sexta-feira, 15 de maio de 2020

Crises financeiras ao longo dos tempos...

Falar de crises financeiras é um tema recorrente Em Portugal são mais do que muitas, antigas e modernas Nos tempos presentes, duas palavras andam nas bocas do mundo pelos piores motivos, Covid e crise. Na nossa História, entretanto, a falta de dinheiro, as dívidas, as dificuldades em pagá-las enchem um bom número de páginas. Isto é: as crises acompanham-nos, arrancando-nos o sono e a alegria e assim tem acontecido ao longo dos tempos. Uma prova está nos nossos últimos quarenta e tal anos, tempos em que houve três pedidos de resgate feitos ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e outras entidades: em 1977/78, 1980/82 e 2010/14, este bem perto e tristemente metido na memória de todos nós. No meio de tudo isto, até à actualidade, outras situações merecem fortes análises, porque, na sua época, foram altamente preocupantes e com implicações de graus muito diversos e, algumas delas, por largos períodos de tempo. Uma destas, iniciada nos primeiros anos de 1890, sobretudo em 1891/92 e renegociada em 1902, só se pagou 99 anos depois, ou seja, praticamente já no século XXI. Sem meios de crédito e com a negação europeia em o conceder, caiu-se naquilo que se chama de bancarrota, isto é, deixar de assumir os seus compromissos financeiros perante as várias entidades que tinham posto à disposição avultados montantes. Anos antes, tinham sido levados a cabo empreendimentos de grande monta, sobretudo nos tempos de Fontes Pereira de Melo, quando a vias ferroviárias e rodoviárias e outros meios de comunicação foram lançados um pouco por toda a parte. Com o ouro, com o crédito fácil, tudo parecia fácil e ao alcance dos meios que o Estado se pensava que iria dispôr. Mas tal não aconteceu, como se veio a verificar. Da febre do investimento até à depressão, pouco tempo se passou. Assim sendo, em 1891, de acordo com Luís Aguiar Santos, deu-se a falência económica do Estado e a bancarrota, como dissemos, em 1892. Aliás, há a juntar às condições nacionais alguns acontecimentos internacionais como o pânico gerado pela crise do Banco Baring, a partir de 1890. Deve realçar-se que, em 1892/93, se deu o maior pico da dívida pública a subir para 124.3% do PIB, números que, infelizmente, se verificam nos tempos que vivemos, sobretudo de 2010 para cá, estando-se hoje, por efeitos dos impactos Covid 19, a caminhar para esse perigo. Voltando à crónica dos acontecimentos, no ano de 1902, deu-se então a citada renegociação de todo este processo, chegando-se a um acordo de reestruturação da dívida com os credores externos, convertendo-se tudo isso em novo empréstimo amortizável em 99 anos com títulos rendendo 3%. Houve ainda um corte de 38% nos valores em causa. Conta-se que, pelo meio dos problemas financeiros e económicos, um dos projectos que ficou a perder foi o da construção da rede do metro em Lisboa, cujo projecto vinha de 1885. Em outras cidades europeias e americanas, Londres teve o seu metropolitano em 1863, Nova Iorque – 1868, Budapeste – 1897 e Paris – 1898. Esta ideia só foi retomada em em 1949, abrindo-se a rede, na nossa capital, em 1959, em 6.5 km de extensão e 11 estações. Antes destes episódios de finais do século XIX, outros se verificaram, nomeadamente, em 1480, 1622, 1834, 1846, 1870, 1871 e 1876, ano este em que houve uma brutal corrida aos levantamentos por medo da desvalorização da moeda espanhola, levando a 35% de saída de moeda dos bancos, alguns deles tendo caído na falência. Entretanto, na crise de 1871, houve um déficit que passou rapidamente de 5 para 14 mil contos, como consequência dos investimentos já relatados e aos altos juros pagos a França e Inglaterra na ordem de mais de 13% ao ano (1870). Também não se pode deixar de referir que a crise de 1929 e anos seguintes, devastadora em grande parte do mundo, em Portugal não foi, porém, assim tão grave, ainda que tenha afectado o curso da nossa História. Nos casos mais recentes, como os de 2010/2014, é impossível deixar de pensar na Troika e nas duras medidas que nos foram impostas e nas 52 falências de empresas por dia e nos colossais níveis de desemprego. E recuando a 1980/82, o corte dos 50% no 13º mês, cujas verbas ficaram retidas, o levantamento de bandeiras da fome na Península de Setúbal são marcos que ainda nos acompanham. Entre tantos tombos, deu-se ainda em 1993 um segundo choque petrolífero, a seguir ao de 1973, com consequências também graves. Houve ainda problemas de monta em 2002/2003 e 2008/2009, para juntar a todo este negro rosário de crises económicas e financeiras. Como nada disto nos passa ao lado, cada um destes eventos deixa as suas nefastas marcas e, quanto ao que pode acontecer no futuro, com as previsões a falarem na maior crise de sempre, infelizmente, não se pode pensar no melhor dos mundos. Muito, muito pelo contrário. Infelizmente. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 14Maio2020

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