quinta-feira, 28 de maio de 2020

A floresta em Lafões Valor, queda, glória e trambolhões O mundo florestal tem passado por inúmeras fases ao longo dos tempos, no mundo, em Portugal e também aqui em Lafões. Dos matos bravios às plantações, de tipos diversos de exploração, desde baldios à propriedade privada, juntando-se-lhe o Estado em matéria de gestão e de controle, de tudo se tem visto neste importante sector da silvicultura. De repente, sobretudo nas últimas décadas, um inimigo implacável não lhe dá tréguas: o fogo. Por estarmos em Maio e com uma pesadíssima carga pandémica às costas, que nos tem consumido as energias até ao tutano, convém, mesmo assim, que nos lembremos que o Verão está à porta e, em cima de uma catástrofe, outras podem acontecer. Tendo em conta estes aspectos, vamos hoje dar uma volta pela floresta para melhor a compreendermos, estimarmos, defendermos e valorizarmos. Em tempos de controlado desconfinamento, estes nossos mundos de verdura e paisagens de sonho podem e devem ser aproveitados para o novo turismo que importa fazer renascer – o da natureza em todo o seu esplendor com muito e bom proveito. Mas, para que esses prazeres possam ser usufruídos, muito há a fazer e tanto de positivo já se foi perdendo, ano atrás de ano. Comecemos por um pouco de história, para melhor enquadrarmos este importante sector. Com a primeira Lei das Árvores a remeter-nos para o ano de 1565, só no ano de 1901 é que se fala propriamente no Regime Florestal, muito embora em 1864 já tenha aparecido o Ensino Superior Florestal e Agrícola. Entretanto, em 1875, fazia-se um balanço da área arborizada com cerca de 670000 hectares o que correspondia a 7% do território. Em 1965, esses números subiram para 2969000 ha de terrenos arborizados, ou seja, 33% da área total, sendo que, vinte anos depois, já tínhamos 3100000 ha, em 35% do espaço territorial. A grande mudança, porém, verificou-se no período do Estado Novo, sobretudo a partir dos anos 30 e 40, século XX. Determinante foi o Plano de Povoamento Florestal do ano de 1938, em que houve uma previsão para, em três décadas arborizar 420000 ha de área territorial, melhorar 60000 ha de pastagens, constituir reservas naturais e parques nacionais, construir 125 viveiros, 940 casas de guardas-florestais e 26 para adimistradores, 140 postos de vigia, 1159 telefones em 1800 km de rede, além de 2455 km de caminhos, como se pode ver no actual ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas. Convém dizer-se que este processo de florestação nacional não foi nada pacífico, bastando para isso lermos o romance de Aquilino Ribeiro, “Quando os lobos uivam”, e a obra de Manuel Rodrigues, “ Os baldios, Caminho, 1987”. Aqui, anotam-se as lutas travadas nas Talhadas do Vouga, Castro Daire, Moimenta da Beira, Vila Nova de Paiva, entre outros episódios. Congratula-se este autor com a devolução desses terrenos aos povos, sobretudo pelos Decretos- Lei nºs 39 e 40/76 e a consequente constituição de 600 conselhos directivos de compartes no país, sendo 70 no distrito de Viseu, mas os recuos surgiriam nos tempos seguintes em termos legislativos e aplicações práticas. É preciso recuarmos, de novo, um pouco mais para, em 1886, assistirmos à criação dos mestres e guardas florestais, caindo-se, depois e muito mais tarde, na extinção destes serviços pelo Decreto-Lei 74/96. Posteriormente, em 2006, estes mesmos profissionais saem do Ministério da Agricultura para o da Administração Interna. No meio de tantas mudanças, em 1986, aparece o PAF – Programa de Acção Florestal, em 1996 a Lei de Bases da Política Florestal, mas, entretanto, tinha-se destruído um pilar essencial, a nosso ver, o do fim das casas dos guardas-florestais com obra feita e bem reconhecida. Em Lafões Numa vertente mais concreta, no que tem a ver com a nossa Região de Lafões, tomando como ponto de partida um estudo de Henrique Machado e Nuno Amaral (2000), podemos falar das seguintes áreas e aproveitamentos florestais em cada um dos concelhos: - Oliveira de Frades (OFR), ano de 1999 – 8750 ha de floresta, 59% do seu espaço; S. Pedro do Sul (SPS) – 11830/34%; Vouzela (VZL) – 9100/47%. Quanto a espécies, era este o panorama: - OFR – Pinheiro bravo – 5250 ha; SPS – 8050; VZL – 6720; carvalhos, respectivamente – 1050 ha/1190/1610; eucaliptos – 2380/1680/630; outras – 70/840/140. Já agora, acrescente-se que existiam 71 baldios em Oliveira de Frades, 42 – S. Pedro do Sul e 66 – Vouzela À vista desarmada, facilmente se constata que em eucaliptização se deu, de 1999 para cá, um notório incremento, recuando, no sentido inverso, as outras árvores. Já agora, anote-se uma realidade que chegou a ter um panorama destacada por estas terras, tendo perdido influência nas últimas décadas, estando agora novamente a recomeçar a dar um ar da sua graça. Estamos a aludir à resinagem. Nesta actividade, no ano de 1990, registaram-se as seguintes incisões e valores de produção em gema: OFR – 34900/ 2792 contos; SPS – 367600/36760 c; VZL – 162600/12195 c. É de notar-se que, no município de S. Pedro do Sul, houve ( e parece estar a reerguer-se) uma linha de produção de resina, na freguesia de Figueiredo de Alva, o que pode explicar a maior incidência deste sector neste mesmo concelho. Com outros proveitos, a floresta não se esgota no aproveitamento das suas plantas, tendo outros bens a oferecer, para além do inegável património paisagístico e ambiental. Pelo meio, há a caça e a pesca, a apicultura, o estrume, a lenha, as ervas aromáticas e toda uma variedade de bens que é difícil enumerá-los a todos. Com a implantação dos Perímetros Florestais e ainda com base naquela fonte, eram estes os números em causa: - Perímetro Florestal de SPS – 10298 ha de área total, sendo 5000 arborizados; Serra da Freita (apenas SPS) – 1190/625; Préstimo ( em OFR) – 300/280; Arca – 1582/920; Caramulo – 2890/694; Vouga – 456/456; Ladário (OFR) – 1620/1560; Penoita – 1278/495 Qaunto a casas de guardas-florestais, agora desactivadas e muitas em ruínas, eis o panorama em Lafões: - OFR – Covão, Ladário, Pedra da Broa, Lameiro Longo/Santo Adrião, Varzielas, Paranho de Arca. E ainda a Casa de Apoio, perto do Lagar dos Tombos. - SPS – Manhouce (2), Macieira/S. Macário, Pisãoe Sá-Carvalhais, Aldeia de Sul, Serrazes. Figueiredo de Alva, Negrosa (SPS) - VZL – Rocha, contando-se com um protocolo entre o Município e a Universidade de Coimbra para a instalação de viveiros florestais; S. Domingos ou Lameirão e Covas, estas pedidas para, em processo de descentralização, passarem para o domínio concelhio, para usos diversos, como albergues de montanha, por exemplo. NOTA – Ainda não tínhamos acabado este trabalho e já os incêndios atacavam no concelho de S. Pedro do Sul. Está dado o sinal: não se podem descurar as medidas preventivas que se prendem com esta nossa também triste realidade... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 27 Maio 2020

