sexta-feira, 7 de abril de 2023

José Duarte, o homem do jazz que nos deixou com raízes em Lafões

José Duarte, o homem do jazz morreu Carlos Rodrigues Há dias e horas em que as notícias que nos chegam são fortes e duras, a ponto de darem cabo de nós. Aconteceu isto mesmo agora quando foi anunciada a triste morte de José Duarte, o nosso conterrâneo com origens em Covas do Rio, por parte do Pai, que ao jazz dedicou grande parte de sua vida. Desde os seus tempos de estudante, este mundo da música foi a sua grande paixão e a sua razão de viver. Em comum, temos a amizade que nos uniu e a convivência com uma sua Tia, a Emília, por sinal mais nova que o sobrinho, por quem nutrimos uma afeição bastante grande. Além do mais, os seus “… 1, 2, 3, 4, 5 minutos de jazz” são um programa de rádio que nos habituámos a ouvir e a admirar. Em modo simples e eficaz, aquele espaço radiofónico entra-nos pelos ouvidos dentro e por cá fica, ainda que destas coisas sejamos uns verdadeiros cepos. Não falando apenas de nós, que isso é egoísmo a mais, a região de Lafões teve, no seu todo, em José Duarte um de seus grandes expoentes culturais desde os anos sessenta do século passado até à actualidade. Quis o seu destino que, um dia, tivesse vindo leccionar para uma Universidade, a de Aveiro, bem perto de sua “terra-pai”. Se esta faceta de professor do ensino superior o marcou, a presença no mundo da rádio, sobretudo com o programa anteriormente citado desde 1966, é que é o seu selo maior e mais impressivo, porque é ouvido praticamente todos os dias, na Rádio Renascença e Rádio Comercial em anos passados e, actualmente e desde há muitos anos, na Antena 1. Nascido no ano de 1938 na cidade de Lisboa, para onde os beirões, como seu Pai e demais familiares tinham migrado, tudo isto começou na Rádio Universidade, logo em 1958, onde sua voz, de imediato, se fez escutar, fundando depois o Clube Universitário de Jazz, que o poder central veio a fechar poucos anos depois, em 1961,quando o regime começou a ser ameaçado de todos os lados, incluindo a partir da Índia, do Oceano Atlântico, de Angola e de tantos outros espaços e opiniões. Com vários outros projectos, “ Os Cinco Minutos de Jazz” conquistaram a simpatia e o interesse públicos tornando-se até o programa mais antigo do mundo, o que nunca pode deixar de ser realçado. Prosseguindo uma notável carreira docente a amigo de divulgar esta modalidade musical, que foi sempre a sua alma e a sua chama, a sua vida espalhou-se ainda pelos seus contributos dados à causa internacional, nomeadamente como colaborador de revistas e publicações um tanto por esse mundo fora, como foi o caso de a Jazz Forum, a Down Beat, sendo ainda elemento directivo da International Jazz Federation. A nível nacional, destacam-se as publicações como a Terra do Jaze, o Jazzé e outras músicas e o Jazz a preto e branco. Foi também professor na Academia Portuguesa de Música e integrou o Centro de Estudos de Jazz da Universidade de Aveiro, fundando o site Jazzportugal. Em sede da Europa e no âmbito da UE, participou em iniciativas realizadas na Alemanha, Portugal e Eslovénia. A sua região, a certa altura, teve o condão de se associar a esta sua obra, recebendo na Feira de Lafões de há anos uns espectáculos de jazz que deixaram o encanto dessa música em muita gente, ainda que tal não fosse expectável, nem para o próprio José Duarte, como, aliás, confessou nesses dias. Sem sombra de dúvida, esta morte de José Duarte, aos 84 anos, deixou culturalmente o país muto mais pobre e Lafões despediu-se de um de seus conterrâneos mais destacados dos séculos XX e XXI. Consola-nos o facto de sabermos que a sua memória perdurará para sempre. In “ Notícias de Lafões”, Abril 2023

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