domingo, 30 de abril de 2023

Militares lembrados na freguesia de S. Miguel do Mato/Vouzela

Militares recordados em S. Miguel do Mato CR No domingo, dia 23, a freguesia de S. Miguel do Mato virou-se para os seus militares que andaram na guerra entre os anos de 1961 e 1975, nomeadamente em Angola, na Guiné e em Moçambique, para lhes prestar um tributo de homenagem. Esta meritória acção teve na base da sua organização a Junta de Freguesia a que se associaram a Câmara Municipal de Vouzela e a Paróquia local, sem esquecer o grande contributo da Banda de Música. As cerimónias iniciaram-se na Igreja com uma Missa cantada, seguindo-se em desfile para o Cemitério Paroquial, onde, junto à placa que eterniza a gratidão da freguesia por quem já partiu ou em plena Guerra ou posteriormente pela lei da vida, foi colocada uma coroa de flores. Aqui, passamos a referir três militares que tombaram ao serviço da Pátria ( e isto não pode deixar de assim ser dito) naqueles três territórios lá longe, mas que repousam junto da comunidade de S. Miguel do Mato. Foram eles, por quem nos curvamos com imenso pesar e respeito: José dos Santos Ferreira, 1969, em Moçambique, natural de Caria e filho de Maria dos Santos e António Ferreira; António Marques Francisco, 1970, Guiné, de Vila Pouca, filho de Margarida Marques e de António Francisco Pereira; Eduardo Francisco dos Santos, 1971, Angola, filho de Maria Laurinda e José dos Santos. Que descansem em paz. No parque frente à sede da Junta da Freguesia e onde, desde 2017, se encontra um monumento com esta mesma enorme finalidade, prestou-se homenagem pública a todos os militares da freguesia, por parte do Presidente da Junta, Daniel Meneses, e do Vice-Presidente da Câmara, Carlos Oliveira. Viram-se ainda ali outros vereadores e o Adjunto do Comando dos Bombeiros Voluntários de Vouzela, Pedro Mateus. Dirigiu a Banda, dentro e fora da Igreja, o Maestro Filipe Almeida. Momento alto e emotivo foi aquele em que, chamando um a um os militares ali presentes, estes foram receber simbólicas lembranças, finalizando-se este acto com a colocação de uma outra coroa de flores junto ao citado monumento e com a entoação musical do Hino Nacional, sendo que, antes, já se fizera ouvir, em pleno templo, o Hino do Combatente. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 2023

