segunda-feira, 22 de junho de 2020

AR com pontaria desafinada...

Sei muito pouco acerca do Banco de Portugal. Até 1998, ainda tinha o poder de emitir moeda (reais desde 1846 a 1911; escudos de 1911 a 1998 e euro, com a mão do BCE bem por cima, desde 1999 até aos nossos dias). Agora, resta-lhe supervisionar, regular, fiscalizar e um pouco mais. Sei que o Professor Mário Centeno mostrou estar à altura das missões em que se mete. Viu-se como Ministro das Finanças (não tendo eu votado no Partido que o indicou para tão importante cargo) e como Presidente do Eurogrupo. Dizem que quer ir para o Banco de Portugal. Sei que há quem não goste. Sei também que há quem deseje que ele para ali vá. Mas sei, sobretudo, que a Assembleia da República lhe moveu uma perseguição que a levou a correr para a aprovação de legislação que impeça a sua ida para aquela instituição. Sei que até pediu o seu CC e o seu NIF, em fato legislativo à medida. Isso é que eu não gosto. Nem percebo como é que a AR se presta a esta guerrinha de alecrim e manjerona. Não me pergunte se será um bom Governador. Mas creio que sim. Incompatibilidades? Talvez, quem sabe. Mas, puf!, ele vem do Estado para ir para o Estado, sendo, aliás, quadro desse Banco nacional... Melhor fora que os nossos deputados cuidassem de saber quais as razões que levam o Interior do nosso País a perder tanta, cada vez mais gente, como ainda por estes dias, via PORDATA, se constatou. Esse é que era um bom objectivo para bem se legislar. Proponho um exercício: mude-se a sede do Banco de Portugal para Covas do Rio, S. Pedro do Sul, e veremos se aqueles representantes de todos nós também assim actuariam... Deixemo-nos de brincadeiras...

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Médico de Oliveira de Frades conta a sua dura história de doente Covid 19...

