sábado, 28 de março de 2020

O Papa, a oração, e tempos de total desconhecimento....

Como forma de aqui trazer mensagens de reflexão e esperança, quando o mundo vive na incerteza e na insegurança, deixo hoje a oração vinda do Papa Francisco, que impressionou tanto pelo conteúdo como pelo contexto em que foi proferida: uma Praça vazia de gente e cheia de chuva e um Homem, Francisco, a caminhar, a custo, rumo ao altar. Ficam aqui apenas três ou quatro das suas ideias: "... Desde há semanas que parece o entardecer. Parece cair a noite. Densas trevas cobriram as nossas praças,ruas e cidades (...) Revemo-nos temerosos e perdidos (...) E, neste barco, estamos todos....". Já agora, uma curiosidade e uma NOTA: antes, ia-se aos aeroportos ver partir ou chegar os amigos. Hoje, triste sina a nossa, ali se vai em busca de aviões que tragam carga para nossa segurança na saúde. Os tempos mudam mesmo. E este é dos piores que enfrentamos. Quem assim fala, andou por Moçambique mais de dois anos na Guerra do Ultramar, onde o sol castigava mais: Tete. Mas esta é uma outra guerra e total. Pior do que a guerrilha, em que nunca se sabia por onde circulava e aparecia o inimigo, neste caso os seus esconderijos e aparecimentos são ainda mais intrigantes e desconhecidos. Cuidemo-nos. Aos outros e a nós mesmo...

terça-feira, 24 de março de 2020

Em Oliveira de Frades fala-se em dois casos de Covid 19

Não pára a escalada de más notícias: desta vez, é a minha terra, Oliveira de Frades, que vê chegar a epidemia, falando a Câmara Municipal na confirmação de duas pessoas infectadas, infelizmente. É a tristeza a crescer. E a esperança a continuar connosco no sentido da sua rápida e total recuperação, que é altamente provável. Assim aqui aconteça isso mesmo. Nesta conformidade, impõe-se a necessidade de todos continuarmos a fazer o nosso papel e NÃO SAIRMOS DE CASA. Só assim se conseguirá travar a Covid 19 que se espalha por todo o mundo... Que Deus nos ajude, na medida em que as pessoas da frente da batalha, com um sacrifício incrível, estão a fazer tudo o que lhe é possível para nos salvarem!...Sejamos nós dignos dessa entrega total a esta urgente combate...

segunda-feira, 23 de março de 2020

Infelizmente, Vouzela tem um caso de Covid19...

Na sua marcha implacável, o Coronavírus/Covid19 acaba de chegar ao concelho de Vouzela com uma pessoa do Agrupamento de Escolas de Vouzela e Campia, ao que consta residente em Viseu, a acusar positivo, segundo informações recentes. Deus queira que recupere depressa e bem, para alivio de si mesma, da família, colegas, amigos e de quem com ela conviveu nos últimos dias. Acrescente-se que a Escola se encontra encerrada há mais de uma semana. Entretanto, no meio da desgraça, há novidades que nos animam, como esta de o Instituto Politécnico de Viseu, em parceria com o de Leiria, terem lançado a base de protótipos de ventiladores, com ponto de partida numa ideia do MIT - Massachusetts Institut of Technology, dos EUA. Num projecto que envolve cerca de 20 pessoas, motivando já o interesse de outros IP, espera-se agora que surjam empresas interessadas em dar-lhes seguimento e que o Infarmed dê parecer positivo. Com a ciência e a inovação a darem bons contributos, este pode ser mais um deles. Oxalá que sim, para a crise de agora e outras eventuais situações futuras....

domingo, 22 de março de 2020

Viseu, o meu distrito, também viu chegar a pandemia...