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Covid a dar cabo de tudo, desde a saúde ao turismo e à advocacia em Vouzela e por todo o lado

Covid ataca em todas frentes Da doença às sequelas sociais e económicas Estes meses têm trazido uma aprendizagem constante em diferentes domínios. Se a Covid 19, enquanto doença, pôs em acção a medicina e os laboratórios em apressada e dura caminhada para tratar esta inesperada enfermidade, a vida, fora desse contexto em que se joga o futuro da sociedade, é vista como um calvário difícil de ultrapassar e vencer. Quase tudo colapsou. Com meio mundo enclausurado, por precaução e por meio terapêutico, a economia escureceu, esfumou-se, foi mesmo ao fundo em alguns domínios. O turismo foi um desses sectores. Também a advocacia se viu em maus lençóis. Para tentarmos apalpar o pulso a estas actividades, ainda que sem contactos físicos por razões óbvias, contactámos com alguns dos seus protagonistas para deles obtermos testemunhos vivos e narrados na primeira pessoa. Com uma larga experiência em alojamentos locais no centro da cidade de Lisboa, ouvimos Carlos Alberto Fernandes, advogado, natural de Pereiras, Pinheiro de Lafões, residente, desde há décadas, naquela cidade. Por coincidência, milita também na mesma área da justiça João Ferreira, natural e residente em Vouzela, onde tem o seu escritório de advocacia, que abordou o tema da pandemia e os efeitos na sua profissão. No campo do Turismo de Habitação, escutámos Viriato Garcez, proprietário do Paço de Vilharigues, que nos deu a sua opinião. Damos o pontapé de saída nestas viagens pelas agruras dos tempos presentes com as palavras e as ideias de João Ferreira, que começou por nos dizer que, como advogado, sente a pandemia como um reflexo daquilo que acontece na vida de muitas outras pessoas e sectores, com momentos de apreensão e indefinição. A seu ver, esta angústia é tudo quanto se não deseja no mundo do direito. Sendo frágeis estes dias e meses para todo o ser humano, o jurista, enquanto profissional liberal com um caixa de previdência específica, tem sido duplamente penalizado, uma vez que, “numa crise absolutamente extraordinária”, não tem recebido quaisquer apoios ou regalias vindas do Estado. Com os julgamentos agendados suspensos, com muito e crescente desemprego, com as vidas em dificuldades, os advogados sofreram profundo abalo na sua actividade. Enquanto os tribunais não retomarem a actividade judicial, ainda que apenas numa “normalização possível” e reagendamentos à distância, ou presenciais, todas estas situações de carência se continuarão a verificar. Até tudo recomeçar em pleno, as dificuldades manter-se-ão, quase sem apelo, nem agravo. Sendo Delegado da Ordem dos Advogados em Vouzela, “ só posso esperar, para bem das pessoas que recorrem à justiça como forma de resolverem os seus problemas, que se possa alcançar uma normalidade tão depressa quanto possível, cumprindo-se, no entanto, escrupulosamente, as regras de distanciamento e de saúde pública, no respeito por si e pelos outros” Deixou ainda pertinentes considerações, como a da necessidade de uma justiça de proximidade, reclamando a permanência do Tribunal de Vouzela, e a necessidade de ser assegurado o acesso aos tribunais a todos os cidadãos, assumindo o Estado as suas funções constitucionais de apoiar quem mais precisa. Acrescentou que, em tempos de crise social, não podem, de maneira alguma, serem violados os direitos de cada pessoa, nem lhe pode ser amputada a possibilidade de se defenderem, caso venha a ser necessário. É para isso que existe a Justiça, realçou. A outra área que desejamos abordar tem a ver com um segmento económico que sofreu um verdadeiro e doloroso “tsunami” com o aparecimento e propagação em flecha do vírus da Covid 19, como veremos de seguida. O turismo sofre(u) a fundo os efeitos desta crise Com uma unidade de Turismo de Habitação, o Paço de Vilharigues, numa mansão do século XVII, recuperada e valorizada, Viriato Garcez confessou-nos que, a partir de 14 de Março, o mundo para si parou, caiu mesmo na estaca zero. De um momento para o outro, não teve mais clientes, viu serem canceladas todas as reservas, pelo que a sua taxa de ocupação caiu para o zero. Só soube o que era (re)abrir portas no passado fim de semana, em que já iniciou, muito timidamente, a retoma. Contou-nos até um caso curioso: recebeu umas pessoas que tinham anulado o respectivo casamento, mas quiseram assinalar a data, escolhendo este seu Paço. A senhora, para mais vincar a situação, ostentava no seu vestuário “Noiva Covid”. Lamentou ainda mais a situação de crise quando, disse, “este iria ser o melhor ano de sempre, com muitas reservas e lotação muitas vezes esgotada”. Tudo foi por água abaixo. Aos soluços, começa a renascer a esperança e já apareceram algumas reservas, até para os feriados mais próximos. Mas quase todos os interessados perguntam pelas regras de segurança, que “já temos em vigor, com mudança de hábitos e rotinas. Ao pequeno almoço, por exemplo, acabou o serviço de buffet, não há partilhas, mesas espaçadas, tal como acontece no exterior e muita higienização e práticas de segurança no pessoal e nas instalações” Mostrando-se algo animado, não deixou de mostrar algum receio quanto ao futuro, que demorarão a ser atingidos os níveis do passado – acentuou. Vive em Lisboa, mas é de Pereiras. Falamos de Carlos Alberto Fernandes, advogado, que optou ainda por investir, na baixa, no Alojamento Local. Até há meses, tudo ia em frente. Com a Covid 19, aconteceu o “verdadeiro pesadelo com reflexos avassaladores ao nível do turismo”. Durante anos, muito do progresso econonómico foi alavancado por esta actividade, sobretudo respondendo à procura de milhões de estrangeiros. Multiplicaram-se as unidades hoteleiras locais e novas apostas na modalidade que explora e nos hostéis, mais acessíveis a consumidores com menos recursos. A cidade inundou-se de vida e de movimento. O comércio floresceu. As casas foram recuperadas. Houve, não há dúvida, também efeitos colaterais, sendo um deles, como reconheceu, o da gentrificação. Agora, vivem-se tempos de desertificação, de dores de alma ao ver-se Lisboa quase vazia. O optimismo, no entanto, não desapareceu de todo, alegando que “... Creio que a tormenta vai passar. É apenas uma questão de tempo”. Até que isso aconteça, é preciso resistir e tentar conciliar o regresso do turismo com a “inalienável preocupação de segurança sanitária”. Esta parte da nossa História está a ser pesada até mais não. A somar ao cortejo das desgraças, um pesadelo continua connosco, teimosamente: o que poderá ainda vir a surgir? Com dúvidas e esperança, aguardemos e confiemos. Para não se cair no atoleiro, ao Estado cabe uma palavra decisiva. E que a UE não nos falte... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 28 Maio 2020

