sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Neste tempo, pensar o Interior é preciso

As nossas achegas para a campanha eleitoral em curso Passados cerca de quatro anos, as estradas enchem-se de som, porque mais uma campanha eleitoral, para as legislativas, está em plena marcha na sua primeira de duas semanas em que este processo se vai impôr. Desde 1976, não são muitas as legislaturas que se deram ao luxo de durarem os quatro anos da praxe. Esta conseguiu que tal tivesse acontecido. Como chegou ao fim, eis que somos chamados, a seis de Outubro, a fazer as nossas escolhas. Em propostas, há muito por onde optar. Mas será que satisfazem as nossas necessidades? Esta é a questão que é de difícil resposta. Tentemos, então, dar umas pinceladas a esse respeito. Com alguma sombra de egoísmo, puxamos a brasa à nossa sardinha, gostando e desejando que as preocupações que carregamos como pesado fardo, possam ser resolvidas positivamente. A questão das questões tem a ver com a interioridade de que somos vítimas e que nos marca como gente quase de segunda classe, porque a maior parte do bolo das verbas que o Estado tem obrigação de nos fazer chegar se perde pelo caminho, ou é desviada para outras paragens. Em sede de políticas públicas, continuamos a ser um parente pobre a quem pouco se redistribui. Como consequência, quase que não saímos da cepa torta em círculo vicioso: ontem mal, hoje assim-assim, amanhã bem pior, de certeza. E em população é a continuada desgraça que bem se conhece: a tristeza de um crescente e severo despovoamento. Mas, apesar do que dizem das nossas vacas e vitelas, apontando-lhes culpas ambientais em carga que nos custa a aceitar, somos factores de enriquecimento do planeta com as nossas árvores, o verde de nossos campos, o ar puro das nossas serras e, por isso, devemos merecer o recto e merecido retorno. Nada disso, porém, se vê. Ninguém nos paga o que nos é devido. Bem pelo contrário. Em 1981, no I Encontro das Beiras sobre Regionalização, organizado pela Proviseu, assim se escrevia, numa edição da então CCRC: “ É sabido que um dos motivos de sub-desenvolvimento das áreas do interior reside em dados económicos e financeiros estruturais... “. Falava-se em medidas fiscais, porque “ ... A atribuição de benefícios tributários em certas zonas degradadas representa um forte estímulo para (por exemplo) a colocação de indústrias no interior. Também a política de despesas públicas contribui para o mesmo objectivo... “ Dizia-se isto há 37 anos. Na actualidade, repete-se este discurso, mas bem continua a pregar o Frei Tomás... E mais adiante, afirmava-se “... Esta a importância de uma verdadeira política por parte do Estado de atenuação dos desequilíbrios regionais... É evidente, por outro lado, que os recursos naturais das regiões do interior são como que sugados pelo dinamismo e força atractiva do litoral e para aí vão sem qualquer transformação... “, o que, acrescentamos nós, leva atrás de si a força de trabalho e, por essa via, estas nossas terras se esvaziam de gente com força, genica suficiente capacidade criativa de gerar progresso. A par desta reivindicação-sugestão, muitas outras se podem elencar: precisamos que nos reponham muitos dos serviços que nos levaram nas áreas da saúde, da justiça, da educação e outros sectores; carecemos de que se olhe para a nossa terceira idade, para os casais jovens, estimulando-os, não com rebuçados, mas com medidas estruturais, a que se deixem ficar por aqui, aumentando a demografia, a outra chaga dos nossos tempos, em que a pirâmide está totalmente invertida, com a velhice na base e uma pontinha de sangue novo na ponta cimeira, o que é perigoso para a sustentabilidade da segurança social; em suma, tem de haver um outro olhar para e por estas nossas zonas. Como forma de descongestionar os grandes centros, onde poucos dos muitíssimos que lá habitam têm qualidade de vida, ponham-se essas pessoas a caminho, para aqui residirem, das nossas paragens. Não se tragam, porém, ao engano: transfira-se para eles e para os actuais residentes os benefícios dos transportes públicos, das escolas de qualidade e de outros aspectos daqueles que abundam nas nossas cidades do litoral e por aqui não aparecem. Se muito mais haveria a dizer, façamos apenas papel do advogado que se limita a pedir simplesmente “justiça”, dizendo nós mais ainda: que se crie a real equidade, que a igualdade nem sempre é via ou flor que se deva cheirar. Querendo apenas que tenhamos os nossos direitos, que os políticos nos ouçam e nos atendam e que actuem, depois, em conformidade. Isso e só isso. Carlos Rodrigues, in Notícias de Vouzela, set19

