sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Esta Elsa veio assanhada de todo...

Numa volta pelos concelhos de Águeda, Oliveira de Frades, Vouzela e S. Pedro do Sul, para apenas falarmos destas terras que nos são próximas, constata-se que a tempestade Elsa chegou carregada de água e mau humor, soprando aos quatro ventos e pondo a nuvens a fazerem barulho. Se a chuva é essencial e é de tradição que apareça pelo Natal, quando já deveriam ter existido três cheias (e só vamos numa, mas das valentes!), os estragos em vias de comunicação e pontes, equipamentos, casas de habitação, monumentos e mesmo mortos e desaparecidos é que não deveriam vir ter connosco. Mas vieram e agora há que lhes fazer frente e pôr os pés a caminho na recuperação do que for preciso, lamentando quem perdeu a vida. Cabe aqui um agradecimento muito especial aos Bombeiros, às Forças de Segurança, às CM e JF, à Protecção Civil por tudo quanto fizeram e estão a fazer em favor de todos nós. Um obrigado muito especial a toda essa gente.

Valadares. S. Pedro do Sul, cem anos de mudanças....

Valadares e seu ensino em cem anos de marcha Com o Rio Vouga aos pés e a Serra por companhia a subir para Manhouce, Valadares espalha-se, enquanto povoação e sede de freguesia, por cerca de três quilómetros de extensão na estrada que liga a EN 333 -3 à EN que une a sede do concelho, S. Pedro do Sul ao Porto, pela Serra. Com o sol por boa companhia, tem como um de seus símbolos, que partilha com a vizinha Sejães, as famosas e doces laranjas. Mas a sua riqueza maior está nas pessoas, na sua criatividade e vontade de fazerem progredir sempre a terra que é seu berço. Isso vê-se nas obras realizadas, nos sonhos concretizados, na alegria que transmitem com seus trajes e cantares, na solidariedade manifestada no seu Centro Social e em tantos outros aspectos de relevo, como, por exemplo, esta revista,“ Os ecos da Gravia”. Nestes breves apontamentos de hoje, seremos mais limitados nas nossas ambições, que passavam por querer falar da vida em geral desta comunidade de fronteira. Vamos, por isso, tentar encaixar apenas aqui algumas reflexões motivadas por cem anos de distância em termos de análise de seu ensino e alfabetização, precisamente no espaço temporal que vai de 1911 a 2011 e anos seguintes. As diferenças, como veremos, são como a água e o vinho. A primeira e triste constatação é que a população diminuiu a olhos vistos nestes cem anos de vida, começando com 1314 habitantes em 1911, para, no ano de 2011, último recenseamento efectuado, apenas termos aqui a residir 805 pessoas. É aqui que se enontra o maior dos problemas da nossa sociedade do Interior: um asfixiante e doloroso despovoamento, que, se não for travado a tempo e horas (e já ontem era tarde demais), ameaça a nossa própria existência, o que se verifica nesta freguesia e na grande maioria da área do nosso território português. Já agora, vejamos os números desde 1864 até 2011, desta forma: 1874 – 1060 habitantes; 1878 – 1105; 1890 – 1353; 1900 – 1300; 1911 – 1314; 1920 – 1429; 1930 – 1452; 1940 – 1483; 1950 – 1466; 1960 – 1587; 1970 – 1408; 1981 – 1285; 1991 – 1101; 2001 - 1007 e 2011 – 805. Estes valores falam por si. Dizem-nos, então, que o pico maior aconteceu no ano de 1960 e o menor apenas em 2011, há curtíssimos anos. Se, por aquilo que se sabe, talvez se compreenda a quebra que houve entre 1960 2 1970, a resultar do fenómeno das emigrações que esvaziaram as nossas povoações, levando as suas gentes por essa Europa fora e para as grandes cidades do nosso país, como Lisboa e Porto, em migrações internas dignas de nota, já custa muito a aceitar o que sucedeu de 1981 até à actualidade, em rombos sucessivos no tecido populacional. Podemos dizer que, apesar dos dinheiros europeus, da nova dinâmica autárquica, dos fundos vindos daqui e dali, dos muitos projectos aprovados e colocados no terreno, das novas vias de comunicação e equipamentos diversos, algo de grave falhou. Portugal não pode dormir descansado, a níveis dos órgãos do poder central e local, enquanto esta sangria se não estancar. Estando perto dum fatal hemorragia, este êxodo rural tem mesmo de acabar. Nem a UE deve deixar de olhar, em políticas do coesão, que já tem, mas que, pelos vistos, não funcionam, para esta terrível situação. Não sendo nós apologistas de quaisquer puxões de orelhas, porque cada estado membro tem a sua autonomia e a sua liberdade, o certo é que dos cofres comunitários vêm pipas de massa e é o que se vê: o erro