FIQUE EM CASA... As provas de que a Covid 19 anda por toda a banda são mais do que evidentes: bate a todas as portas e não pede, sequer, licença para entrar. Está nas nossas mãos parte do travão à sua entrada. Nada de andar por aí sem necessidade e, mesmo neste caso, com todas as cautelas. Aqui não há regra de três, é a simples e só com uma sabida solução: NÃO SAIR DE CASA. Ponto. Infelizmente, o nosso distrito de Viseu não está a passar ao lado desta pandemia. Como alguém que tem na educação parte da sua vida e na ideia essa área nunca desaparece, hoje quero enviar votos de melhoras para as(os) Colegas da Escola Emídio Navarro que, ao que se diz, estão contaminados (as). Que este tormento lhes passe depressa e bem. Já agora, uma palavra também muito especial para todos aqueles que estão em lares e instituições afins: que esta chaga não se junte à dor de viverem, agora, sem as visitas de seus familiares e amigos. Para todo o pessoal que deles cuida, o nosso bem haja. Que os casos em que já há problemas sejam resolvidos com sucesso, para bem de todos. Esta vida não é bem vivida, mas é a vida que se pede, para vida se ter. CUIDEMO-NOS, pelos outros e por nós...

sábado, 21 de março de 2020

Olhar para nós e para os outros...

Nestes tempos de dores e medos, incertezas e busca de respostas seguras que não aparecem, andamos preocupados com o que acontece no nosso quintal, mas, olhando para além dele, sentimos que, um tanto mais longe, mas com gente como nós, há quem sofra mais e muito mais, como a Itália, um horror, a Espanha a galgar todos os números, e tantas outras latitudes. Sabemos que por aqui a pressão é cada vez mais forte. Mas, por lá, a violência da morte com todo o cortejo de desgraças solitárias é avassaladora. E o sacrifício sem fim do pessoal da saúde, lá e cá, um hino à solidariedade sem fronteiras e sem medida. Este é um mundo de que não conhecemos nem a actualidade. Custa-nos imenso ver que se parte isoladamente sem um carinho familiar e sem a homenagem que toda a gente merece, porque não há forma de se poder contactar com quem assim nos deixa. Até na morte este vírus é devastador. Com tanta dor, importa é ser-se capaz de resistir, lutar pela vida a dos outros e a nossa, e ter-se esperança. Muita esperança. E é o que nos resta...

sexta-feira, 20 de março de 2020

Por Lafões, as orientações contra a Covid 19 estão a ser cumpridas...

Em Lafões, com três concelhos, Oliveira de Frades, Vouzela e S. Pedro do Sul, infelizmente aqui já com dois casos confirmados, o silêncio nas ruas, a falta de movimento, o encerramento de serviços vários, a permanência nas casas são, em princípio, normas e recomendações que estão a ser cumpridas. Por outro lado, as movimentações sociais despontam um pouco por todo o lado, pelo que a solidariedade tem lugar nas nossas comunidades. Pessoalmente, é com custo que vemos ter sido encerrado, ainda que temporariamente, em função da crise que vivemos e de seus efeitos, o jornal semanal "Notícias de Vouzela", que este ano assinala 85 anos de existência. Esperando que esta interrupção seja breve, desejamos que venha, de novo, visitar-nos em cada quinta-feira de cada semana. Mas o que desejamos, sobretudo, é que esta pandemia nos deixe de todo e permita que retomemos a vida na sua plenitude... Com a Primavera a chegar, que esta seja a verdadeira estação do ano que tanto ânimo nos traz...

Em tempo de pandemia, recordamos o vouzelense e pai do Instituto Ricardo Jorge...