Notas e achegas para situar o Mosteiro de S. Cristóvão de Lafões na história

Acrescentar verdade à verdade histórica As origens da Ordem de Cister em S. Cristóvão de Lafões Na revista “História –JN”, do passado mês de Agosto, Joel Cleto, um grande sabedor e conhecedor dos factos e realidades que antecederam os nossos dias, ofereceu-nos umas boas páginas de referências à Ordem de Cister, inscritas na sua “Rota dos monges brancos”, os cistercienses, que em São Cristóvão de Lafões se instalaram logo no início da sua vinda para Portugal. No entanto, situando-se na zona de Tarouca e concelhos limítrofes, por aí se ficou, ainda que tenha pegado em duas ou três linhas para falar de Alcobaça e Santa Maria do Bouro. Concordando com a sua fundamentação e enquadramento, temos de confessar que não o acompanhamos numa de suas conclusões, esta que vamos citar”... Nestas páginas propomos ao leitor um percurso relativamente circunscrito a um território da Beira Alta, não muito longe das margens do Douro. Um percurso que nos levará do mais antigo mosteiro de Cister até... ao mais recente ... (com) início em S. João de Tarouca, fundado em 1140... “ Entra aqui a nossa visão contestatária, apoiando-nos em também outra conceituada historiadora, Maria Alegria Marques, nos seus “Estudos sobre a Ordem de Cister em Portugal, Colibri, FLUCoimbra, 2008”. Começa assim parte do seu racicínio: “ Quanto a nós, o primeiro grande problema relativo à presença de Cister em Portugal liga-se com os mosteiros de S. Cristóvão de Lafões e S. João de Tarouca. Ambos fundações anteriores (como os seus próprios nomes indicam), de tipo eremítico, a qual deles cabe a primazia de ter albergado os primeiros monges brancos em Portugal?” Alude, depois, a uma série de dúvidas e socorre-se de D. Rodrigo da Cunha, que situa S. Cristóvão de Lafões no ano de 1138, data que pensa ser o da passagem para a Ordem de Cister. Se assim é, antecipa-se então a 1140 e 1144. Associa estes monges à figura de João Cirita, o eremita, que ali vivia desde tempos anteriores. No que se refere aos anos 40, afirma que “... entendemos pertinente considerar alguns aspectos que, a nosso ver, obrigam a reposicionar a questão da prioridade de Lafões ou Tarouca no movimento cisterciense em Portugal... “ Sendo este apenas um pormenor, que não retira uma vírgula à importância e relevância que esta Ordem teve na nossa sociedade, nem às instituições em causa, trazê-lo aqui ao palco da discussão tem apenas, na nossa mente, a intenção de aclarar posições e valorizar o que é de valorizar, a fim de que se não persista no erro, eternamente. Como somos lafonenses, esta matéria só por nós é retomada por gostarmos de enfatizar aquilo que é nosso e nos pertence a partir da voz de quem se debruçou sobre estes temas. Entre uma boa série de argumentos, anota mais este: “... Com esta interpretação se coaduna também o documento de Outubro de 1137, pela qual o rei dos Portugueses havia coutado a igreja de S. Cristóvão de Lafões ao prior João Cirita e aos eremitas que aí habitavam . Em dois anos (1137-1139), João Cirita passava de prior a abade e a igreja de S. Cristóvão de Lafões de centro de vida eremítica a mosteiro de S. Bento pela nova reforma, isto é, a Ordem de Cister, por iniciativa de João Cirita e licença do rei de Portugal... “ Neste processo fundacional, destaca-se ainda D. João Peculiar, “personalidade afecta ao Rei... um homem culto, viajado, ligado já a um movimento (Santa Cruz de Coimbra), de raiz estrangeira. Aproveita esta historiadora para dar conta dos mosteiros masculinos cistercienses em Portugal nos séculos XII e XIII, por esta ordem cronológica: S. Cristóvão de Lafões, 1138; S. João de Tarouca – 1144; Santiago de Sever – 1141 e /ou 1143-1144; Santa Maria de Alcobaça – 1153; Santa Maria de Maceira-Dão – 1154; Santa Maria de Salzeda – 1156; S. Pedro das Águias – c. 1170; Santa Maria de Aguiar – 1170; Santa Maria de Tomarães – 1172; Santa Maria de Seiça – 1175; Santa Maria de Fiães – 1173; Freires de Évora – 1176; Santa Maria da Estrela – 1220; S. Paulo de Almaziva – 1221; Santa Maria de Júnias – 1247; Santa Maria de Ermelo – a. 1271. A talhe de foice, inclui também os femininos de S. Mamede de Lorvão, Santa Maria de Celas, S. Pedro de Arouca, Santa Maria de Cós, S. Salvador das Bouças, S. Bento de Castris, Santa Maria de Almoster e S. Dinis de Odivelas, todos estes já do século XIII. Sem querermos tirar o mérito ao trabalho de Joel Cleto, quisemos dar estas achegas por as vermos como relevantes, em certa medida, para o conhecimento deste capítulo da nossa História. Com a origem em Lafões ou em Tarouca, talvez isto pouco interesse. Talvez. Por uma questão sentimental, não quisemos, porém, perder a oportunidade de dar o seu a seu dono, ainda que seja coisa pouca... Um abraço ao Joel Cleto por nos ter aberto o apetite por esta espécie de discussão. Carlos Rodrigues, in Notícias de Lafões, set19