tem de estar algures e nunca nesta nossa tão dedicada gente que tudo faz para resistir. Com este novo governo, parece que vamos ver estes espaços a tentarem dar a volta por cima, pois que agora estão sem sangue novo, com uma pirâmide totalmente virada ao contrário, o que se reflecte no encerramento das escolas e na abertura de Centros de Dia e Lares ou dos Serviços de Apoio ao Domicílio Instituído um novo Ministério, o da Coesão Territorial, a ter ao leme alguém que deu provas de conhecer esta triste realidade e de a fazer inverter, a Dra. Ana Abrunhosa, pode ser que outros e melhores caminhos venham a surgir. Se assim não for, então nem sequer sabemos o que fazer, que a falta de horizontes para os nossos jovens é enorme e gritante. É na busca desses seus sonhos que estará a chave da solução para estes problemas. Como? Com políticas públicas que encarem de frente a nossa salvação. Falemos agora de ensino A nossa intenção começou, em organização inicial deste trabalho, pela vontade de falarmos apenas do ensino e do que mudou neste período temporal de cem anos. Porém, ao olharmos para os números gerais que acabámos de expôr, não resistimos e lá fomos por outras estradas, as da nossa desgraça como aldeias sem grandes sorrisos infantis e cheias de lágrimas de quem vê os seus partir, tantas vezes sem retorno. Foquemo-nos, para já, no tema a que nos propusemos. Começamos por estranhar a dureza das palavras com que se descrevia a realidade em 1911, em alguns dos cinco parâmetros descritos em números, varões e fêmeas, assim mesmo. Mas contra isso nada a fazer. Foi o que foi e não é legítimo até fazermos comentários à luz dos nossos actuais valores e padrões de vida. Olhemos para as tabelas do campo da educação em 1911, relativamente a esta freguesia de Valadares: população residente – 1314 habitantes; analfabetos varões – 478; fêmeas – 710; sabem ler, varões – 113; fêmeas – 8. Dois aspectos se evidenciam de imediato: em primeiro lugar, uma disparidade e desigualdade de género verdadeiramente assustadora; seguidamente, notamos que o analfabettismo era uma realidade negra, muito mais quanto às mulheres. Não é, porém, uma diferença que se aplique apenas ao ensino, porque todos os aspectos da vida social mostram esses abismos entre os dois sexos, bastando, por exemplo, pensar-se que, ainda na década de sessenta do século passado, o voto feminino era altamente restritivo e que as mulheres, para se deslocarem para fora do país, tinham de ter uma autorização especial. Estendendo, agora, esta lógica ao concelho de S. Pedro do Sul, no seu todo, tínhamos, nesse mesmo ano, este panorama: 22550 habitantes; 6691 analfabetos varões; 11807 fêmeas; sabiam ler 2929 varões e 843 fêmeas. Se nos fixarmos em 2011, aparece-nos em Valadares uma taxa de analfabetismo de 7, 62%,, abaixo, porém, da média global do concelho que era de 9,05%, sinal de que são óbvios os progressos por aqui. Em jeito de comparação, anotemos: Baiões – 5,14%; Bordonhos – 6,63; Candal – 27, 68; Carvalhais – 6, 97; Covas do Rio – 25, 42; Figueiredo de Alva – 9,67; Manhouce – 18, 17; Pindelo dos Milagres – 12, 66; Pinho – 10, 47; Santa Cruz da Trapa – 7,67; S. Cristóvão de Lafões – 6,74; S. Félix – 11, 81; S. Martinho das Moitas – 23, 46; S. Pedro do Sul – 7,33; Serrazes – 5,74; Sul – 15, 24; Valadares – 7, 62; Várzea – 4, 2 e Vila Maior – 9, 36, tudo isto de acordo com o Diagnóstico Social de 2013 elaborado pelo Município. Sem qualquer lupa, salta aqui uma outra evidência: a desigualdade também se verifica notoriamente dentro das fronteiras concelhias, bastando analisar-se a disparidade existente entre a média geral e os valores muito mais altos do Candal, Covas do Rio e S. Martinho das Moitas, ou até de Manhouce e Sul. Assim sendo, há ainda muitas reflexões a fazer para além da dicotomia litoral – interior. Tendo Valadares, por essa análise, 7 crianças a frequentarem o Pré- escolar e 13 no Primeiro Ciclo, o panorama para o futuro continua a ser pouco animador em matéria de povoamento. Temos, mesmo assim, uma boa dose de confiança e esperança. Quando o Rei D. Afonso Henriques ligou Valadares, com o Covelo, ao couto do Mosteiro de S. Cristóvão de Lafões, lá tinha as suas boas razões. Não nos cabe a nós, de maneira nenhuma, dizer o contrário. Como bom vizinho, é isso que desejamos a toda a gente desta terra – Valadares. Que amanhã o sol continue a dar luz, muita luz, a esta freguesia do Vouga e da Serra da Gravia... Carlos Rodrigues, in “Ecos da Gravia”, Dez 19