Dr. Ricardo Jorge com origem no concelho de Vouzela Um dos grandes cientistas da área das epidemias Nos últimos tempos, muito se tem falado no Instituto Ricardo Jorge, a propósito das análises que têm de ser feitas para detectar a doença Covid 19. À primeira vista, aquela designação é apenas a de um serviço público de excelência. Acontece, porém, que para a região de Lafões, para o concelho de Vouzela e para Vilharigues tem um significado muito especial, por esta razão: o pai do Dr. Ricardo Jorge, ferreiro de profissão e com estabelecimento na cidade do Porto, nasceu em Vilharigues, no centro da povoação, no século XIX. Como tantos dos seus conterrâneos, o fenómeno da emigração também lhe bateu à porta e aí foi de abalada para aquela cidade nortenha. Escreveu-se neste jornal, a 1 de Setembro de 1939, que aquele artesão era primo do Barão da Costeira e tio de João António Gonçalves de Figueiredo. Chamava-se o pai do médico de renome universal José de Almeida Jorge ou José Jorge de Almeida, tendo casado com Ana Rita de Jesus. Instalou o seu posto de trabalho e a sua habitação na Rua Dezasseis de Maio, a partir do ano de 1857. Um ano depois, a 9 de Maio, aí nasceria então Ricardo Jorge, que veio a casar com Leonor Maria Couto dos Santos, tendo quatro filhos: Artur Ricardo Jorge (Ministro da Instrução Pública em 1926), Ricardo Joge, Leonor Jorge de Seabra e Alice Jorge Paula Rosa. Com uma carreira que começou a ser desenhada logo nos bancos da escola e no Liceu de Santa Catarina ( e ou Colégio da Lapa?), entrou para a Escola Médica aos 16 anos, onde cursou medicina. Numa de suas obras, A Peste Bubónica no Porto, ficou registado que “ Ricardo Jorge nasceu vacinado contra a ociosidade. Trabalhar, trabalhar sempre, era o seu lema e a sua teima”. Esta viria a ser uma das marcas fundamentais de sua vida bem preenchida em ideias, actos e realizações, desde a medicina à ciência em si mesma. Como curiosidade, o seu vasto curriculum apresenta dois aspectos como que contraditórios: por um lado, dá os seus primeiros passos profissionais na área da neurologia, apresentando as teses “ Um ensaio sobre o nervosismo” e “Localizações motrizes no cérebro”, o que, de certa forma, talvez explique a sã amizade que estabeleceu com o Professor Egas Moniz, também com origens maternais em Vouzela, Alcofra, Quinta do Carril, onde nasceu sua mãe; por outro, será no domínio da saúde pública, higiene e epidemias que virá a ficar mais conhecido e onde produziu grande parte de sua obra científica. A sua obra Em jeito de cronologia, vamos anotar alguns dos pontos essenciais da sua vida profissional, muito embora em linhas muito gerais, por ser enorme o manancial de missões que veio a desempenhar, desta forma: ano de 1881, criação da Revista Científica; 1883 – Passagem por Estrasburgo e Hospital Pitié-Salpêtrière, Paris, aqui num centro de investigação neurológica; 1884 – Delegado da Escola Médica-Cirúrgica do Porto ao Conselho Superior de Instrução Pública; 1889 – Publicação da “Demografia