domingo, 7 de janeiro de 2024

Lagar de azeite de Queirã, Vouzela, fecha a safra em festa

Azeite tradicional e cultura em Queirâ CR Em boa hora, há anos o Grupo de Cavaquinhos e Cantares à Beira de Queirã lançou um novo projecto que passou por pegar num factor económico local, o da produção de azeite tradicional, juntando-lhe a arte musical que tão bem sabe usar. Nasceram assim as “lagaradas” que se realizam no lagar da terra, que, assegura quem sabe, que já funciona há cerca de cem anos, embora em locais diferentes, vindo do Ribeiro Moinho, onde se iniciou, para a sua actual localização. Assistir ao trabalho da produção e a um sempre agradável espectáculo musical e social é algo que vale a pena presenciar-se e divulgar-se. Coube-nos, por sorte, termos esse privilégio… No exterior deste “ Lagar de Azeite Tradicional de Queirâ”, designação que se lê no alto das suas instalações, em curto parque de lazer, podem ver-se as mós antigas, como peças de museu ao ar livre, mostrando-se se que, lá dentro, já nada é como era. Isso mesmo nos foi possível testemunhar em visita guiada por Carlos Figueiredo, funcionário deste equipamento duplo, lagar e alambique, em nome e em representação de seu proprietário, Alfredo Monteiro. A maquinaria moderna tomou o lugar dessas mós feitas rodar por força humana ou tracção animal, tudo agora se resumindo ao controle apertado dos botões que comandam essas pesadas e enormes peças, que “ chegam a moer e a converter em azeite cerca de 12 toneladas por dia desse precioso material em dois turnos”, como nos disse o nosso guia. Em três patamares, a azeitona é pesada lá no cimo, entrando depois numa espécie de cubas e “sem fins” até cair num tanque/máquina de onde sai uma pasta que é então colocada em seiras e, à força de braços, estas avançam para outro ponto para serem fortemente espremidas em poderosas prensas. Começa aqui o milagre de as azeitonas se converterem em brilhante líquido amarelo, o azeite, que, combinado com o poder da água quente a 70º, dela se liberta para cair nos recipientes que a ele se destinam. No dia em que lá estivemos, funcionou apenas, para mostra, durante cerca de três horas, uma das três prensas que, em período normal, funcionam todas 24 em 24 horas, em modo contínuo e numa grande azáfama sazonal. No ano de 2023, a respectiva safra começou no dia 11 de Novembro, tendo terminado a 29 de Dezembro, data em que se encerrou esta labuta em ambiente de festa como tem acontecido ao longo dos últimos tempos. Com uma produção mais ou menos igual àquela que se registou em 2022, para cada litro de azeite, referiu Carlos Figueiredo, são precisos cerca de 7 quilos de azeitonas, conforme a sua qualidade, o que é determinante também para a respectiva acidez. Neste processo, trabalham nos tais dois turnos 10 pessoas, mais duas no exterior em transporte da matéria-prima que vem da freguesia e de localidades vizinhas e ainda de distâncias bem maiores como Pinhel, Águeda, Vila Nova de Foz Côa, além de muitas outras origens. Aqui se produz o “melhor azeite”, frisou Alfredo Monteiro, “ e isso posso garantir sem qualquer dúvida”, sendo que o preço, actualmente, é de dez euros por litro. Nesta cerimónia festiva, em noite fria, mas aquecida pelas máquinas e pelo calor humano que ali se fez sentir, estiveram na ordem de 50 a 60 convidados, além do grupo musical, bem dirigido por Rita Mendes, que animou a parte final deste evento. Tal como é costume, não faltaram as entidades oficiais, como a vereadora Carla Maia, o vereador da terra, Tiago Alexandre Marques, e o Presidente da Junta de Freguesia, Paulo César Mendes Ribeiro, vendo-se também uma presença especial, Fernando Ruas, Presidente da CM de Viseu e da CIM Viseu Dão Lafões, que ali veio “pagar uma promessa que já tem uns anos”, afirmou. Como se costuma dizer, também nós reafirmamos o velho ditado: “ Sei tanto como de lagar de azeite”, isto é, nada. Do que conseguimos aprender, aqui deixamos estas simples notas, mas confessamos que em conhecimento pouco acrescentámos aos saberes que já temos. Aquilo é mesmo matéria difícil de perceber e de meter cá dentro. Parece mesmo um milagre: água e massa de azeitonas misturam-se e, no final, é azeite brilhante que dali sai. A lagarada degustada com as batatas e o bacalhau em saboroso prato e os aperitivos foram outro ponto alto destas cerimónias. Por tudo isso, valeu a pena esta rica experiência. Sem sabermos mais, algo ficou, no entanto… Carlos Rodrigues, in” Notícias de Vouzela”, 4/1/24

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