domingo, 15 de dezembro de 2019

Pede-se barriga suplementar...

O mês de Dezembro traz-nos carradas de excessos. São as Boas Festas em dose vastíssima, são os desejos de um ano novo muito feliz, aos montes, e são, sobretudo, as ceias de Natal, às vezes três para o mesmo dia. Isto estafa mesmo. Já nos lembrámos de pedir uma barriga suplementar para ver se conseguimos levar de vencida tanto convite. Também já pensámos em fazer com que o bacalhau se convertesse em lagosta. Sem sucesso, infelizmente... Um abraço e um bem haja muito forte a quem se lembra sempre desta humilde pessoa...

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

As estradas em Lafões ao longo dos tempos...

Planos rodoviários e Lafões em breves notas A propósito do fecho e reabertura da EN 16, do troço de ligação entre Vouzela e as Termas de S. Pedro do Sul, onde já se pode circular desde sexta-feira, dia 6, à noite, lembrámo-nos de mostrar como têm evoluído os Planos Rodoviários Nacionais que começaram a ser definidos, mais estruturadamente, no ano de 1945. Nesse tempo, a rede de estradas contabilizava 20600 quilómetros em vias de três níveis, 1ª, 2ª e 3ª classes. Quarenta anos durou esse documento. Depois de ter servido de guia esse mesmo PRN, um outro aparece em 1985, sucedendo-lhe posteriormente o PRN 2000, com uma configuração muita próxima daquilo que temos na actualidade, salvo os devidos acertos. Lafões teve como um de seus eixos principais aquele que une a zona de Aveiro a Vilar Formoso, a EN 16, partindo daí por essa Europa fora. Antes, porém, a circulação fazia-se pelo traçado da velha via romana e, mais tarde, pela ER (Estrada Real) 41. Data esta de um Decreto de 14 de Abril de 1856, quando foi decidido construí-la em macadame para unir os dois citados pólos habitacionais entre o litoral e a fronteira. Alega-se, em 1862, que, no concelho de Albergaria-a-Velha, havia sido objecto de obras de beneficiação, isto após uma curta primeira existência, o que era já o prenúncio de continuadas obras ao longo dos tempos. Entretanto, tomando como fonte de informação este nosso NV e um seu famoso suplemento, o Especial Via Rápida de 1988, de 11 de Novembro, por altura da inauguração do IP5, anotemos outras classificações também do século XIX, de certa forma ligadas a esta nossa Região, a “Tabella das Estradas Reaes e Districtaes, de 1889”, relativamente aos seus 18427 km. Eis algumas dessas vias: Nº 13 – Viseu-Vouzela-Seixa-Talhadas/Águeda; nº 41 – Aveiro – Albergaria – Pessegueiro – Oliveira de Frades – Vouzela – S. Pedro do Sul – Viseu e por aí fora; nº42 – S. Pedro do Sul – Santa Cruz da Trapa – Vale de Cambra – S. João da Madeira – Porto; nº 45 – Aveiro – Águeda – Arca – Varzielas – Guardão – Tondela – Carregal do Sal; nº 95 – Santa Cruz da Trapa – Oliveira de Frades – Cambra – Campia – Alcofra – ER 45... Como tudo tem um limitado período de existência, também aqueles dois documentos, de 1945 e 1985, e estas referências expiraram o seu prazo. Entra em cima da mesa o já citado PRN 2000, com uma boa série de requalificações, de novas categorias de vias e arrojadas novas propostas, pelo que aqui o vamos detalhar mais em pormenor. Voltando, então, a 2000, aqui colocamos alguns tópicos desse Plano, onde até se falava de “instalação e gestão de sistemas de informação e tráfego nos prinicipais corredores”. Apontavam-se as seguintes rodovias: em nove IP (Itinerários Principais), o nº 5 seria atribuído à ligação Aveiro a Vilar Formoso; o IC 2 – Lisboa – Porto, entre os 34 IC (Itinerários Complementares): havia ainda as EN , como “restos” das velhas e esquartejadas estradas, tais como a 16, entre S. Pedro do Sul e Vouzela; a EN 333 – Oiã – Águeda – Vouzela (Nó); a EN 333-3 – Oliveira de Frades – Nó de Cambarinho; em matéria de AE, aludia-se ao IP5, futuro A25. Tendo havido algumas reclassificações, ei-las: - ER (Estrada Regional) 16 – Oliveira de Frades – Vouzela; ER 227 – Cercal – Oliveira de Frades; ER 228 – Vouzela – Mortágua e Castro Daire – S. Pedro do Sul; ER 230 – Águeda – Carregal do Sal e daqui para Oliveira do Hospital; ER 333 – Vagos – Oiã; ER 333-2 – Campia – Varzielas; ER 333-3 – Ligação da ER 227 a Oliveira de Frades. Entre tantas modificações, várias destas notas podem estar já algo desactualizadas ou menos perceptíveis em termos das suas existências. No entanto, não quisemos deixar de aqui falarmos nestas matérias, no momento em que assistimos à reentrada em funcionamento de um troço que, devido à queda de um muro de suporte, levou a uma inexplicável demora na sua reparação (meses e meses) e só veio a contemplar uns esccassos metros, quando as forças vivas locais tanto pedem a sua total requalificação. Coisas da vida que a vida mal consegue entender... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela, 12 Dez 19