e Higiene da Cidade do Porto”; 1899 – Acção e controle da Peste Bubónica no Porto, tema que iremos desenvolver mais detalhadamente; 1892 – Director do Laboratório Municipal de Higiene; 1912 – Representante Governamental no “Office International d’ Hygiène e ainda Membro e Presidente, mais tarde, da Comissão de Higiene da Sociedade das Nacões. Foi também fundador do Laboratório Municipal de Bacteriologia e Presidente da Sociedade de Ciêncas Médicas. Entretanto, veio a ser funcionário da Câmara Municipal da sua cidade como seu Médico, onde se notabilizou em várias funções, tais como no combate que encetou à Peste Bubónica, uma tarefa que veio a ser espoletada com a investigação que iniciou na Rua da Fonte Taurina, alertado por estranhos falecimentos. Concluiu que se estaria perante um “foco epidémico de moléstia singular e nova”. A partir desse momento, empenha-se a fundo em lançar iniciativas que levassem a minimizar os seus efeitos. Cria o posto municipal de desinfecção e o corpo de salvação pública. Toma medidas drásticas, desde o incêndio propositado de habitações contaminadas, ao encerramento de outras e ao isolameno de prédios, avançando com a imposição de um cordão sanitário e um bloqueio marítimo, recoorrendo ao apoio do exército. Ao mesmo tempo, prossegue as suas investigações nos pavilhões de isolamento do Hospital de Santo António e no Hospital do Senhor do Bomfim. Com a publicação de relatórios, estatísticas, descrição de casos clínicos e outros contributos, nasce o seu livro “ A peste bubónica na cidade do Porto”, reeditado em 2010, com anotações diversas. Devem-se-lhe mais de duas centenas de trabalhos científicos e os seus contributos têm merecido inúmeras obras sobre tudo quanto fez. Uma delas, “ A vida. A obra. O estilo. As lições e o prestígio de Ricardo Jorge, de Fernando da Silva Correia, edição do Instituto Superior de Higiene Dr. Ricardo Jorge, 1960” é uma entre muitas. Em jeito de conclusão, porque “ninguém é profeta na sua terra”, como referiu amargamente, por ter actuado com firmeza e saber na luta contra a peste bubónica, veio a ser vexado, perseguido e caluniado, a ponto de ter abandonado o Porto para ir para Lisboa, onde foi, de imediato, Inspector Geral dos Serviços Sanitários e Professor na respectiva Escola Médica. Para perpetuar o nome e grandeza deste cidadão com origem em Lafões, aí temos o Instituto de que é patrono, que tão bons e relevantes serviços presta à causa da medicina e da saúde. Em tão curtas linhas, pouco do muito que haveria a dizer sobre o Dr. Ricardo Jorge aqui fica. Aberto o apetite, parta-se à descoberta de tudo quanto ficou por dizer. Rematamos com estas palavras do Professor Egas Moniz a seu respeito, aquando da sua morte no dia 29 de Julho de 1939:” ... Ungi-o com a minha saudade e orvalhei-o com lágrimas que rolaram... Nas manhãs em que o visitava, procurava a conversa e ouvia-o. Havia sempre que aprender... Era um banho de luz....” Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 19 Mar 2020

