quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Títulos de "O Vouzelense" de 1929

“O Vouzelense” em 1929 CR No ano de 1929, Vouzela viu nascer mais um de seus jornais, com o significativo título de “ O Vouzelense”, assim sem mais nada e sem tirar, nem pôr. A confirmar o peso e a importância das comunidades lafonenses em Lisboa, foi nesta cidade que este órgão da comunicação social saiu mais para os seus assinantes que para as bancas, precisamente na Rua Eugénio dos Santos, nº 118. Foi seu director e editor António Walgode e e secretário da redacção Constantino de Figueiredo. Constituíam a Comissão Administrativa: Manuel Tavares, José Francisco Sebastião, José Figueiredo, Laurentino de Figueiredo e António Alves Pimenta. Como que a justificar-se, sob o signo do regionalismo, logo começava por escrever, com base nas considerações de Joaquim Manso, para dizer que “… A grande imprensa, aquela que está a soldo das oligarquias financeiras, das seitas políticas ou religiosas, maneja uma poderosa arma, arma de que se serve para servir os interesses de seus donos. Por isso essa imprensa se tornou suspeita, por isso o povo não a lê e, quando o faz, é com desconfiança tão grande que não acredita nas suas notícias, nem liga grande importância às suas insinuações. Mesmo assim a sua influência social é enorme”. Assim se escrevia em 1929 que transcrevemos em 2023, quase cem anos depois, e as reflexões ali contidas ainda hoje se podem constatar… Em letras garrafais, bem destacada na primeira página, aparecia uma dica da maior importância para Vouzela, deste modo: “ UMA REUNIÃO – REALIZA-SE UMA REUNIÃO DAS 37 COMARCAS EXTINTAS, NA PRÒXIMA 3ª FEIRA 19 PELA 1 HORA DA TARDE NO GRÈMIO BEIRÂO, RUA DA FÈ, 23-1º: CONVIDAM-SE OS VOUZELENSES A COMPARECER”. Era óbvio e directo o recado dado: é que este concelho fazia parte da lista em causa e assim se manteve até 1973. De feição local, criticava-se a falta de telha na Capela de S. Frei Gil, que o Inverno tinha sido duro e a Primavera não se afigurava melhor. Depois, pessoalizando, falava-se em pessoas da terra: “ Zé Carteiro – É alguém! Declara ser um operário, mas tem alma, tem coragem, tem élan. Zé Carteiro vale um capitão de milícias junto ao Castelo de Vilharigues. Você é alfaiate? Empresta-nos a agulha? Com a tesoura vá cortando pano largo… “ Ao referir-se a importância dos vinhos verdes, noticiava-se que “ Uma Comissão de Delegados das Câmaras Municipais da Região de Lafões apresentou ao Sr. Ministro da Agricultura uma representação, pedindo para Lafões ser considerada uma «Sub-Região». O Sr. Ministro prometeu estudar o assunto”… Pede-se que na Estrada do Rego este seja tapado para que o seu conteúdo, nem sempre conveniente, não seja visto, nem cheirado. Dão-se ainda umas sugestões: que se tire o fontenário da Praça da República, esse “monstro de pedra”; e que se aproveite para bem público a Moita da Sernada que só serve para produzir mato para o seu proprietário, quando poderia servir para um parque com arruamentos adequados, fontes pitorescas e cascatas simples e acolhedoras… Em Cambra, a Singer deu um curso de costura, com o intuito de dar à “mulher melhor e mais completa educação”, em acção dirigida pela D. Augusta Amaral, que “ já se deslocou para Viseu” Com uma das quatro páginas ocupada por anúncios, citavam-se as firmas Melo e C.ia Irmão, António Rodrigues. Hotel Santos, Ourivesaria da Guia, José Rodrigues Marques, António Walgode, Arcada – Lanifícios de Lisboa, Ourivesaria e Relojoaria Confiança, Hotel Peninsular, Domingos de Almeida Bispo, Barbearia Tavares, José Francisco Sebastião, Centro Lafonense, José Ferreira e ainda se faziam referências a unidades na região como o Lisboa Hotel (o melhor e o mais bem situado hotel das Termas de S. Pedro do Sul) e Rio Zela – Fábrica de Massas Alimentícias de João Cardoso de Almeida. Para dar credibilidade a esta publicidade, dirigia-se uma nota à Colónia de Vouzela, dizendo-se o seguinte:” Recomendamos as casas nossas anunciantes e, por serem conterrâneos, esperamos que as mesmas sejam preferidas”. Aqui se mostra como remar todos na mesma direcção em Lisboa e por estas nossas terras. Bons exemplos são estes… Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Fev 2023

