terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Gastrónomos de Lafões com novos responsáveis...

Confraria Gastronómica de Lafões com novos órgãos sociais CR Numa altura em que assinalou o seu 27º aniversário, após a sua fundação em 1996, a Confraria dos Gastrónomos da Região de Lafões empossou os novos órgãos sociais para o próximo mandato, eleitos na Assembleia Geral de 16 de Dezembro de 2023. No respectivo acto solene, realizado no passado dia 6, Nuno Correia, no exercício do cargo que viu renovado, deu então posse aos seguintes elementos: - Assembleia Geral – Nuno Correia, José Lino Tavares, Luísa Paula Figueiredo e Victor Ferreira. - Direcção – Patrícia Raquel Lopes, Ana Esperanço, Aníbal Seraphim Santos, José Carvalho, Paula Carreira e Alzira Lourenço- - Conselho Fiscal – Joaquim Cardoso, António Costa, Pedro Marques e Carlos Dias. Cumprindo uma espécie de norma adoptada desde o início, que tem vindo a ser seguida, regra geral, verifica-se que estes três órgãos têm nas suas presidências representados os três concelhos da Região, Oliveira de Frades, S. Pedro do Sul e Vouzela. Um outro pormenor relevante tem a ver com o facto de, ao longo destes vinte e sete anos, três mulheres terem ocupado o cargo de Grã-Mestre, a saber: Ester Vargas, S. Pedro do Sul; Celeste Carvalho, Vouzela; e agora, Patrícia Raquel Lopes, Oliveira de Frades. Acresce ainda uma outra nota: na Federação Nacional, o Vice-Presidente da Direcção local ocupa iguais funções nessa organização da “cúpula” das confrarias portuguesa, que (brevemente) vai ter a sua sede central na vizinha cidade de Aveiro. Com um notável trabalho na dignificação e valorização da nossa gastronomia, creditam-se-lhe, entre muitos outros aspectos e contributos, algumas obras de vulto, como a Carta Gastronómica de Lafões; Chefe Silva – memórias gastronómicas em Lafões ; Vinhos de Lafões- um terroir único por descobrir; Aromas da terra, ervas aromáticas do Vale de Lafões e um guia sobre os 25 anos da Confraria. Boa sorte desejamos aos novos responsáveis pelo destino desta instituição lafonense, que até teve a Banda da Sociedade Musical Vouzelense a cantar-lhe as Janeiras… Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Vouzela”, Jan 24

Já em 1963 se protestava... A falta de luz

Protestos em 1963 e outras coisas mais no “Notícias de Vouzela” CR Em letras garrafais, no dia 16 de Janeiro de 1963, este jornal apresentava o seguinte e lamentável título: “Entraves ao progresso do concelho”. No texto, era de falta de energia eléctrica que se falava, em termos tanto duros como quase jocosos. Anotemos alguns parágrafos: “ O tempo passa e continua tudo no mesmo «ponto morto», parecendo começar já a entrar nas freguesias que aguardam a sua electrificação o «vírus» da descrença, acerca das possibilidades de verem realizada a sua maior aspiração e poderem, finalmente, evadir-se do atraso em que se encontram. Por enquanto, o quadro é este: por um lado, a Câmara parece aguardar que Serra da Estrela venha até ela… Por outro, a Hidro-Eléctrica com a altanaria (sic) própria da sua situação e com o dinheiro bem aferrolhado, parece esperar ver a Câmara de Vouzela, humilhada e contrita, a levar-lhe o tributo dos seus munícipes… “ No meio desta contenda, de uma espécie de nem ata, nem desata, quem então padecia eram as populações que não saíam da eterna escuridão, isto nos anos 60 e tais. Acontece que, para saírem deste impasse, as populações e autarquias de Campia e Cambra, conjuntamente com a CM, não estiveram com meias medidas e vai daí dirigiram-se, em exposição, ao Governo da Nação a contarem o que lhes estava a acontecer. Perguntava, a esse propósito, este periódico: porque é que as outras localidades não seguem este exemplo? Isto nos anos 60 e tal, quando estes comportamentos e estas posições não eram muito bem vistas, cheirando, na opinião dos responsáveis políticos desses tempos, a uma quase insubordinação. É caso para dizer: coragem demonstrava o NV em ser porta-voz destes anseios e descontentamentos… A par destes queixumes, em mais uma “Ronda pelo concelho” trazia-se ao de cima um retrato da freguesia de Queirâ, que, “ se bem que não tenha sido das mais esquecidas dos poderes constituídos, não é menos verdade que muito ainda aguarda… “. Prova disso é que os lamentos dos parágrafos anteriores, ali se não aplicavam, pois que “ a electrificação da maior parte da freguesia e o abastecimento de águas a Queirã, Paço e Loumão… são hoje realidades palpáveis.” Com existência escrita desde 1134, “S. Miguel de Queiram” teve foral dado por D. Afonso III em Santarém a 1 de Dezembro de 1272, assim se escrevia nesse trabalho jornalístico, acrescentando-se ainda que estas terras já vinham de épocas bem mais recuadas que a atracção do minério assim o determinara. Faziam parte da freguesia as povoações de Queirã, Paço, Igarei, Quintela, Loumão, Carvalhal do Estanho, Carregal, Vasconha de Queirã e Vasconha da Serra, aí habitando, na sua globalidade, mais ou menos 3000 pessoas em cerca de 500 fogos. Tinha uma Igreja paroquial “ampla e airosa” e capelas votivas em cada um dos citados lugares, à excepção, nessa altura, de Loumão. Destacavam-se duas Confrarias antiquíssimas, a de S. Miguel de Queirã e a de S. Silvestre em Vasconha, aludindo-se também às mordomias da Senhora do Rosário, Santíssimo, Senhora da Conceição, S. Sebastião, Senhora das Dores, S. Martinho, Senhora da Ajuda e S. Lourenço. A sua riqueza do subsolo provinha dos coutos mineiros de Santa Cruz, Cega, Morangueiro, Bejanca, etc, tendo sido referido que existira, em tempos, uma indústria cerâmica em Vasconha e que nesse ano de 1963 se podia falar apenas de uma fábrica de serração e de uma moagem. “ Por esta razão, o queiranense emigra cada vez mais… “. Ontem e hoje, o mesmo triste destino… Entretanto, na sede do concelho, a Cantina Escolar de Vouzela servia 65 refeições, de manhã e ao meio-dia a alunos carenciados. E o que mais ali se escreveu fica para uma outra ocasião… Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Vouzela”, 2024