terça-feira, 17 de março de 2020

Covid 19 aqui por perto...

Nada, em matéria de COVID 19, pode dizer-se que nunca vem ter connosco. Nem por sombras. À distância do que a vista alcança a partir de nossa casa, eis que dois casos foram descobertos, ali a dois passos em S. Pedro do Sul. A nossa solidariedade total para quem sofre as angústias e a incerteza de tudo isto, doentes, seus familiares e amigos. E um conselho: recolhimento e resguardo em absoluto. O fim da propagação depende de todos nós. Actualmente, os números são preocupantes e as previsões ainda muito piores. Que Deus nos ajude!....

segunda-feira, 16 de março de 2020

E já lamentamos uma morte nesta chaga que nos invadiu....

Nesta perigosa marcha do Coronavírus/Covid 19, o nosso país assinala a primeira vítima mortal acontecida em Lisboa. Infelizmente, o que todos temíamos acabou por acontecer. Que descanse em paz. Para sermos solidários com quem tanto sofre e para que a escalada da morte não apareça em força, sejamos todos cidadãos conscientes, aplicando as directrizes oficiais e aquelas que o bom senso cívico implica. Defender a nossa saúde e de todos depende muito de cada um de nós. Em registo pessoal, mais um dia por casa e uma útil leitura. A solidariedade é a regra que devemos seguir....

domingo, 15 de março de 2020

A tristeza do Covid 19....

Ninguém sabe praticamente nada acerca do Coronavírus/Covid 19. Só há uma certeza: o mundo virou-se do avesso e anda toda a gente transtornada. O medo e a insegurança estão a impor-se como regra. Quase ninguém arrisca sair à rua sem ser necessário. Tudo fecha em catadupa. Entretanto, em janela de esperança, a solidariedade começou a produzir os seus efeitos. Ontem, às 22 horas, foi bonito ver tanta gente a homenagear o pessoal da saúde que tanto tem feito por todos nós. Àquela hora, também nós fomos para a janela (no nosso caso, uma porta virada para a rua) bater palmas. No meio da tristeza, um momento a merecer não ser esquecido. E que excelentes destinatários teve nas suas intenções! Depois disso, por aqui se continua em meia quarentena com a preocupação como companheira...Ao verem-se as estatísticas a subirem a galope, teme-se o pior. Resta-nos a consolação de sabermos que há gente a curar-se e a sair desse flagelo, que está a ter repercussões mundiais. Que Deus nos ajude!....