IVA zero com pouco peso em Lafões

IVA zero pouco conta mas é alguma coisa CR Com a Lei 17/2023, deste mês de Abril, consagra-se a abolição da taxa de IVA em certos produtos do cabaz alimentar, que assim passam a IVA zero, quando antes a tinham em 6% ou ainda mais agravada. Com esta legislação, que foi fruto de vários acertos e discussões, uma parte dos cereais, os tubérculos, o pão, a massa e o arroz nem todo, os legumes e produtos hortícolas, as frutas e apenas as maçãs, as bananas, as laranjas, as peras e os melões, o feijão vermelho e o frade, o grão de bico, os lacticínios, as carnes de porco, frango, peru e vaca e alguns peixes inserem-se neste pacote que, para já, vai durar de 18 de Abril a 31 de Outubro. Numa partida para o terreno para tentarmos compreender a sua aplicação prática, falámos com alguns comerciantes e um gabinete de contabilidade. Neste sentido, Celso Costa, da Touça, Paços de Vilharigues, com uma grande e diversificada casa comercial, contou-nos que passaram um dia a mudar etiquetas, sendo que o software, por ter um contrato global e alargado, foi tratado pela empresa informática com que trabalha. De um dia para o outro, teve de fazer cerca de 300 alterações uma a uma e isso não se faz de um momento para o outro. Este empresário estranha ainda que tenha havido pouco cuidado em evitar confusões, apontando, por exemplo, o facto de nem todo o feijão ter passado para essa taxa zero, assim como a fruta. Adivinha já outra trabalheira para o mês de Outubro e isto gera instabilidade. Para João Silva da Eurozela, Vouzela, tudo isto dá um “bocadão”, de trabalho, tendo que actualizar cerca de 1000 referências, que só nos iogurtes são mais que muitas. Com IVAs diferentes, com IVAs zero, com couves a 6% e outras sem qualquer taxa, vive-se no reino da confusão. E o mesmo se passa na fruta e no feijão. Com uma vasta clientela, nela nota um certo cepticismo e até desilusão, quando num normal cabaz alimentar a redução é mínima, quase invisível. Desabafa mesmo: isto é uma vergonha. Nota-se algum impacto positivo, por exemplo, nos óleos que desceram de 23 % para zero. No resto, uma ninharia. Numa perspectiva de enquadramento geral de toda esta problemática, entrámos em contacto com Armando Bento, da GAPMEC, empresa de contabilidade e consultoria, que nos disse o seguinte em linhas muito gerais: até ao momento, ainda não receberam nem grandes pedidos de informação e ou de ajuda, a não ser num ou noutro caso. Acrescenta que esta prática não é nova, porque, por várias ocasiões, o mundo empresarial tem sido levado a alterações diversas, nomeadamente nos tempos da Covid 19 e noutras variações de taxas ao longo dos tempos. Se aos comerciantes se exige mudanças em loja, regra geral, os sistemas informáticos, na rectaguarda, operam essas modificações automaticamente, bastando utilizar as bases de dados. Indica também que, quanto a cafés e serviços, muita da actual legislação se não aplica por estar de fora da área do comércio directo. Como quer que seja, os bolsos dos consumidores não ficam muito mais leves, antes pelo contrário: apenas se sente que uma pequena pena de ave deixou de pesar. E em Outubro se verá o que irá acontecer de novo… Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Viuzela”, Abril 2023

Novo livro de Paula Jorge já posta em circulação

Paula Jorge lançou mais um livro a pensar em Lafões CR No mesmo local, a Biblioteca Municipal de Oliveira de Frades, onde há anos Paula Jorge apresentou o seu livro, simplesmente “Paula”, agora ali veio lançar mais uma de suas obras, esta com uma designação bem mais encorpada, a de “ Palavras e Sentires de um Povo – Viseu Dão Lafões”. No cenário envolvente, o mesmo Grupo Musical liderado por Fernando Negrão, mas desta vez com a capa da Universidade Sénior e uma dolorosa falha, a da D. Amélia, sua saudosa Mãe. Numa jornada cultural por alturas das comemorações dos 49 anos do 25 de Abril, esta obra de Paula Jorge tem a sua marca vincada: cheira a poesia, a literatura e transborda um profundo sentimento lafonense por todos os lados. Moçambicana da Beira, veio parar a estas terras por laços familiares. De imediato se afeiçoou aos nossos ares e sempre os tem cantado nos seus trabalhos, desde os jornais à rádio e, obviamente, aos livros. Poesia, lendas e tradições e contos são as matérias que se tratam nestas “ Palavras e sentires de um povo” que se espalham por cerca de duzentas páginas. Presente o Vice-Presidente da Câmara, José Luís Lima, começou este autarca a sua intervenção por encaixar a apresentação deste testemunho pessoal e intransmissível com o ADN da Paula Jorge no Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor. Associá-lo a uma conterrânea tem ainda mais sabor, acentuou. Como “apresentador oficial”, foi a vez de entrar em cena Abel Dias, primo da autora, que pôs em evidência a importância deste livro que nos leva ao passado, mas não deixa de nos situar no presente e até projectar o futuro. Sendo esta uma segunda fase do lançamento de” Palavras e sentires de um povo”, que a primeira aconteceu, em 2022, no Balneário Rainha D. Amélia nas Termas de S. Pedro do Sul, nunca o seu interesse se tem perdido. Para juntar várias componentes culturais, a música ali não faltou em arranjos e direcção de Fernando Negrão, um dos grandes expoentes desta arte nas nossas terras de Lafões. Com o seu Grupo da Universidade Sénior de Oliveira de Frades, os trechos que dirigiu foram algo de altamente agradável e rico e a condizer com o trabalho literário que Paula Jorge acabava de apresentar. Neste evento, participaram ainda três boas amigas da autora em festa, a saber: Celeste Almeida, Regina Rocha e Dulcy Ferreira, todas elas com uma característica comum – a de cultivarem em grande escala a poesia e dedicarem a Lafões também uma atenção muito especial. Como foi amplamente sublinhado, um povo que esquece o seu passado não tem presente nem pode aspirar a um futuro risonho. Para finalizar, Paula Jorge, que ali tinha muitos amigos, a irmã e as filhas, foi a toda esta gente que se dirigiu para agradecer o facto de estarem com ela neste momento especial, fazendo ainda questão de agradecer a José Luís Lima e Manuel Tojal a organização desta cerimónia de apresentação do seu “ Palavras e sentires de um povo”, que agora se pode apreciar, página a página. Parabéns, Paula, uma vez mais… Carlos Rodrigues, in “NV”, Abril 2023