domingo, 7 de janeiro de 2024

Lagar de azeite de Queirã, Vouzela, fecha a safra em festa

Azeite tradicional e cultura em Queirâ CR Em boa hora, há anos o Grupo de Cavaquinhos e Cantares à Beira de Queirã lançou um novo projecto que passou por pegar num factor económico local, o da produção de azeite tradicional, juntando-lhe a arte musical que tão bem sabe usar. Nasceram assim as “lagaradas” que se realizam no lagar da terra, que, assegura quem sabe, que já funciona há cerca de cem anos, embora em locais diferentes, vindo do Ribeiro Moinho, onde se iniciou, para a sua actual localização. Assistir ao trabalho da produção e a um sempre agradável espectáculo musical e social é algo que vale a pena presenciar-se e divulgar-se. Coube-nos, por sorte, termos esse privilégio… No exterior deste “ Lagar de Azeite Tradicional de Queirâ”, designação que se lê no alto das suas instalações, em curto parque de lazer, podem ver-se as mós antigas, como peças de museu ao ar livre, mostrando-se se que, lá dentro, já nada é como era. Isso mesmo nos foi possível testemunhar em visita guiada por Carlos Figueiredo, funcionário deste equipamento duplo, lagar e alambique, em nome e em representação de seu proprietário, Alfredo Monteiro. A maquinaria moderna tomou o lugar dessas mós feitas rodar por força humana ou tracção animal, tudo agora se resumindo ao controle apertado dos botões que comandam essas pesadas e enormes peças, que “ chegam a moer e a converter em azeite cerca de 12 toneladas por dia desse precioso material em dois turnos”, como nos disse o nosso guia. Em três patamares, a azeitona é pesada lá no cimo, entrando depois numa espécie de cubas e “sem fins” até cair num tanque/máquina de onde sai uma pasta que é então colocada em seiras e, à força de braços, estas avançam para outro ponto para serem fortemente espremidas em poderosas prensas. Começa aqui o milagre de as azeitonas se converterem em brilhante líquido amarelo, o azeite, que, combinado com o poder da água quente a 70º, dela se liberta para cair nos recipientes que a ele se destinam. No dia em que lá estivemos, funcionou apenas, para mostra, durante cerca de três horas, uma das três prensas que, em período normal, funcionam todas 24 em 24 horas, em modo contínuo e numa grande azáfama sazonal. No ano de 2023, a respectiva safra começou no dia 11 de Novembro, tendo terminado a 29 de Dezembro, data em que se encerrou esta labuta em ambiente de festa como tem acontecido ao longo dos últimos tempos. Com uma produção mais ou menos igual àquela que se registou em 2022, para cada litro de azeite, referiu Carlos Figueiredo, são precisos cerca de 7 quilos de azeitonas, conforme a sua qualidade, o que é determinante também para a respectiva acidez. Neste processo, trabalham nos tais dois turnos 10 pessoas, mais duas no exterior em transporte da matéria-prima que vem da freguesia e de localidades vizinhas e ainda de distâncias bem maiores como Pinhel, Águeda, Vila Nova de Foz Côa, além de muitas outras origens. Aqui se produz o “melhor azeite”, frisou Alfredo Monteiro, “ e isso posso garantir sem qualquer dúvida”, sendo que o preço, actualmente, é de dez euros por litro. Nesta cerimónia festiva, em noite fria, mas aquecida pelas máquinas e pelo calor humano que ali se fez sentir, estiveram na ordem de 50 a 60 convidados, além do grupo musical, bem dirigido por Rita Mendes, que animou a parte final deste evento. Tal como é costume, não faltaram as entidades oficiais, como a vereadora Carla Maia, o vereador da terra, Tiago Alexandre Marques, e o Presidente da Junta de Freguesia, Paulo César Mendes Ribeiro, vendo-se também uma presença especial, Fernando Ruas, Presidente da CM de Viseu e da CIM Viseu Dão Lafões, que ali veio “pagar uma promessa que já tem uns anos”, afirmou. Como se costuma dizer, também nós reafirmamos o velho ditado: “ Sei tanto como de lagar de azeite”, isto é, nada. Do que conseguimos aprender, aqui deixamos estas simples notas, mas confessamos que em conhecimento pouco acrescentámos aos saberes que já temos. Aquilo é mesmo matéria difícil de perceber e de meter cá dentro. Parece mesmo um milagre: água e massa de azeitonas misturam-se e, no final, é azeite brilhante que dali sai. A lagarada degustada com as batatas e o bacalhau em saboroso prato e os aperitivos foram outro ponto alto destas cerimónias. Por tudo isso, valeu a pena esta rica experiência. Sem sabermos mais, algo ficou, no entanto… Carlos Rodrigues, in” Notícias de Vouzela”, 4/1/24