Marquês de Reriz reconhecido em Portugal e no Vaticano com palácio em S. Pedro do Sul

de Lafões Marquês de Reriz distinguido pela coroa e pelo papado Natural de S. Pedro do Sul e com bens na região Com uma marca muito vincada na cidade de S. Pedro do Sul temos o Palácio do Marquês de Reriz. Foi seu detentor o D. António Maria de Almeida de Azevedo da Cunha Pereira Coutinho de Vilhena Vasconcelos de Menezes. Nasceu nesta terra em 28.4 . 1831. Para nos ajudar a compreender melhor a sua pessoa e importância (ainda que dela tenhamos feito já alguns outros trabalhos), servimo-nos da obra “Ascendência e descendência dos 1ºs viscondes, condes e marqueses de Reriz, de Paulo Duarte de Ameida, Universidade Lusófona do Porto, 2006”. Percorrendo as suas folhas, nota-se que a região de Lafões aparece muito citada no seu historial, ora de uma forma directa, ora por ligações diversas. Tendo com padrinho seu tio, o Dr. Francisco Maria de Almeida Azevedo e Vasconcelos, andou por Coimbra enquanto estudante no Colégio de S. Bento e no curso de direito. Entretanto, a 18 de Dezembro de 1857, casou-se na Igreja de Santa Eulália, de Águeda, com D. Maria Margarida de Cabedo Henriques e Lencastre. Antes de o seu Palácio ter sido local escolhido pela Família Real de D. Carlos e de D. Amélia, já a corte para ele olhava com intenção de o distinguir como aconteceu com o Rei D. Pedro V que, por alvará de 22 de Novembro de 1858, o considerou Fidalgo da Casa Real, estabelecendo em seu favor uma moradia de 1$600 réis por mês mais um alqueire de cevada por dia. Com a morte de seu pai em 14 de Abril de 1861, torna-se senhor de sua casa, representante dos Almeidas Azevedo, estes, por sua vez, descendentes do Dr. Sebastião Rodrigues Azevedo, irmão do Padre Simão Rodrigues Azevedo, um dos fundadores da Companhia de Jesus,com Santo Inácio de Loyola,e expoente máximo dessa notável instituição religiosa. É de realçar-se que o Dr. Sebastião foi médico da Rainha D. Catarina, físico-mor dos Reis D. Sebastião, Cardeal D. Henrique e Filipe I, assim como Provedor e Administrador das Caldas de Lafões. Coube ainda em herança ao futuro Marquês de Reriz a administração da Quinta do Testamento em Reriz; o vìnculo de S. Pedro do Sul, como Senhor da Casa dos Cunha e Melo, ou das Paulas; também do vínculo de Santo António da Ponte de Vouzela, com bens nesta localidade e em Ventosa. Deve notar-se que este vínculo fora instituído por Gil Rebelo Cardoso, falecido a 18 de Agosto de 1660, e por sua mulher, D. Helena de Figueiredo e Almeida. Sempre a subir na escala social, o Marquês de Reriz, título que lhe foi concedido pelo Rei D. Carlos em 1894, por decreto de 12 de Julho e confirmado em 11 de Dezembro do mesmo ano, cedeu as instalações do seu Palácio para receber o Rei, a Rainha e os Príncipes nas visitas de 27 de Junho de 1894 e nas de 18 de Maio e 11 de Junho de 1895, aquando da sua vinda a S. Pedro do Sul, a Viseu e a toda a região de Lafões, incluindo Oliveira de Frades e Vouzela. Ficou bem assinalado o jantar de 20 de Maio de 1895, com uma ementa muito especial, de pendor francês, e o acompanhamento musical da Banda do Regimento de Infantaria 9. Célebres foram também as suas deslocações e festas oficiais e as recepções havidas. Com uma forte acção política e social, o Marquês de Reriz foi Conselheiro Municipal de S. Pedro do Sul nos anos 1862/63, 64/65, 66/67, 67/68 e 1874/75. Foi Presidente da Câmara Municipal entre 1871 e 1873. Foi Reitor da Irmandade do Santíssimo Sacramento de S. Pedro do Sul em 1888. A nível nacional, como elemento do Partido Regenerador, foi deputado eleito pelo círculo uninominal de S. Pedro do Sul em 1901; em 1902 a 1904, pelo círculo plurinominal de Viseu. Nas Cortes, pertenceu ainda à Comissão de Estatística. No ano de 1900, o Papa Leão XIII agracia-o com a Grã-Cruz da Ordem de S. Gregório Magno (21-08-1900). Acabou por falecer no seu palácio em 6 de Julho de 1927, vítima de uma embolia cerebral. Resistindo ao seu desaparecimento, o Palácio do Marquês de Reriz continua a impôr a sua traça, mas, por dentro, a doença do tempo mina-o a torto e a direito, o que pode ser fatal para tão importante património, se, entretanto, não lhe deitarem a mão, a sério e a valer... Carlos Rodrigues, in “Notícias”, Março 2020

