pouco de tudo quanto nela se pode observar, desde a litologia (rochas) à população, esta analisada em diversas frentes, como a evolução demográfica, a emigração e outros relevantes aspectos, como o clima, a ocupação dos solos, a biogeografia, etc. . Poderíamos ainda ler Jorge Manuel Pessoa Girão Medina, Aveiro, 1996, e tantos outros autores, sem esquecer José Júlio César que tanto cuidado e dedicação ofereceu, em tempos recuados, a este nosso encantador recanto. Sendo todos estes trabalhos minuciosos nos seus estudos e alguns deles bastante extensos, por agora, tal como dissemos, vamos ficar apenas pelas linhas escritas por Silva Pereira e por um dos temas que ele pegou a fundo, o dos citados loendros. Os rododendros Centremo-nos então neste RHODODENDRON PONTICUM L., que, diz o autor, “... Com particular interesse científico merece-nos um tratamento especial... “ Acrescenta que “.... Sob forma endémica, aparece apenas na Península Ibérica, sendo um vestígio da flora do terciário, possuindo nesta altura uma distribuição muito mais vasta... “ . Por aqui se conhece como loendreira ou loendro, sendo que, no Algarve, é vista como adelfeira ou adelfa. Deve-se a A. Henriques, em 1872, a sua descoberta nas margens do Rio Agadão e, em 1886, nas margens do Rio Alfusqueiro, “ladeando a Ribeira de Cambarinho, desde a povoação que tem esse nome atè à nascente do Zibreiro, constituindo a estação mais importante do país” (p. 160) É em Maio que o seu esplendor vem ao de cima com toda a sua força em “cambiantes que dão lugar a uma paisagem coberta de flores de todos os matizes” Sendo esta Reserva Botânica de Cambarinho a consequência do Decreto nº 364/71, de 25 de Agosto, continua a ser um alto ponto de interesse para toda a região de Lafões e não apenas para o concelho em que se insere, Vouzela. Foi esta obra muito anterior à tragédia dos fogos de Outubro de 2017, mas Silva Pereira anota, neste seu trabalho, um outro incêndio, em 1985, que muito afectou estas riquezas naturais, o que se agravou há pouco mais de dois anos. A sua viagem pela História também é notável, até porque “... A população Caramulana terá resultado de uma amálgama de povos autóctones provenientes de uma cultura megalítica, desde os dolménicos de 3000 a.C., de que, após fusão com raças indo-europeias, resultaram várias tribos... “ Nesta tese, ainda não há referências ao bom aproveitamente energético que o vento proporciona nos vários parques eólicos, por ser uma realidade bem mais recente, já deste século XXI. Nem se debruçou sobre o Parque Natural Vouga-Caramulo, ainda mais jovem, mas deve ter passado pelo Carvalhedo da Gândara e pelas muitas aldeias serranas que são uma das outras riquezas que por aqui se encontram, quando o Caramulo, enquanto estância sanatorial, terminou os seus dias, a esse nível e ainda bem, por se ter praticamente erradicado essa terrível doença. Tem agora outras valências, mas precisa de um qualquer especial empurrão para dar o salto condizente com os tempos modernos que vivemos. Entretanto, a Serra do Caramulo, a nossa, continua a sua marcha que se quer triunfal, ainda recuperando lentamente dos fogos que, ao longo dos anos, a têm destruído de uma forma brutal, havendo que lamentar, acima de tudo, as mortes, os feridos, mas também a destruição da paisagem e da biodiversidade. Se a natureza tem aqui um papel insubstituível, o homem, cada um de nós, não pode cruzar, nunca, os braços e deixar correr o barco. Tem de pôr mãos à obra e a sério. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Jan 2020

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Um ensino diferente mas com sucesso no seu tempo....

