sexta-feira, 15 de maio de 2020

Lafões e as novas necessidades

Lafões com um olhar atento às novas necessidades Nestes novos tempos de incertezas até mais não, quando o impacto orçamental da Covid 19 ascende, no nosso País, a cerca de dois mil milhões de euros por mês em apoios e custos sociais, qualquer coisa como 700 euros por segundo, por aqui, em Lafões, esses efeitos negativos também se fazem sentir. Num balanço muito curto e com base apenas em algumas opiniões, constata-se que o panorama, sem ser dramático, não é animador. Das pessoas às entidades, as dificuldades e as carências marcam a sua triste posição. Olhando para a Conferência de S. Vicente de Paulo de Oliveira de Frades, na voz do Padre Manuel Fernandes, sente-se que a procura de bens alimentares está a diversificar-se, na medida em que sendo esta entidade a gestora deste projecto neste concelho, em parceria com outras instituições, tais novas situações têm vindo a ser reportadas. Ao telefone, chegam cada vez mais pedidos, alguns deles não “normais” para o que é costume. Distribuindo o que chega do Banco Alimentar, a incidência maior é na entrega de massas, arroz, açucar, leite, azeite e óleo, cabendo à Misericórdia o fornecimento de produtos frescos e refeições. Por sua vez, esta Misericórdia de Nossa Senhora dos Milagres, de que nos falaram o Provedor Serafim Soares e a Directora Cristina Diogo, opera com base em dois projectos, a Cantina Social e o POAMC – Programa de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas, sendo a Coordenadora nos concelhos de Oliveira de Frades, S. Pedro do Sul e Vouzela, através, nestes dois territórios, dos Centros Sociais de Fataunços, Queirã e da Misericórdia de Santo António e do Centro Social de Carvalhais. Quanto a este POAMC, contribui-se com o auxílio a 220 pessoas, tantas como na anterior fase, sendo que nesta está previsto um aumento para mais 110 no mês de Maio, com as expectativas de se passar, talvez, para 440 nos tempos seguintes. Durante os três anos da sua vigência, quanto aos restantes meses ainda se aguardam novas indicações. No que toca à Cantina Social, ainda se anda pelas refeições confeccionadas para 36 famílias, mas a previsão é de que, infelizmente, estes números venham a subir. A juntar a estas resposta oficiais, a sociedade civil tem aparecido também com as suas ofertas, numa onda solidária bem característica das nossas gentes, sempre prontas a darem o seu melhor quando as dificuldades apertam. Numa outra esfera, a do Município, falámos com a Vereadora Clara Vieira, que nos indicou que há “... Um olhar, especialmente, atento a toda a população, sobretudo aos que apresentam mais fragilidades...”. Com o problema a atingir diversos sectores, foram mobilizadas todas a sinergias, estabelecendo-se parcerias alargadas por todo o concelho. Entre outras tarefas, adquirem-se bens, refeições e medicamentos para entrega domiciliária, sem custos de transporte. Para esse efeito, foi criada uma plataforma “... em que convidámos todos os comerciantes a inscreverem-se...”, o que permite dinamizar a economia local. Num período de crescentes carências, a cada passo, ali se vão avaliando as necessidades e as respectivas respostas a dar. Uma destas passa pela rede de apoio psicológico em ligação com a ASSOL e outras associações. Também o GIP – Gabinete de Apoio ao Emprego – está a monitorizar as situções que se venham a alterar e a entrar em crise, a fim de se tentar evitar constrangimentos de maior. Com a reabertura próxima de algumas actividades lectivas presenciais, esse é outro sector que está em análise e em cima da mesa para aquilo que for necessário. Anunciado o encerramento de festas e manifestações culturais até Setembro, não têm faltado, nesse campo, iniciativas várias que tentam minimizar os efeitos negativos dessa falhas, ainda que não sejam a mesma coisa, nem com isso se comparem. A voz de quem sentiu o “layoff” no seu dia a dia Com cerca de oito anos de funções na actual empresa, Alpoim Pereira jamais viveu uma situação destas. Com o trabalho a nunca lhe faltar, ele que faz de tudo um pouco, desde as funções de vendedor e distribuidor ao escritório, as horas eram sempre poucas para o muito que havia a fazer. Sentindo e sabendo que a empresa em que exerce funções (que labora nos sectores das padarias, pastelaria e restauração em fornecimento, por grosso, de matérias-primas), tem crescido, anualmente, nos seus 25 anos de serviço, na ordem dos dois dígitos, este coronavírus, Covid 19, veio, de rompante, abalar tudo e todos. Até fins de Março, ainda o barco foi navegando. O pior aconteceu quando os diversos estabelecimentos começaram a fechar portas, uns atrás dos outros, desde Aveiro a Vilar Formoso, espaços por onde tem andado estes anos. Sem mercados, o caminho encontrado pela administração desta firma de Mirandela e de Viseu foi o da aceitação do “layoff”, isto é, colocar em casa uma boa parte dos seus funcionários. Assim aconteceu com ele. O choque foi tanto maior quando nada fazia prever este brutal desfecho, por tudo ir, vamos lá, de vento em popa. Agora, reina a incerteza, muito embora preveja que, na última quinzena de Maio, recomece as suas funções. Só que, por aquilo que tem visto e ouvido na sua clientela, reina o temor da reabertura, com o cepticismo em muita gente a fazer pensar que o comércio não seja o que era nos tempos mais próximos. Se nas padarias e pastelarias há mais optimismo, na restauração tudo é uma incógnita, por causa das restrições impostas e pelos custos acrescidos que virão a surgir com as medidas de higiene e saúde que é preciso ter em conta, disse-nos Alpoim Pereira. Entretanto, a palavra de ordem é “garra” e vamos em frente, até para escoar os produtos em armazém, um outro dos problemas que há a enfrentar. Não é de Primavera a época que estamos a enfrentar. Mas a esperança, a vontade de se sair desta crise e a capacidade do nosso povo serão capazes de ultrapassar o calvário que estamos a viver. Que isso aconteça quanto antes... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 14 Maio 2020

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