Militares da Guerra de 1914/1918 apoiados em Vouzela em 1938

Em 1938, apoiavam-se combatentes necessitados CR Numa acção posta no terreno pela Liga dos Combatentes da Grande Guerra (1914-1918), foram apoiados, no concelho de Vouzela, 16 militares, cabendo a cada um 500 gramas de bacalhau, ¼ de litro de azeite, 500 gramas de arroz, outros tantos de massa e 1 quilo de pão de trigo. Começada a pensar em 1921, veio a ser oficializada em 29 de Janeiro de 1924, com o objectivo de ajudar os antigos militares, as viúvas e os órfãos. Posteriormente, a Liga veio a estender o seu alcance e hoje nela se integram todos os militares que pertenceram em vários conflitos, incluindo a chamada Guerra do Ultramar. Possui actualmente uma série de valências como lares, instalações de repouso, arquivos e várias delegações ou núcleos espalhados um pouco por toda a parte. Em Santa Cruz da Trapa, foram inaugurados diversos equipamentos, tais como o edifício da Escola Primária Feminina, a sede da Legião Portuguesa, a primeira Casa do Povo da região de Lafões e alguns chafarizes, em cerimónias em que estiveram presentes altas individualidades vindas de diversas partes do país. Mais tarde, foi também posta em funcionamento uma série de outras beneficiações, como o Edifício Agostinho Valgode, os Correios e Telégrafos e a luz eléctrica. Pelos decretos números 28751 e 28752, foram criadas as secretarias notariais de Vouzela e S. Pedro do Sul, num ano em que o Ministro da Justiça, Doutor Manuel Rodrigues, esteve na Quinta da Cavada de seu amigo Alfredo Ferreira. Houve aí um almoço com várias entidades da região e do distrito, tendo havido ainda uma visita ao Tribunal do Julgado Municipal, sem se esquecerem as múltiplas conversas sobre a necessidade de restaurar a Comarca de Vouzela. Estando em voga a repressão da mendicidade, pede-se que cada freguesia, distinguindo o trigo do joio, crie e sua Cruzada Contra a Mendicidade, sem deixar de socorrer os seus verdadeiros pobres. Entretanto, para assistência privada, do orçamento do Ministério do Interior, foram concedidos 13200$00 para a Misericórdia e Asilo de Inválidos de Vouzela, 3000 para Oliveira de Frades e 15000 para S. Pedro do Sul. Como a Banda da Sociedade Musical Vouzelense participou numa festa profana em Freixo de Serrazes, actividade que estava interdita pela Igreja, foi esta Filarmónica proibida de participar em actos de culto público e Franklim Dias impedido de ser padrinho, de ocupar cargos em associações religiosas e de ter visita pascal durante três anos. Entretanto a SMV elaborou fundamentada reclamação. Estranhos tempos estes eram… A povoação de Caria, S. Miguel do Mato, passava, em 1938, por uma grande epidemia de tifo, dizendo os médicos que tal resultou do péssimo estado em que se encontravam as fontes, temendo-se ali o pior devido ao abastecimento de água em poços, o que dizem ter já provocado várias mortes. Pede-se à CM intervenção urgente. Foi feita uma visita a Cambra no âmbito do concurso “ A aldeia mais portuguesa de Portugal”, certame que veio a ser atingido em primeiro lugar pelo Monsanto, Beira Baixa. Uma boa notícia relacionava-se com a construção de novas escolas primárias, mormente, Fataunços, Igreja, Alcofra, Moçâmedes, Adside, Quintela, Paços de Vilharigues e Carvalhal de Vermilhas. No concelho de S. Pedro do Sul, Manhouce. Em Oliveira de Frades, nenhuma. Cada uma destas recebeu 4215$00, sendo que, em 1936, já tinham sido contempladas com 15000$00 por unidade. Para ter melhor luz, a aldeia de Vilharigues, fruto do trabalho e esforço dos seus habitantes, passou a ter energia eléctrica vinda de candeeiros herdados de Vouzela, agradecendo-se, na altura ,a Eduardo do Souto Teixeira, à Câmara Municipal e à Empresa “Lafões Industrial, Lda”. Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Vouzela”, Abril 2023