Médico conseguiu espantar o vírus - Dr. Grade esteve dias e dias do lado de lá Um dia, a notícia de que estava contaminado colheu de surpresa o Dr. António Cabrita Grade, médico, residente em Oliveira de Frades. Como Director do ACES Dão Lafões- Agrupamento de Centros de Saúde – tinha estado na primeira linha do estabelecimento de medidas e práticas destinadas às áreas dedicadas ao combate à Covid 19. Uma das hipóteses para ter sido atingido pelo vírus pode passar por aí, por essas funções, ainda que não relacionadas, em princípio, directamente com doentes. Outra, quem sabe, talvez se ligue a outras fontes de contágio, apesar dos cuidados que disse sempre ter. A verdade é que veio a cair no seu próprio Hospital, o de Tondela/Viseu, onde permaneceu largos dias em frequentes e prolongados tratamentos, sem que disso se tenha dado conta. Adormeceu. E assim esteve semanas nos Cuidados Intensivos, ligado às máquinas, sem saber onde estava. Até vir para uma enfermaria, nunca se lembra de alguma vez ter consciência do que lhe estava a acontecer. E era grave, muito grave. Felizmente, a boa notícia veio a aparecer, como nos conta na entrevista, ao vivo, que nos concedeu. - Como é que um cidadão, que também é médico, toma conhecimento de que está contaminado com Covid 19? Que sensações? - Essa notícia, como é natural, confronta-nos com uma realidade à qual não podemos fugir... Como médico, sabemos que nas nossas funções corremos riscos, apesar dos cuidados que temos. No nosso dia a dia, estamos, de certa forma, familiarizados com este género de situações. Cabe-nos, por missão, tratar dos doentes e, neste caso, na primeira linha dos combates que é precido travar, onde não se pode ser cobarde, mas também não sermos heróis de pau carunchoso... Posso ter sido contaminado no âmbito das funções que desempenho. Estive durante algum tempo em funções absorventes na criação das medidas a tomar em prevenção, estabelecimento de áreas dedicadas e respectivas equipas. Mas também não excluo a hipótese de o ter sido noutros quaisquer meios. - Isso quer dizer que todos nós estamos sujeitos a apanhar o vírus... - Essa é uma verdade que a todos abrange. Precisamos, assim, de ter todos os cuidados que nos exigem as autoridades da saúde... - Que sintomas sentiu antes de saber que tinha sido atingido por esta doença? - Curiosamente, não me senti mal. Oito dias antes tinha até feito um teste que deu negativo. Sei que tive, depois, uma certa tosse e episódios de febre a que não liguei grande importância, por ter bronquite... - Disse que tinha feito um teste. Fê-lo por iniciativa pessoal, ou por qualquer suspeita? - Foi um pouco até para averiguar como funcionavam os serviços que acabáramos de instalar. Entretanto, dez dias após estes episódios, por ter, de novo, febre e tosse, dirigi-me ao Hospital à área dedicada. Aí, fizeram-me um Raios-X e logo detectaram uma pneumonia e, mais tarde, uma infecção pulmonar e respiratória provocada pela Covid 19. Acabei por ser internado e deixei de me recordar do que aconteceu a seguir, após o segundo dia de internamento. - Perdeu toda a noção do que lhe estava a acontecer? Deixou de saber onde estava? - Perdi todo o contacto com a realidade. Nunca mais senti nada. Passei a estar sedado e ventilado. Tudo se complicou, posteriormente, com uma falência multi-orgânica, renal, respiratória e noutros domínios. - Então, como ficou a saber o que ali passou? - Só tive conhecimento dos sítios onde estive e do que sofri através do testemunho, posterior, de meus colegas... - Tem alguma ideia de quem o tratou e o acompanhou nesses momentos altamente complicados? - Posso dizer que quem me internou foi o Dr. Miguel Sequeira, Director dos respectivos Serviços. Lá dentro, foram muitos os médicos, os enfermeiros e mais pessoal que cuidaram de mim, com todo o cuidado e dedicação. Mas prefiro não citar nomes para não falhar. Muitos trabalharam comigo no INEM e eram por isso meus conhecidos. Todos tiveram uma atitude altamente