sexta-feira, 21 de junho de 2019

Dois anos depois das tristezas de 2017....

Dois anos depois das tragédias de 2017 Em meados de Junho de 2017, Portugal foi vítima de uma das maiores catástrofes em incêndios que a nossa história regista. Os fogos que devastaram a zona de Pedrógão e arredores, numa extensa área, deixaram, acima de tudo, um rasto de dor, que ainda hoje perdura, e o pesado luto por dezenas de pessoas mortas, na estrada, em casa, ou num qualquer refúgio traiçoeiro. Quatro meses após essa tragédia, uma outra se abateu sobre nós, a de Outubro desse mesmo ano, que varreu toda a nossa zona, matando também outras dezenas de compatriotas, alguns deles vizinhos de cada um de nós. Juntaram-se aos mortos e feridos prejuízos sem fim a muitos níveis, desde o sector empresarial e comercial aos populares em si, que ficaram sem grande parte de seus haveres e meios de subsistência. Volvidos estes tempos, notaram-se algumas boas e louváveis recuperações, mas a natureza ainda grita e chora a destruição que sofreu. Demorará muito a recompôr-se e podem mesmo perder-se uma boa parte de alguns ecossistemas. Ou seja: há danos irreparáveis. Além das vidas que desapareceram, além dos feridos que têm no corpo as marcas desses duríssimos acontecimentos, essas parcelas da vida vegetal e animal são também de lamentar. Mas o que nos dói, a sério e com alguma revolta (felizmente não nestas bandas), são as suspeitas que recaem sobre responsáveis pessoais e instituições, que hoje motivam processos judiciais e uma carrada de notícias de falhas enormes, como se está a ver para os lados de Pedrógão. Se houve maus aproveitamentos, se as falsidades fizeram um triste caminho, essa é uma desgraça a cair em cima de outra. E é uma tristeza presumir-se que houve quem, não tendo escrúpulos, se serviu de tudo quanto os incêndios provocaram para seu proveito próprio, na fase da recuperação, em prejuízo da verdade e dos verdadeiros necessitados. Olhando ao nosso redor, felizmente que, por Lafões, não sabemos de casos desta índole, bem pelo contrário. Registamos, até com agrado e visível satisfação, que das tragédias se reconstruiram novas vidas, empresas mais fortes e robustas, mais modernas e mais capazes de enfrentarem os desafios do futuro. Oliveira de Frades, muito em especial, e Vouzela, a uma outra escala, são bons exemplos de práticas dignas e de grande coragem empreendedora. Não podemos, porém, esquecer aqueles nossos conterrâneos, humildes agricultores e pequenos silvicultores, que ficaram para trás, trucidados por uma implacável teia de burocracia, desistindo de apresentar os seus prejuízos, bastante por essas descabidas exigências. Outros “contentaram-se” com umas migalhas, bem longe daquilo que perderam, só para evitarem esses pesados trabalhos de andarem de cá para lá, papéis na mão e o coração aos saltos, porque faltava sempre qualquer “coisita” na hora da entrega final dos processos. Também é duro verificar que as matas continuam cheias de árvores a apodrecer, uma vez que falha o escoamento e os preços propostos são uma vergonha e uma ofensa a quem vive das pequenas matas, ou nelas pensava ter uma certa ajuda para uma qualquer eventual hora de aflição. No que à prevenção diz respeito, muito está por fazer. Sítios há em que estamos até bem pior, sobretudo nos locais onde os eucaliptos crescem em doses assustadoras e em qualquer lado. Dois anos depois, não fizemos tudo aquilo que era necessário para evitar (ou minimizar) uma qualquer outra catástrofe que nos bata à porta. Talvez estejamos, nalguns casos e em certa medida, bem pior. E uma conclusão é óbvia: o ano de 2017 acelerou o fim de muitas de nossas aldeias e ainda não conseguimos travar essas mortais hemorragias. Digamos: para baixo, todos empurram; para cima, são poucos os santos que nos ajudam. Que Deus nos não desampare!....~ Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Jun19

As verbas da então CEE para Lafões....