Há 75 anos eram estes os projectos municipais de Lafões

Planos para obras municipais há 75 anos CR Decorria o ano de 1948, quando, em Fevereiro, as Câmaras Municipais de Lafões apresentavam os seus planos de obras públicas para dois anos porque se acrescentava 1949, fruto de comparticipações diversas. Eram de ordem vária os empreendimentos a levar a cabo, concelho por concelho, de que se apresenta o seguinte resumo: - Oliveira de Frades – Adaptação da antiga cadeia para quartel da GNR; beneficiação do cemitério e adro de Souto de Lafões; caminho municipal (CM) da Igreja de Sejães a Ugeiras, via sede da freguesia, em reparação; construção da estrada municipal (EM) de Ribeiradio ao Rio Vouga, 3ª fase; variante em Pinheiro de Lafões da estação do CF à EN 16; EM de Vilarinho ao Vale da Erva (EN 333); beneficiação do CM de Souto Maior à EN 16; estudo e pesquisa para abastecimento de água à vila de Oliveira de Frades e ainda a Paranho, Ribeiradio, S. João da Serra, Souto Maior, Travanca e Vilarinho… - S. Pedro do Sul – Ajardinamento do largo frente aos Paços do Concelho; construção de casas para pobres; obras de adaptação no edifico dos Paços do Concelho ( que viria a arder em 1967); EM de Manhouce à EN 239-2ª, em 5ª fase; EM de S. Félix aos limites do concelho; EM de PIndo a Pindelo; EM da EN 227 a Valadares; reparação da estrada de S. Félix a Sul; arranque das ruas na freguesia de Vila Maior; CM de Ribas à EN 227; abastecimento de água a Manhouce e Sul… - Vouzela – Construção da sede da JF de S. Miguel do Mato; EM da EN 39 de Ventosa ao Monte das Sobreiras; caminho de Quintela a Ventosa; construção do CM de Campia a Cercosa e daqui à Seixa; CM da Igreja de Cambra a Confulcos; abastecimento de água a Vilar; CM da Ponte da Igreja de Queirã à EN 32; CM de Vilharigues por Paços e Confulcos; CM de Caveirós de Baixo a Caveirós de Cima; pesquisa para abastecimento de água à vila de Vouzela e a Igreja (Campia) e à já citada povoação de Vilar… Apresentamos, de seguida, o movimento de aquistas que frequentaram as Termas de S. Pedro do Sul : ano de 1946 – 1431 inscrições; 1943 – 1492; 1944 – 1674; 1945 – 1847. Há ainda, no livro “Hidrologia Portuguesa” uma outra alusão a 1946 – 1834, o que nos faz ficar na dúvida quanto ao número correcto, se o primeiro, se este último… A Comissão das Festas da Vila de Vouzela deu a conhecer as contas das Festas do ano de 1947 com uma receita de 32263$35 e de despesas no montante de 30 136$20, com um saldo de 2127$15. Foi ainda indicada a Comissão para 1948 – Dr. Calisto José Pereira de Matos, Hermínio Augusto Dias, Guilhermino de Almeida Girão, José Augusto de Almeida Matos, Augusto Lourenço Ferreira, Casimiro Rodrigues Serrano, Fausto Cândido, Paulo José de Figueiredo (Sobrinho), José Homem Cardoso e Retílio Teixeira da Costa Martins. Por sua vez, os Bombeiros passaram a ter os seguintes órgãos sociais: Direcção – António Fernandes Martins, António Ferreira da Silva, Virgílio da Silva Giestas, Franklim Augusto Dias e Eduardo Souto Teixeira; Assembleia –Geral – João A. Gonçalves de Figueiredo, António Rodrigues Correia e António Correia de Figueiredo; escrutinadores – António Lopes da Costa e Alfredo de Almeida Vidal. Em Oliveira de Frades, foi louvado o Dr. Arménio Maia pelo excelente trabalho que, como Presidente da Câmara, tem desenvolvido desde Abril de 1932. Escreveu-se ainda que Souto de Lafões já tinha luz eléctrica e que a Professora D. Angelina dos Prazeres da escola de Paredes Velhas fora autorizada oficialmente a contrair matrimónio com Francisco de Barros Ferreira da Silva. Num tom que hoje destoa, por vivermos, infelizmente, uma situação diametralmente oposta, dizia Artur Pereira de Vasconha que era grande o povoamento dos campos e que faltavam os terrenos para cultivar, ou a beneficiação dos modos de cultivo. Isto porque “ A população cresce admiravelmente , sendo os terrenos sempre os mesmos… “ Há 75 anos, foram estas algumas das dicas até ao mês de Março de 1948. Muitas outras podemos colher nos nossos arquivos para aqui serem reproduzidas em próximas ocasiões… Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Vouzela”, Fev 2023