profissional... - Foi por ter sido o Dr. Grade, o colega e o amigo? - Não. De forma nenhuma. Procedem assim com todos os doentes, em modo dedicadíssmo e muito competente... - Essa é a imagem do Serviço Nacional de Saúde e de quem nele trabalha, em Viseu e por todo o País? - Tem razão. É isso mesmo. O SNS tem funcionado em pleno. Precisamos mesmo de o louvar. Esta foi uma altura em que até o sector privado ( a que me não oponho, de maneira alguma) esteve fora destas questões... - Lembra-se de quem esteve consigo internado? - Nâo tenho ideia nenhuma. Dizem que nos cuidados intensivos fui a pessoa com a situação mais complicada... - Passemos agora para um outro campo, o da família. Como é que os seus familiares lidaram com este problema? - De uma forma muito complicada, até porque outros desses familiares também foram contaminados e um deles chegou a ser internado, tendo tido alta pouco tempo depois. Sem que eu pudesse contactar com eles, mais se agravou a situação. De mais a mais, sendo visto como doente de alto risco, por ter diabetes, ser algo obeso, ter sido fumador, esses factores pesaram ainda mais nas sensações preocupantes que viveram nesses dias... - Depois de regressar a uma certa normalidade e a recuperar a consciência, conte-nos as suas reacções... - Posso contar dois casos curiosos, que não sei explicar. Um deles é este: tive uma conversa com minha mulher para lhe perguntar se tínhamos andado num cruzeiro. Tenho uma ideia que esse “sonho” me passou pela cabeça. Senti-me num barco e no mar, mas não saí do quarto por me sentir doente durante a viagem... Um outro relaciona-se com a nossa formação judaico-cristã: tenho na cabeça que vagueei por uma procissão que fizeram em redor da minha casa em oração e pedido de melhoras para mim... É disto que me lembro... Dizem-me que quando fiz anos me cantaram os parabéns e que eu mostrei reagir. Mas não tenho noção nenhuma... - No momento em que teve alta ou saiu do Hospital, o que lhe passou pela cabeça, de imediato? - Quero dizer que, ao sair dos Cuidados Intensivos, fui para outro local e aí sei que sofri muito, física e psicologicamente e muito limitado nas minhas capacidades, estando altamente dependente. Não tive, por isso, uma reacção muito positiva... Passei ainda por uma instabilidade emocional, que me levou a negar até a doença que estava a sofrer... Mas recordo bem o facto de uma Colega minha, a certa altura, se ter abeirado da minha cama, vindo sem o “escafrando” e me dar a boa nova de que, feitos os testes, já estava livre do vírus. Aí senti-me bem... Pensei mesmo que me tinha saído a sorte grande... Entretanto, devo dizer que, na fisioterapia, tive de reaprender tudo: o movimento das mãos, o andar, o equilíbrio, tudo... - Como se sente agora que está em casa, com sua família, com os amigos? - É evidente que muito melhor. Mas ainda tenho um fisiatra e um fisioterapeuta que me acompanham diariamente e já ando, já começo a conduzir e a fazer e minha vida... - A terminar, deixe-nos um seu conselho, na medida que passou por um quadro clínico tão grave... - Antes, quero dizer o seguinte: temos a mania de criticar o SNS, mas é para ele que aconselho a que se vá, quando a doença nos bater à porta. A sua gente é espectacular. Quanto a mensagens, que se continue com os cuidados que temos seguido. Os portugueses têm sido excepcionais em cidadania. Os serviços têm mostrado alta capacidade e dedicação. Mas, a haver uma nova vaga, que não é de excluir-se, temos de estar preparados para isso. Não podemos entrar em facilitismos. A pandemia ainda anda por aí... - Terminamos esta conversa com umas notas, compiladas pelo Dr. Grade, retiradas de Fernando Pessoa: umas coisas a saber – estamos sempre a começar, é preciso continuar, mas podemos ser interrompidos antes de terminar. Devemos sempre trilhar um caminho novo, fazer da queda um passo de dança; do medo, a escada; do sonho, a ponte; da procura ao encontro... Sempre... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 18 Jun 2020