Lafões viu chegar muito e bom dinheiro Investimentos europeus nos primeiros quadros de apoio comunitário No ano de 1976, surgiram as primeiras autarquias legitimamente eleitas por sufrágio directo e universal. A tarefa que tinham em mãos era gigantesca: muitas necessidades básicas, desde a água às vias de comunicação, dos equipamentos aos serviços sociais, estavam por concretizar. Durante dez anos, até 1986, com imaginação e esforço, lá se foram dando alguns bons passos no sentido do progresso, mas sempre a contarem-se os tostões. Com a Leis das Finanças Locais e da Autonomia, várias verbas apareceram e os projectos começaram de despontar. A entrada na então Comunidade Económica Europeia (CEE, hoje, UE), em 1986, haveria de fazer mudar tudo. Nâo tardaram a chover os chamados fundos europeus. Para que os municípios os pudessem receber, foi preciso um esforço gigantesco e monumental no sentido de apresentar projectos à altura e com pés para andar. Houve mesmo uma espécie de lufa-lufa para se ir a tempo de aceder aos vários programas que eram propostos. A certa altura, a partir dos anos noventa, uma nova exigência apareceu: as Câmaras Municipais só tinham a possibilidade de concorrerem se tivessem Planos Directores Municipais (PDM), pelo que houve uma corrida, até algo desenfreada, a esses documentos. De 1986 a 1993, em regime FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional – foram investidos as seguintes verbas, quanto aos três concelhos de Lafões: - Saneamento básico – Oliveira de Frades (OFR): dimensão média(dm) dos projectos – 69432 contos; investimento por habitante (ih) – 20; percentagem(%) – 21.6%; S. Pedro do Sul(SPS) – 32843/5/8.4%; Vouzela(VZL) – 21452/9/23.8%. - Acessibiilidades e transportes – OFR – 36645/48/53.3%; SPS – 25275/16/27.9%; VZL – 34497/8/22.9%. - Animação e turismo – OFR – 13000/1/1.3%; SPS – 158599/32/53.8%; VZL – 99026/16/43.9%. - Apoio à actividade produtiva – OFR – 228958/22/23.8%; SPS – 117819/6/10%; VZL – 42610/3/9.4%. Numa leitura, ainda que aligeirada destes números, é quase possível traçar uma linha de tendência em cada um destes municípios no decorrer destes anos. Assim, Oliveira de Frades destaca-se nas áreas do saneamento básico, acessibilidades e transportes e mesmo no apoio à actividade produtiva, isto a avaliar pelo nível de investimento por habitante; já S. Pedro do Sul e Vouzela ganham, em muito, no domínio da animação e turismo. Quanto a este último destaque, podemos pensar, por exemplo, na importância das Termas e seu novo balneário D. Afonso Henriques e Vouzela com o Parque de Campismo. Indo agora para mais pormenores, vamo-nos debruçar sobre os investimentos realizados no 1º QCA – Quadro Comunitário de Apoio – 1990/1993 e assim distribuído: - Programas Operacionais Regionais (POR) – OFR – 281036/6.4%; SPS – 477780/10.6%; VZL – 264129/9.6% - PO Sectoriais – OFR – 310479/7.1%; SPS – 379957/8.4%; VZL – 4859/0.2% - Iniciativas Comunitárias – OFR – 643169/14.6%; SPS – 2589130/57.5%; VZL – 958117/34.7% - Sistemas Comunitários – OFR – 3157476/71.9%; SPS – 1079521/23.8%; VZL – 1534347/55.6% Nestes itens, em que apenas temos valores globais e não médias por habitante, não é tão fácil descortinar as respectivas hierarquizações. Por esta razão, estes números devem ler-se em termos absolutos e apenas isso. Por último, foquemos o investimento privado em modo de sistemas de incentivos, de 1987 a 1993 e em %: - SIBR – OFR – 99%; SPS – 52.6%; VZL – 93.3% - SINPEDIP – OFR – 0.2%; SPS – Zero; VZL – 6.1% - SIFIT – OFR e VZL– Zero; SPS – 43.2% - SIMC – OFR – 0.8%; SPS – 4.1%; VZL – 0.7% Havendo muito a dizer sobre fundos comunitários, voltaremos a estes temas em próximas oportunidades. Estas são apenas algumas ideias e ordens de grandeza, que bem mostram a importância destas verbas nos nossos territórios. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, jun19

