quinta-feira, 23 de novembro de 2023

À beira mar na Vagueira...

///Qauntos barcos amdam nos mares, neste momento? Não sei, imposível contá-los, lamento// Quantas gotas de água têm os mares? Milhões e triliões sem fim/ Pergunta isso a Outro, não me interrogues a mim// Quantos grãos de areia têm as nossas praias?/ Não sei, tantos são eles/ Estes e aqueles e carradas infindas/ Pergunta isso a Quem sabe e, por isso, não me desmintas//Como é que as rochas se desfazem com as pancadas das ondas?/ Desculpa lá os travões que tenho ao conhecimento/ Que muito além não vão as minhas sondas... //Sinto o sol a desaparecer e a correr para o lado de lá/Despedindo-se de mim, demora umas horas a voltar cá/Sei que o sol-posto da Vagueira é lindo a valer/Sei disso e sinto-o, agora, a desapaecer/ Tomba nas águas e nelas mergulha/ Vai não sei para onde/ Porque ele me não diz onde se esconde/Deixai-o ir que ele vai voltar/Isso eu sei, porque amanhã, de novo, vai cantar... ///

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Torre de Vilharigues com séculos de história

Torre de Vilharigues em descoberta constante Carlos Rodrigues Com a associação da Torre de Vilharigues a D. Duarte de Almeida, conhecido como o Decepado do Toro (1476), está feita uma ligação que tem tudo para fazer despertar o apetite pelo conhecimento deste lugar lafonense com uma vista privilegiada para Vouzela, Termas e S. Pedro do Sul e parte da região de Lafões na sua matriz fundacional, com os Montes do Castelo e do Lafão, os dois irmãos, os alavoenis, em destaque. Esse é um de seus pontos fortes ainda que discutível sob o ponto de vista histórico. Mas há muito mais para saber e apreciar. Torre, castelo, casa-torre, atalaia, ou outra designação qualquer, desde que relacionada com esta área do saber, o certo é que esta edificação datada aí dos séculos XIII ou XIV, tem de ser vista como uma construção senhorial e /ou militar, um espaço de importância e de poder a mostrar-se a quem a possa ver e dela dependa, isto nos tempos medievais. Parceiras de caminhada e ainda de pé, temos as de Alcofra e de Cambra, sendo que outras, como a de Fataunços, apenas constam da memória e das páginas da história. No panorama destes equipamentos, em Vilharigues constata-se que a sua feição militar não pode deixar de ser analisada, face à sua localização, um local estratégico em termos de vistas e observação das redondezas, sendo, por isso, escolhido como posto de defesa e de eventuais ataques, a que se juntam os aspectos da sua construção, com os matacães e outros pontos associados com essa finalidade e ainda as pequenas aberturas e a solidez das paredes, com cerca de 1.30 metros de espessura, em construção com duas faces bem trabalhadas e, no seu interior, uma camada de pedras mais pequenas, travadas aquém e além para melhor solidez e robustez. Com aberturas apenas mais visíveis no terceiro piso e umas outras mais reduzidas ao nível do segundo, facilmente somos levados a supor que a componente de defesa ali se aplicou. A existência de seteiras e ameias completa este quadro. Assim sendo, não nos custa ver que aqui se viam feições militares. Desta forma, os citados matacães, elementos típicos dos castelos, a serem autorizados pelo próprio rei, como aconteceu com D. Afonso III (1248-1279) mas só usadas com D. Dinis (1279-1325), são disso uma certa e boa prova a sustentar essa tese. Se houve essa intervenção régia, esse é um sinal de que esta Torre teria sido aproveitada para essas funções, como se atesta pela sua raiz inicial e pelo facto de ter sido construída em cima de um morro de rocha granítica natural, pelo que a afirmação senhorial, como originária na sua edificação, sobre os bens e as propriedades em redor, a acompanha desde sempre. Juntam-se, neste contexto, duas vertentes que assim