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

O interior também tem voz no desporto como no Tondela

Vamos hoje fugir um pouco daquilo que tem sido o objecto essencial destas pequenas crónicas, enveredando pelo mundo do futebol para o transportar por uma de nossas lutas e causas essenciais: a valorização do interior. No telejornal da RTP das treze horas de segunda-feira, dia 16, os destaques do campeonato foram apenas para os três ditos grandes clubes, que acabaram, mais ou menos, por cumprir o seu dever. De fora, ficou, por exemplo, o nosso vizinho “Tondela” que cometeu a proeza de ir ganhar ao Rio Ave, num resultado final de 2-4. Isto é obra. Mas a nossa televisão, paga à custa dos impostos de todos nós, não lhe ligou nada naqueles momentos. Das privadas, nada dizemos porque não queremos meter-nos nas suas escolhas e negócios, mas, quanto à RTP, entendemos que é nosso dever pugnar por justiça e pela exigência de ser dado o seu a seu dono. O “Tondela” teve o azar de estar localizado em plena Serra do Caramulo, longe da capital e da fama que outros têm. Só que, para gáudio nosso, milita nessa alta roda do futebol e a sua naturalidade não pode influenciar o mundo noticioso da televisão estatal. É com estas pequenas coisas, a par das monumentais, que se ampliam desigualdades, assimetrias e se marginaliza uma parte substancial do nosso território. Sabemos que, em comunicação, há critérios editoriais e outras normas e recomendações. Mas, naqueles órgãos de comunicação social públicos, as exigências devem passar sempre pela igualdade de oportunidades nos conteúdos noticiosos, nos destaques e comentários. Os grandes serão sempre grandes e cada vez se agigantam mais. A arraia-miúda, quando se atreve a saltar para altos voos, tem sempre quem lhe ajude a cortar as asas. Aconteceu isto com o “Tondela”, para triste exemplo do que vai acontecendo por aí. Quase sempre, o que é azar a mais... Carlos Rodrigues, Notícias de Vouzela, Set19

As sondagens só se avaliam em Outubro

A sondagem das sondagens aparece em Outubro Os jornais, as rádios, as televisões e as redes sociais andam atarefadas com as sondagens que vão aparecendo a propósito das próximas eleições legislativas de Outubro. Mas o veredicto final só se verá com o voto nas urnas. Isto em Portugal Continental que, na Madeira, a prova dos nove é já este mês de Setembro. Por aquilo que se vai lendo e ouvindo, quase que nem valeria a pena ir-se às urnas, que muitos resultados já vão sendo atirados para o ar. Sem sermos cépticos em demasia, às sondagens conferimos a relatividade que contêm em si mesmas. O que elas nos dizem só pode ser observado, a sério, no dia em que os cidadãos exercerem o seu direito/dever de votarem. Como pistas, valem o que valem e nada mais do que isso. Trabalhando com probabilidades, lançam hipóteses e estas podem falhar, o que acontece mais frequentemente do que até seria desejável. A riqueza deste importante acto reside na possibilidade que cada votante possui em determinar o nosso futuro. Cabe-lhe essa determinante tarefa e a não pode, nem deve alienar, por nada deste mundo. Se o fizer, está a colocar nas mãos de outros algo que só a si diz respeito. Temos um imenso respeito por todas as opiniões e propostas que por aí vão surgindo, mas, aceitando-as, nem sempre têm o nosso apoio. Não faz mal ouvir-se, debater-se, esclarecer-se. É essa a essência dos períodos das campanhas eleitorais, dos debates e da propaganda que as várias forças políticas fazem. Parecendo que se fala demais, talvez não seja essa a conclusão a tirar-se, porque estar-se informado e consciente das decisões a tomar faz toda a diferença na hora das escolhas que poderemos fazer. Com uma assinalável diversidade de programas (que, cremo-lo, quase ninguém lê a fundo, ou nem pela rama), não há razões para se ficar em casa, a pior das opções a seguir. Participar nas eleições é o mínimo que se pede em sede de cidadania activa e participante. Deixamos, como é óbvio, em cada nosso conterrâneo a escolha do caminho a trilhar. Pedimos apenas que se dirijam às mesas de voto e digam de sua justiça. Dentro de dias, tudo se ficará a saber, na sondagem das sondagens. Entretanto, acabámos de tomar conhecimento de uma excelente ideia da Comissão Europeia ao atribuir à futura Comissária, Elisa Ferreira, uma pasta de relevante importância - a da Coesão e das Reformas. Como português e atendendo à sua experiência e tarefas desempenhadas, sentimos que, nas suas mãos, pode estar algo de extraordinário, assim haja a devida e necessária coragem política: a concretização de uma verdadeira coesão terrirorial, económica e social de que o nosso País tanto carece e Elisa Ferreira sabe bem que assim acontece desde há tempo demais. Carlos Rodrigues, in Notícias de Lafões, Set19

A ponte velha e a nova em Sejães...