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Em Dezembro de 1514, D. Manuel I concede a Lafões o respectivo foral. Eis algumas notas...

Foral de Lafões e seu enquadramento Comemoram-se, neste ano de 2014, os 500 anos do Foral de Lafões, sendo nossa intenção, ao abordar tão importante documento, vir a tentar fazer uma espécie de enquadramento desta temática na organização politica, económica e social de nossas terras, nessa época, mas também, e sobretudo, nos tempos anteriores em que se forjaram os municípios em Portugal. Estes, a serem filhos dilectos do desejo de autonomia dos povos, em oposição aos abusos senhoriais e outros, próprios de um regime feudal em que a vassalagem era norma vigente, foram objecto de transformações e leituras várias ao longo de nossa história e um pouco em todo o mundo científico que se debruça sobre a sua formação e implantação. Antes de avançarmos para a alusão a outros forais e cartas de foral, anteriores àquele que D.Manuel concedeu a Lafões em 1514, digamos que a origem dos concelhos e sua apreciação têm alimentado polémicas várias, com duas linhas em confronto: para Alexandre Herculano e Henrique Gama Barros, os municípios vêm na linha da romanização, como uma de suas consequências; já Teófilo Braga, seguindo Muñoz y Romero, contesta tal hipótese, associando-os à fase da Reconquista. Sendo estas querelas, que ocupam os estudiosos destas matérias, algo marginais relativamente àquilo que queremos analisar, o que relevamos é o facto de, na Idade Média, a partir do século XI, os concelhos serem simultaneamente instrumentos de povoamento e de afirmação da liberdade e autonomia, factos que, em Lafões, também muito se verificaram. A seu lado, criando-os, ou apoiando-os, temos os nossos Reis. Classificados os concelhos como perfeitos, imperfeitos e rudimentares, de acordo com Herculano, ou com modelos de Salamanca, Ávila e Santarém (Barros), o que se quer destacar é então a existência destas organizações por estas nossas bandas. Em Herculano ( História de Portugal, Ulmeiro, Lisboa, VIII, 1985), “ ... A história da instituição e multiplicação dos concelhos é a história da influência da democracia na sociedade, da acção do povo na significação vulgar desta palavra, como elemento político... “ (p. 73) e isso diz tudo: mostra quanto peso tiveram na vida das comunidades que se foram gerando. Se, com D. Manuel, havia já uma certa ideia de uniformização central e, por isso, algo distante da matriz medieval mais genuína e mais pura, os forais foram sempre, na sua essência, um campo para a defesa da liberdade e autonomia dos territórios em que se aplicavam as suas normas jurídicas, económicas, sociais. Com a vertente uniformizadora a triunfar neste período manuelino, fértil em mudanças estruturais a todos os níveis, as alterações verificadas nos forais têm a ver com a subida da centralização que se ia aprofundando, sobretudo desde o reinado de D. João II, seu antecessor. A sua Carta Régia de 22 de Novembro de 1497, como resposta a pedidos que já se faziam sentir desde as Cortes de Coimbra (1472) e Évora (1475), com D. Afonso V e em 1481 e 1482, com D. João II, aparece como uma forma de, reexaminando os forais velhos, lhes impor a marca que então se entendia como a mais benéfica para as aspirações do Rei e seu estilo de governação. Foi o que se sucedeu depois em mais de duas centenas destes documentos, incluindo o de Lafões, em 1514, e do Banho, em 1515. A anteceder esta versão, a Região de Lafões teve outras cartas de foral, no todo e em várias partes do seu território, desde os inícios da nossa Monarquia, com o Banho e ser a primeira localidade, em 1152, a ser dotada com a categoria municipal, por deliberação de D. Afonso Henriques, Rei que, em 1169, atribui Carta de Couto, confirmando a de 1159, do Alcaide Cerveira, a Oliveira de Frades, como espaço de Santa Cruz de Coimbra. Por outro lado, até ao século XIX, houve por aqui outros concelhos, ou terras autónomas, tais como Trapa e Sul, assim como existiram localidades que estiveram sob a alçada, por exemplo, de S. João do Monte. Também, como se pode ler no Foral, Queirã, Alcofra e Moçamedes gozavam de um certo estatuto especial. Quanto a Lafões, propriamente dito, já D. Duarte, em 1436, tinha dado atenção a este mesmo concelho, numa zona que, desde há muito, era dotada de um Governador ou funções afins, como se vê em documentos diversos vindos dos séculos X em diante. Sendo este um primeiro trabalho sobre o Foral de Lafões, no seguimento de um bom programa lançado pelas Escolas de Vouzela e Câmara Municipal, que vai ter três datas fortes, a 15 de Outubro, 15 de Novembro e 15 de Dezembro, ponto alto destas comemorações, acabamos, por hoje, com uma reflexão: a que se relaciona com o facto de Vouzela estar com legitimidade acrescida para assinalar esta efeméride. Vejamos quais as razões que nos levam a esta conclusão: Em primeiro lugar, ter na sua posse um dos dois ou três originais do Foral Manuelino, recebido no ano de 1516, a 14 de Setembro, perante o escrivão da Chancelaria da Correição da Beira, e dado a Afonso Ribeiro, escrivão da Câmara do dito Concelho, atesta a centralidade desta terra, nessa mesma época, o que lhe confere a dignidade para ficar como fiel deposiária de tão importante documento. Se, no Numeramento de 1527, Lafões aparece com duas “cabeças”, Vouzela e S. Pedro do Sul, nessa constação há um dado que reforça o papel do primeiro destes locais, também em razão do número de habitantes, com 48 moradores em S. Pedro e 73 na terra do Zela. Mas há mais argumentos: desde logo, aquele em que só Vouzela foi autorizada e usar as armas de Lafões. Com a história a fornecer algumas fontes seguras, neste caso, caminhamos por deduções, mas estamos crentes que não fugimos da verdade quando afirmamos estas conclusões, matéria que continuaremos dentro de algum tempo. Para estas linhas, muito úteis nos foram estas obras: “Foral de Lafões, 1514, Maria Teresa Tavares e Sofia Carla Vasques, Câmara Municipal de Vouzela, 1997”, “ História de Portugal, Alexandre Herculano, Ulmeiro, Lisboa, VIII, 1985”, “ Termas de S. Pedro do Sul, A. Nazaré de Oliveira, Palimage, Viseu, 2002” e “ Serém – 500 anos de Foral, Manuela Almeida, Junta de Freguesia de Macinhata do Vouga, 2014”. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 2014

sábado, 7 de dezembro de 2019

Troço da EN 16 entre as Termas de S. Pedro do Sul e Vouzela como amarga prenda de Natal...