Lafões com testemunhos de uma intensa religiosidade...

As marcas da religiosidade em Lafões S. Pedro do Sul com um vasto património religioso Nas nossas terras, qualquer passo que dermos logo se pode associar, em regra, ao universo religioso dos nossos antepassados. Pelos caminhos, as alminhas convidam-nos a um olhar e a uma reflexão profunda. No alto das serras, no meio das aldeias, por aqui e por ali, são muitas as capelas, as igrejas e outras manifestações arquitectónicas que atestam esses mesmos sentimentos. Não nos passsam despercebidas, pela sua imponência ou significado, as construções de maior vulto, algumas a rondarem os mil anos e mais de existência. Quanto ao que diz respeito ao município de S. Pedro do Sul, começamos pelos altos montes e logo temos, lá no cimo, a Capela de S. Macário e, uns metros abaixo, o S. Macairinho. Descemos aos vales e o Convento de S. Cristóvão de Lafões lá se encontra, imponente, a falar-nos de séculos e séculos de história, contemplação e desenvolvimento. Com o mapa na mão, o universo destas manifestações religiosas não deixa de nos surpreender: em cada canto, em locais a pedir-nos que paremos e volvamos o nosso olhar e o nosso pensamento para tantas dessas evocações. Com grandes viagens pela frente, aventuramo-nos a partir à descoberta desses mundos para aqui os registar. Sem grande planeamento ou organização metódica, vamos um tanto ao acaso e seja o que Deus quiser. É grande este espaço territorial, o maior das região de Lafões. Por isso, não é de estranhar-se que por aqui andemos uns tempos demorados antes de irmos para outros lados. Pesquisando em fontes que muito nos dizem a este respeito, vamos iniciar o nosso percurso de hoje pela cidade de S. Pedro do Sul e pelas mãos de António Nazaré de Oliveira, Manuel Barros Mouro e outros estudiosos destas matérias. Passando um pouco ao lado da Igreja Matriz e da de Santo António, as nossas atenções viram-se mais para o Convento Franciscano de S. José, por ser aquele que mais marcou esta terra, apesar dos vestígios barrocos (Santo António) e de outros pormenores em outros monumentos. Não obstante ter apenas desempenhado funções conventuais e religiosas durante pouco mais de oitenta anos, o seu aproveitamento veio a associar-se, em definitivo, à vida autárquica local, sendo, aliás, parte do edifício onde ainda funcionam hoje os Paços do Concelho e outras instituições públicas, a partir da autorização concedida em 22 de Outubro de 1842. Dele se começou a falar em 1725, quando, no dia 16 de Novembro, se pediu para que as Caldas de S. Pedro do Sul tivessem um hospício, tendo os Franciscanos, como alega Aantónio Nazaré de Oliveira (Património Histórico-Cultural da Região de Lafões), sido autorizados a erguê-lo. Dado que era grande a sua aceitação na vila de então, tendo mesmo a sua sede na Igreja de S. Sebastião, perto das novas instalações a construir, não lhes foi difícil arrancar com este projecto. Os trabalhos tiveram o seu início apenas em 1751, sendo que, em 28 de Maio de 1834, com a extinção das Ordens Religiosas como que cessou essas funções iniciais. Acrescenta Manuel Barros Mouro ( A região de Lafões – Subsídios para a sua história, Coimbra, 1996) que, em princípio, se intitulou como Convento de Santo António, se se seguirem as indicações a Crónica de Frei Pedro de Jesus Maria José que cita (p. 73). Tendo nós a ideia de que esta designação não vingou, tendo sido sol de pouca dura, foi a S. José que este monumento foi dedicado e como tal é conhecido. Com um claustro seiscentista, com uma talha rococó joanina, foi esta jóia objecto de várias obras de conservação e restauro nas últimas décadas pelo que se continua a afirmar a sua importância e valor patrimonial. Entretanto, em 1778, viria a beneficiar do melhoramento da escadaria com um custo de 25000 réis. Se dum lado é o Município que o aproveita e dele se assenhoreou, do outro, a Igreja mantém as suas funções religiosas, oferecendo assim um uso duplo ao serviço das gentes desta terra. Na área urbana da cidade, encontramos ainda, como atrás aflorámos, a Igreja Matriz, a Capela de S. Sebastião, que recebeu obras profundas no ano de 1694, a citada Igreja de Santo António, que pertence à Santa Casa da Misericórdia de S. Pedro do Sul e lhe dá o seu próprio nome, também com trabalhos de fundo em 1717, douramento pelo valor de 190000 réis e 1798. Convém que citemos ainda as capelas de Santa Eufêmia (Arcozelo), S. Bartolomeu (Ponte), Nossa Senhora do Livramento (Negrelos), Santa Apolónia (Pouves) e Comenda de Ansemil. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Os meninos e as meninas da Roda em Lafões....