quarta-feira, 26 de abril de 2023

Casa da Académica em Lafões com nova sede em Oliveira de Frades

Em instalações novas renasceu a Casa da Académica em Lafões CR Com algumas e boas capas negras, a Casa da Académica em Lafões, com sede em Oliveira de Frades, acabou de inaugurar no passado dia 15, tal como já tínhamos noticiado, as suas novas instalações, situadas no edifício da antiga escola primária Comendador Manuel Fernandes Gomes. No entanto, a festa iniciou-se no Museu Municipal com dois pontos principais: abertura da exposição com fotografias e o vídeo “ Futebol de causas”, alusivas à crise académica de 1969 e um Lafões de Honra. Mais ou menos à hora marcada que isto de cerimónias com universitários aponta sempre para alguma tolerância com os horários, lá compareceram à chamada umas dezenas de actuais e antigos estudantes de Coimbra, Universidade e outras instituições de ensino superior, primeiro para os habituais cumprimentos e, depois, para se assistir à apresentação da citada exposição (que se prolongará até dia 30) e de um documentário, em vídeo, dos momentos mais marcantes das acções ocorridas no dia 17 daquele ano de turbulência naquela cidade académica. Grato foi ver ali o Dr. José Figueirinhas, um grande jogador de futebol da Académica nos seus tempos de estudante de medicina, que, com os seus mais de 90 anos, fez questão de comparecer a este acto. Para nos situarmos no contexto de 1969, nada melhor, como felizmente aconteceu no Museu, do que ouvir um dos principais protagonistas desse dia memorável, o Dr. Celso Cruzeiro, de Cajadães e actual advogado em Aveiro, que, como elemento destacado da DG da AAC, interveio em cheio em tudo quanto ali aconteceu. Como o não podemos ouvir aqui, vamos deixar umas breves notas: tudo aconteceu por ocasião de uma visita do Presidente da República, Américo Tomás, à UC e à sessão que decorreu no edifício das Matemáticas e o representante dos estudantes, Alberto Martins, pediu para usar da palavra. Estoirou, nesse momento, a bomba. A comitiva oficial acabou por abandonar as instalações e os estudantes tomaram conta das cerimónias. Dias depois, “decretaram” mesmo o luto académico e a greve às aulas e a tudo quanto dissesse respeito a este mundo. A Universidade parou. Se este é um ligeiríssimo e muito breve resumo quanto àquilo que em Coimbra se viveu, as palavras do Dr. Celso Cruzeiro, com a ajuda das fotografias e do vídeo, muito ajudaram a compreender todas estas enormes manifestações estudantis, seus ecos e efeitos. Terminada esta “aula”, uma outra se sucedeu, numa tarde toda ela comandada pela Presidente da Casa, a Clara Vieira, que foi a da degustação de um Lafões de Honra, com serviço a cargo da Escola Profissional de Vouzela e dos Vinhos da Quinta da Moitinha. Para se continuar o programa, partiu-se para a nova sede, onde foi descerrada uma placa e intervieram Clara Vieira, os Presidentes das Câmaras Municipais de Oliveira de Frades e Vouzela, respectivamente, João Valério e Rui Ladeira, e o Presidente da DG da AAC, João Caseiro. Falou ainda César Sousa, Secretário-Geral do Conselho Cultural da AAC, finalizando o autor destas linhas como presidente da AG da Casa. A noite continuou com um jantar-convívio no Solar e mais uma actuação do Grupo de Fados Maio que veio abrilhantar esta festa desde o início ao fim. Carlos Rodrigues, NV, Abril, 2023