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Lafões e as novas necessidades

Lafões com um olhar atento às novas necessidades Nestes novos tempos de incertezas até mais não, quando o impacto orçamental da Covid 19 ascende, no nosso País, a cerca de dois mil milhões de euros por mês em apoios e custos sociais, qualquer coisa como 700 euros por segundo, por aqui, em Lafões, esses efeitos negativos também se fazem sentir. Num balanço muito curto e com base apenas em algumas opiniões, constata-se que o panorama, sem ser dramático, não é animador. Das pessoas às entidades, as dificuldades e as carências marcam a sua triste posição. Olhando para a Conferência de S. Vicente de Paulo de Oliveira de Frades, na voz do Padre Manuel Fernandes, sente-se que a procura de bens alimentares está a diversificar-se, na medida em que sendo esta entidade a gestora deste projecto neste concelho, em parceria com outras instituições, tais novas situações têm vindo a ser reportadas. Ao telefone, chegam cada vez mais pedidos, alguns deles não “normais” para o que é costume. Distribuindo o que chega do Banco Alimentar, a incidência maior é na entrega de massas, arroz, açucar, leite, azeite e óleo, cabendo à Misericórdia o fornecimento de produtos frescos e refeições. Por sua vez, esta Misericórdia de Nossa Senhora dos Milagres, de que nos falaram o Provedor Serafim Soares e a Directora Cristina Diogo, opera com base em dois projectos, a Cantina Social e o POAMC – Programa de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas, sendo a Coordenadora nos concelhos de Oliveira de Frades, S. Pedro do Sul e Vouzela, através, nestes dois territórios, dos Centros Sociais de Fataunços, Queirã e da Misericórdia de Santo António e do Centro Social de Carvalhais. Quanto a este POAMC, contribui-se com o auxílio a 220 pessoas, tantas como na anterior fase, sendo que nesta está previsto um aumento para mais 110 no mês de Maio, com as expectativas de se passar, talvez, para 440 nos tempos seguintes. Durante os três anos da sua vigência, quanto aos restantes meses ainda se aguardam novas indicações. No que toca à Cantina Social, ainda se anda pelas refeições confeccionadas para 36 famílias, mas a previsão é de que, infelizmente, estes números venham a subir. A juntar a estas resposta oficiais, a sociedade civil tem aparecido também com as suas ofertas, numa onda solidária bem característica das nossas gentes, sempre prontas a darem o seu melhor quando as dificuldades apertam. Numa outra esfera, a do Município, falámos com a Vereadora Clara Vieira, que nos indicou que há “... Um olhar, especialmente, atento a toda a população, sobretudo aos que apresentam mais fragilidades...”. Com o problema a atingir diversos sectores, foram mobilizadas todas a sinergias, estabelecendo-se parcerias alargadas por todo o concelho. Entre outras tarefas, adquirem-se bens, refeições e medicamentos para entrega domiciliária, sem custos de transporte. Para esse efeito, foi criada uma plataforma “... em que convidámos todos os comerciantes a inscreverem-se...”, o que permite dinamizar a economia local. Num período de crescentes carências, a cada passo, ali se vão avaliando as necessidades e as respectivas respostas a dar. Uma destas passa pela rede de apoio psicológico em ligação com a ASSOL e outras associações. Também o GIP – Gabinete de Apoio ao Emprego – está a monitorizar as situções que se venham a alterar e a entrar em crise, a fim de se tentar evitar constrangimentos de maior. Com a reabertura próxima de algumas actividades lectivas presenciais, esse é outro sector que está em análise e em cima da mesa para aquilo que for necessário. Anunciado o encerramento de festas e manifestações culturais até Setembro, não têm faltado, nesse campo, iniciativas várias que tentam minimizar os efeitos negativos dessa falhas, ainda que não sejam a mesma coisa, nem com isso se comparem. A voz de quem sentiu o “layoff” no seu dia a dia Com cerca de oito anos de funções na actual empresa, Alpoim Pereira jamais viveu uma situação destas. Com o trabalho a nunca lhe faltar, ele que faz de tudo um pouco, desde as funções de vendedor e distribuidor ao escritório, as horas eram sempre poucas para o muito que havia a fazer. Sentindo e sabendo que a empresa em que exerce funções (que labora nos sectores das padarias, pastelaria e restauração em fornecimento, por grosso, de matérias-primas), tem crescido, anualmente, nos seus 25 anos de serviço, na ordem dos dois dígitos, este coronavírus, Covid 19, veio, de rompante, abalar tudo e todos. Até fins de Março, ainda o barco foi navegando. O pior aconteceu quando os diversos estabelecimentos começaram a fechar portas, uns atrás dos outros, desde Aveiro a Vilar Formoso, espaços por onde tem andado estes anos. Sem mercados, o caminho encontrado pela administração desta firma de Mirandela e de Viseu foi o da aceitação do “layoff”, isto é, colocar em casa uma boa parte dos seus funcionários. Assim aconteceu com ele. O choque foi tanto maior quando nada fazia prever este brutal desfecho, por tudo ir, vamos lá, de vento em popa. Agora, reina a incerteza, muito embora preveja que, na última quinzena de Maio, recomece as suas funções. Só que, por aquilo que tem visto e ouvido na sua clientela, reina o temor da reabertura, com o cepticismo em muita gente a fazer pensar que o comércio não seja o que era nos tempos mais próximos. Se nas padarias e pastelarias há mais optimismo, na restauração tudo é uma incógnita, por causa das restrições impostas e pelos custos acrescidos que virão a surgir com as medidas de higiene e saúde que é preciso ter em conta, disse-nos Alpoim Pereira. Entretanto, a palavra de ordem é “garra” e vamos em frente, até para escoar os produtos em armazém, um outro dos problemas que há a enfrentar. Não é de Primavera a época que estamos a enfrentar. Mas a esperança, a vontade de se sair desta crise e a capacidade do nosso povo serão capazes de ultrapassar o calvário que estamos a viver. Que isso aconteça quanto antes... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 14 Maio 2020