A roda e as crianças não abandonadas à sua sorte Na toponímia de Lafões, mais concretamente na vila de Oliveira de Frades, temos destacada uma “Rua da Roda”, o que nos remete, em tempos históricos, para uma forma e uma prática de as pessoas se desfazerem das crianças, dos filhos não bem aceites, pelas mais diversas razões, desde a miséria à vergonha social. Com o coração talvez apertado, quem se abeirava das “rodas” para, pela calada da noite, depositar os meninos e as meninas num local que sabiam vir a ter um tratamento muito mais feliz e adequado do que as deixar numa qualquer esquina, ao deus-dará, tinha, quem sabe, a percepção de que estava a fazer uma dolorosa despedida, mas, talvez, sentisse que do mal o menos... Instituições necessárias no contexto social que se vivia, inseriam-se numa política de assistência social que assentava muito na sociedade civil e religiosa, pelo que estas Casas das Rodas dos Expostos cumpriam uma função, sendo que “No princípio da Época Moderna (....), a potecção das crianças indesejadas é feita, por motivos morais e religiosos... “ nestes serviço de apoio às comunidades, como se lê em “ As casas da Câmara dos Concelhos Portugueses e a monumentalização do poder local, séculos XIV a XVIII, Volume I, Carlos Manuel Ferreira Caetano, UN Lisboa, 2011” Depois de a Igreja assumir a parte de leão em matéria de assistência social, o que se verificou mais intensamente na Idade Média com as albergarias-hospitais e outros sistemas, a partir de certa altura as Ordenações do Reino, seguindo esta mesma fonte, faziam incidir nos concelhos estas e outras responsabilidades, a que se sucederam as Misericórdias em partilha de funções ou mesmo em passagem de testemunho. No que diz respeito ao meio local lafonense, a Santa Casa de Vouzela, em termos de actividade caritativa em tempos idos, inscrevia nos seus propósitos a “assistência aos pobres e aos mais necessitados, aos órfãos e aos meninos depositados na «Roda»”, assim como “cuidava dos enfermos e enterramento dos mortos”. Aliás, com Pina Manique estas matérias eram mesmo impostas oficialmente em todos os municípios, ou na Casa Pia de Lisboa. Por sua vez, no Arquivo Municipal de Oliveira de Frades são frequentes as referências a gastos com estas e outras funções de cariz assistencial, sobretudo no século XIX. Uma das actividades obrigatórias era a do “registo de entrada dos expostos” Em regime de 24 em 24 horas, as “rodeiras” tinham como missão a prestação de cuidados às crianças durante um período que poderia ir até três dias. Depois deste período, passavam para a alçada de amas “recrutadas e pagas pelos concelhos, até à idade de sete anos” (Ver livro atrás citado). Quanto à sua localização, em muitas situações optava-se por locais recônditos e periféricos, a fim de se manter mais o segredo ou o encobrir mesmo esses actos. Na referência à Rua da Roda, em Oliveira de Frades, pode-se, de certa forma, verificar algo relacionado com estas últimas condições, na medida em que a sua localização ficava um tanto em sítio menos visível a partir do centro urbano. Com o Estado, enquanto poder central de fora destes esquemas assistenciais, a mobilização, como estamos a ver, veio de outros lados e os concelhos foram essenciais nessas épocas. Hoje, tudo é diferente, para muito melhor, acentuamos nós. Mas temos também de confessar que as carências são ainda muitas e difíceis de debelar. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Junho 19