Recordar a Telescola como meio de ensino de grande alcance Em meados dos anos sessenta do século passado, muitas das nossas aldeias, sobretudo estas, foram sacudidas por um bom vento novo, o da educação a bater à porta de quem dela precisava, talvez bem mais do que de pão para a boca. Esse era um tempo em que se levava a escola para a beira das portas e não se metiam as crianças em autocarros para fugirem de suas terras horas e horas a fio, saindo e entrando pelo escuro nos leitos maternos. Um dos sistemas e meios que surgiu em força foi a Telescola, o futuro Ensino Básico Mediatizado. Procurando os seus antecedentes, para essa sua entrada em força, provavelmente não foram estranhos os estudos internacionais, nomeadamente o da OCDE, de Novembro de 1959, em que se assinalava uma correlação muito positiva entre a mão de obra qualificada e o desenvolvimento económico. Quanto a Portugal, em 104 países analisados, ocupava o 33º lugar nessa tabela, isto em 1961, sendo considerado, em 1962, pela mesma OCDE, um país em vias de desenvolvimento, uma classificação pouco abonatória tendo em conta o espaço europeu em que nos inserimos. Neste contexto, também não nos podemos esquecer dos jovens Planos de Fomento, desenhados para 1953/58, 1959/64 e por aí fora, sendo que o campo da educação deles fazia parte. Anos antes, lançara-se o arrojado Plano dos Centenários com a construção de milhares de escolas primárias. Em passos miúdos, a evolução na escolaridade foi lenta até aos anos setenta, a ponto de a então quarta classe só ter sido estendida às raparigas, como obrigação, no ano de 1960. Em épocas mais recuadas, tinha-se mesmo ido muito mais longe, mormente em 1911, em que se preconizavam os níveis elementar, com 3 anos, o complementar e o superior, sendo, porém, apenas obrigatório o primeiro, o elementar. Em 1919, impõe-se um ensino primário de cinco anos e, em 1926, regressa-se aos quatro anos para os rapazes. Já em 1964, assiste-se às seis classes obrigatórias, 4 elementares e duas complementares, a 5ª e a 6ª. Começo aqui a projectar-se a Telescola como forma de estender esses níveis aos meios rurais. Com o Ministro Inocêncio Galvão Teles e o seu Decreto Lei nº 46135, de 31 de Dezembro de 1964 e legislação posterior, é criado este novo sistema de ensino para complementar a rede do ciclo directo, de modo a que, como acentua Maria Amélia Conceição Valente, ESE Lisboa, 2010, em trabalho a este tema dedicado, nunca a educação ficasse apenas pelas fronteiras de uma casa mas fizesse de Portugal uma imensa sala de aulas, fazendo suas as palavras daquele governante. Até 2003, este sector marcou muitos pontos positivos. Daí em diante, passou para o campo das memórias, deixando pelo caminho um rasto educativo de que ninguém se pode envergonhar, nem pedir quaisquer tipos de desculpa, que os números e os resultados falam por si. A sua evolução Logo de início, nos primeiros dois anos de vida deste sistema, viram-se colocados no terreno 620 postos, abrangendo-se, em 1973, cerca de 33000 alunos, em plena era Veiga Simão, o ministro dos ministros da Educação que alguma vez houve no nosso país, em nossa modesta opinião e firme convicção. Em 1978, havia 1013 postos e mais de 40000 alunos. Para coroar a consideração que este sistema original veio a conseguir, em 1967, a UNESCO/IIEP, ao falar de novos meios educacionais em acção, neles incluiu a nossa Telescola. Em termos físicos, cada posto deveria ter os seguintes requisitos: número mínimo de alunos por turma, sete, duas salas de aulas, vestiários, carteiras, quadro preto, armários, banco de carpinteiro, ferramentas, material para experiências, receptores de TV, luz eléctrica ou gerador, meios administrativos, professores-monitores, funcionando tudo isto com aulas na televisão de 20 minutos, mais outro tanto de exploração em sala por parte do docente ali colocado, um para Letras, outro para Ciências. Com muitos cuidados quanto à avaliação, procedia-se a testes e exames obrigatórios, em material vindo dos serviços centrais. Como meios de trabalho, ao alunos tinham folhas diárias para cada disciplina. Posteriormente, foram notórias as evoluções colocando-se o enfoque mais no local do que nas emissões televisivas, gravadas em Gaia, a ponto de deixar de haver aulas directas e à distância, para se passarem a usar, como suportes auxiliares, vídeos e outros materiais. Também em 1991, deixa de se falar em Telescola para se usar uma nova terminologia, a do Ensino Básico Mediatizado. Concorrendo, em complementaridade, com o Ciclo Directo, à Telescola se ficou a dever um serviço de um enorme alcance escolar e social, porque, com ela, as distâncias deixaram de ser um problema, porque, com os respectivos Postos, o ensino foi à procura dos alunos e estes e suas famílias responderam muito positivamente com o sucesso que todos lhe reconhecem. E os exemplos falam por si, aos milhares...