Dia dos Namorados 2023

Namorar não tem dia mas a 14 de Fevereiro o encanto é maior Carlos Rodrigues Vem de há uns tempos a esta parte a comemoração do Dia de S. Valentim, 14 de Fevereiro, como sendo uma data especial para todos os namorados, essa época de todos os encantos e sonhos, quantos deles a perderem-se anos ou meses mesmo depois!... Adiante. Ramos de flores e prendas de toda a ordem são trocadas entre quem se ama perdidamente. Encontros e escapadelas sucedem-se em quantidade enorme e a toda a velocidade. Unidades hoteleiras e de restauração tudo fazem para atrair e agradar a esta clientela muito especial. As montras das lojas põem em destaque tudo quanto possa chamar a atenção de quem vive nesse mágico mundo do amor. Neste ano de 2023, o próprio Turismo Centro de Portugal lançou uma intensa campanha subordinada a este mote e com significativos slogans: “… Tanto romance. Centro de Portugal, um destino e tanto… “ e ainda outro, como exemplo apenas: “… Descubra os melhores sítios para namorar, beijar ou fazer o seu pedido de casamento… “ Se este é o mar de rosas que, a 14 de Fevereiro, se assinala, hoje (ainda que não queiramos trazer aqui e agora mau agoiro/agouro), anotemos, no entanto, o inverso desta boa moeda. Partindo dos dados da PORDATA, as taxas de divórcio são cada vez maiores de ano para ano, salvo algumas excepções. Vejamos: por cada 100 casamentos, em 2017, acabaram 64.2%; em 2018 – 58.7; em 2019 – 61.4 e, vejam-se estes valores, em 2020, subiu-se até a uma espécie de pico da montanha com 91.5%. Em tempos de confinamento, isto dá que pensar… Acresce que 76% dos divórcios acontecem em casamentos com uma duração inferior a 24 anos e, nalguns casos, não duram assim tanto tempo, havendo mesmo casos em que o desenlace se dá poucos meses depois de se ter dado o nó especial. Colocado o nosso país, a nível europeu, como o 2º com a maior taxa de divórcios nos últimos 55 anos, isto merece-nos uma profunda reflexão. Esquecendo esses dolorosos cortes, que o Dia dos Namorados seja, no entanto, vivido em cheio e com esperança no futuro. Que as flores não murchem e permaneçam cheias de vigor, brilho e cheiro. Mas que há algo a repensar-se isso há, que aqueles números não mentem. Terminemos, porém, com uma nota positiva: olhemos para os picos mais baixos e tentemos fazê-los descer ainda mais… E façamos terminar, a fundo, toda e qualquer manifestação de violência que, por estranho que pareça, aparece já na fase do enamoramento, infelizmente… In “Notícias de Lafões”, Fev 2023