Duas pontes às portas de Valadares Uma mostra a sua imponência, outra hiberna de vez em quando Há muita história debaixo de água em grande parte do ano aqui por perto: sempre que a albufeira da Barragem de Ribeiradio trepa por aí acima, a Ponte Luís Bandeira, de Sejães, adormece nesse lençol imenso como seu cobertor de excelência. Felizmente que não desaparece. Ciclicamente, mostra toda o seu esplendor e carga patrimonial. Numa solução híbrida, para que se não perdesse a sua memória, este foi o truque encontrado. Uma outra solução pode, quem sabe, acrescentar-se a este método: retratá-la na barreira que ladeia a EN 333-3 e lhe fica em frente em plano mais elevado, acessível pela sua nova e imponente herdeira. Decorria o ano de 1906, quando, para unir as duas margens do Rio Vouga, ali para os lados da freguesia de Sejães, se pensou em construir uma nova Ponte. Tendo como grande impulsionador e patrono o General Luis de Mello Bandeira, de Souto de Lafões, que muito fez pela construção desta obra, da ideia passou-se à sua concretização. Pensada em moldes inovadores, seguiu, em parte, a tecnologia e o modelo da dita primeira ponte em “formigão de cimento armado”, a sua congénere de Vale de Meões, Mirandela, que já desapareceu há uns anos. Como esta se esfumou, esta ponte de Sejães como que pode afirmar-se como a mãe de todas aquelas que se lhe seguiram, tal como, muitos anos depois, lhe veio a “copiar” as linhas, ampliando-as, a da Arrábida, entre o Porto de Gaia no Rio Douro. Com base numa das muitas publicações em que se retrata este empreendimento, o “Estudo da Ponte Luiz Bandeira em Sejães – José Sena-Cruz e Rui M. Ferreira, Universidade do Minho, 2011”, chega a dizer-se que “ ... É considerada como sendo a mais antiga ponte de betão armado em utilização (?) no nosso país e uma das mais velhas da Europa... “. Foi projectada pelo Eng. Moreira de Sá, com construção a cargo da firma Moreira de Sá e Malevez, concessionária do sistema patenteado Hennebique de 1882. Com 44 metros de comprimento e 4.5 de largura, numa faixa de rodagem de 3 metros suportada por 2 arcos, nela se gastaram 15 a 16 toneladas de aço Bessemer e 60 m3 de betão, pesando o seu tabuleiro 167 mil quilos. Entretanto, no ano de 1951, em virtude da maior intensidade de tráfego, proveniente da EN 333-3, sofreu trabalhos de ampliação e reforço, de modo a poder responder, ainda que condicionadamente, às novas exigências que se lhe pediam. Ainda que assim tenha acontecido, nunca ultrapassou, até à sua colocação debaixo de água, as limitações que sempre a caracterizaram, até porque não permitia o cruzamento de dois veículos. Cerca de um século depois de ter nascido, eis que, com a construção da Barragem de Ribeiradio, que estendeu a sua albufeira até estas paragens, veio a sofrer um destino muito especial: não sendo morta, a opção passou por ficar submersa durante grande parte do ano, sempre que o nível da água, quer em NPA (Nível de Pleno Armazenamento), quer em alturas um tanto menores, não pode ser vista. Fora dessas épocas, pode ser observada e apreciada, esperando-se que assim aconteça por muito tempo, de modo a não se perder mais este ex-libris do nosso património. A este monumento, o Cónego José Fernandes Vieira, um conterrâneo desta freguesia e cidadão muito interessado pelas coisas da sua terra, nos seus “ Retalhos Histórico-Jornalísticos da Paróquia de S. Martinho de Sejães, 2015”, consagrou uma atenção muito especial. Alega que, com base em documentação que recebeu de Francisco Augusto Ferreira, da Casa da Telha, esta obra “... No ano de 1906, foi principiada (a ponte) no Piôco que esteve só com o arco de madeira e com os varões de ferro pousados dentro da madeira e veio uma cheia que levou tudo e um varão foi aparecer no Poço das Poldras de Baixo, que depois foi tornada a fazer e concluída no ano de 1907, dando meu pai Ricardo Ferreira para a construção dela 112 tábuas, que depois vieram algumas, mas poucas. Foi mandada fazer por Luíz Bandeira de Souto de Lafões...” Ainda a seguir esta fonte de informação, fala-se numa folha de ponto com mais de 40 nomes de pessoas que “ali trabalhavam”, como também pode ser comprovado no livro “Oliveira de Frades – António Nabais, Carlos Rodrigues e Manuel Martinho, edição da Câmara Municipal, 1991” em fotos e cópias diversas. Como estamos a falar de travessias do Rio Vouga nestes locais de Sejães e, de certo modo, de Valadares, a nova Ponte, agora em uso, tem 140 metros de comprimento, 33 de altura e 15 de largura, com passeios, de um lado e de outro, com 1 metro de largura. Abriu ao trânsito a 6 de Agosto de 2014. A pessoa de Luiz Bandeira De acordo com o Cónego José Fernandes Vieira, o General Luiz de Mello Bandeira teve as suas origens na Casa da Igreja de Souto de Lafões, tendo nascido a 16 de Março de 1844. Na Universidade de Coimbra, obteve as licenciaturas de Filosofia, Matemática e Engenharia, mas seria na carreira militar que haveria de seguir o seu destino, tendo atingido o posto de General de Artilharia. A par destas funções, foi durante 23 anos Par do Reino. Meteu-se assim na vida política, vindo a ser deputado pelo Partido Progressista pelos círculos de Viseu e da Madeira, terra onde se veio a casar com D. Eugénia Malheiro da Cunha. Tiveram dois filhos – Ema e Paulo Bandeira. Com forte influência, lutou pela construção da linha do caminho de ferro do Vale do Vouga, pela criação da Comarca de Oliveira de Frades, dedicando muita da sua atenção à Ponte de que temos estado a falar, a de Sejães. Das mãos do Rei D. Carlos, recebeu uma condecoração: a da Grã-Cruz da Real Ordem de S. Bento de Avis. Acabou por falecer na Praia da Granja, em 1913, repousando no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa. Por aquilo que fez, em sede de influência, o nome dado a essa “sua” ponte foi assim totalmente merecido. O seu a seu dono. E assim se cumpriu este ditado popular. Carlos Rodrigues, Ecos da Gravia, 2019