Manhouce, aldeia de S. Pedro do Sul nas 7 Maravilhas da Cultura Popular...

Manhouce nas 7 Maravilhas da Cultura Populat - É uma das terras finalistas em 140 no total Esta aldeia serrana, com um pé a bailar nas montanhas e outro no mar, em espólio ali deixado pelos almocreves e outras gentes em movimento, soube agarrar essa cultura, fazê-la sua e guardá-la activamente, mostrando-a por todo o lado, como ninguém. Sem sabermos se foi a água, se a aprendizagem, ou se tudo isso em conjunto, o certo é que este lugar, sempre que se fala em música e folclore, está, na maior parte dos casos, na linha da frente dessa defesa patrimonial. Aliás, de geração em geração, há ali toda uma cadeia de testemunhos que tudo o que vem herdando logo o amealha e o põe a render. Foi asssim em 1938, voltou a ser com a candidatura à UNESCO das Vozes de Manhouce como Património Cultural Imaterial da Humanidade (em curso), e é agora nas 7 Maravilhas da Cultura Popular. Entre 140 finalistas em geral e 7 na região de Viseu, ali temos Manhouce a marcar presença.Com a eleição final marcada para 7 de Setembro deste ano de 2020, se tudo correr como se espera, que isto agora não nos permite ter certezas absolutas, veremos o que pode vir a acontecer. Com muita cultura e pouquíssimos habitantes, sendo que em 1990 tinha 1582 residentes e em 1950 se ficava pelos 1542, começou, a partir daí, a cair por aí abaixo até às 647 pessoas em 2011, último recenseamento realizado no nosso País. Felizmente, o apego a estas boas coisas do património nunca se perdeu e segue a regra do que é inversamente proporcional: a menos almas vivas corresponde uma luta e uma conquista em cultura popular que ainda hoje é um orgulho da nossa região de Lafões e do seu concelho, S. Pedro do Sul, muito em especial. Num enquadramento contextual destas questões, é impossível passarmos por cima do ano de 1938 e daquilo que então ficou conhecido como um outro concurso, o da Aldeia Mais Portuguesa, onde foi muito longe, alcançando mesmo os lugares cimeiros. Nessa altura, esse foi um processo árduo e meticuloso, como nos relata Maria do Rosário Pestana, no ano de 2000, na sua tese de mestrado “ Vozes da Terra: a folclorização em Manhouce” Antes, porém, de avançarmos para os respectivos e importantes pormenores de há 82 anos, façamos uma viagem pelas informações disponibilizadas pela Junta de Freguesia na sua página da Internet, que se apresenta muito bem organizada e com muitos dados mostrados a quem se abeirar destas novas tecnologias. Na pesquisa feita e com vista a suportarmos esta nossa ideia de aqui trazermos as belezas culturais destas terras, onde se canta tão bem e tão a preceito, deparámo-nos logo com dois dos vultos maiores deste panorama musical, designadamente, Isabel Silvestre e o Mestre Silva. Era quanto bastava para ganharmos o dia em termos de conhecimento e material colhido para divulgação perante os assinantes e leitores deste jornal, o “Notícias de Lafões”. Mas havia mais, muito mais a ler e a registar. Em capítulos vários e sectoriais, lá encontrámos o património edificado, onde sobressaem a Igreja Matriz, as Capelas várias, as antas, as pontes romanas, a zona arqueológica da Gralheira, o Cruzeiro da Independência, as alminhas, as escolas, hoje mais ou menos abandonadas ou reconvertidas, em número de quatro, as referências à tecelagem, cestaria, tanoaria, construção de outros apetrechos domésticos, tais como molhelhas, jugos, manguais, arados, cortiços, as casas rústicas e as de turismo rural, as colectividades que dão vida e futuro a estas boas e ricas realidades. Podem acrescentar-se ainda os fantásticos recantos de paisagens, mormente, os poços Negro, da Cilha, da Barreira, do Caldeirão, o Rio Teixeira, a Serra da Arada, e tudo aquilo que é o cartão do cidadão desta terra fora-de-série. Razões de sobra para o prémio 7 Maravilhas da Cultura Popular Estávamos então em 1938. António Ferro e o Estado Novo privilegiavam, na sua visão do mundo, um certo ar de espaços tidos como puros, rurais até ao tutano, praticamente em vivência quase medieval, passe a expressão. Manhouce tinha todas as características para assim ser uma