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Algumas notas de há tempos sobre a indústria em Oliveira de Frades...

Um mundo empresarial diversificado em Oliveira de Frades Nestas tabelas sobre as 100 Maiores Empresas em cada um dos concelhos da região de Lafões que o nosso jornal tem vindo a trabalhar e a divulgar, nos últimos anos, o município de Oliveira de Frades apresenta uma característica que veio a consolidar nos anos oitenta e noventa do século passado e daí em diante. Antes dessa fase, era uma terra em que a indústria quase não tinha ponta por onde se lhe pegasse. Haveria, quando muito, umas serrações de madeira, umas moagens, uns lagares de azeite, uns alambiques e pouco mais. Seguindo a regra geral por estas bandas, tinha mesmo assistido à morte de uma fábrica de cerâmica em Ribeiradio e outras iniciativas diversas não tinham vivido, de igual modo, vidas prolongadas, também. A um certo momento, fruto de intensas campanhas de divulgação das potencialidades que se passaram a vislumbrar com a vinda do IP5, em movimentos concertados, tendo como suporte e base dinamizadora os diversos executivos municipais, o milagre do monte feito unidades de produção deu-se por aqui. A serra que unia o Alto da Cumeeira a Travassós e Vilarinho, em duríssimas negociações com os Baldios de Souto de Lafões, foi o espaço então escolhido e em boa hora. Uma a uma, nasceram as unidades fabris e as empresas de toda a ordem e género. Aparecendo desses toques de magia empreendedora, sendo que esta veia criativa se filiou, em grande grau, nos exemplos de sucesso vividos no peixe, nas madeiras, nos táxis e, sobretudo, na avicultura, a Zona Industrial de Oliveira de Frades, que se insere num vasto território então a abranger três freguesias, as de Souto e Pinheiro de Lafões e a da Sede do concelho, foi a grande construção social e económica que se solidificou, em forte capacidade concorrencial, em toda a zona centro. Para o seu êxito, se muito trabalharam os autarcas, dentro e fora do País, nada de seu esforço tinha este visível impacto se os investidores não tivessem acreditado neste colossal projecto. Oriundos da massa crítica do município e da atracção que esta ZIOF foi demonstrando, passo a passo, ali se fez, muito também e, em especial, com a força de quem veio de fora, a gigantesca obra que hoje faz com que Oliveira de Frades esteja no lugar cimeiro deste panorama por toda a citada região centro. Desbravado o primeiro local com a Previcon, em 1976/1977, e depois com a SOPIL (1980), conquistando terrenos para loteamentos industriais sucessivos, em planos de pormenor (o primeiro advém da Portaria 745/93, de 19 de Agosto), uns a seguir aos outros, as firmas apareceram, a antecederem mesmo as papeladas, acreditaram, fixaram-se e agarraram-se a esta terra como boas lapas, porque sentiram e viram que valia a pena investir e ir em frente. Metalurgia, plásticos, rações, vidros, malhas, madeiras tratadas, produtos fitofarmacêuticos, equipamentos medicinais, peças metálicas, maquinaria, tornearia, energia solar, fumeiro, combustíveis, oficinas mecânicas e gerais, armazéns vários, reprodução de pintos, artefactos de cimento, padarias, construção civil, granitos, mármores e serviços, nada aqui falta. Numa outra anterior esfera, a avicultura está sempre na mó de cima. Potenciadoras de emprego e riqueza, a sua garra vem desses tempos em que a tarefa de as conquistar impunha espírito de visão e missão que fizeram com que todo o esforço feito se tivesse convertido em pão para a boca de tanta gente que a essas unidades empresariais se encontra ligado. Com esse arranque, Oliveira de Frades deu saltos de gigante a nível económico e social, sobressaindo, no meio desta caldeirão de transformações, a vila e arredores. Os fundos comunitários Num esforço comum, houve, nesta curva ascendente, uma importância capital de fundos europeus, como o PEDIP, os QÇA I, II e III e o QREN. Mas essas verbas só aqui vieram parar porque as respectivas candidaturas foram sempre uma prioridade jamais desperdiçada. Tostão e cêntimo que viessem foram (e eram) sempre bem-vindos. Como não caíam do céu, tudo se fez para os ir buscar e a imagem, com as campanhas de publicidade e exposições, dentro e fora de fronteitas, teve um papel dinamizador que não pode ser menosprezado. Nunca. Felizmente que, ao olharmos para a