Isabel Silvestre, rainha da música em Lafões

Agora em Newark Isabel Silvestre sempre na crista da onda No próximo dia sete de Junho, a nossa diva da canção de Manhouce, Isabel Silvestre, vai levar a sua voz lá para longe, no outro lado do Oceano Atlântico, para uma das terras mais portuguesas dos EUA, Newark. Para uma actuação que vai ter lugar no Sport Clube Português, terá consigo o seu acompanhamento musical e ainda um coro infantil. Com o Dia de Portugal a ter ali especial significado, esta actuação de uma enorme divulgadora de nossa música e cultura populares adquire, assim, um impacto ainda bem mais especial naquele espaço americano, mas tão lusitano. Presença constante em tudo quanto seja património do nosso povo, sobretudo em matéria de uma voz sem par, Isabel Silvestre desde cedo começou a beber e a navegar nas boas águas da sua terra, Manhouce, local onde a maresia do litoral e os ares serranos se conjugaram para oferecer ao mundo um acervo musical de uma excelência de alto nível. Da sua carreira, que dispensa quaisquer apresentações, são inúmeras as canções que imortalizou – o termo é correcto e não precisa, sequer, de ser justificado – no Grupo de Cantares de Manhouce, a solo, em parceria com o GNR/Rui Reininho, e em tantas outras situações que a nossa memória já custa a registar. Mas a Isabel sabe que nós sabemos que houve, nas nossas vidas, um momento extraordinário, jamais esquecido: estávamos nós no Luxemburgo, no alto de uma colina onde Nossa Senhora de Fátima tem a sua evocação bem estampada, quando, ao meio dia, ela se vira para o altar e entoa uma vibrante e emocionante canção de seu vasto reportório em homenagem à Virgem Maria. Na cidade, cá em baixo, os sinos tocaram e aqueles sons misturados tornaram-se algo impossível de descrever, mesmo que tivessem sido gravados atabalhoadamente. Agora vai estar nos EUA. Mas a simplicidade do seu ser, os apegos às origens (onde foi Professora e Presidente de Junta de Frequesia, investigadora e continua a ser uma eterna divulgadora) não mais a abandonam. São o seu selo e a sua imagem de marca. Transportando sempre as cores do nosso Portugal e das suas raízes profundas, Isabel Silvestre corre mundos, mas jamais esquece ou abandona o seu berço e isso nunca podemos deixar de lhe reconhecer. A vedeta que é não a fez subir ao céu e deixar-nos aqui em baixo sozinhos. Leva-nos com ela e esssas são viagens que fazemos com gosto e muito entusiasmo. Por isso, em Newark, lhe batemos palmas sem fim. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Maio 19

Lafões com marcas de excelência....