das terras a escolher, assim como, em certa medida, Monsanto, Cambra e umas outras aldeias tidas como típicas. Aqui, entre S. Pedro do Sul e Arouca, este espaço lafonense vinha mesmo a calhar. Para mal dos seus pecados, não tinha estrada, nem luz eléctrica, possuía uma escola primária em construção (estava em marcha o Plano dos Centenários), uma população maioritariamente analfabeta, uma vivência ligada à agricultura, à pastorícia, uma forte emigração para o Brasil, apenas dois estudante liceais e um seminarista, como nos narra Maria do Rosário Pestana (2000). Desejava-se tudo quanto não fossem “ideias perturbadoras e dissolventes da unidade e interesse nacionais... “ Perante estas circunstâncias, o concurso da Aldeia Mais Portuguesa assentava então que nem uma luva. Realizado entre Maio e Setembro desse ano de 1938, tudo ali foi observado ao pormenor, com um olho clínico: costumes, práticas, mobiliário, indústrias, lendas, tradições. Entretanto, uma surpresa haveria de surgir: o Rancho Folclórico de Manhouce. Encarregaram-se dessa importante tarefa, que iria ter presente e futuro, o Padre António José de Sousa, Custódio Duarte Barbosa, Bento dos Santos, tendo feito as devidas apresentações, António Gomes Beato. Era constituído por 32 elementos, sendo 18 jovens masculinos e 14 raparigas que logo começaram a dar o seu contributo. Num tempo em que a natalidade era significativa, para não dizermos abundante, só de duas famílias saíram 9 dos seus componentes – 5 dos Beatos e 4 dos Sousas. Em funções desempenhadas, tínhamos um ensaiador, um seu auxiliar, um cantador ao desafio, uma cantadeira, um tocador de acordeão, um de violão e 11 dançarinos entre a rapaziada. Das raparigas, 13 dançavam e uma cantava ao desafio. Havia ainda uma tocata, essa constituída por pessoas de fora da terra. Em apreciação pelo júri do citado concurso, esteve a indumentária, o canto e a dança. Numa tentativa de elencarmos as modas desse ano de 1938 e aquelas que, porventura, foram aparecendo, eis esta lista, a três vozes, baixo, raso e por riba: Vira da Aldeia; Senhor da Pedra; Ó prima, vamos para a ceifa; Cachopa Olaré Cachopa; Tirana; Tareio; Senhora da Saúde; Ó Povo deste Lugar; Da Banda de Lá do Rio; Senhora dos Remédios. Por tão rico património se vieram a interessar: Armando Leça – 1940/41; Artur Santos – 1956/57; Michel Giacometti e Fernando Lopes Graça – 1970 e Sardinha – 1982 e 1997. Já agora, diga-se que, logo em 1938, no V Congresso Internacional do Vinho e da Uva, em Viseu, participaram o recente Rancho de Manhouce e o de Cambra. Quanto àquele, foram tais os seus efeitos que, nos tempos futuros, os seus frutos foram visíveis e palpáveis com uma gravação em 1961, com a direcção de Lourenço da Silva (Mestre Silva) e Gomes Silvestre, para virmos ainda a ter o Rancho Infantil da Casa do Povo, saindo desta instituição também o Rancho Folclórico adulto, o Grupo Etnográfico de Trajes e Cantares, o Rancho Folclórico, o Grupo Juvenil e Feminino de Música Tradicional, também o Ars – Nova e, acima de tudo, a solo, a voz inconfundível de Isabel Silvestre com uma carreira altamente notável, ora sozinha, ora em parcerias com os GNR, com José Barros e os Navegantes, com a Banda Futrica, com Rão Kyao, Sérgio Godinho, Mão Morta, Madredeus, João Gil e Delfins, se a memória nos não trai. Deve-se ainda a Isabel Silvestre um vasto acervo de cultura popular e tradições, sobretudo em Memória de Um Povo, Cancioneiro Popular de Manhouce e Doçura. Com tanto a ter sido dado a todos nós e um pouco pelo mundo fora em tais domínios, bem merece Manhouce inscrever o seu nome no concurso as 7 Maravilhas da Cultura Popular. Sendo este um palmarés bem digno de nota e de todos os encómios, sabendo-se ainda que nada disto se tem perdido, mas tem passado de geração em geração, há aqui esta dimensão da perenidade e transmissão de conhecimentos que não podem ficar no esquecimento de quem tiver de decidir na hora da votação ou da escolha em causa. Para a vitrine dos troféus desta terra, mais esta jóia em destaque virá mesmo a calhar. E é justa. Justíssima... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 18 Jun 2020