tabela que hoje vamos apresentar, se a ZIOF tem o destacadíssimo primeiro lugar do pódio, orgulhamo-nos de ver que ela abrange muitos outros espaços deste município, ou com ZI, como acontece com Reigoso, ou com empreendimentos espalhados um pouco por toda a parte. Sem grande dificuldade, vemos que cada zona do concelho aqui tem uma palavra a dizer, desde Arca a S. João da Serra. À luz da leitura que estamos a fazer, a avicultura a agropecuária vêm mantendo a sua importância, mas as novas tecnologias surgem também neste vasto painel de iniciativas empresariais, que, resistindo a cada crise, cá vão vivendo e insuflando dinamismo na economia e na vida de nossas terras. Há ainda um outro mundo invisível, não retratado nestes gráficos, que jamais pode ser esquecido: é aquele que é erguido, dia a dia, palmo a palmo, pelo esforço e devoção de nossos agricultores às suas courelas, que as faz entrar, ainda que de uma forma menos reconhecida, em todo este movimento de criação de riqueza e capacidade de fixação de nossas resistentes gentes às torrões onde nasceram e vivem, embora com muitas dificuldades, alguns horizontes de esperança. Funcionando, muito em particular, este movimento empresarial como estabilizador populacional, teve como efeitos directos estancar hemorragias de saídas de habitantes, ainda que não tenha sido capaz de captar mundos novos, porque o concelho, não perdendo gente, também não cresceu muito. Verificou-se, aqui também, um mecanismo mundial: o centro, a vila e zonas limítrofes, atraíram povoadores, as periferias, perderam-nos. Essa é que é a verdade e a triste realidade. Mas há um dado de um valor incalculável: as empresas em Oliveira de Frades são um bom sangue que irriga todo o seu corpo social e económico. Como tudo gira em volta destes eixos, é muito razoável o ar que se respira e só não é melhor porque a crise lhe coloca umas más pitadas de agentes poluentes que o vêm afectar negativamente. Como quer que seja, aqui o futuro escreve-se assim: fazer a máquina andar e ela lá vai serra acima, um dia a seguir ao outro. Carlo Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”...

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

A força das intempéries e a capacidade de resistir em Lafões....

Meus Amigos CR Dois anos depois das quentes e destruidoras chamas de Outubro de 2017, eis que a Elsa nos trouxe outros graves amargos de boca, daqueles que nos deixam a pensar qual será a forma de segurarmos as pontas de um território lafonense que se vai desfazendo pelo fogo e pela água. Por mais que nos debrucemos sobre os problemas que nos afligem, menos são as soluções que conseguimos descobrir e encontrar. Os homens e as suas políticas levam-nos os habitantes, a natureza não tem sido nada meiga connosco e, deste modo, pouco ou nada há a fazer para contrariar a má sorte que nos atinge. Se, por um lado, somos levados assim a deixar-nos vencer por esse desânimo, pelo outro, procuramos no fundo do nosso ser e identidade e logo nos apercebemos que nada nos leva a que desistamos. Feitos de rija têmpera, aqui não se dobram as costas, de maneira nenhuma. Ou partem, ou nada. E porque estas não se desfazem, a cada contratempo respondemos sempre com a mesma determinação: em Lafões, a sua gente vai em frente, lutando contra tudo e mesmo contra todos. Temos na nossa génese a garra do Grito de Ipiranga. Quando a água nos devassou as margens dos rios, nos desfez as pontes, nos tombou as árvores, nos levou as barreiras e muros de suporte das estradas, nos destruiu as praias fluviais e os parques contruídos no sonho de dar melhor qualidade de vida aos nossos concidadãos, aqui estamos, firmes que nem uma rocha, para mostrarmos que ainda não é desta que nos daremos por vencidos. Nunca isso acontecerá. Muito menos agora. Com uma alma determinada em vencer as adversidades, só esperamos que as entidades nacionais e europeias nos não desamparem e que remem para o nosso lado. Aqui, no nosso posto, não vacilamos. Vamos em frente. Mas não nos cortem, lá nas esferas dos poderes financeiros e de coesão, a nossa vontade de não morrermos à porta de mais estas desgraças deste mês de Dezembro de 2019, que queremos esquecer rapidamente e para sempre.... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Dez 2019

A economia social em Lafões cada vez mais com maior importância...

