sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Mestre Homem Cardoso, um fotógrafo nascido em S. Pedro do Sul

Homem Cardoso, o fotógrafo das sete partidas do mundo Carlos Rodrigues Aqui há uns anos, neste mesmo jornal, dediquei uns textos à figura e obra de António Homem Cardoso, o Mestre da fotografia, que Fátima Campos Ferreira veio, de novo, recordar, na sua reportagem “ Primeira Pessoa”, editada na RTP 1, há curtos dias. Intimista e muito pessoal, mostrou-nos nesse rico trabalho, as facetas locais e mundiais da sua obra. Com raízes em Negrelos, S. Pedro do Sul, filho de José Homem Cardoso e de Cristina Augusta de Almeida Cardoso, nasceu em 11 de Janeiro de 1945, tendo, por isso, completado 80 anos de idade ainda neste mês. A sua família em Lafões, entre outros lugares, espalha-se ainda por Vilharigues, Vouzela, e Sejães, Oliveira de Frades. Se agora se fixou mais em Alcáçovas, Alentejo, onde tem o seu vasto espólio, e de onde partiu para a entrevista com Fátima Campos Ferreira, sentados em duas pedras à beira de uma lagoa, jamais esqueceu estas suas origens. Aliás, as suas palavras iniciais foram mesmo para o concelho onde viu, pela primeira vez, a luz do dia. Oriundo de uma casa com oito filhos, sendo ele o mais novo, com a morte do Pai, economicamente tudo se complicou e, por isso, como tantos meninos a rapazes de sua idade, lá foi de abalada para Lisboa, aos 10 anos, onde se iniciou em loja familiar como marçano. Foi este o princípio dos princípios da malta destas terras que ali seguia o seu destino. Tal como confessou em “Primeira Pessoa”, aquilo não era vida para si mesmo e, aos 14 anos, parte para outras funções, um pouco à toa e com espírito de aventura. Gaiato da rua, um dia encontrou um cineasta que lhe deu uma espécie de trabalho como figurante, premiando-o com cerca de 1400$00 e uma máquina fotográfica, a primeira que teve e, talvez, a mais importante. Daí e, diante, uma fotografia aqui e outra ali, a vida foi-se fazendo, foto a foto. Foi tal o seu êxito, que chegou a dizer: “A vida deu-me muito mais do que eu pensava vir a ter… Corri meio mundo sem falar língua nenhuma” além do português, obviamente, aprendido na vida e nos quatro anos de escolaridade que fez. Fotógrafo da Casa Real Portuguesa, ele que é um monárquico convicto, não fez dessa sua opção política qualquer objecção para retratar Presidentes da República e outras figuras da nossa sociedade e de muitas outras nacionalidades, um pouco por todo mundo, como o Presidente Trump, dos EUA, e os Príncipes do Mónaco e sobretudo a Amália e a nossa Isabel Silvestre. De máquina em riste, pessoas, olhares e paisagens, nada escapa ao seu olho de lince e à sua ciência na arte de escolher os melhores ângulos e poses. Por aqui, por exemplo, fez trabalhos para os vinhos do Dão, que o levou alcançar um prémio internacional “ La Vigne et Du Vin”, sendo que em Itália recebera o “ Elefante de Ouro”. Entre as muitas distinções, realce-se a “ Grande Comenda da Ordem do Infante D. Henrique”, em 26 de Janeiro de 2023. Em termos de gastronomia, participou no livro de Maria de Lurdes Modesto, na Carta Gastronómica de Lafões e outras obras, entre as centenas de publicações, das quais 70 são livros de fotografias. Ultimamente, mostrou uma exposição com os “ 500 retratos da minha vida”, ele que tem como prazer captar a luz dos olhares e a essência das paisagens. Fazendo a “ vida que quero”, é com as máquinas que se sente bem. E, diga-se, com elas faz arte de excelência com muito proveito e regalo para os olhos e para ânimo de nossas almas. Considerando Portugal “ o seu reino e o seu exílio”, traz Lafões no coração, este António Homem Cardoso, cidadão das sete partidas de todo o mundo, que nasceu com o Vouga aos pés e fez do Tejo o ponto de partida para levar a sua arte e a sua maestria em fotografar tudo e todos. Parabéns, Homem Cardoso, por estes oitenta anos e por uma carreira de imenso sucesso. Força e em frente. Sempre.