O passado e o presente das nossas escolas....

No início de um novo ano escolar Recordar o passado é também aprender A escola de massas a que têm hoje, em regra, acesso todas as crianças e jovens, nas devidas idades, é um fenómeno bem recente, se visto à luz da medida do tempo histórico. Até meados do século passado, havia muita gente nas nossas terras e poucas ou nenhumas respostas educativas satisfatórias. Na actualidade, temos edifícos e instalações a mais, vazias e a caírem, e povoadores a menos. Triste fado é este em que cresecem os lares e morrem os estabelecimentos de ensino. Depois de a Igreja ter sido a entidade que regulou todo o reduzido edifício escolar ao longo de séculos, só após o ano de 1820, com a Revolução Liberal, é que o Estado entra em acção, começando a querer pegar nestes seus cordelinhos e a moldá-los, muitas vezes, em seu proveito. Coube também às Câmaras Municipais uma parte substantiva nesta área social, ao assumirem muitos e diversificados compromissos, bem mais vastos que aquilo que, actualmente, lhes é pedido e solicitado. Para comprovarmos isto, basta dizer-se que até os Professores estiveram sob a sua alçada em recrutamento e controles diversos. Ainda durante a primeira República, assim foi acontecendo. Com o aparecimento, em força, do Estado Novo, sobretudo a partir da Constituição de 1933, a educação como que arrefeceu em muitos campos. Porém, por força dos acontecimentos e das novas necessidades empresariais nos grandes centros, como Barreiro e Lisboa, ou mesmo o Porto, em que se exigia às comunidades rurais em fuga para essas cidades alguma escolaridade, surgiu o Plano do Centenários, sem dúvida, a fase de maior construção de edifícios do ensino primário alguma vez acontecida. Dessa forma, a escolaridade espalhou-se um pouco por todo o país, em moldes padronizados e adaptados, em arquitectura e materiais, às diversas zonas. Mas só nos anos sessenta, através do Decreto 42994, de 28 de Maio de 1960, é que a então quarta classe passou a ser obrigatória para as meninas. Até aí ficavam apenas com a 3ª, ou nem isso. A montante, em matéria de creches e ensino pré-escolar, nem por sombras aí se chegou. E a jusante, a partir desses níveis de escolaridade, os avanços foram lentíssimos e espaçados no tempo. Valeu, em muitos casos, a iniciativa da sociedade civil com a criação de colégios, como o de S. Tomás de Aquino, em S. Pedro do Sul, nos anos 50, o Externato Lafonense, em Oliveira de Frades, e o Colégio de S. Frei Gil, em Vouzela, já nos inícios da década de sessenta. Importa não esquecer que, anos antes, o Dr. António Figueirinhas tinha dado à luz esses patamares de ensino, bem como, nas décadas de trinta e quarenta, o Colégio Lafonense, de Oliveira de Frades, tivera, na região, papel de relevo. No panorama nacional, o ciclo complementar do ensino primário (6º ano) nasceu com o Decreto-Lei 45810, de 9 de Julho de 1964. Três anos depois, em 1967, surge o Ciclo Preparatório.Em 1972/1973, com a reforma das reformas de Veiga Simão, passamos a ter as Escolas Preparatórias, o Ciclo Preparatório Unificado, começa a estruturar-se o Pré-Escolar e o próprio Ensino Superior. É desse tempo, aqui bem perto, uma das suas fortes criações, a Universidade de Aveiro, retirando a Coimbra, Lisboa e Porto o seu quase monopólio. Nesta resenha, desde 1965, uma nova e inovadora forma de escolaridade foi a Telescola, com postos particulares a aparecerem em muitos locais, passando-se, em 1971, para sua fase pública. A certa altura, Oliveira de Frades teve 4 postos, S. Pedro do Sul, 7, e Vouzela, 6, número que foi variando ao longo dos tempos. Uma curiosidade a reter: com este tipo de ensino, os lugares mais recônditos como Lameiro Longo, Adside e S. Martinho das Moitas ofereceram a muitos rapazes e raparigas a possibilidade de fazerem o 6º ano e prosseguirem, em muitos casos, as suas carreiras académicas. Ontem, a escola ia até às aldeias. Hoje, a concentração de alunos é a regra e mesmo assim o despovoamento mostra a sua face negra: deixamos de ter alunos para passarmos a ver, nas nossas ruas, apenas os idosos. Infelizmente. Carlos Rodrigues, Notícias de Vouzela, Set 2019