Dr. José de Figueiredo primeiro director do MNAA filho de pai vouzelense

Ano de 1938 trouxe uma série de coisas novas CR Muito conhecido, o Museu Nacional da Arte Antiga, em Lisboa, teve no Dr. José de Figueiredo, que foi descendente de vouzelenses, um dos seus grandes expoentes. De acordo com um texto assinado pelo Dr. José Júlio César no “Notícias de Vouzela” do dia 1 de Fevereiro de 1938, cursou direito em Coimbra e, mal foi implantada a República, logo em Novembro de 1910, com o patrocínio de José Relvas, conseguiu que fosse publicado um Decreto de apoio às artes, documento esse que visava a a conservação e a integridade das obras de arte existentes no país. Homem de cultura, viajado, instruído e a nutrir uma verdadeira paixão pela arte autêntica, em 1911, lutou pela reorganização dos serviços museológicos e arqueológicos das Escolas de Belas Artes de Lisboa e Porto, legislando ainda em favor do Conselho de Arte Nacional, chegando a criar Museus Regionais como o de Grão Vasco, 1916, em Viseu. Nascido no Porto em 20 de Dezembro de 1871, veio a falecer na mesma cidade em 18 de Dezembro de 1937. Seu Pai, o vouzelense José de Figueiredo deixou, em testamento, um legado à Santa Casa da Misericórdia local. Era parente do Barão da Costeira, João António de Figueiredo. Com vasta colaboração em publicações nacionais e internacionais do seu sector, é, no entanto, o Museu Nacional de Arte Antiga, que por aqui mais o celebrizou, tendo sido mesmo o seu primeiro Director. Deve acrescentar-se que o Largo em frente a este MNAA ostenta, em toponímia, o seu próprio nome. Também, no ano de 1965, foi criado o Instituto José de Figueiredo, mais tarde, no ano de 2000, convertido em Instituto Português de Conservação e Restauro, mas sem deixar de ser conhecido pela designação inicial. Historiador e crítico de arte, tinha estudado direito em Coimbra, como vimos. Em sua honra, a própria Academia Nacional de Belas Artes instituiu um prémio tendo-o como patrono. Pelos serviços prestados, foi condecorado várias vezes, como em 1933, Grâ-Cruz da Ordem Militar de Cristo, em 1935, Grande Oficial da Ordem de Instrução Pública, em 1936, Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago, sendo que, já em 1920, recebera a comenda de Grande Oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada. Este ano de 1938 mostra ainda uma outra figura grada de Lafões por ocasião de sua morte, que foi a do Dr. José Bento da Rocha e Melo, nascido na Quinta de Torneiros em Oliveira de Frades, tendo sido, em Vouzela, onde fixou residência, advogado, presidente de Câmara, entre outras funções. Era filho do jurista Dr. Manuel da Costa Pinto de Melo e de D. Inês Portugal. Entretanto, não só se falou nesse ano em pessoas, mas também foram noticiados muitos outros assuntos num tempo em que já se pressentia que o mundo poderia vir a desabar como aconteceu logo um ano depois, em 1939, com o rebentar da 2ª Grande Guerra (1939-1945) com todos os horrores de que se revestiu. Assim, deu-se nota que estavam adiantados os trabalhos da estrada municipal do ramal da 39-2ª à Corujeira, Ventosa, sendo que foi ainda pedida uma comparticipação para a abertura e terraplanagem da estrada de Ventosa a Covas (Fornelo do Monte). Em Quintela, por sua vez, uma fonte acabou de entrar em funcionamento, a ter custado, no final, 14796$00, incluindo mão de obra, materiais e seus transportes. Também os telefones iam avançando ,tendo ficado ligadas à sede do concelho de Vouzela as freguesias de Alcofra, Campia, Cambra e Paços de Vilharigues, decorrendo, simultaneamente, a construção de outras linhas. Para terminarmos por hoje, noticiou-se mais uma saga na luta contra o produtor directo (morangueiro ou americano) com a actuação da V Brigada Móvel do Plantio de Vinhas, sendo que os processos de transgressão levavam a uma multa de 1$00 por cada pé de videira e arranque de todas as plantações. Era assim uma mão pesada aquela que se abatia contra os nossos agricultores que lá continuaram a resistir, décadas a fio, como puderam e souberam… Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Vouzela”, Abril 2023