Depois de uns meses de paragem obrigatória, devido às ameaças de ruir por parte de um muro à entrada para a Quinta da Sernada, em Vouzela, a EN 16 acabou por abrir as cancelas e deixar fluir o trânsito ontem mesmo, noite de sexta-feira, entre esta vila e as Termas de S. Pedro do Sul. Escassos metros fizeram com que os veículos tivessem de se desviar para vias secundárias, passando para Fataunços, para fazer, em quilómetros, a distância que separava estas duas terras de Lafões. Se dissermos que estamos a falar das Termas mais frequentadas na Península Ibérica, pelo menos há anos, menos compreensível se torna esta demora, apesar dos esforços feitos pelos municípios de Vouzela e S. Pedro do Sul. O certo é que também o concelho de Oliveira de Frades e os muitos utentes e milhares de aquistas desta EN 16 acabaram por ser vítimas de todo este imbróglio e atraso. Se compararmos com a pressa e ligeireza com que se conseguiu isolar, com blocos de cimento, a Assembleia da República, aquando das manifestações da GNR e PSP, isto é notícia de outro mundo... Por outro lado, contrariando os pedidos feitos pela Comissão intermunicipal que pretende ver beneficiado todo o trajecto de 1.7 quilómetros de estrada muito estreita e com treze curvas acentuadas e perigosas, tendo posto a circular uma petição pública que já conseguiu as 4000 assinaturas para ser apreciada em AR, isto é pouco, muito pouco, uma curtíssima e azeda prenda de Natal. Sendo já alguma coisa, batemos palmas, baixinho e sem grande entusiasmo...

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

O Rio Vouga visto à luz dos Conselhos de Bacia...

Conselhos de Bacia Um olhar sobre o Rio Vouga em 1996 Na análise dos rios em Portugal, há um mecanismo legislativo que se revela de uma grande importância, que é aquele que se designa como os “Conselhos de Bacia”, ora mais activos, ora mais em banho-maria, ou mesmo em triste apatia. Nos anos 90, estavam em plena actividade no que ao Rio Vouga se refere, como se comprova com as conclusões da sua 5ª Reunião do mês de Fevereiro de 1996, realizada em Oliveira de Frades. Começou-se a discussão com a apreciação da acta de Junho de 1995, em que se registaram as conclusões do encontro de Sever do Vouga, constatando-se que era alargado o painel de representantes, a cargo das seguintes entidades: Direcção Regional do Ambiente e Recursos Naturais e respectivo Ministério, assim comos os Ministérios da Agricultura, Planeamento e Administração do Território, Indústria e Energia, Saúde, Comércio e Turismo, Mar e ainda a Associação Nacional de Municípios e os representantes dos Utilizadores e das Organizações Não Governamentais, tais como a Associação dos Amigos do Rio Vouga, então existente. É de relevar-se que esta noção de Bacia já Amorim Girão, nos anos 20 do século passado, a utilizou na sua própria tese de doutoramento na Universidade de Coimbra, apresentando a “ Bacia do Vouga”, muito concretamente. Entre os muitos assuntos tratados a propósito da citada reunião de Sever do Vouga, ficou a saber-se que tinha sido apresentada uma candidatura aos Fundos de Coesão com vista à elaboração dos Planos de Bacia, com base nas seguintes verbas: Douro – 335 000 contos, o que corresponderia, grosso modo, a 1675000 euros; Tejo – 445/222500; Guadiana – 210/1050000; Lima e Cávado – 140/700000; Mondego, Vouga e Liz – 200/1000000; Ribeiras do Oeste – 45/225000; Sado e Mira – 165/825000; Ribeiras do Algarve – 70/350000; Plano Nacional da Água – 650/3250000. Previa-se, no seu início, um prazo de dois anos para a sua conclusão, mas afirmou-se que tinha sido dilatado, estabelecendo-se como prioridade os rios internacionais e só depois os nacionais. Falou-se também das previstas Barragens de Ribeiradio e do Pinhosão, entendo-se que a primeira se considerva mais prioritária. Em termos de informação sobre as actividades desenvolvidas pelo Conselho de Bacia, referiram-se as reuniões de Aveiro, S. Pedro do Sul, Torreira, Sever do Vouga e Oliveira de Frades. Foram ainda indicados alguns