Bandas Filarmónicas de Lafões

Em fim de Verão Uma palavra para as bandas filarmónicas de Lafões Colectividades que são pontos culturais fortes nas terras em que se implantam e onde oferecem excelentes resultados a todos os níveis, as Bandas Filarmónicas, depois de um período de Verão em que abrilhantaram tantas festividades, bem merecem, nestes dias, a nossa consideração e gratidão. Temos para com elas esse imperioso dever. A nossa região de Lafões, de um lado a outro, tem-nas em grande estilo e qualidade e até uma certa quantidade. Mais antigas, centenárias ou não, ei-las a marcarem os dias, com a música, de tanta da nossa juventude e ainda dos mais idosos que não querem perder a oportunidade de fazerem aquilo que gostam: oferecer cultura e tradição, sempre. Sem podermos aqui trazer todas as Bandas que, algum dia, se instalaram nas nossas localidades, vamos, no entanto, tentar indicar algumas delas, organizando-as pela data da sua criação, sabendo que as falhas, a este nível, podem dar cabo da nossa boa intenção. Se tal acontecer, que nos seja perdoada esta involuntária falta. Prometemos, no entanto, não ficarmos sem desfazer essas mesmas lacunas, trazendo mais dados daqui a pouco tempo. Começamos com a Filarmónica Harmonia dos Bombeiros Voluntários de S. Pedro do Sul, iniciada em 1857, para, mais tarde, ser apenas Sociedade Filarmónica Harmonia, emancipando-se daquela Associação Humanitária em 1904. Neste concelho, merece uma palavra especial a Banda da Aliança Pinho-Vila Maior. Prosseguimos com a Sociedade Musical de Mocâmedes, Vouzela, fundada em 1875, pela vontade e esforço da Família Oliveira, de onde saiu o seu primeiro Maestro, António Oliveira, que a dirigiu cerca de 50 anos. Está à sua frente, agora, José Meneses Rocha. Em 1880, aparece a Phylarmonica de Vouzela. Passando por fases de avanços e recuos, em 1926 quase que pára. Felizmente que, em 1931, veio a renascer com a actual designação de Sociedade Musical Vouzelense, devido à dedicação, entre outros, de Augusto Homem da Rocha, Eduardo do Souto Teixeira, Fausto Ferreira de Abreu e Franklim Augusto Dias. A oito de Fevereiro desse ano, sai do Hospital Velho com a sua marcha triunfal. Tem a sua batuta, nos dias que correm, Diogo Tavares. No seu longo palmarés, eis o 1º lugar, em 1954, no concurso de Bandas Civis do Senhor de Matosinhos. Três anos mais tarde, em 1883, nasce em Cambra, Vouzela, a Escola de Música, na Casa do Talho, mercê da iniciativa dos irmãos Padre João Rodrigues Pereira e José Rodrigues Pereira. Em 1889, dá-se uma cisão, que durou apenas um ano. Tivemos, assim, temporariamente, a Banda Nova e a Banda Velha, ainda que por um curto espaço de tempo, como dissemos. No ano de 1910, adopta a designação de Filarmónica Verdi Cambrense. Décadas depois, em 1975, entra em processo de reorganização e, em 1976, inicia a construção da sua sede. Decorria o ano de 1890, quando em Ribeiradio, Oliveira de Frades, dá os seus primeiros acordes a Banda Marcial Ribeiradiense, na sequência dos trabalhos de Ricardo Ferreira e Alexandre Ferreira Lopes. Em 13 de Outubro de 1986, constitui-se como Associação Recreativa da BMR. Em 2002, recebe a Medalha de Ouro do Município. Desde 2002, ocupa a sua actual sede, nas instalações da antiga Estação da CP. No ano de 2005, alcança o estatuto de “Pessoa Colectiva de Utilidade Pública”. Bem mais tarde, em 1928, na freguesia de Paços de Vilharigues, surge a Sociedade Musical Cultura e Recreio, que actuou pela primeira vez em Domingo de Páscoa, tendo a dirigi-la o seu primeiro Maestro Joaquim da Rocha Almeida (Morgado). Ocupa uma sede renovada junto à Escola do 1º Ciclo. Oliveira de Frades viu aparecer a sua Banda dos Bombeiros Voluntários a 1 de Maio de 1932, por ocasião da Festa de S. Sebastião, na Feira. Em 1991, obtém os seus estatutos próprios, pelo que passa a ser conhecida por Banda de Música de Oliveira de Frades. Desde a sua fundação até 1977, foi seu regente Joaquim da Silva Moreira. Neste mesmo município, há ainda a UMJA – União Musical Juventude e Amizade – da Sobreira, erguida em 1999, instalada agora numa sede, que partilha com a ARCUSPOF. Filarmónica jovem na idade e nos seus elementos, revela já uma grande maturidade musical e cultural. Entretanto, a freguesia de Reigoso apresentava, nos anos vinte do século passado, a sua Banda Filarmónica e, nos anos 40, via actuar a Sociedade Musical Reigosense. Esteve ainda na origem da Reigravo e, mais tarde, da Banda Lafonense, todas elas desaparecidas. São estas instituições credoras da admiração de todos nós, pelo que fazem, pelo que representam e pela ocupação activa e intensa que proporcionam à nossa juventude. ( A continuar...) Carlos Rodrigues, in Notícias de Lafões, 2019 ónicas