sexta-feira, 7 de abril de 2023

José Duarte, o homem do jazz que nos deixou com raízes em Lafões

José Duarte, o homem do jazz morreu Carlos Rodrigues Há dias e horas em que as notícias que nos chegam são fortes e duras, a ponto de darem cabo de nós. Aconteceu isto mesmo agora quando foi anunciada a triste morte de José Duarte, o nosso conterrâneo com origens em Covas do Rio, por parte do Pai, que ao jazz dedicou grande parte de sua vida. Desde os seus tempos de estudante, este mundo da música foi a sua grande paixão e a sua razão de viver. Em comum, temos a amizade que nos uniu e a convivência com uma sua Tia, a Emília, por sinal mais nova que o sobrinho, por quem nutrimos uma afeição bastante grande. Além do mais, os seus “… 1, 2, 3, 4, 5 minutos de jazz” são um programa de rádio que nos habituámos a ouvir e a admirar. Em modo simples e eficaz, aquele espaço radiofónico entra-nos pelos ouvidos dentro e por cá fica, ainda que destas coisas sejamos uns verdadeiros cepos. Não falando apenas de nós, que isso é egoísmo a mais, a região de Lafões teve, no seu todo, em José Duarte um de seus grandes expoentes culturais desde os anos sessenta do século passado até à actualidade. Quis o seu destino que, um dia, tivesse vindo leccionar para uma Universidade, a de Aveiro, bem perto de sua “terra-pai”. Se esta faceta de professor do ensino superior o marcou, a presença no mundo da rádio, sobretudo com o programa anteriormente citado desde 1966, é que é o seu selo maior e mais impressivo, porque é ouvido praticamente todos os dias, na Rádio Renascença e Rádio Comercial em anos passados e, actualmente e desde há muitos anos, na Antena 1. Nascido no ano de 1938 na cidade de Lisboa, para onde os beirões, como seu Pai e demais familiares tinham migrado, tudo isto começou na Rádio Universidade, logo em 1958, onde sua voz, de imediato, se fez escutar, fundando depois o Clube Universitário de Jazz, que o poder central veio a fechar poucos anos depois, em 1961,quando o regime começou a ser ameaçado de todos os lados, incluindo a partir da Índia, do Oceano Atlântico, de Angola e de tantos outros espaços e opiniões. Com vários outros projectos, “ Os Cinco Minutos de Jazz” conquistaram a simpatia e o interesse públicos tornando-se até o programa mais antigo do mundo, o que nunca pode deixar de ser realçado. Prosseguindo uma notável carreira docente a amigo de divulgar esta modalidade musical, que foi sempre a sua alma e a sua chama, a sua vida espalhou-se ainda pelos seus contributos dados à causa internacional, nomeadamente como colaborador de revistas e publicações um tanto por esse mundo fora, como foi o caso de a Jazz Forum, a Down Beat, sendo ainda elemento directivo da International Jazz Federation. A nível nacional, destacam-se as publicações como a Terra do Jaze, o Jazzé e outras músicas e o Jazz a preto e branco. Foi também professor na Academia Portuguesa de Música e integrou o Centro de Estudos de Jazz da Universidade de Aveiro, fundando o site Jazzportugal. Em sede da Europa e no âmbito da UE, participou em iniciativas realizadas na Alemanha, Portugal e Eslovénia. A sua região, a certa altura, teve o condão de se associar a esta sua obra, recebendo na Feira de Lafões de há anos uns espectáculos de jazz que deixaram o encanto dessa música em muita gente, ainda que tal não fosse expectável, nem para o próprio José Duarte, como, aliás, confessou nesses dias. Sem sombra de dúvida, esta morte de José Duarte, aos 84 anos, deixou culturalmente o país muto mais pobre e Lafões despediu-se de um de seus conterrâneos mais destacados dos séculos XX e XXI. Consola-nos o facto de sabermos que a sua memória perdurará para sempre. In “ Notícias de Lafões”, Abril 2023