Sinais de recuperação em S. Pedro do Sul

Em S. Pedro do Sul há razões para se resistir Mas há ainda muitas nuvens negras Depois de há dias termos feito uma caminhada por algumas medidas tendentes a combaterem os efeitos da crise “Covid 19”, hoje pretendemos enveredar pelas vias opostas, as da economia a mostrar que tem pés para andar em frente e resiliência para levar de vencida as pancadas sofridas. Começamos por um bom exemplo, o da Avicasal, que, nestes tempos, aumentou mesmo a sua capacidade de produção e alargou a distribuição. Isto é, em vez de se retrair, lançou-se na grata tarefa de levar alimentos, de qualidade e em segurança, a quem deles tem necessidade, estando, assim, na linha da frente e no pelotão dianteiro do combate que é preciso travar-se para que isto não pare e não vá direitinho à temível bancarrota. Cumpriu com brio a missão de lançar no mercado os bens de primeira necessidade de que tanto se tem falado, elogiando os seus obreiros e os seus feitos. Nesta onda de esperança, está para breve a reabertura das creches e, para esse fim, estão em curso várias baterias de testes, 25 a quem vai trabalhar nessa área. E, numa outra esfera de acção, avança-se com 150 no campo das pessoas que nas IPSS fazem os tão necessários serviços de apoio domiciliário, levando às casas dos utentes, bens, conforto, higiene, saúde e, tão importante quanto isso, palavras de esperança, ânimo, carinho e socialização, quando esta ameaça criar depressões profundas e outras maleitas de meter medo. Inicide esta última operação nas localidades de Vila Maior, Valadares, Manhouce e Santa Cruz da Trapa. Depois de, durante estes últimos meses, as estâncias termais terem estado paradas, algo que aconteceu, até com layoff, por todo o País, incluindo a Região Centro e estas Termas de S. Pedro do Sul, onde foram dispensados temporariamente 94 trabalhadores, mantendo-se 36 em funções, eis que se anuncia para o início de Junho a sua reabertura, aliás, dinamizada por um novo blogue, visando a sua promoção, em www.termascentroblog.pt. Apontam-se, para as colocar numa boa posição face ao combate à Covid 19, algumas de suas vantagens, tais como o reforço do sistema imunitário, via benefício das vias respiratórias. Por nós, juntamos um outro factor: a riqueza das Montanhas Mágicas, espaço territorial em que se inserem. Para criar e renovar atracção, tudo o que se faça é sempre pouco, já que os receios, as cautelas e as precauções estão a ter efeitos desastrosos. Um deles vem do sul, de Alcoutim, quando a autarquia local se viu obrigada a cancelar o programa de envio de aquistas que vinha seguindo há anos, sendo que nesta edição de 2020 existia mesmo o maior número de pessoas inscritas. Uma voz cautelosa, mas determinada, das Termas Joaquim Cardoso tem na sua carga genética tanto água termal como sangue de investidor. Nasceu e tem vivido sempre com essas duas marcas, que são o seu orgulho e a sua bíblia, a par do teatro e do associativimo. Labutando na causa do turismo, pela via da restauração e do alojamento, em continuidade de uma herança familiar, que quer manter e fazer progredir, tem visto com alguma apreensão os efeitos da Covid 19. Diz ser uma tristeza ver as salas fechadas e as ruas desertas, quando as Termas, que há anos operam durante todo o ano, têm por tradição a presença viva e animada de aquistas e outros amigos destas terras milenares. Desta forma, nem vale a pena ter as portas abertas, porque não há clientela, para já. Alimenta, porém, uma boa esperança e um certo brilho no olhar, quando sabe que a estância vai entrar em funcionamento, ainda que só com a medicina física e a reabilitação, numa espécie de reabertura aos soluços, no próximo dia 18 de Maio, pelo menos é o que diz saber. A 1 de Junho, projecta-se que recomece, na sua globalidade, o mundo termal, ainda que com todas as medidas de saúde que se impõem. Renascerá, então, a alma nova de que tanto por aqui se precisa. Mas o pior é que há já muitas reservas canceladas e é necessário readquirir, de novo, o gosto pela vinda para aqui, como acentuou. Quanto a layoff para os seus trabalhadores e, em regra, para a maior parte dos outros, essa modalidade foi residual, porque vigora uma certa sazonalidade por estas paragens e nestes sectores. Vem aí a época alta e dela se espera o milagre da multiplicação da riqueza turística que é o motor económico destas Termas de S. Pedro do Sul e de quase todo o País. Mas os medos são ainda uma ave de rapina que teima em continuar no nosso céu. Quem dera que se vá embora. Até nunca mais. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 14 Maio 2020

Crises financeiras ao longo dos tempos...