devem ser interpretadas. De acordo com as informações colhidas nos painéis que ali se colocaram há anos e de mais dados, mormente de Manuel Real e outros, podemos estabelecer para esta Torre e para as terras envolventes, quanto a seus senhores, as seguintes conclusões: - 1248 – Miguel Eanes, cavaleiro de Vilharigues, que veio a apoderar-se ainda de terras em Quintela de Ventosa; - 1288 – Foram seus senhores os netos de Miguel Eanes;- 1307 – Feira de Vouzela;- 1357 – Vasco Lourenço da Fonseca e mulher, Margarida Eanes, vendem a quintã e torre a Gonçalo do Monte, no reinado de D. Pedro (1357/1367);- 1367 – Doação a Diogo Álvares Pereira, filho de Álvaro Gonçalves Pereira; - 1385 – Sua morte na Batalha de Aljubarrota;- 1389 – Martim Vasco da Cunha doa Moçâmedes ao escudeiro Gonçalo Pires de Almeida;- 1393 – Feira Franca de Vouzela;- 1394 – Vouzela, cabeça do concelho de Lafões;- 1476 – Afonso Lopes de Almeida mora na Torre;- 1478 – É juiz da vila de Vouzela, concelho de Lafões;- 1493 – Infante D. Manuel, duque e Beja e Senhor de Lafões;- 1497- Fernão Lopes de Almeida, senhor da Torre, compra a Quinta da Cavalaria;- 1502 – Nomeado provedor e administrador das Caldas de Lafões e criação do Hospital e Couto das Caldas de Lafões;- 1506 – Privilégios da Feira de Vouzela;- 1513 – Duarte de Almeida aparece como sucessor na Torre e na Quinta da Cavalaria;- 1514 – Foral de Lafões. D. Duarte de Almeida, provedor e administrador das Caldas de Lafões Em termos de grande história nacional, três episódios há a reter: a ligação de Vouzela e Lafões à Batalha de Aljubarrota, à conquista de Ceuta e à Batalha do Toro, respectivamente em 1385, 1415 e 1476, sem esquecer os tempos de D. Dinis, D. Duarte, D. Manuel I e outros monarcas. No capítulo “ Os Almeidas de Vouzela” em que se divide a exposição colocada na Torre, mostra-se que estes viveram em Moçâmedes, Vilharigues e Figueiredo das Donas e ainda em Vouzela, Quinta da Cavalaria. Os primeiros dos “Almeidas” terão estado ligados no século XIV ao Paço de Moçâmedes, sendo que em 1389 Gonçalo Pires de Almeida recebe doação da terra e celeiro desta terra. Sua mulher, Inês Anes, chegou a ser ama-de-leite do Infante D. Henrique, pelo que esta ligação veio a dar os seus frutos pelos tempos fora. Assim, o filho do casal, João de Almeida, 2º senhor de Moçâmedes veio a ser escudeiro de seu irmão colaço, o Infante D. Henrique, com quem partiu para a conquista de Ceuta. Alguns anos mais tarde, em 1475, Vilharigues e a Quinta da Cavalaria associam-se a um outro ramo dos “Almeidas”, Afonso e Fernão Lopes de Almeida, que também se ligam a Figueiredo das Donas. Nesta marcha dos tempos, João Lopes de Almeida, herdeiro de duas tias, D. Catarina e D. Isabel, casa-se com D. Guiomar de Sousa, facto que levou a que este apelido tivesse vindo a ser consagrado posteriormente. Na musealização recente da Torre, o terceiro piso alberga um vídeo sobre este período da Idade Média de Vouzela e de Lafões e uns painéis sobre a Batalha de Toro e os Almeida, a par duma panorâmica geral para as paisagens exteriores, bem como a visualização da parte interna dos citados matacães. Na nossa tentativa de explicação de que esta Torre tem implícita uma pendente militar, é significativo que as grandes aberturas só apareçam bem lá no seu cimo, em sítio, nesses tempos, quase inatingível. Sendo este um senhorio de uma vasta área em redor, três casais, mais de um terço da aldeia, dependiam do dono da torre a quem pagavam uma renda/foro anual e prestações diversas em produtos agropecuários e braçais. Com o seu poder sobre a administração e a justiça, era assim vasta a sua importância, o que se manteve durante séculos, talvez até ao tempo do Duque de Lafões, século XVIII, um outro capítulo da história destas nossas terras. Carlos Rodrigues