estudos elaborados sobre este Rio, com destaque, quanto ao território em que Lafões se insere, para o Aproveitamento Hidráulico da Bacia (1975), Estudo da Caracterização, Perspectivas e Gestão dos Recursos Hídricos na Região do Vouga (1990) , Aproveitamentos Hidro-Agrícolas (1994) e Levantamento das Fontes Poluidoras do Rio Vouga entre as Termas de S. Pedro do Sul e a foz do Rio Caima. Dado tratar-se de sessões de trabalho aprofundadas, foi apresentado, nessa altura, em 1996, um relatório do Instituto Nacional da Água, intitulado Recursos Hídricos de Portugal Continental e sua Utilização, em que se evidenciavam as seguintes notas, algumas não muito agradáveis, como se pode ver: “... Uma primeira conclusão que pode ser extraída é que não tem sido dada à gestão dos nossos recursos hídricos toda a atenção que ela merece. Se todos afirmam repetidamente que a água é muito importante, não apenas como recurso insubstituível nas actividades humanas mas também como componente essencial dos sistemas naturais, então será necessário que, em coerência, lhe seja prestada mais atenção... Uma segunda conclusão que pode ser retirada deste estudo é que os nossos recursos próprios, ainda que mal distrribuídos, são abundantes e muito superiores às nossas necessidades... Uma terceira conclusão que se impõe, talvez menos evidente, é que os principais problemas que se colocam para a resolução nos próximos anos dizem respeito à requalificação, protecção e ordenamento dos nossos recursos hídricos.... “ Atendendo-se ao facto de que, quanto à utilização das águas, há interesses diversos e, bastantes vezes, quase em conflito uns com os outros, “... É fundamental que o processo de planeamento seja amplamente participado por todos os sectores utilizadores, pelas organizações profissionais relevantes e pelos representantes das populações para a protecção do ambiente... “, o que é de relevante importância no que diz respeito, por exemplo, ao uso da nova albufeira da Barragem de Ribeiradio, que, em 1996, ainda era vista como um projecto desejável mas por concretizar. Pondo-se no prato da balança a necessidade dos “princípios do desenvolvimento sustentável, da precaucionaridade e da prevenção”, urge que se tire um correcto aproveitamento deste recurso natural em favor das populações e do interesse de cada uma de nossas terras e comunidades, sem pôr em causa, obviamente, aquelas precauções. Aqui entronca a ideia de que é preciso fazerem-se “abordagens integradas para unidades territoriais específicas”, cada uma delas com as suas características muito especiais e intransmissíveis, como acontece na actual Bacia do Rio Vouga na parte abrangida pela Barragem de Ribeiradio, sem pôr em causa o princípio da “responsabilidade partilhada” Num outro parágrafo, assinala-se que tudo deve ser olhado sob o prisma da ligação entre o ambiente e o desenvolvimento sustentáveis e que as políticas deste sector só são eficazes se não dependerem apenas do Estado, mas antes se forem assumidas por toda a sociedade, o que implica por parte das comunidades uma activa e concreta missão a desempenharem. Sem se pôr em causa qualquer equilíbrio ambiental, que deve merecer um cuidado absoluto, os rios e suas albufeiras devem colocar-se ao serviço das populações e não as marginalizar. A água, a natureza e o homem, ao viverem em diálogo, produzem progresso e desenvolvimento. Se os olhos dos decisores estiverem fechados a esta realidade, qualquer obra pode ser (e é) um investimento estéril e até prejudicial para os territórios em que se insere. Há empreendimentos que têm de ser vistos a esta luz com feição também local: a Barragem de Ribeiradio é um desses e a vertente do turismo, que não está a ser valorizada, não pode ser esquecida. É para isto também que servem os Conselhos de Bacia dos Rios, em particular, neste caso, o Vouga, que corta terras de S. Pedro do Sul, Vouzela e Oliveira de Frades, em pleno coração deste nosso querido Lafões.... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 5 Dez 19

