sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Um ensino diferente mas com sucesso no seu tempo....

Recordar a Telescola como meio de ensino de grande alcance Em meados dos anos sessenta do século passado, muitas das nossas aldeias, sobretudo estas, foram sacudidas por um bom vento novo, o da educação a bater à porta de quem dela precisava, talvez bem mais do que de pão para a boca. Esse era um tempo em que se levava a escola para a beira das portas e não se metiam as crianças em autocarros para fugirem de suas terras horas e horas a fio, saindo e entrando pelo escuro nos leitos maternos. Um dos sistemas e meios que surgiu em força foi a Telescola, o futuro Ensino Básico Mediatizado. Procurando os seus antecedentes, para essa sua entrada em força, provavelmente não foram estranhos os estudos internacionais, nomeadamente o da OCDE, de Novembro de 1959, em que se assinalava uma correlação muito positiva entre a mão de obra qualificada e o desenvolvimento económico. Quanto a Portugal, em 104 países analisados, ocupava o 33º lugar nessa tabela, isto em 1961, sendo considerado, em 1962, pela mesma OCDE, um país em vias de desenvolvimento, uma classificação pouco abonatória tendo em conta o espaço europeu em que nos inserimos. Neste contexto, também não nos podemos esquecer dos jovens Planos de Fomento, desenhados para 1953/58, 1959/64 e por aí fora, sendo que o campo da educação deles fazia parte. Anos antes, lançara-se o arrojado Plano dos Centenários com a construção de milhares de escolas primárias. Em passos miúdos, a evolução na escolaridade foi lenta até aos anos setenta, a ponto de a então quarta classe só ter sido estendida às raparigas, como obrigação, no ano de 1960. Em épocas mais recuadas, tinha-se mesmo ido muito mais longe, mormente em 1911, em que se preconizavam os níveis elementar, com 3 anos, o complementar e o superior, sendo, porém, apenas obrigatório o primeiro, o elementar. Em 1919, impõe-se um ensino primário de cinco anos e, em 1926, regressa-se aos quatro anos para os rapazes. Já em 1964, assiste-se às seis classes obrigatórias, 4 elementares e duas complementares, a 5ª e a 6ª. Começo aqui a projectar-se a Telescola como forma de estender esses níveis aos meios rurais. Com o Ministro Inocêncio Galvão Teles e o seu Decreto Lei nº 46135, de 31 de Dezembro de 1964 e legislação posterior, é criado este novo sistema de ensino para complementar a rede do ciclo directo, de modo a que, como acentua Maria Amélia Conceição Valente, ESE Lisboa, 2010, em trabalho a este tema dedicado, nunca a educação ficasse apenas pelas fronteiras de uma casa mas fizesse de Portugal uma imensa sala de aulas, fazendo suas as palavras daquele governante. Até 2003, este sector marcou muitos pontos positivos. Daí em diante, passou para o campo das memórias, deixando pelo caminho um rasto educativo de que ninguém se pode envergonhar, nem pedir quaisquer tipos de desculpa, que os números e os resultados falam por si. A sua evolução Logo de início, nos primeiros dois anos de vida deste sistema, viram-se colocados no terreno 620 postos, abrangendo-se, em 1973, cerca de 33000 alunos, em plena era Veiga Simão, o ministro dos ministros da Educação que alguma vez houve no nosso país, em nossa modesta opinião e firme convicção. Em 1978, havia 1013 postos e mais de 40000 alunos. Para coroar a consideração que este sistema original veio a conseguir, em 1967, a UNESCO/IIEP, ao falar de novos meios educacionais em acção, neles incluiu a nossa Telescola. Em termos físicos, cada posto deveria ter os seguintes requisitos: número mínimo de alunos por turma, sete, duas salas de aulas, vestiários, carteiras, quadro preto, armários, banco de carpinteiro, ferramentas, material para experiências, receptores de TV, luz eléctrica ou gerador, meios administrativos, professores-monitores, funcionando tudo isto com aulas na televisão de 20 minutos, mais outro tanto de exploração em sala por parte do docente ali colocado, um para Letras, outro para Ciências. Com muitos cuidados quanto à avaliação, procedia-se a testes e exames obrigatórios, em material vindo dos serviços centrais. Como meios de trabalho, ao alunos tinham folhas diárias para cada disciplina. Posteriormente, foram notórias as evoluções colocando-se o enfoque mais no local do que nas emissões televisivas, gravadas em Gaia, a ponto de deixar de haver aulas directas e à distância, para se passarem a usar, como suportes auxiliares, vídeos e outros materiais. Também em 1991, deixa de se falar em Telescola para se usar uma nova terminologia, a do Ensino Básico Mediatizado. Concorrendo, em complementaridade, com o Ciclo Directo, à Telescola se ficou a dever um serviço de um enorme alcance escolar e social, porque, com ela, as distâncias deixaram de ser um problema, porque, com os respectivos Postos, o ensino foi à procura dos alunos e estes e suas famílias responderam muito positivamente com o sucesso que todos lhe reconhecem. E os exemplos falam por si, aos milhares...

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