sexta-feira, 13 de março de 2020

Centro de Apoio Social no Luxemburgo com 40 anos e ao leme um cidadão lafonense

Centro de Apoio Social no Luxemburgo com 40 anos Ao seu leme, desde o início, está o nosso conterrâneo José Ferreira Trindade Em inícios dos anos setenta do século XX, um jovem de Levides, Cambra, José Ferreira Trindade, chegou ao Luxemburgo para iniciar mais uma etapa da sua vida, como consequência de um alto fenómeno migratório que esvaziou meio Portugal. Antes desses tempos, passara ainda por Águeda onde mostrou ser capaz de trilhar caminhos de futuro. Recordado positivamente por muitos amigos de então, jamais os desiludiu. Em 1980, no meio de uma intensa actividade profissional e de outras lides no seio da comunidade, fundou o C.A.S.A – Centro de Apoio Social e Associativo, na capital daquele país do centro da Europa. Começava assim uma Instituição que haveria de fazer história, muita e boa história. Instalada no número 15 do Montée de Clausen, onde ainda hoje permanece, ali se concretizou um ponto de encontro e de auxílio a tantos nossos compatriotas que buscavam informação, acompanhamento, conforto, um ombro e uma palavra amiga. Oriundo do mundo do futebol associativo, quando as equipas portuguesas se tentavam afirmar e impôr, o actual Comendador José Ferreira Trindade entendeu que estava na hora de dar um novo salto, aquele que lhe permitisse ainda ser mais útil a quem tanto precisava desses novos serviços e missões. Com o objectivo de encontrar traços de união e ligação entre as muitas colectividades emergentes, avançou ainda uns passos em frente: vir a conseguir a integração necessária dos nossos emigrantes que, chegados àquele Grão-Ducado, ficavam como que de olhos postos no vazio e à mercê de uma sorte que nem sempre lhes era favorável. Embora a terra oferecesse oportunidades de trabalho e emprego (que não são a mesma coisa), importava não deixar ninguém ao Deus-dará. Subindo na vida profissional e social, José Ferreira Trindade, que subiu ao alto posto de Chefe do Centro de Segurança do Aeroporto, não quis ficar com esses louros só para si, mas antes decidiu colocar ao dispôr dos seus conterrâneos o seu saber e a sua imensa sensibilidade comunitária. Criando uma extraordinária rede de contactos com as gentes luxemburguesas e seus dirigentes, apostou tudo numa integração partilhada e activa de quem procurava o seu apoio, amalgamando a nossa cultura com a vida e o sentimento dos próprios habitantes naturais daquele pequeno território europeu, mas fortíssimo nos planos político e económico e nas altas esferas financeiras, qual praça forte do dinheiro mundial. Deste modo, o C.A.S.A, a par de tentar encontrar respostas imediatas de natureza laboral, habitacional, foi capaz de gerar outros aspectos bem dignos de nota: levou ali as nossas tradições, mostrou-as à cidade e aos governantes desde o Grão-Duque ao Governo, passando pelos poderes locais e outras entidades. No entanto, nunca quis que as nossas gentes se fechassem no seu cantinho, nada disso. Ao mesmo tempo que davam, recebiam também, integrando-se nas actividades e eventos locais. Desta forma, vemos luxemburgueses a festejar o Dia de Portugal e compatriotas nossos a participarem no Dia do Luxemburgo. Foi tal a evolução havida, muito por obra e graça da acção deste nosso Comendador, que hoje é normal depararmo-nos com cidadãos lusos em tudo quanto seja posto de trabalho classificado e mesmo na vida política. No dia 27 de Março, festejam-se os 40 anos Criada no âmbito deste Centro de Apoio uma Fundação, uma e outra destas entidades tudo fazem para que a comunidade portuguesa possa singrar na vida e na sociedade que a acolheu. Hoje, além da busca de emprego e de casa, passou-se também a ajudar quem mais necessita porque aquela zona do globo já não é o mundo dourado de outrora, havendo ali miséria, fome a até instabilidade social e a nossa gente constitui a maior das fatias dos migrantes ali instalados, sendo cerca de 1/5 da sua população total. Assim sendo, oferece-se ainda formação, cursos diversos, desde as línguas às artes, a que se acrescenta apoio jurídico e psicológico e aos grupos mais vulneráveis, como idosos, doentes e reclusos. Para dar relevo a tudo isto, no próximo dia 27 de Março o Luxemburgo vai estar em festa, porque 40 anos duma Instituição deste género são obra e bem merecem uma boa taça de champanhe e muita animação, onde não faltarão, por certo, os Cantares de Lafões. Com cerca de dez mil pessoas apoiadas por ano, no C.A.S.A, a co-responsabilidade, a partilha, a cooperação, a proximidade, o humanismo, a participação cívica são valores nunca esquecidos. Em matéria de divulgação, também esta Instituição está particularmente activa, tendo editado, por exemplo, uma revista e fornecendo dados com grande frequência. Com casa na Borralha, onde a família Trindade passa alguns tempos por ano, ali temos visto a esposa Rosa Maria, os filhos Lúcia e Paulo, genro, nora e netos. Sempre rodeado de amigos, lá e cá, na festa do aniversário espera-se uma enchente de gente em quantidade e qualidade, dentro e fora das instalações e entidades oficiais não faltarão, por certo. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 12 Março 2020