O Brexit e os portugueses na Inglaterra

Portugueses na Inglaterra entre o medo e a esperança No“Lafões” desta semana, vamos fazer uma viagem até ao Reino Unido, ou Grã-Bretanha, ou Inglaterra, tantas são as designações por que é conhecido aquele espaço territorial, porque ali se vive, em sede de ligação à União Europeia, um forte período de conturbações diversas com a aprovação, em referendo, da saída do nosso espaço comum, o que se designa como BREXIT (exit- saída, BR, Bretanha). Com o pensamento focado em alguém que esteve muito ligada a este “Notícias de Vouzela”, a Sónia Pereira e a Lurdes Pereira, nelas englobamos todos os nossos conterrâneos que vivem estas aflições. Na verdade, o que está em causa é um corte com a Europa dos 28 países, o que travará os fluxos naturais que se verificam em toda esta parte do globo, a união das uniões de todos os tempos, salvo o Império Romano e até, em certa medida, o esforço napoleónico para o reconstituir. Se tal se concretizar, o que está previsto para o dia 31 de Outubro, que o actual Primeiro-Ministro, Boris Johnson , quer concretizar a todo o custo, nem que seja à martelada, isto é, com uma saída à toa, sem papéis e sem quaisquer salvaguardas, o desastre pode ser total e ninguém, de lá e de cá, se arrisca a prever o futuro. Hoje, o que queremos é dizer que estamos, como jornal e carta de família, ao lado de quem pode ver a sua carreira por ali a desfazer-se, ou, no mínimo, a sofrer alguns contratempos, nem que seja de chatices e papelada a tratar para manter o estatuto anterior. Não são fáceis, neste contexto de incerteza, os próximos tempos. Habituados a ver no RU uma terra que o Canal da Mancha não isolava (ainda que tenha havido, desde a sua adesão, já algo tardia, muito depois de 1957, alguns fortes amuos como o da cadeira vazia nos tempos de Charles de Gaulle e, mais tarde, a recusa em aderir ao Euro) e que permitia uma circulação aberta em muitos domínios, agora deparam-se com a possibilidade de tudo isso se perder. Muito embora se tenham inscrito no acordo assinado com Theresa May algumas boas cláusulas que permitam que a vida dos emigrantes da UE ali residentes se venha a processar com alguma regularidade, se a saída for “à bruta”, tudo de mal pode vir a acontecer. Todos nós recordamos as épicas batalhas travadas no Parlamento britânico em redor desse mesmo acordo, com votações sucessivas em que a anterior PM foi, sucessivamente, derrotada, a ponto de se ter demitido, e que agora o actual PM veio a fechar até ao dia 14 de Outubro, para, mais facilmente, manobrar tudo a seu belo prazer. Tudo isto são aspectos gerais, mas o que mais nos preocupa, para sermos sinceros, são as consequências que podem vir a surgir na vida dos nossos muitos emigrantes que ali vivem, trabalham, fazem e têm feito vida, muitos deles há anos,décadas e mesmo várias gerações. Segundo o Secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro, só nos últimos tempos mais de 35 000 portugueses ali residentes pediram ajuda e informações consulares, o que denota a ansiedade de toda essa nossa gente. Dramática foi, há dias, por exemplo, a interrupção de uma entrevista de uma cidadã portuguesa a gritar por socorro, acrescentando que a esta terra “ dei a minha juventude”. Por mais medidas de contingência que se estejam a elaborar e a proclamar, no sentido de se acautelarem efeitos nefastos na vida de quem ali habita, estamos convictos de que são mais os temores no futuro que as esperanças na continuação da vida próspera que, em geral, por ali se tem vindo a desenrolar. Muitas coisas estão em jogo neste complicado processo: o emprego, as aposentações, a escola dos filhos, o reconhecimento de diplomas, a livre circulação e tudo quanto, até aos momentos actuais, tem sido dado como certo. Amanhã, se o RU passar a ser um país terceiro, isto é, um não membro da União Europeia, tudo pode ser muito diferente e para pior, tememos nós. Nestas horas de aflição, desejamo-vos, Sónia Pereira e Lurdes Pereira, e a todos os nossos concidadãos, que essa grande ilha e arredores repensem tudo isto e recuem na decisão de abandonar a Europa em que nos integramos. Nem que para isso alguém venha a dar um forte murro na mesa. Às vezes, isso é preciso, útil e fortemente terapêutico... Carlos Rodrigues, Set19, Notícias de Vouzela

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

O Vinho de Lafões em lutas desde o século XIX....