Nossa Senhora do Castelo em Vouzela bem lá no alto do Monte

Nossa Senhora do Castelo a impôr-se lá no alto CR Tal como há dias ventilámos, o Monte de Nossa Senhora do Castelo, e temos de convir que esta designação é nova demais para o muito tempo que este espaço tem de ocupação ou uso humano, foi uma opção antiquíssima para os nossos antepassados dele usufruírem. Espreitando para o alto, logo descobriram que ali havia como que uma mina de ouro estratégica para defesa e observação em redor, condições, nessas recuadas épocas, de um interesse enorme. Dito e feito: se isso viram, logo agiram em conformidade, indo para ali morar ou passar com muita frequência. Como bem disseram Manuel Luís Real, Catarina Tente, Tiago Ramos, Daniel Melo, Luís André Pereira e João Rocha, em “ O povoado e fortificação da Senhora do Castelo, em Vouzela – I Jornadas de Arqueologia Vouzela/Lafões”, este local foi, no mínimo, um povoado da Idade do Bronze, o que se atesta e mostra pela existência de muito minério por estas paragens e pela proximidade ao Castro de Baiões, o palco por excelência dessa altura do trabalho em bronze nas suas instalações metalúrgicas e respectivas fundições. Tendo ido mesmo mais longe nas suas conclusões, depois da análise dos vestígios encontrados nas escavações ali realizadas e nas comparações efectuadas com outros sítios, alegam que este Monte, com as suas muralhas e torre quadrada, foi como que a Cabeça de Lafões nesses tempos de outrora. Situado a cerca de 530 metros de altitude, este ponto tinha tudo quanto esses povos precisavam para observarem quem os rodeava e com que intenções o faziam. Ao ver ao longe, nesta atalaia, acautelavam-se possíveis ataques e preparavam-se as mais diversas ofensivas. Era para isso que serviam as alturas geográficas que as terras chãs de pouco serviam, até porque, por essas alturas, a agricultura ainda nem sequer tinha sido descoberta e a alimentação vinha de outras origens, mais baseadas na caça, na pesca e actividades afins, incluindo a busca de raízes. O Monte do Castelo tinha então soberbas condições para essas finalidades. Com dois cabeços por perto, este e o Lafão, ali existiam condições de sobra para prolongadas sobrevivências. Dizem aqueles autores, atrás citados, que estas duas elevações estavam separadas apenas por um fosso. Tão próximas e, vamos lá, tão íntimas, vieram a estar na origem, quem sabe, do nome da região que habitamos, o Alafões de outrora, o Lafões de hoje, tudo isto com base na língua árabe que também por aqui se usou e aquele “Al” acaba por dizer tudo… De acordo com um testemunho do Pároco de Ventosa do ano de 1732, “ o mais digno de memória desta freguesia é o Monte chamado Lafam”, aludindo à existência ali de um mouro, o Sid Lafam – uma outra tese para encontrarmos as raízes de Lafões. A corroborar estas ideias, também o Pároco de Vouzela, nessa mesma altura, referindo o Monte e a Capela de Nossa Senhora do Castelo, acrescentava um pormenor digno de relevo: a existência de uma Irmandade moderna com cerca de 10 ou 12anos de vida. Muitas outras fontes de 1019 a 1258, fazem menção, como vimos já, a todas estas realidades. Por sua vez, Pires da Silva, em 1696, na sua obra “ Chronografia Medicinal das Caldas de Alafoens”, fala na muralha em causa e ainda a uma cisterna e eventuais ossadas. Anos e séculos mais tarde, em 1903, é Luís Soares Valgode que traz ao de cima a necrópole medieval e as duas sepulturas escavadas na rocha, ainda hoje bem visíveis ao lado da escadaria monumental. Com este Monte a ser sempre motivo de interesse, a sua exploração florestal iniciou-se em 1908, acentuando-se com o Plano de Povoamento Florestal de 1938 e anos seguintes (ver deliberações da CM dos anos cinquenta, já aqui anotadas). Entretanto, a busca de minério, talvez adormecida durante séculos, renasce nos tempos da febre do volfrâmio, anos 30 e 40 do século XX, havendo alusões a filões de ouro, volfrâmio e estanho em 1955 (NV)e à Empresa Mineira de Vouzela Lda, dos sócios Octávio Pinto da Rocha, Guy Devris, Joaquim José da Silva Arruda e Joaquim Ribeiro de Almeida, anos 40. Aparece ainda a contestada Volcar SARL para instalar uma oficina de tratamento de minério, de 2ª classe, na vila de Vouzela, o que não foi visto com bons olhos… Por ali se vê a Casa da Confraria, o novo Chafariz, de 1932, uma obra do arquitecto Raul Lino, a citada escadaria, o complexo do Parque de Campismo mais abaixo e várias obras em curso nas imediações do fontenário. Faltam, temos o repetir, os trabalhos de recuperação das muralhas em redor da Capela, o tal perigo iminente que tudo ameaça em redor. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 2022