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Correr para a Escola em vez de destruir património...

Eu sei: a História tem muito conhecimento que nos pode e deve enriquecer. Eu sei: durante a vida dos homens, e já lá vão muitos, muitos milhares de anos, houve factos e práticas que não foram nada bons, nada mesmo. Atropelaram-se todos os padrões do respeito pelas vidas humanas e pela sua dignidade. Aquém e além, diversas civilizações fizeram de outras tristes tapetes. Desde sempre foi assim. Os povos sucederam-se e, nessas viagens pela vida, uns deram cabo de outros. As épocas estão cheias de exemplos que fazem doer a nossa alma. Praticamente não há nações nem continentes que possam cuspir para o ar: o passado está a abarrotar de episódios que em nada abonaram em favor da paz, da concórdia, do respeito, da convivência, da solidariedade. Nada. Mas não é possível assistir-se a esta onda de destruições que se estão, perigosamente, a espalhar pelo mundo, derrubando estátuas, apagando indicações toponímicas, destruindo provas e testemunhos que são peças-chave no nosso conhecimento e de quem vier a seguir a nós. Se, em cada tempo, houve sempre quaisquer atropelos, importa agora é sabermos olhar para esses casos e pedir que nunca mais se repitam. Pedir perdão pelos erros dos nossos antepassados é um caminho a seguir. Apagar todas as nossas memórias, pondo o mundo e o conta-quilómetros das nossas vidas a zero, não nos parece ser a melhor atitude. Nem por sombras. Qualquer dia, nada restará: riscamos o que fizeram os homens e mulheres do paleolítico e do neolítico, que perseguiram, que ocuparam espaços, que mudaram o mundo. Depois, vamos ao encontro, por exemplo, das marcas fenícias, gregas, romanas, dos vândalos, suevos, visigodos, dos árabes, dos espanhóis, dos franceses, etc, etc, e varremos tudo. De pé, deste modo, nada vai ficar. Assim sendo, o melhor será é pormo-nos a caminho da escola, da formação, da aprendizagem constante e profunda para melhor conhecermos a nossa cultura, o nosso passado, a nossa História. Isto para cada um dos povos do mundo. Coloquemos à beira de cada monumento uma placa que identifique os feitos, maus e bons, piores e melhores, de cada um dos protagonistas ali representados. Apetrechemo-nos de saber e, com ele, encaremos o que fomos, para sermos melhores no futuro. Escrevamos a História total. Aprendamo-la. Ensinemo-la. Mas deixemos de andar para aí de picareta na mão a enterrar tudo, a destruir, a vandalizar, tantas vezes, numa confusão absurda como aconteceu com a Padre António Vieira, com o Colombo, etc.etc. Eu sei: o mundo não tem só anjos. Nada disso. No meio de tudo, há muito a condenar. Mas não se pode usar a áspera esponja do ódio e pôr tudo em pantanas. Nunca... Usemos a cabeça e a ciência. Respeitemo-nos uns aos outros....

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Corpo de Deus triste em Vouzela e Oliveira de Frades...

Em anos anteriores e desde que nos lembramos, a que devemos acrescentar os testemunhos históricos e aqueles que se vêm transmitindo de geração em geração, nunca a Festa do Corpo de Deus deixou de ser devidamente assinalada. Em Vouzela, a sua Procissão e as ruas por onde passa cheias de tapetes floridos, e em Oliveira de Frades, onde secularmente, se vai aos Paços do Concelho, também em Procissão, para ali ser proferido um sermão anual, na varanda do Salão Nobre, não se pôde assistir, neste ano de 2020, a estas manifestações de evocações e celebrações religiosas e populares que, ano após ano, eram também fortes motivos turísticos e de convívio intergeracional. Veio o vírus, Covid 19, e tudo se evaporou. Tendo havido umas curtas cerimónias, nada disso apagou a falta que nos fazem estes e outros eventos. Até a chuva se associou a esta maré de desgraças... Fica-nos a esperança de que, para o ano que vem, tudo volte ao normal. Assim o acreditamos. Mas para que isso aconteça não se pode baixar a guarda e o civismo não pode deixar de nos acompanhar...

quarta-feira, 10 de junho de 2020

Mensagens que inspiram...

Acabei de ouvir há pouco o discurso do Cardeal Tolentino nas cerimónias oficiais do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, despido de gente, mas cheio de carga simbólica. Aquelas palavras falaram, sabiamente, por todos nós. Num tempo em que se vive um período de angústia, dor e muitas incertezas, em que se olha desconfiado para o amigo do lado, escutar estas mensagens faz-nos bem. Muito bem. Leia-se em http://dnoticias.pt/pais/...intervencao-de-jose-tolentino-mendonca-no-dia-de-portugal...Diz-nos e certa altura "... O importante a salvaguardar é que, como comunidade, nos encontremos unidos em torno à actualização dos valores humanos essenciais e capazes de lutar por eles... ". Nada, com esta pandemia, vai ficar como dantes. Nada. Nem as velhas práticas e políticas podem continuar a ser a bitola pela qual nos regemos... O amanhã é diferente do ontem... Disso não temos dúvidas...