Cimeira do clima com mais vozes do que nozes, infelizmente....

Cimeira do Clima a decorrer em Madrid Com uma agenda carregada de nuvens negras, a Cimeira de Madrid sobre o Clima, a COP 25, contou com a presença, na sua abertura, de cerca de 50 líderes mundiais e por ela vão passar, até ao seu encerramento no próximo dia 13, em estimativa, 196 países de todo o mundo com as suas delegações. Este evento, que esteve projectado para o Chile e ali se não realizou por razões da agitação política que, entretanto, se iniciou, integra-se na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas Apontando a gravidade da situação e o facto de, após o Acordo de Paris, pouco ou nada de significativo ter sido levado a cabo, antes pelo contrário, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, apelou, fortemente, ao empenhamento de todos os países no sentido de passarem das palavras e das intenções aos actos concretos, reais e efectivos. Também António Costa se associou a este grito, dizendo que os efeitos nefastos das mudanças verificadas nos têm afectado de uma forma dramática, apontando os trágicos incêndios e o avanço do mar para o litoral como uns de seus principais efeitos. Convém ainda que nos lembremos que, há bem poucos dias, o Parlamento Europeu aprovou o estado de Emergência Climática, atendendo à gravidade da situação, que pode pôr em perigo, daqui a anos, bem poucos, por sinal, o equilíbrio ou a própria existência do planeta - terra, onde habitamos, tendo a obrigação de o legar aos vindouros em condições de vida aceitável e duradoura. Apontando-se a entrada em vigor do referido Acordo de Paris para o ano de 2020, daqui a pouco tempo, ou se age depressa, ou tudo será colocado em risco. Com os jovens na rua, em manifestações sucessivas, somos interpelados, a toda a hora, para avançarmos com decisões e acções de vulto e não apenas com bonitas palavras de circunstância. Este é o tempo de agirmos. A ciência assim o diz e poucos (mas perigosos são aqueles que o negam) se atrevem a pôr em causa essas evidências. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 5 Dez 19

