sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Neste tempo, pensar o Interior é preciso

As nossas achegas para a campanha eleitoral em curso Passados cerca de quatro anos, as estradas enchem-se de som, porque mais uma campanha eleitoral, para as legislativas, está em plena marcha na sua primeira de duas semanas em que este processo se vai impôr. Desde 1976, não são muitas as legislaturas que se deram ao luxo de durarem os quatro anos da praxe. Esta conseguiu que tal tivesse acontecido. Como chegou ao fim, eis que somos chamados, a seis de Outubro, a fazer as nossas escolhas. Em propostas, há muito por onde optar. Mas será que satisfazem as nossas necessidades? Esta é a questão que é de difícil resposta. Tentemos, então, dar umas pinceladas a esse respeito. Com alguma sombra de egoísmo, puxamos a brasa à nossa sardinha, gostando e desejando que as preocupações que carregamos como pesado fardo, possam ser resolvidas positivamente. A questão das questões tem a ver com a interioridade de que somos vítimas e que nos marca como gente quase de segunda classe, porque a maior parte do bolo das verbas que o Estado tem obrigação de nos fazer chegar se perde pelo caminho, ou é desviada para outras paragens. Em sede de políticas públicas, continuamos a ser um parente pobre a quem pouco se redistribui. Como consequência, quase que não saímos da cepa torta em círculo vicioso: ontem mal, hoje assim-assim, amanhã bem pior, de certeza. E em população é a continuada desgraça que bem se conhece: a tristeza de um crescente e severo despovoamento. Mas, apesar do que dizem das nossas vacas e vitelas, apontando-lhes culpas ambientais em carga que nos custa a aceitar, somos factores de enriquecimento do planeta com as nossas árvores, o verde de nossos campos, o ar puro das nossas serras e, por isso, devemos merecer o recto e merecido retorno. Nada disso, porém, se vê. Ninguém nos paga o que nos é devido. Bem pelo contrário. Em 1981, no I Encontro das Beiras sobre Regionalização, organizado pela Proviseu, assim se escrevia, numa edição da então CCRC: “ É sabido que um dos motivos de sub-desenvolvimento das áreas do interior reside em dados económicos e financeiros estruturais... “. Falava-se em medidas fiscais, porque “ ... A atribuição de benefícios tributários em certas zonas degradadas representa um forte estímulo para (por exemplo) a colocação de indústrias no interior. Também a política de despesas públicas contribui para o mesmo objectivo... “ Dizia-se isto há 37 anos. Na actualidade, repete-se este discurso, mas bem continua a pregar o Frei Tomás... E mais adiante, afirmava-se “... Esta a importância de uma verdadeira política por parte do Estado de atenuação dos desequilíbrios regionais... É evidente, por outro lado, que os recursos naturais das regiões do interior são como que sugados pelo dinamismo e força atractiva do litoral e para aí vão sem qualquer transformação... “, o que, acrescentamos nós, leva atrás de si a força de trabalho e, por essa via, estas nossas terras se esvaziam de gente com força, genica suficiente capacidade criativa de gerar progresso. A par desta reivindicação-sugestão, muitas outras se podem elencar: precisamos que nos reponham muitos dos serviços que nos levaram nas áreas da saúde, da justiça, da educação e outros sectores; carecemos de que se olhe para a nossa terceira idade, para os casais jovens, estimulando-os, não com rebuçados, mas com medidas estruturais, a que se deixem ficar por aqui, aumentando a demografia, a outra chaga dos nossos tempos, em que a pirâmide está totalmente invertida, com a velhice na base e uma pontinha de sangue novo na ponta cimeira, o que é perigoso para a sustentabilidade da segurança social; em suma, tem de haver um outro olhar para e por estas nossas zonas. Como forma de descongestionar os grandes centros, onde poucos dos muitíssimos que lá habitam têm qualidade de vida, ponham-se essas pessoas a caminho, para aqui residirem, das nossas paragens. Não se tragam, porém, ao engano: transfira-se para eles e para os actuais residentes os benefícios dos transportes públicos, das escolas de qualidade e de outros aspectos daqueles que abundam nas nossas cidades do litoral e por aqui não aparecem. Se muito mais haveria a dizer, façamos apenas papel do advogado que se limita a pedir simplesmente “justiça”, dizendo nós mais ainda: que se crie a real equidade, que a igualdade nem sempre é via ou flor que se deva cheirar. Querendo apenas que tenhamos os nossos direitos, que os políticos nos ouçam e nos atendam e que actuem, depois, em conformidade. Isso e só isso. Carlos Rodrigues, in Notícias de Vouzela, set19

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