Marcas com peso em Lafões Uma das maiores imagens de marca de Lafões está nas paisagens e nas pessoas, em todos e em cada um de nossos conterrâneos. Se, à semelhança das Aldeias de Xisto, este território tivesse uma qualquer espécie de certificação ou classificação, facilmente se adivinharia que passaria por um lugar de topo, tantos são os bons motivos que por aqui abundam. Acontece isso com alguns de nossos produtos regionais, que conseguiram alcançar a honra de serem inscritos nas tabelas e legislação que os certificam, ou delimitam geograficamente. Uma dessas maravilhas, hoje, quase que está em vias de extinção. Estamos a falar do Vinho de Lafões, tendo, em 1868, nascido a respectiva Região Vinícola, mas sem efeitos práticos. Por sua vez, como se lê na Carta Gastronómica desta nossa zona, em edição da Confraria no ano de 2016, em 1908, dá um salto para a Região dos Vinhos Verdes em que se inserem os municípios de Oliveira de Frades, S. Pedro do Sul e Vouzela. Com a criação da Adega em 1949, surge assim uma estrutura social, que teve, enquanto durou, um papel de grande relevo. Passo a passo, aparecem, pelo Decreto-Lei 296/90, de 22 de Setembro, os Estatutos da Região Vitivinícola de Lafões. Paralelamente, é este fruto da videira tido como VQPRD – Vinhos de Qualidade Produzidos em Região Determinada, a implicar a Indicação de Proveniência Regulamentada (IPR). Entretanto, em 1986, havia sido produzido um documento intitulado “Vinho Verde de Lafões – Esquema de Estudo, Proposta”, que serviu de base para uma série de reflexões que se lhe seguiram. A par dos vinhos e em processos mais tardios, a Vitela de Lafões recebeu a certificação em Fevereiro de 1994, como se pode ver no Diário da República, II Série, nº 28, obtendo a Indicação Geográfica Protegida (IGP), a partir das raças arouquesa e mirandesa, ou respectivos cruzamentos, desde que criada nas Serras do Caramulo ou da Gralheira e receber apenas uma alimentação baseada em pastos naturais, de acordo com a fonte atrás citada. Um outro produto de excelência, e também certificado em 1994, é o Cabrito da Gralheira, sobretudo nos concelhos de S. Pedro do Sul e Oliveira de Frades. Da doçaria e pastelaria lafonense, está tudo dito: os seus pergaminhos falam por si. Se estas condições e regulamentações existem, o pior que nos está a acontecer é a falta de gente nas nossas terras, onde é gritante o despovoamento e o saldo fisiológico, como se notou no último “Notícias de Vouzela”, ameaça mesmo, a prazo, a existência dos nossos povos. O pior dos caminhos é sempre aquele que nos faz cruzar os braços e deixar os barcos a bolinar. Gritando sempre aos quatro ventos que Lafões e o Interior do país precisam de políticas públicas arrojadas e seguras, firmes e com visão de futuro, corrigindo assimetrias e desigualdades, nas páginas deste jornal nunca desistiremos desses objectivos. Acabando de viver mais uma jornada eleitoral para o Parlamento Europeu, não vimos, nas várias propostas, algo que, a este respeito, nos satisfizesse. Bem pelo contrário. Também por isso a abstenção foi o que foi: um desastre autêntico. Parar para pensar é preciso e é urgente. E agir depois, a sério. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Jun19