Falar de crises financeiras é um tema recorrente Em Portugal são mais do que muitas, antigas e modernas Nos tempos presentes, duas palavras andam nas bocas do mundo pelos piores motivos, Covid e crise. Na nossa História, entretanto, a falta de dinheiro, as dívidas, as dificuldades em pagá-las enchem um bom número de páginas. Isto é: as crises acompanham-nos, arrancando-nos o sono e a alegria e assim tem acontecido ao longo dos tempos. Uma prova está nos nossos últimos quarenta e tal anos, tempos em que houve três pedidos de resgate feitos ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e outras entidades: em 1977/78, 1980/82 e 2010/14, este bem perto e tristemente metido na memória de todos nós. No meio de tudo isto, até à actualidade, outras situações merecem fortes análises, porque, na sua época, foram altamente preocupantes e com implicações de graus muito diversos e, algumas delas, por largos períodos de tempo. Uma destas, iniciada nos primeiros anos de 1890, sobretudo em 1891/92 e renegociada em 1902, só se pagou 99 anos depois, ou seja, praticamente já no século XXI. Sem meios de crédito e com a negação europeia em o conceder, caiu-se naquilo que se chama de bancarrota, isto é, deixar de assumir os seus compromissos financeiros perante as várias entidades que tinham posto à disposição avultados montantes. Anos antes, tinham sido levados a cabo empreendimentos de grande monta, sobretudo nos tempos de Fontes Pereira de Melo, quando a vias ferroviárias e rodoviárias e outros meios de comunicação foram lançados um pouco por toda a parte. Com o ouro, com o crédito fácil, tudo parecia fácil e ao alcance dos meios que o Estado se pensava que iria dispôr. Mas tal não aconteceu, como se veio a verificar. Da febre do investimento até à depressão, pouco tempo se passou. Assim sendo, em 1891, de acordo com Luís Aguiar Santos, deu-se a falência económica do Estado e a bancarrota, como dissemos, em 1892. Aliás, há a juntar às condições nacionais alguns acontecimentos internacionais como o pânico gerado pela crise do Banco Baring, a partir de 1890. Deve realçar-se que, em 1892/93, se deu o maior pico da dívida pública a subir para 124.3% do PIB, números que, infelizmente, se verificam nos tempos que vivemos, sobretudo de 2010 para cá, estando-se hoje, por efeitos dos impactos Covid 19, a caminhar para esse perigo. Voltando à crónica dos acontecimentos, no ano de 1902, deu-se então a citada renegociação de todo este processo, chegando-se a um acordo de reestruturação da dívida com os credores externos, convertendo-se tudo isso em novo empréstimo amortizável em 99 anos com títulos rendendo 3%. Houve ainda um corte de 38% nos valores em causa. Conta-se que, pelo meio dos problemas financeiros e económicos, um dos projectos que ficou a perder foi o da construção da rede do metro em Lisboa, cujo projecto vinha de 1885. Em outras cidades europeias e americanas, Londres teve o seu metropolitano em 1863, Nova Iorque – 1868, Budapeste – 1897 e Paris – 1898. Esta ideia só foi retomada em em 1949, abrindo-se a rede, na nossa capital, em 1959, em 6.5 km de extensão e 11 estações. Antes destes episódios de finais do século XIX, outros se verificaram, nomeadamente, em 1480, 1622, 1834, 1846, 1870, 1871 e 1876, ano este em que houve uma brutal corrida aos levantamentos por medo da desvalorização da moeda espanhola, levando a 35% de saída de moeda dos bancos, alguns deles tendo caído na falência. Entretanto, na crise de 1871, houve um déficit que passou rapidamente de 5 para 14 mil contos, como consequência dos investimentos já relatados e aos altos juros pagos a França e Inglaterra na ordem de mais de 13% ao ano (1870). Também não se pode deixar de referir que a crise de 1929 e anos seguintes, devastadora em grande parte do mundo, em Portugal não foi, porém, assim tão grave, ainda que tenha afectado o curso da nossa História. Nos casos mais recentes, como os de 2010/2014, é impossível deixar de pensar na Troika e nas duras medidas que nos foram impostas e nas 52 falências de empresas por dia e nos colossais níveis de desemprego. E recuando a 1980/82, o corte dos 50% no 13º mês, cujas verbas ficaram retidas, o levantamento de bandeiras da fome na Península de Setúbal são marcos que ainda nos acompanham. Entre tantos tombos, deu-se ainda em 1993 um segundo choque petrolífero, a seguir ao de 1973, com consequências também graves. Houve ainda problemas de monta em 2002/2003 e 2008/2009, para juntar a todo este negro rosário de crises económicas e financeiras. Como nada disto nos passa ao lado, cada um destes eventos deixa as suas nefastas marcas e, quanto ao que pode acontecer no futuro, com as previsões a falarem na maior crise de sempre, infelizmente, não se pode pensar no melhor dos mundos. Muito, muito pelo contrário. Infelizmente. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 14Maio2020

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Uma homenagem ao S. Frei Gil num dia de festa em Vouzela sem povo na rua....