João Ramalho, um dos fundadores de S. Paulo, nasceu em Vouzela

Vouzela ofereceu ao Brasil uma alta personalidade I - João Ramalho, alguém com muita história e lenda, adorado em S. Paulo CR Aí pelos inicios dos anos de 1500, sem se saber quando, nem como, chegou ao Brasil João Ramalho, nascido e criado na vila de Vouzela, e nessas terras distantes deixou fama e obra, nem sempre por aqui conhecida, mas de extrema importância, por exemplo, para a história de S. Paulo e arredores. Personagem envolta em realidade e mistério, vamos tentar dar dele a imagem que merece, sendo de toda a justiça tributar-lhe a nossa admiração pelos seus feitos. À luz dos códigos sociais de hoje, muitos dos seus comportamentos não serão aceitáveis, mas o seu tempo era outro tempo e é assim que temos de analisar o seu percurso de vida. Se os seus feitos já estão bastante estudados e divulgados, com destaque para os meios académicos paulistas, são ainda inúmeras as dúvidas sobre a sua vida em Portugal. Sabe-se, apenas, pelas confissões recolhidas e pelas deduções efectuadas, que nasceu, como vimos, em Vouzela, talvez em finais dos anos de 1400, que era filho de João Vieira Maldonado e de Catarina Afonso de Balbode e casado com Catarina Fernandes das Vacas. Da sua restante família em Lafões, pouco ou nada ficou como testemunho para agora poder ser analisado. Nem foi ainda descoberta qualquer pista que nos conduza a indicar as razões que o levaram a emigrar, nem quando e como. Fala-se em várias hipóteses, tais como teria sido colono, náufrago, degredado, fugido à justiça, mas apenas há relato de que, em 1532, andaria pelos lados de S. Vicente, onde Martim Afonso de Sousa o encontrou e com ele estabeleceu uma série de contactos e parcerias. Acerca de sua estadia e funções, muito se tem escrito. Por exemplo, Rodrigo Garcia, em “ O «bárbaro» que salvou S. Paulo”, diz que “... A vida de João Ramalho é cercada de mistério”, enaltecendo, porém, o facto de ter sido “... Responsável pela aliança entre índios e portugueses (... ) e foi fundamental para a manutenção da vila de Sâo Paulo de Piratininga... “. Para este autor, os paulistas vêem-no como seu pai, patriarca local e dos mamelucos (filhos de brancos e índias) e o próprio fundador da paulistanidade. Esta última dimensão foi particularmente notória quando esta cidade assinalou os seus quatrocentos anos em 1900. Nessa época, de certa forma para rivalizarem com o Rio de Janeiro e com a própria linha de pensamento histórico vivida e posta a circular de que Pedro Álvares Cabral fora o grande descobridor do Brasil, os homens do Planalto de Piratininga agarraram-e a João Ramalho, vendo nele o seu herói e o seu fundador. Para esta corrente de pensamento, foi determinante o Instituto Histórico e Geográfico de S. Paulo, fundado em 1894, e todo o trabalho desenvolvido por uma série de historiadores, antropólogos e outros cientistas, todos eles irmanados no objectivo de quase “endeusarem” João Ramalho como seu patrono ilimitado. O que fez para chegar onde chegou Em trabalho académico (2006) por nós apresentado numa universidade de Lisboa, descobrimos; em Gilberto Freyre, uma frase que resume parte daquilo que foi o universo vivencial de João Ramalho por aquelas paragens: “... No Sul, onde aliás já se enontravam, prosperando, à custa do próprio esforço, povoadores do tipo de Ramalho e do bacharel de Cananeia, com grande progenie mestiça e centenas de escravos ao seu serviço, a colónia de S. Vicente foi oficialmente fundada em 1532... “. Entretanto, para Cristóvão José Moreira de Figueiredo, entre variadíssimos argumentos, acrescenta que “... Bastaria a conservação do nome do povoado que fundou (Santo André da Borda do Campo) e cujo paço municipal e cujas despesas custeou do seu bolso quando foi elevada a vila, em 8 de Abril de 1553, para lhe perpetuar o nome, mas é verdade que a sua vida tem mais amplo e profundo significado. É que a personalidade de João Ramalho é como que inseparável da idiossincrasia paulista e, porventura, também da própria fundação de S. Paulo.... “ Antes de continuarmos com mais capítulos em que pretendemos abordar a vida e obra de João Ramalho, anotemos hoje que, em ironia do destino, dois cidadãos vouzelenses tornar-se-iam personalidades de alto relevo em terras e polos opostos. Na Europa, o Padre Simão Rodrigues de Azevedo, um dos fundadores da Companhia de Jesus com Santo Inácio de Loyola e seu Provincial em Portugal durante vários anos, e, do outro lado do Oceano Atlântico, João Ramalho, que haveria de motivar acesa troca de correspondência, sobretudo entre o jesuíta Padre Manuel da Nóbrega e o Mestre português. O motivo para esses debates teve a ver com o estilo de vida de Ramalho no seio das comunidades índias, sendo como que um dos seus e dos maiores, convenhamos. Mas esse tema fica para daqui a uns dias... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Março 2020