quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

A Serra do Caramulo e as suas mil valências....

Riquezas da Serra do Caramulo Um traço de união entre Lafões e Besteiros CR É a Serra do Caramulo um paraíso que combina as paisagens de montanha, os vales dos rios e que oferece uma biodiversidade que tem tudo para ser um alto motivo de interesse para turistas e cientistas e assim tem acontecido. Com efeito, muita gente se tem debruçado sobre este espaço nas suas vertentes naturais e culturais, desde a comunicação social às universidades e outros centros de saber. Se tudo encanta na sua globalidade, há, no entanto, pormenores que sobressaem bastante. Um deles, o dos loendros, jamais passa despercebido, pela sua beleza floral no mês de Maio e pela sua raridade. Escolhendo hoje uma destacada tese defendida por J. V. Silva Pereira, “ A Serra do Caramulo – desintegração de um espaço rural, Coimbra, 1988”, nela percebemos e reconhecemos um pouco de tudo quanto nela se pode observar, desde a litologia (rochas) à população, esta analisada em diversas frentes, como a evolução demográfica, a emigração e outros relevantes aspectos, como o clima, a ocupação dos solos, a biogeografia, etc. . Poderíamos ainda ler Jorge Manuel Pessoa Girão Medina, Aveiro, 1996, e tantos outros autores, sem esquecer José Júlio César que tanto cuidado e dedicação ofereceu, em tempos recuados, a este nosso encantador recanto. Sendo todos estes trabalhos minuciosos nos seus estudos e alguns deles bastante extensos, por agora, tal como dissemos, vamos ficar apenas pelas linhas escritas por Silva Pereira e por um dos temas que ele pegou a fundo, o dos citados loendros. Os rododendros Centremo-nos então neste RHODODENDRON PONTICUM L., que, diz o autor, “... Com particular interesse científico merece-nos um tratamento especial... “ Acrescenta que “.... Sob forma endémica, aparece apenas na Península Ibérica, sendo um vestígio da flora do terciário, possuindo nesta altura uma distribuição muito mais vasta... “ . Por aqui se conhece como loendreira ou loendro, sendo que, no Algarve, é vista como adelfeira ou adelfa. Deve-se a A. Henriques, em 1872, a sua descoberta nas margens do Rio Agadão e, em 1886, nas margens do Rio Alfusqueiro, “ladeando a Ribeira de Cambarinho, desde a povoação que tem esse nome atè à nascente do Zibreiro, constituindo a estação mais importante do país” (p. 160) É em Maio que o seu esplendor vem ao de cima com toda a sua força em “cambiantes que dão lugar a uma paisagem coberta de flores de todos os matizes” Sendo esta Reserva Botânica de Cambarinho a consequência do Decreto nº 364/71, de 25 de Agosto, continua a ser um alto ponto de interesse para toda a região de Lafões e não apenas para o concelho em que se insere, Vouzela. Foi esta obra muito anterior à tragédia dos fogos de Outubro de 2017, mas Silva Pereira anota, neste seu trabalho, um outro incêndio, em 1985, que muito afectou estas riquezas naturais, o que se agravou há pouco mais de dois anos. A sua viagem pela História também é notável, até porque “... A população Caramulana terá resultado de uma amálgama de povos autóctones provenientes de uma cultura megalítica, desde os dolménicos de 3000 a.C., de que, após fusão com raças indo-europeias, resultaram várias tribos... “ Nesta tese, ainda não há referências ao bom aproveitamente energético que o vento proporciona nos vários parques eólicos, por ser uma realidade bem mais recente, já deste século XXI. Nem se debruçou sobre o Parque Natural Vouga-Caramulo, ainda mais jovem, mas deve ter passado pelo Carvalhedo da Gândara e pelas muitas aldeias serranas que são uma das outras riquezas que por aqui se encontram, quando o Caramulo, enquanto estância sanatorial, terminou os seus dias, a esse nível e ainda bem, por se ter praticamente erradicado essa terrível doença. Tem agora outras valências, mas precisa de um qualquer especial empurrão para dar o salto condizente com os tempos modernos que vivemos. Entretanto, a Serra do Caramulo, a nossa, continua a sua marcha que se quer triunfal, ainda recuperando lentamente dos fogos que, ao longo dos anos, a têm destruído de uma forma brutal, havendo que lamentar, acima de tudo, as mortes, os feridos, mas também a destruição da paisagem e da biodiversidade. Se a natureza tem aqui um papel insubstituível, o homem, cada um de nós, não pode cruzar, nunca, os braços e deixar correr o barco. Tem de pôr mãos à obra e a sério. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Jan 2020

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