Vinhos de Lafões Das lutas à quase derrota Ao lermos o jornal“ O Vouzelense”, de 1 de Maio de 1929, aí descobrimos várias considerações e preocupações quanto aos vinhos de Lafões. Falava-se numa reunião havida no âmbito da Associação Central de Agricultura em que se discutia o decreto nº 16684. A propósito desse encontro, tiraram-se estas conclusões: “ É certo que se tem gritado serem os nossos vinhos excelentes, serem mesmo uma fonte de riqueza que, seca ela, acarretará para a região gravíssimas consequências... Ora dessa reunião saímos com a certeza de que os nossos vinhos poderão ser uma grande riqueza que poderá determinar outras.... Os vinhos da nossa região são como se sabe variadíssimos em tipo, devido à divisão da propriedade, à diferença de terrenos e ao tratamento dado às videiras, etc. Se em Fataunços se produz um admirável tipo de vinho, em Ventosa já ele é mais áspero. Isto dá em resultado não ser possível manter um tipo certo nos mercados externos (Lisboa e Porto), sendo a venda prejudicada pela variedade qualificativa. A solução, quanto é nós, deve procurar-se na criação duma adega regional, reunindo os vários tipos para com eles formar um tipo certo.... Há duas formas de realizar a adega regional: uma – acordo estabelecido entre vários produtores de vinho, resolvidos a criar o tipo certo; outra – uma sociedade industrial que explore a ideia. A primeira é preferível, porque nela terão os produtores a garantia dum maior lucro... A segunda apenas interessa aos componentes da sociedade... A nossa região pediu que no regulamento fosse fixada uma zona para Lafões e na citada reunião condenou-se totalmente esses regulamentos, porque prejudicam outras regiões e porque se deve defender a liberdade de acção. Nós não podemos recear essa liberdade, porque os nossos vinhos verdes são dos melhores... Precisamos, porém, e em primeiro lugar, criar o tipo de vinho para Lafões, o que será conseguido, praticamente, (com) o acordo entre todos ou alguns produtores de vinhos” Por sua vez, o mesmo jornal de 30 de Junho de 1929, nas notícias de Ventosa, alegava-se que “...Nesta freguesia estão-se vendendo os vinhos ao preço de 1$20 e 1$40 cada litro apesar do ano passado ser uma colheita muito pequena. Mas como a região de Lafões, Castro Daire, S. Pedro do Sul, Vouzela e Oliveira de Frades tiveram uma classificação de vinhos ordinários e lhe é proibida a sua exportação, não pela má qualidade dos vinhos, mas pelo erro dos lavradores que misturam no seu fabrico todas as qualidades de uvas apesar de, nos concelhos de Vouzela e Oliveira de Frades, haver algumas freguesias que colhem vinhos que são uma especialidade que já muitas vezes têm ido para o Rio de Janeiro e outros países... O que não devíamos era pagar uns pelos outros. As Ex.mas Câmaras Municipais têm-se interessado interessado bastante para que os vinhos tenham saída, principalmente a Câmara de Oliveira de Frades onde os lavradores mais se queixam porque o vinho era a sua maior receita para o pagamento das suas contribuições. No mês de Março, o preço do vinho era de 35$00 e 40$00; hoje já se vende entre 20$00 e 25$00. As Ex.mas Câmaras que se não esqueçam deste assunto que está causando bastantes prejuízos a esta região encantadora de Lafões...” Legislações de 1929 e 1926 Quase sem retoques, inserimos, agora em 2019 e neste mês de Setembro, estes textos e estas ideias, por estarmos a pouco tempo da época das vindimas e muitos dos argumentos neles veiculados se mostram praticamente actuais. Há, no entanto, uma diferença de peso: em 1929, há noventa anos, havia por aqui bastante vinha e muitos produtores. Hoje, este sector está bastante reduzido, para não dizermos que está em perigosa e acelerada agonia. Já agora, diga-se que o citado Decreto 16684 exluía, por completo, a Região de Lafões, cingindo os Vinhos Verdes ao Minho e às suas videiras de enforcado, em ramadas, latadas, em cepas altas e médias, com castas indígenas, produzindo vinhos encorpados, carregados em cor, acidulados, adstringentes, com baixo teor alcoólico e com agulha. Entretanto, contrariando esta exclusão, o Decreto 12866, de 1926, integrava os nossos três concelhos na área dos Vinhos Verdes, como vinhos de pasto, possibilitando-se mesmo a comercialização local dos produtores directos (americano também), o que, em 1929, se rejeita claramente. Nota-se, assim, que em três anos muita água correu debaixo das pontes e as opiniões mudaram substancialmente, como se depreende das ideias que acabámos de expôr. Fica, porém, a lição. Ficam estas notas desses tempos recuados, para comparação e reflexão... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 5set19