Em Lafões, canta-se o " Amentar" as Almas...

A tradição do “Amentar das Almas” ainda se não perdeu Carlos Rodrigues Nesta quadra pascal, um período anual em que se cruzam as tradições mais tristes com os momentos de esfuziante alegria, como acontece em Domingo de Páscoa e dias e tempos seguintes, há uma tradição que ainda perdura e que agora se tenta incentivar com encontros concelhios anuais. Uma realização desta natureza teve lugar, no passado dia 1, sábado, na Igreja Paroquial de Paços de Vilharigues em que se juntarem para cantarem e representarem tempos de antanho, nomeadamente, os Grupos de Trajes e Cantares de Cambra, de Loumão, de Fornelo do Monte, de Alcofra, de Queirã, de Levides, de Vasconha, de Albitelhe, de Carvalhal de Vermilhas e o anfitrião de Paços de Vilharigues. Para que estes costumes perdurem, deles aqui vamos dar umas breves notas de enquadramento e de sua importância cultural e social. Começamos por dizer que as suas raízes vêm do Concílio de Trento, essa reunião magna da Igreja de grande duração que se realizou entre os anos de 1545 e 1563, altura em que se assumiu a existência do Purgatório. Daí surgiu a ideia de orar e pedir pelas almas dos fiéis, que, em trânsito para a glória celeste, aí padeciam uns tempos em purificação de suas almas. Para as purificar, segundo essa doutrina, era necessária muita oração e sacrifícios. Dando seguimentos a estas recomendações de alto nível, vindas da hierarquia maior da Igreja Católica, as comunidades locais organizaram-se de diversas formas e uma delas passou pela instauração das rezas e cânticos religiosos em cada local. Nasceram assim os movimentos do “Amentar das Almas”, que é uma outra forma de dizer “Encomendaçáo das Almas”. Caindo em desuso em muitos espaços territoriais, noutros, como alguns dos nossos, subsistem e são sempre lembrados e recordados, quanto mais não seja nos encontros como aquele que acabámos de citar. Por esta nossa zona do distrito de Viseu, estas tradições vêem-se ainda em Mangualde, Nelas e Penalva. Mais além em Seia, já na Serra da Estrela, estas vivências sociais são ainda mais radicais: nas noites de sábado para domingo na Quaresma, às três da manhã reúnem-se os cantores no adro da Igreja e uns grupos sobem à Torre e outros espalham-se pela vila a entoar cânticos em duelos. Às quatro horas da madrugada, nova reunião, desta vez para uma oração comunitária. No concelho de Águeda, isto para citarmos algumas localidades próximas, canta-se “ … Acordai fiéis cristãos desse sono tão profundo/ Escutai e ouvireis as almas do outro mundo… “ Com modalidades diversas, nuns casos, fazem-se peditórios para as almas santas, indo-se de casa em casa; noutros, aproveitam-se as encruzilhadas dos caminhos e outros pontos estratégicos, entoando-se canções em alta voz. Numa interessante e valiosa recolha local, o “Cancioneiro Regional de Lafões, de José Fernando Monteiro de Oliveira, 2000”, o grande homem do grupo “Alafum”, mostra-nos um registo que é bem elucidativo de quanto estas tradições ainda por aqui se vivem. Fala-se então das Almas Santas de Cambra, 1984; da Amenta das Almas de Figueiredo de Alva e Figueiredo das Donas, 1983; de S-Félix, 1945; de PIndelo dos Milagres, 1985; de Vila Maior, 1945; de Manhouce, 1985; de S. João da Serra, 1986. Vê-se assim que estas práticas são transversais aos nossos três concelhos de Vouzela, S. Pedro do Sul e Oliveira de Frades. Sendo imensas as tradições pascais de Lafões, muitas em tom de festa e alegria, desta vez quisemos ir mais aos pormenores, pegando neste tema do “Amentar das Almas” para que nos lembremos que tudo isto existiu e ainda se mantêm com roupagens diferentes, mas culturalmente vivas e isso é que importa… In “ Notícias de Lafões”, Abril 2023.