Maravilhas nos Arquivos Municipais tais como em Oliveira de Frades

Arquivos municipais em tesouros sem fim Do ano de 1915, descobrimos, no Arquivo Municipal de Oliveira de Frades, uma série de notas que nos enchem a alma de conforto e conhecimento. É para isso que servem estes departamentos do poder local, que ainda não estão suficientemente valorizados, nem estimados, em incúria que se repete, infelizmente, um pouco por todo o lado. - Num dos documentos encontrados, uma simples arreamatação de bens traz-nos carradas de informação. Vejamos o caso em apreço: tratava-se da venda de um prédio urbano, então só com paredes, sem armação nem telhado, localizado no Fundo da Aldeia, limites de Nespereira, a confrontar de nascente com herdeiros de José Lopes da Costa, de norte com Bernardino Ribeiro de Almeida, de poente com o Caminho e do sul com Emília Ludovina da Silva. O estranho desta notícia é que se acrescenta que ali tinham vivido as Freiras do suprimido Convento Nossa Senhora de Campos de Sendelgas, algo que parece um tanto descabido, por serem grande parte destas terras de Santa Cruz de Coimbra, mas que as excepções parecem confirmar. No entanto, uma dúvida ainda a não conseguimos desfazer, porque Nespereiras há bastantes e esta aparece nos Arquivos do concelho de Oliveira de Frades, tudo fazendo crer que essa posse deve ter sido uma realidade. A ver vamos. Decorria esta operação de uma correspondência do Ministério das Finanças – Direcção Geral da Fazenda Pública, no seguimento das Leis da Desarmotização. Inseria-se esta aviso na lista nº 9908. Se for verdade, confirma-se que, já nesses tempos, se assistia a uma espécie de globalização e que não havia limites para as aquisições e respectivas posses e que a Igreja tinha domínios por toda a parte. - Andamos hoje todos preocupados com as dívidas do estado (e, consequentemente, dos municípios) aos cidadãos. Mas em 2015 uma entidade empresarial, a Moagem, Serração e Carpintaria Mecânica – Estância de Madeiras do Bairro do Massorim, Viseu, perguntava à Câmara Municipal de Oliveira de Frades quando é que queria liquidar as contas da obra, presumindo nós, que se referia ao edifício dos Paços do Concelho que tantas dores de cabeça trouxe aos seus promotores. Pedia ainda a entrega do resto da tinta. - A Comissão Concelhia dos Bens Eclesiásticos, em ofício de 30 de Janeiro de 1915, solicita ao Administrador do Concelho cópia dos termos da expropriação dos terrenos dos passais de S. Vicente e de Pinheiro, destinados à construção da linha do Vale do Vouga, por ter de os enviar para a Ex.ma Comissão Central. - Através de um edital da Direcção Geral de Estatística procura-se saber quais os produtores detentores de milho, arroz, feijão, grão de bico, que quantidades produzidas, disponíveis e para venda. - Entretanto, já em 1916, é aprovado um voto de pesar pelo falecimento do ex-Ministro da Justiça, Conselheiro Dr. José Maria Alpoim Cerqueira Borges de Cabral, “ a quem este concelho deve a sua elevação a Comarca, facto que jamais pode ser olvidado”. Que o seu retrato seja colocado no Salão Nobre da Câmara Municipal. Por sua vez, foi decidido autorizar o pagamento aos professores, as rendas de escolas e habitações, o expediente e limpeza, os subsídios à renda das habitações dos docentes, a iluminação nocturna e os seguros dos edifícios escolares. Assim se vê que a matéria das transferências da educação para os municípios não é tema novo, porque, nesses anos, já assim se procedia em níveis até mais fundos, incluindo questões disciplinares e de controle do sistema. Numa variedade bastante dilatada, estas fontes são um manacial de informação de muito interesse e que importa acautelar, de modo o preservarem-se pelos tempos fora. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 5 Dez 19