Recordar um amigo e um Homem da cultura de Lafões

Recordando para sempre o Dr. António Nazaré Oliveira Carlos Rodrigues Lafões perdeu há dias, infelizmente, uma de suas notáveis figuras, que se dedicou ao ensino e à investigação durante toda a sua longa e profícua vida: o Dr. António Nazaré de Oliveira, que tivemos o prazer de conhecer e com ele conviver por diversas vezes e em várias circunstâncias, quase sempre relacionadas com estas questões da história e da cultura lafonenses. Nascido em S. Pedro do Sul no ano de 1929, deixou-nos nos inícios deste ano de 2023. Fica-nos a sua memória e riquíssimo legado. Muito obrigado, Amigo, por tudo quanto fez por Lafões. Licenciado em “ Histórico-Filosóficas”, quando estas duas áreas do saber andavam de mãos dadas, iniciou as suas funções docentes no antigo e extinto Colégio S. Tomás de Aquino, em S. Pedro do Sul, que havia sido fundado em 1949. Se nesta Casa vincou já a sua marca, mais tarde, em Viseu, viria a ser um dos fundadores e director do Colégio de Santo Agostinho durante anos. Por um e outro destes estabelecimentos de ensino passaram muitos nossos ilustres conterrâneos, sendo que no Santo Agostinho, por exemplo, estudou Fradique de Melo Bandeira de Melo e Meneses, com origens em Fataunços (cuja casa de família está hoje destinada ao turismo rural), e que veio a ser Presidente da República de S. Tomé e Príncipe. Se este foi um pormenor aqui encaixado, é do Dr. António Nazaré Oliveira que queremos falar e com todo o propósito, por seu merecidíssimo mérito e porque importa que não esqueçamos quem assim por aqui se destacou, como, aliás, o seu Município realçou em sentida nota de pesar. No seu rico curriculum, é de relevar-se ainda a sua passagem pela criação e instalação da Escola Preparatória D. João Peculiar na sua terra, que dirigiu nos primeiros tempos da sua complicada e atribulada entrada em cena, como confessou nas cerimónias dos 50 anos desta mesma escola. Como que atirado às feras, nesse ano de 1971, teve de fazer quase morcelas sem sangue. Conseguido o edifício (hoje CCAM ), faltava-lhe tudo, desde os professores ao dinheiro para o aquecimento e outros aspectos. Alegou mesmo que pagou do seu bolso a colocação do respectivo telefone. Para criar o necessário corpo docente, socorreu-se dos seus conhecimentos e foi à pesca onde sentia que poderia ser bem sucedido, tendo, inclusivamente, saído da sua área de influência e conforto para bater à porta, por exemplo, de um amigo em Oliveira de Frades, o Professor Manuel Martinho. Improvisando tudo, até a cantina passou por esse expediente bem português do “desenrascanso”. E lá se safou e bem, pelo que se sabe… Num outro cinquentenário, o do Colégio S. Tomás de Aquino, em 1999, não deixou de confessar o seu orgulho por ter pertencido ao seu corpo docente de que, nessa cerimónia, confessou com tristeza ser então o último professor ali presente de quantos com ele participaram na respectiva docência. A par destas actividades escolares, uma de suas facetas mais notáveis, para nós, foi o facto de se ter dedicado com afinco, vontade e rigor à investigação histórica e cultural de Lafões e também à produção literária com seus contos. Devemos-lhe uma série enorme de trabalhos que muito têm contribuído para que conheçamos melhor o nosso passado e os contextos em que temos vindo a viver. Começou logo com o seu “Lafões – subsídios para a sua história”, obra em que explanou muito do que descobriu de cada concelho, com mais extensão e atenção (compreensíveis ) para o seu S. Pedro do Sul. Debruçou-se a fundo ainda sobre a vida de D. Duarte de Almeida, alargando as suas lides em investigação à assistência social nesta nossa região, desde Reigoso a tantas outras localidades, incidindo, muito particularmente, nas Termas de S. Pedro do Sul, terra a que dedicou um livro inteiro com mais de 220 páginas. Sempre com uma palavra sábia, a memória do Dr. António Nazaré de Oliveira não se pode resumir a estas curtas linhas. Nunca. Tudo isto é pouco, pouquíssimo mesmo, para o evocar devidamente. Sendo um modesto contributo, ele aqui se regista com um imenso pesar e muita saudade. Até um dia, Amigo… In “Notícias de Lafões”, Fev 2023