Universidade Sénior, S. Frei Gil Com vista a registar em filme alguns passos da vida de S. Frei Gil, aqui ficam uns tópicos para abordagem em estilo entrevista: - 1 – Nome ..... Gil Rodrigues de Valadares ---- Data de nascimento ---- 1185/1190 (???) - 2 – Naturalidade.... Vouzela ---- Classe social .... Nobreza - 3 – Pais........ D. Rui/Rodrigo Pais de Valadares/ D. Maria Gil, 2ª esposa ----- Funções desempenhadas pelo Pai .... Alcaide-Mor de Coimbra, Fidalgo do Conselho do Rei D. Sancho I e seu Mordomo-Mor. Tinha antes estado já na Corte de D. Afonso Henriques. De D. Rui há uma placa na Igreja de Santa Cruz que assim regista a sua importância “ ... Aqui jaz Dom Rodrigo, pai de Frei Gil de Santarém e Alcaide-Mor do Castelo e Cidade de Coimbra... “ - 4 – Infância de S. Frei Gil em Coimbra... ---- Presume-se que tenha tido uma infância em certo berço de ouro, no meio da alta sociedade de então, incluindo a Corte e os contactos com Reis, alto Clero e alta Nobreza... - 5 – O estudante... - 5.1 – Em Coimbra.... Primeiros tempos, em escolas ligadas à Igreja, incluindo o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, um dos maiores Centros de Cultura e Pedagogia daquela época... Deve ter tido ainda formação em cutura árabe, a ponto de ter sido tradutor de muitas obras da língua árabe para o “português” de então, ou para o latim. Muitos destes trabalhos dizem respeito a uma das áreas que veio a seguir – Medicina, oriundos de autores de nomeada tais como Avicena, Averróis e Rhazis - 5-2 – Em Paris... ---- De início, começou por estudar Medicina, chegando a ser Médico. Entretanto, mais tarde cursou Teologia, vindo a enveredar pela carreira religiosa, a partir de 1224, entrando na Ordem dos Dominicanos ou dos Pregadores, fundada por S. Domingos de Gusmão, em 2016. - 6 – A lenda da sua passagem por Toledo ---- A propósito da figura de S. Frei Gil, criou-se a lenda que teria aderido a uma espécie de culto satânico o que o levou, dizem, a ter vivido em Toledo, envolto em mistério práticas diabólicas. Daí ter sido considerado um NECROMANTE, ele que foi, na verdade, MÉDICO, TAUMATURGO, TEÓLOGO, PREGADOR... Mas da lenda não se tem livrado ao longo dos tempos... - 7 – A realidade .... ---- A história regista uma intensa vida social, académica, profissional e religiosa de S. Frei Gil, sobretudo depois de ter abraçado a vida Dominicana... Nestas funções, esteve em Paris, Palência, Bolonha e, sobretudo, Portugal, mormente em Santarém, no Convento de S. Domingos... Foi Provincial para as Espanhas em 1233 e, numa segunda fase, em 1257... Diga-se que esta Ordem criou então Conventos, no que se refere a Portugal, em Santarém, no Porto, em Coimbra e outras localidades. ---- Teve ainda grande influência política como seja a de ter sido incumbido de entregar a carta de deposição do trono a D. Sancho II em favor de um novo Rei, D. Afonso III. Esta carta era uma Bula do Papa Inocêncio IV, do dia 24 de Junho de 1245, intitulada “ Grandi non Immerito”. Nela se acusava D. Sancho II de caos, agravos à Igreja, resistência em aceitar as recomendações da Cúria Romana, sobretudo a propósito de seu casamento com D. Mécia Lopes de Haro, sua parente e sem pedido de dispensa de parentesco... --- Ao longo de sua existência, viveu em quatro reinados – D. Sancho I (1185-1211); D. Afonso II (1211 – 1223); D. Sancho II (1223 – 1245) e D. Afonso III (1245/1246... ) ---- Vários milagres são apontados a S. Frei Gil, que estiveram na base de sua Beatificação pelo Papa Bento XIV em 9 de Maio de 1748. ----- Morreu a 14 de Maio de 1265, no Convento de S. Domingos em Santarém, hoje em ruínas... Há referências a seus restos mortais em Santarém – Museu Diocesano, na Capela de S. Frei Gil em Vouzela e no Museu Arqueológico do Carmo, em Lisboa, uma sua estátua jacente. ---- A data de sua morte é assinalada em Vouzela com o Feriado Municipal, desde os inícios do século XX e, muito em especial, a partir de 1973. - 8 – Bibliografia - Maria Estrela Guedes – S. Frei Gil, um Santo Carbonário? - Helena de Sousa Andrade – Sobre um Relicário de S. Frei Gil - André de Resende (Frei) - Frei Baltazar de S. João – Vida de S. Frei Gil de Santarém - Aires A. Nascimento – Idem, retomando a versão de Frei Baltazar de S. João - Eça de Queirós - Teófilo Braga - A. Feliciano de Castilho - João Grave – S. Frei Gil de Santarém - Camilo Castelo Branco – Noites de Insónia - “Tentações de S. Frei Gil” – Peça musical, concerto para violino, Vasco Barbosa, Orquestra Sinfónica da RDP, Silva Pereira, 2006 - Almeida Garrett - Jaime Cortesão - Padre João de Oliveira - A. Correia de Oliveira - Carlos Seabra - Rui Lopo – Frei Gil de Santarém – servo de Deus ou do Diabo? - Virgínia Soares Pereira – Aegidius Scallabitanus – Um diálogo sobre Frei Gil de Santarém, FCG/FCT, 2000 - Pergaminho existente, dizem, na Residência Paroquial de Vouzela, datado de 15 de Setembro de 1626, sobre a transladação de seu Relicário - 9 – Citações --- Virgílio Arruda, 1999 – “ ... Logo à lembrança do leitor vem, por certo, a história de S. Frei Gil de Santarém, o portentoso dominicano, nado e criado em terras de Vouzela... É talvez a figura maior de quantas passaram pela urbe onde entrou na eternidade” – 14 de Maio de 1265 - Rui Lopo – “... Frei Gil de Santarém é uma das personagens mais curiosas da História de Portugal, inspirando escritos de grandes figuras da cultura como André de Resende e Eça de Queirós... Chegou a Provincial dos Dominicanos da Hispânia, mas a lenda da sua estada em Toledo e o pacto com o Diabo fazem deste Santo um antecessor do Fausto de Goethe... “ - 10 – Glossário --- Taumaturgo – Que faz ou pretende fazer milagres --- Necromante/Nigromante – Pessoa que diz adivinhar por invocação dos mortos Carlos Rodrigues, Vouzela, 2016

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Umas palmas para a Unidade de Saúde Familiar de Lafões, Oliveira de Frades...

Por estes dias, já entra mais um pouco de sol nas nossas famílias, podendo respirar-se mais um pouquito, com o fim do Estado de Emergência. Só que, em Calamidade, nada nos garante que podemos andar por aí fora totalmente descansados e desprotegidos. Nada disso. Sair, sim, mas com conta, peso, medida e muitas, muitas cautelas. Por nós e pelos outros. Ontem, já fui à Unidade de Saúde Familiar de Lafões, em Oliveira de Frades, em consulta de rotina por pertencer a um grupo de risco e, agora, também pela idade. Confesso que, meio a medo, lá me desloquei. Não tinha, porém, razões para esses receios. Numa organização eficiente, ainda que a dar os primeiros passos, com profissionais conscientes da situação e bem à altura das missões que desempenham, tudo correu bem. Pelo menos, por enquanto, que a Covid 19 demora, se a houver, uns dias a dar sinais. Ou nem os dá mas pode ficar por cá... Espero, firmemente, que isso não aconteça. Daqui bato uma salva de palmas a toda a gente daquele e de outros serviços de saúde... Obrigado

sábado, 2 de maio de 2020

Maio, maduro Maio...