Dezenas de instituições em todo território Lafões com uma viva economia social CR São milhares as pessoas que, em Lafões e nos seus três concelhos, Oliveira de Frades, S. Pedro do Sul e Vouzela, se encontram como destinatários dos serviços e fins da economia social. Para esse efeito, há centenas de postos de trabalho que dependem da vitalidade deste sector. Com a sociedade em mudança, as crianças e os idosos encontram-se nos primeiros lugares da acção desenvolvida pelas dezenas de instituições que desenrolam o seu trabalho nestas nossas terras. É esta a viagem que aqui vamos apresentar. Apalpando o pulso às IPSS, Misericórdias e outras associações do sector, vamos tentar dar delas a imagem daquilo que vão fazendo por estas paragens, concelho a concelho, com dados mais actuais, ou com estudos feitos em tempos idos, não muitos, porém, para melhor percebermos, na actualidade, esta realidade económica e social que tanta importância tem para as nossas populações. Antes de avançarmos para o campo dos pormenores, esclareçamos o que se deve entender por esta economia: digamos, em linhas muito gerais, que se trata de dar respostas a necessidades sociais, tendo como base da sua filosofia a solidariedade, o humanismo, o combate à exclusão e a afirmação integral da dignidade da pessoa humana no seu todo, ultrapassando as carências e a situação de fragilidade em que se encontram, olhando muito para a Carta de Princípios da Economia Social da própria União Europeia e para, por exemplo, a notável acção da Igreja e da sociedade civil com suas organizações, desde há séculos. Em crescimento nas últimas décadas, a economia social liga-se, na acção que desenvolve e nas propostas e realizações que consegue concretizar, a uma sociedade em profundas mutações. A sociedade agrária de outrora deu lugar a um sector secundário (indústria) bastante forte e a um terciário (serviços) em galopadas de gigantes. Por sua vez, a agricultura de nossos pais e avós, que fazia ter tempo para o amanho das propriedades e para os cuidados a dar às crianças e idosos em contexto familiar, perdeu-se em grande escala. No meio deste turbilhão, apareceram novos problemas para resolver: como pensar e actuar na defesa de nossos meninos e meninas e na entrega à velhice com toda a cadeia de necessidades que tanto a caracteriza? Com a família impotente para a realização dessas tarefas, houve que deitar mão a novas organizações sociais, com a criatividade e a generosidade humanas a virem ao de cima. De outrora, tínhamos ( e elas, felizmente, se não perderam) as Misericórdias, com a de Vouzela a ter mais de quinhentos anos, a de S. Pedo do Sul a ter nascido bem mais tarde e a de Oliveira de Frades a ter visto a luz do dia já no século XX, por volta dos anos trinta. Revelando-se insuficientes estas Instituições, outras se criaram, tais como as IPSS (Instituições Privadas de Solidariedade Social), as Cooperativas e entidades afins. Em resultado das alterações à pirâmide etária, com os idosos a preencherem praticamente a sua maior fatia, conquistando o lugar que deveria pertencer às camadas jovens, vêem-se as escolas a fecharem e os equipamentos para a terceira idade a aparecerem um pouco por toda a parte. Também os cuidados de saúde, com a esperança da vida – e ainda bem - a aumentar muito acentuadamente e com progressos assinaláveis, começaram a requerer novas exigências e novas formas de actuação social. Feita esta espécie de introdução, passemos agora para a apresentação da realidade verificada nestas terras do Médio Vouga, situadas entre as Serras da Gralheira e do Caramulo, a norte e a sul, respectivamente. Os serviços sociais em Lafões Pedindo desculpa por alguma eventual falha ou omissões, começamos pelo município de S. Pedro do Sul, por nos termos baseado no seu estudo social de 2013, enquanto que, em Oliveira de Frades e Vouzela enveredámos por uma maior proximidade temporal. Na “Sintra da Beira” encontrámos 9 IPSS, incluindo a Misericórdia, a apoiarem cerca de 1300 pessoas: - Centro Social e Paroquial de Manhouce – É de notar-se que esta instituição se encontra em relação muito directa com a de S. João da Serra, tendo sido previsto, no seu início, a frequência de 40 utentes no Centro de Dia e