Médicos de Lafões em grande plano

Três médicos de Lafões em grande destaque S. Frei Gil, Dr. Ricardo Joge e Professor Egas Moniz Num tempo em que Alcofra se lançou na grande tarefa de homenagear o filho da sua terra e seu cidadão honorário por parte de sua mãe, quando se assinalam os setenta anos da atribuição do Prémio Nobel ao Professor Egas Moniz, pusemo-nos em campo à descoberta de grandes vultos das ciências médicas em Lafões, mais concretamente com ligações a Vouzela pelas mais diversas diversas vias. Ao longo dos séculos, elegemos, para esta crónica de hoje, três distintas personalidades: S. Frei Gil, médico, pregador e santo; o Dr. Ricardo Jorge, higienista e cientista; e o Professor Egas Moniz, o notável Prémio Nobel da Medicina, de 1949. Somos levados a recuar aos séculos XII e XIII para nos encontrarmos com S. Frei Gil, nascido talvez em Vouzela, em finais do século XII, tendo morrido em Santarêm em 14 de Maio de 1265. Filho de um antigo Alcaide de Coimbra, a sua ligação com a corte foi uma de suas marcas infantis e juvenis. Nesta cidade, frequentou as primeiras letras e aí prosseguiu outros estudos, sobretudo no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Consciente do seu valor, o monarca de então encaminhou-o para outros voos, apoiando a sua carreira, pelo que seguiu viagem para Paris, com muita turbulência, dizem, pelo meio, sobretudo em Toledo. Como quer que seja, na cidade-luz cursa artes, mas, não contente com esse caminho, envereda pela Teologia. Dentro de pouco tempo, abraça os Irmãos Dominicanos, a Ordem dos Pregadores e faz da evangelização a sua missão. Ligado à civilização mocárabe, traduziu para a nossa língua de então muitas outras médicas árabes, o que granjeou bastante fama, a acrescentar aos atributos que já detinha. Seria, porém, no campo religioso que se veio a notabilizar, sendo considerado Beato, para a Igreja Romana, Santo, para as gentes de Vouzela, de que é padroeiro, e de Santarém, cidade onde viveu vários anos e veio a morrer. Se esta personalidade encerra, em si, uma notável fonte de conhecimentos e de uma importância do mais alto nível, em Lafões, com origens paternas ou maternas em terras de Vouzela, vamos encontrar, já nos séculos XIX e XX, duas outras estrelas também com um intenso brilho, nestes casos mais na área da ciência do que na das esferas celestiais, salvo seja. Conhecendo-se entre si, muitas vezes se cruzaram dois médicos de que vamos falar: o Dr. Ricardo Jorge e o Professor Egas Moniz. Não sabemos se alguma vez falaram nas suas origens. Faltam-nos, por enquanto, dados que tal venham a confirmar. Quanto ao Dr. Ricardo Jorge, nascido no Porto no dia 9 de Maio de 1858, era filho de José de Almeida Jorge, ou José Jorge de Almeida, natural de Vilharigues (Vouzela), ferreiro que, depois de sair desta nossa aldeia, se fixou naquela cidade, localidade onde se afirmou pelo seu trabalho e prestígio, e de Ana Rita de Jesus (Porto). Casou com Leonor Maria Couto dos Santos, sua prima direita, tendo quatro filhos: Artur Ricardo Jorge, cirurgião e ministro da educação pública em 1926; Ricardo Jorge, banqueiro; Leonor Jorge de Seabra e Alice Jorge. Com uma carreira notável, formou-se na Escola Médica-Cirúrgica do Porto, cidade onde foi Professor. Dirigiu o Instituto Hidroterápico; cientista; Médico Municipal nesta cidade; Fundador do Laboratório Municipal de Bacteriologia; Inspector Geral de Saúde; Presidente da Sociedade de Ciência Médica (1914/1915); Higienista, tendo sido neste sector que mais se notabilizou; membro do Comité de Higiene da Sociedade das Nacões. No que toca ao Professsor Egas Moniz, descendente da Quinta do Carril, em Alcofra (Vouzela), onde nasceu sua mãe, veio a ver a luz do dia em Avanca, Estarreja, local onde instalou a sua Casa-Museu. A sua vida é sobejamente conhecida no universo das ciências médicas, quer em Portugal, quer no estrangeiro. A projecção que lhe trouxe o Prémio Nobel, em 1949, catapultou-o para a alta roda do conhecimento universal. Além de neurocirurgião, foi ainda político, escritor e um grande coleccionador de arte, como se pode comprovar no legado que nos deixou. Do cruzamento destas três grandes personalidades lafonenses, retirámos uns excertos de Egas Moniz, ao testemunhar a admiração que nutria por Ricardo Jorge, patente nestas palavras contidas em “ A vida, a obra, o estilo, as lições e o prestígio de Ricardo Jorge – Instituto Superior de Higiene Dr. Ricardo Jorge, 1960”, a partir da página 393: Deve dizer-se que esta sua opinião fora publicada num depoimento que fez em 1939, em que assim se expressou: “... No campo literário e artístico, nos domínios da história e da filologia, nas polémicas, em que a sua pena floreteada com arma acerada e sempre pronta a ferir o adversário, era Ricardo Jorge mais conhecido daquele que o liam nos jornais... Espírito claro e arguto... “ A propósito da ligação que os unia, referiu as suas obras “ Um ensaio sobre o nervosismo (1879)” e “Localizações motrizes no cérebro”, o que, para Egas Moniz, era uma espécie de laço de união entre os dois, este por via das afinidades científicas. Em tom emotivo, desabafou por alturas da sua morte: “... Ungi-o com a minha saudade e orvalhei-o com lágrimas que rolaram... “. Continuou: “... Nas manhãs em que o visitava, provocava a conversa e ouvia-o. Havia sempre que aprender... Era um banho de luz... “ A terminar, ficam aqui mais dois pormenores saídos da pena do nosso Prémio Nobel: Ricardo Jorge foi médico e amigo de Camilo Castelo Branco; e “afastado da clínica, enveredou, com brilho invulgar, pelo campo da Higiene”, de que há, por exemplo, a registar uma sua obra “ A peste bubónica no Porto – Ricardo Jorge, Deriva Editores, 2010”. De uma só penada, três grandes médicos atiraram Lafões para as bocas do mundo. Estes, os que aqui acabámos de referenciar. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Jun19