Estamos nos primeiros dias do mês de Maio de 2020. Confesso que não estava à espera de ver ontem malta do meu País, onde é proibido, de 1 a 3, circular entre concelhos, a correr para Lisboa em autocarros e talvez em viaturas particulares. Justificação oficial: as comemorações do 1º de Maio organizadas pela CGTP. Enfim, uma excepção prevista no decreto de emergência que muito me admira. Amanhã, dia da Mãe, toda a gente tem de ficar pelo município onde reside. Nem aos cemitérios se pode ir, no caso de nesses lugares estarem sepultadas as Mães de quem já as perdeu. Por outro lado, para quem ainda vive, é duro não poder ver os filhos (as) que residem em concelhos diferentes. Mais uma razão para me não sentir bem com a excepção de ontem. Quem nos governa não pode falhar assim. E não me custa dizer que, na generalidade das medidas tomadas quanto ao combate à Covid 19, estou em alta sintonia com S. Bento e com Belém. Mas, quanto àquele ponto específico, lavro aqui o meu protesto... No que se refere aos dois últimos aspectos, infelizmente, atingem-me em cheio... Azar dos azares...

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Um retrato de Lafões, Censos de 1981 e 1991

Quem somos e quantos somos Em Lafões, uma visita aos censos de 1981 e 1991 Em dias de amargura e incertezas, como forma até de fazermos desviar o pensamento que, vezes demais, teima em ir para coisas tristes, acabámos por agarrar nalguns documentos e tirar-lhes a seiva do conhecimento que nos podem dar. Desta vez, pegámos nos Censos de 1991 e 1981, para arrancarmos algumas conclusões acerca de quantos somos e, mais, de quem somos nós, afinal. Se, entretanto, olhássemos mais para trás, logo descobriríamos que, em número, andamos de tristeza em tristeza, tal como aqui já aflorámos, pois a população das nossas terras dos anos sessenta para cá tem vindo, em regra, sempre a diminuir, muitas vezes de forma drástica e perigosa para a nossa própria sustentabilidade. Esmiuçando as diversas tabelas, começámos logo pela dos residentes em cada um dos três concelhos de Lafões, Oliveira de Frades, S. Pedro do Sul e Vouzela, para constatarmos que, na variação verificada, apenas o primeiro destes municípios conseguiu ver crescer a sua POPULAÇÃO, ainda que de uma forma muito ligeira. Eis os resultados: Oliveira de Frades (OFR) – 1981 – 10391 habitantes; 1991 – 10584; S. Pedro do Sul (SPS) – 21220/19985; Vouzela (VZL) – 13407/12477. Nestes, apenas havia um lugar com mais de 2000 pessoas, a sede, SPS. Em patamares diversos, era este o panorama, quanto a EDUCAÇÃO: analfabetos em 1991 – OFR – 1354 com 311 homens e 1043 mulheres; SPS – 3170/855/2315; VZL – 1641/433/1208; com o ensino primário – OFR – 5234/2706/2528; SPS – 9644/4927/4717; VZL – 6431/3320/3111; ensino preparatório – OFR – 1543/821/722; SPS – 2886/1578/1308; VZL – 1739/920/819; ensino secundário – OFR – 610/433/377; SPS – 2068/1037/1031; VZL – 1337/707/630; outro ensino – OFR – 134/47/87; SPS – 579/244/335; VZL – 292/134/158; taxas de analfabetismo – OFR – 21.4%; SPS – 18%; VZL – 149%. Numa apreciação a estes valores, constata-se que, em cada fase de escolaridade, os homens apresentam melhores taxas do que as mulheres, com uma excepção: em outros, são estas que se sobrepõem àqueles. Confrontando com a população residente, onde o género feminino é, regra geral, maior, deduz-se que a desigualdade e disparidade em matéria de educação, em 1991, não acompanhava ainda as linhas de pensamento já então em franco progresso, em que se fala do desejo de igualdade de oportunidades. No analfabetismo, então, o desnível é altamente elevado, bem maior nas mulheres do que nos homens e isto diz tudo quanto ao papel que era atribuído às nossas mães e irmãs. Num outro índice, o da HABITAÇÃO, temos estes sinais indicadores: alojamentos- OFR – 4433, sendo 4431 clássicos e residência habitual, 4404; SPS – 8988/8955/8879; VZL – 5544/5529/5481; com electricidade – OFR – 2917; SPS – 5857; VZL – 3616; sem electricidade – 190/433/303, notando-se aqui, pelo menos assim a frio, uma disparidade que importa apurar-se melhor, porque a soma das falhas com as existências não confere; rede pública de esgotos – 296/778/240; sistema particular de esgotos – 1679/3053/1843; outros casos – 89/236/114; retrete fora do alojamento – 110/181/194 e sem retrete – 546/810/887. Uma das conclusões que daqui se podem extrair é que, em electricidade, já se não estava muito mal. O pior, o grande desnível, encontra-se no domínio do saneamento básico, em que, por exemplo, a rede pública era altamente deficitária em cada um destes municípios. Veremos agora o que se passava quanto a abastecimento de água, assim apresentado, em número de alojamentos: com rede pública – 792/1822/981; rede particular – 1422/2744/1215; água canalizada – 90/177/200; sem água em casa, com fonte – 665/1220/1253; poço ou furo – 99/216/233; com banho ou duche – 2067/2768/2210; sem essas valências – 1040/1049/1709. Se nos parágrafos anteriores se partia dos alojamentos, vamos agora olhar para a relação daqueles serviços em número de pessoas residentes, assim demonstrada: com electricidade – 10053 pessoas/18780/11690; sem electricidade – 504/1070/740; rede pública de esgotos – 929/2461/753; rede particular – 6122/10451/6325; outros casos – 298/751/408; retrete fora – 337/974/671; sem retrete – 1629/3058/2410. Em termos de água, era este o quadro – água canalizada pública – 2692/5636/3254; particular – 5133/9397/4252; fora do edifício – 304/508/612; com banho ou duche – 7393/13600/7603; sem banho – 3164/6250/4827. Em conclusão, nesta espécie de bilhete de identidade social, há perto de trinta anos, em saneamento básico, sobretudo quanto a esgotos, havia ainda muito a fazer em cada um dos concelhos. No que reporta ao abastecimento de água pública, estavam-se uns graus acima, mas ainda longe da realidade. Com os números a falarem por si, é certo que, hoje, se está bastante melhor nestas taxas, mas ainda há muito caminho por fazer. Até à próxima edição. Carlos Rodrigues , in “Notícias de Lafões”, 30 Abr2020