outros tantos nos Serviços de Apoio Domiciliário. - MUT – Associação Mutualista dos Trabalhadores da Câmara Municipal – 5 trabalhadores e 33 utentes - Misericórdia de Santo António – 156/406 - Centro Social de Valadares – 11/50 - Centro Social e Paroquial de S. Martinho das Moitas – 7/ 35 - Centro Social de Vila Maior – 18/82 - Centro de Promoção Social de Carvalhais – 28/182, anotando-se ainda o Banco Alimentar com 40 beneficiários, a Loja Social com 120 e a Cantina Social - 69 - ASSOL/Núcleo de SPS – 60/194 - ARCA – Associação de Solidariedade Social de Santa Cruz da Trapa – 10/40 Importa também falar-se na importância do Sul Social e suas funções. Refere-se, nesse documento oficial, que “... A novidade estatística de 2011, na análise sócio-económica, é a incorporação da economia social na contabilidade social do terceiro sector, do qual faz parte integrante...” Acrescenta-se que, em S. Pedro do Sul, metade do sector terciário é economia social, pesando no bolo total 31%. Devemos ainda incluir nesta acção social a Conferência de S. Vicente de Paulo que conta com o contributo de 12 voluntários, o Banco Alimentar, a Loja Social, o CLDS, a CPCJ, realidades, estas e outras, que são transversais a todos os concelhos, a que se junta, neste caso, a Associação Social e Cultural e Recreativa de Mosteirinho/Pinho. Por sua vez, o Relatório elaborado pelo Instituto Piaget para a ADDLAP, há curtos anos, vem dizer-nos que “... O futuro passa hoje pela viabilidade (destas) economias, colmatando problemas sociais e promovendo a sustentabilidade numa aldeia cada vez mais global. O empreendedorismo social é inquestionavelmente uma ferramenta de enorme transversalidade que cruza campos múltiplos e distintos”, numa multiplicidade de respostas que urge encontrar. Nesse estudo, vemos um quadro global em termos de apoios sociais, assim distribuídos quanto a utentes: - Creches – Oliveira de Frades – 78; SPS – 132; VZL – 120 - Centros de Actividades Ocupacionais – 90; 30; zero - Lar residencial – zero; 36; zero - Centros de Dia – 30; 88; 20 - ERPI (Estrutura Residencial para Idosos) – 83; 182; 127 - Serviços de Apoio Domiciliário – 84; 322; 255 Passando agora para o município de Vouzela, temos: - Santa Casa da Misericórdia – Com um universo de mais de uma centena de funcionários, abrangiam-se 158 utentes, a que se de vem acrescentar todos aqueles que são servidos pela Clínica de S. Frei Gil nas suas múltiplas valências e tipos de consultas. - Centro Social de Campia – 33 funcionários; 75 utentes - Centro Social e Paroquial de Queirã – 9/30 - Centro Social da Casa do Povo de Alcofra – 5/19 - Centro Social de Cambra – 54/101 - Associação de Solidariedade Social de Fornelo do Monte – 6/32 - Centro Social da Casa do Povo de Alcofra – 5/19 - Centro Social e Paroquial Padre Filinto Elíseo de Sousa Ramalho de Fataunços – 11/40 - Lar/ASSOL/Cambra - 8 utentes Quanto ao concelho de Oliveira de Frades, é este o quadro, em linhas gerais: - Misericórdia de Nossa Senhora dos Milagres – 147 trabalhadores com 246 utentes e um número variável, mas muito significativo, de pessoas atendidas na Fisioterapia e outras valências médicas. - ASSOL – 73 colaboradores e 985 pessoas apoiadas, na sede e nos pólos de Vouzela, S. Pedro do Sul, Castro Daire, Vila Nova de Paiva, Viseu, Tondela e Mortágua, - Centro Social e Paroquial de S. João da Serra – 6/23 Por vir a calhar, diga-se que Varzielas recebe apoios vindos do Guardão e Arca, de S. João do Monte. Cabe aqui uma palavra para as Associações de Bombeiros que, ficando um pouco de fora, deste género de Instituições, têm também uma forte componente social nas suas diversas missões e suportam um certo número de funcionários cada uma delas. Destas linhas específicas e gerais, pode concluir-se que, em matéria de mudança social, as alteracões são altamente significativas e abarcam um sem número de missões que, nem as famílias, nem os cuidadores informais (que merecem uma atenção e uma legislação muito especiais, que, aliás, já começaram de aparecer!... ) podem concretizar. As IPSS e outras entidades do género tem aqui um altíssimo papel a desempenhar e em Lafões isso nota-se à vista desarmada ... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Dez 2019