" Amentar" as almas, uma tradição pascal em Paços de Vilharigues

Amentar as Almas enche Igreja de Paços deVilharigues No final da tarde de domingo, dia 1, estendendo-se pela noite além, a paróquia de Paços de Vilharigues foi a escolhida para acolher os cantos populares do “Amentar as Almas” do concelho de Vouzela, que vai já em 21 edições. Com um tema comum, os dez grupos que compareceram neste evento ali levaram versões e encenações muito diversas, o que faz a grande riqueza destas tradições. Com roupas escuras, regra geral, incluindo o uso de capuchas, envergadas, com orgulho, por quem vem mais da Serra, com tochas e lanternas e até cajados em vários casos, que estes eram e são costumes mais nocturnos, servindo os varapaus para as pessoas se apoiarem em caminhos então escuros e cheios de obstáculos e desníveis, como se referiu a propósito de Fornelo do Monte, por aquele templo desfilaram , por esta ordem, os Grupos Trajes e Cantares de Cambra, de Loumão, do Rancho Folclórico de Fornelo do Monte, Almas Santas de Alcofra, Cavaquinhos e Cantares à Beira de Queirã, Associação “ Os Amigos de Levides”, Rancho Folclórico “ As Capuchinhas de S. Silvestre de Vasconha, Almas Santas de Albitelhe, de Carvalhal de Vermilhas e a “equipa” da casa, a Sociedade Musical de Paços de Vilharigues. As entidades oficiais também ali estiveram, mormente, os vereadores Carlos Oliveira e Carla Maia, o Presidente da União de Freguesias de Vouzela e Paços de Vilharigues e Padre António Sousa, como anfitrião-mor. A seu tempo, cada uma destas pessoas usou da palavra para saudar a continuação desta iniciativa, sobretudo no momento da abertura e do encerramento, no cumprimento de um bem organizado programa que teve e conduzi-lo com maestria a jovem Marta Costa, também elemento do Grupo da terra em festa. Sendo este um sarau cultural com grande carga religiosa, foram evidentes as provas de como estas tradições dos cânticos e das orações estão enraizadas no nosso povo. De início, eram apenas actos praticados pelos homens das aldeias, entre quarta-feira de Cinzas e a Semana Santa, mas, na actualidade, congregam mulheres e ainda crianças e jovens. Se nuns lados, se andava de casa em casa em peditórios, “Dai a esmola que puderem em favor das Almas Santas”, noutros cantava-se nas encruzilhadas dos caminhos. Para mostrar tudo isto e muito mais, aquele foi um momento de encanto cultural, culminando, como convém, com um convívio à mesa na Sede da SMCR local, em serviço a cargo da Escola Profissional de Vouzela. Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Vouzela”