Gripe espanhola teve o Dr. Ricardo Jorge a liderar o combate Há mais de cem anos, 1918/19, ceifou milhões de vítimas Num tempo em que somos assolados por uma perigosa e mortífera pandemia, olhamos para trás em busca da acção de pessoas que nos dizem alguma coisa. Pelos piores motivos, fomos, de novo, redescobrir a figura marcante, nisto das doenças infecciosas, do Dr. Ricardo Jorge, que, recordamos, tem as suas raízes em Vilharigues, Vouzela. Se já tinha sido determinante no combate à peste bubónica que, em 1899, dizimou centenas de pessoas na cidade do Porto, eis que os seus préstimos e poderoso conhecimento são aproveitados, a nível nacional, nos anos de 1918 e 1919, quando a Gripe Espanhola, ou pneumónica, se espalhou por Portugal, para lhe fazer frente. Ocupando o cargo de Director Geral da Saúde de então, veio a ser nomeado pelo governo Comissário Geral, com plenos poderes, para o combate que foi preciso travar. Sendo personalidade destacada na medicina e nestes domínios epidemiológicos, dentro e fora de fronteiras, a sua escolha foi vista como óbvia e necessária para as duras tarefas e medidas que foi necessário pôr em prática efectiva e real. Antes de avançarmos para o que se conseguiu realizar nesses negros anos, entendemos fazer uma espécie de enquadramento dos tempos em que esta gripe levou os seus destroços pelo mundo fora. Convém assinalarmos que se vivia a parte final da 1ª Grande Guerra (1914/18), com o seu devastador cortejo de mortes, destroços e ruínas por todo o lado. No seu rasto, ficaram milhões de mortos e feridos, bastando apenas lembrar, para as mal preparadas tropas portuguesas, o que aconteceu a 9 de Abril em La Lys, França. Ainda a recuperação não tenha sido iniciada e já a pneumónica nos batia à porta, vinda de Espanha e passando a nossa fronteira ali pelos lados de Badajoz e Olivença, ela que, ao que se regista, tivera origem na Ásia, talvez até na China, tal como hoje sucede com a Covid 19. Para esta sua progressão para terras lusas, estiveram os nossos migrantes sazonais que, em terras espanholas, tinham trabalhado na agricultura, tendo regesssado a casa, findas essas tarefas. Consigo trouxeram, para azar dos nossos compatriotas desses dias, o vírus mortal. Diz-se que as primeiras vítimas aconteceram em Vila Viçosa. Atacando por fases, a primeira e mais benigna deu-se de Maio até fins de Agosto de 2018; a partir de Setembro, é que foi o pior com a mais mortífera das “ondas”, de uma extrema gravidade; de Fevereiro a Maio de 2019, terceira vaga, mas mais ligeira. Alega Álvaro Sequeira (A pneumónica) que, como causas para a sua terrível disseminação no nosso país, esteve o envio de soldados para suas casas, a mobilidade interna para as vindimas e outras fainas, as feiras e as romarias. Em favor desta ideia, dá-se nota que os meses mais fortes em mortes foram os de Setembro e seguintes, época desses fenómenos sociais. Em termos gerais, fala-se em mais de 40 milhões de mortos em todo o mundo, bem mais do que tinha sido verificado em quatro anos de guerra mundial. Por sua vez, José Manuel Sobral e Maria Luísa Lima (LerHistória, 4036) referem que Portugal teve 135257 mortes e que no distrito de Viseu se verificaram 11 280 vítimas mortais. Havia no nosso país, por essa altura, um número de 2580 médicos, um para 2338 habitantes, e de 1577 farmácias, uma para 3825 pessoas. Ao todo, existiam 251 hospitais, sendo 241 das Misericórdias. Serviço Nacional de Saúde, nem pensar, assim como as condições de habitabilidade e higiene eram pouco mais do que rudimentares. O papel do estado também não era nada forte. Os contrastes e as assimetrias eram abismais. Sobravam as associações de assistência, os voluntários, a Igreja e pouco mais. Quanto à imprensa, esta referia-se à gripe espanhola como um perigo aterrador. O que fez o Dr. Ricardo Jorge Convém que se saiba que, no Porto, sua terra natal, tal como já aqui abordámos, a sua acção, em 1899, levou a complicações e ataques de toda a ordem, desde tumultos a tentativas de assaltos a sua casa. Escusado será dizer-se que, em 1918/19, a sua determinação não esmoreceu um milímetro. Dotado de competências sem limites, não hesitou em pôr em prática o que lhe ia na alma e na cabeça, fruto das experiências vividas e dos conhecimntos adquiridos. Entre as várias medidas que tomou (coincidência com os tristes dias de agora), registamos estas: 1- Obrigação de todos os médicos reportarem e enviarem à DGS todos os casos detectados; 2 – Controlo de migrações, isto é, de movimentações internas de populações; 3 – Construção de hospitais improvisados; 4 – Abastecimento de farmácias com quinino, café, óleo canforado, etc; 5 – Organização dos concelhos em áreas médico-farmacêuticas, com mobilização de médicos, mesmo os reformados, e até alunos do último ano de medicina; 6 – Apelos à população para a constituição de Comissões de Socorro. A par de tudo isto, incidência nas questões da higiene e saúde públicas e na proibição de beijos, apertos de mão e outros contactos entre pessoas. Houve ainda outras determinações, como a requisição de espaços públicos para acolher doentes, a necessidade de se ficar em casa, de se terem cuidados especiais a nível alimentar, à base de caldos de galinha, água com açucar, sumos de limão e laranja. Em receitas médicas, para febre, quinino e, nos casos graves, injecções com soluções arsénicas, com cafeína e adrenalina. Entretanto, surgiram os anúncios ( isto repete-se) a produtos para curas milagrosas e a especulação de toda a ordem. Ao estado, coube mobilizar um crédito especial de 300 contos, para as primeiras impressões. Em fim de texto, digamos ainda que, em Junho de 1918, o tifo atacara em Espinho e no Porto, onde provocou mais de 2000 mortos. Notamos ainda que, numa análise aos censos da época, por esta nossa região, não se constatou grande quebra demográfica, sendo que, em 1920, freguesia a freguesia o número de residentes não baixou por aí além e até chegou aumentar em muitos casos. Ou a pneumónica aqui poupou vidas, ou a recuperação populacional foi rápida. Ficam as dúvidas, à falta de documentação específica. Quisemos, com este contributo, acrescentar dados àquilo que, há cerca de um mês, aqui colocámos sobre o Dr. Ricardo Jorge, um nome que está sempre presente, por intermédio do “seu” Instituto, a entidade oficial que tutela todos os testes e operações afins. Por tudo isto, estas referências a quem teve o Pai nascido em Vilharigues são mais do que merecidas. Elas aqui ficam... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 30 Abr2020