sábado, 1 de junho de 2019

"O Abel" de Gimonde a marcar a diferença

Nestes últimos dias, andámos por terras do nordeste transmontano, Bragança e arredores, incluindo a Espanha, e ficámos agradavelmente surpreendidos com tudo aquilo que ali vimos e com os contactos que estabelecemos. Se, para lá do Marão mandam os que lá estão, ali há boa natureza, um formidável Parque Natural do Montesinho, um bom mando, um comando muito aceitável e gente de primeira, que sabe estar e receber. Neste último patamar de referências, a primeira entre as primeiras, o nosso destaque vai para a casa que nos acolheu durante estes tempos: o Restaurante/Hotel Abel, em Gimonde, a pouquíssimos quilómetros da sede do distrito, quatro ou cinco e a outros tantos, talvez, da fronteira com Espanha. Terra de rios, o Onor, o Igrejas, o Sabor e outros, a água e os montes, o vale e as construções constituem um cenário idílico e apetecível. Casa familiar, em aposentos muito confortáveis, o ar de lar amigo respira-se ali por todo o lado. Com uma dezena de quartos, sempre excelentemente tratados, quase que parece que estamos em nossa casa. Nota alta. E a restauração? Fantástica. Aliás, as salas cheias em cada refeição e muita gente à espera o confirmam. As brasas e a qualidade dos produtos estão na base deste altíssimo nível. E o serviço? Que riqueza de gente! Três irmãos, pegando no negócio dos pais, que começaram em 1984 a vender malgas de tripas com feijão, ampliaram-no e deram-lhe dimensão, reconhecimento e escala nacional e internacional. E continuaram o espírito de convívio que é imagem de marca deste " O Abel". Com o Aeródromo de Bragança por perto e voos diários com escala em Vila Real, Viseu, Cascais e fim (ou começo de linha) em Portimão, esta casa vale sempre a pena ser visitada. Três aspectos a caracterizam: a gerência e o seu pessoal, a qualidade do que ali se põe na mesa, os serviços e as paisagens e monumentalidade que por ali abundam. Vale bem um visita, talvez mais, uma VISITONA...