terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Já em 1963 se protestava... A falta de luz

Protestos em 1963 e outras coisas mais no “Notícias de Vouzela” CR Em letras garrafais, no dia 16 de Janeiro de 1963, este jornal apresentava o seguinte e lamentável título: “Entraves ao progresso do concelho”. No texto, era de falta de energia eléctrica que se falava, em termos tanto duros como quase jocosos. Anotemos alguns parágrafos: “ O tempo passa e continua tudo no mesmo «ponto morto», parecendo começar já a entrar nas freguesias que aguardam a sua electrificação o «vírus» da descrença, acerca das possibilidades de verem realizada a sua maior aspiração e poderem, finalmente, evadir-se do atraso em que se encontram. Por enquanto, o quadro é este: por um lado, a Câmara parece aguardar que Serra da Estrela venha até ela… Por outro, a Hidro-Eléctrica com a altanaria (sic) própria da sua situação e com o dinheiro bem aferrolhado, parece esperar ver a Câmara de Vouzela, humilhada e contrita, a levar-lhe o tributo dos seus munícipes… “ No meio desta contenda, de uma espécie de nem ata, nem desata, quem então padecia eram as populações que não saíam da eterna escuridão, isto nos anos 60 e tais. Acontece que, para saírem deste impasse, as populações e autarquias de Campia e Cambra, conjuntamente com a CM, não estiveram com meias medidas e vai daí dirigiram-se, em exposição, ao Governo da Nação a contarem o que lhes estava a acontecer. Perguntava, a esse propósito, este periódico: porque é que as outras localidades não seguem este exemplo? Isto nos anos 60 e tal, quando estes comportamentos e estas posições não eram muito bem vistas, cheirando, na opinião dos responsáveis políticos desses tempos, a uma quase insubordinação. É caso para dizer: coragem demonstrava o NV em ser porta-voz destes anseios e descontentamentos… A par destes queixumes, em mais uma “Ronda pelo concelho” trazia-se ao de cima um retrato da freguesia de Queirâ, que, “ se bem que não tenha sido das mais esquecidas dos poderes constituídos, não é menos verdade que muito ainda aguarda… “. Prova disso é que os lamentos dos parágrafos anteriores, ali se não aplicavam, pois que “ a electrificação da maior parte da freguesia e o abastecimento de águas a Queirã, Paço e Loumão… são hoje realidades palpáveis.” Com existência escrita desde 1134, “S. Miguel de Queiram” teve foral dado por D. Afonso III em Santarém a 1 de Dezembro de 1272, assim se escrevia nesse trabalho jornalístico, acrescentando-se ainda que estas terras já vinham de épocas bem mais recuadas que a atracção do minério assim o determinara. Faziam parte da freguesia as povoações de Queirã, Paço, Igarei, Quintela, Loumão, Carvalhal do Estanho, Carregal, Vasconha de Queirã e Vasconha da Serra, aí habitando, na sua globalidade, mais ou menos 3000 pessoas em cerca de 500 fogos. Tinha uma Igreja paroquial “ampla e airosa” e capelas votivas em cada um dos citados lugares, à excepção, nessa altura, de Loumão. Destacavam-se duas Confrarias antiquíssimas, a de S. Miguel de Queirã e a de S. Silvestre em Vasconha, aludindo-se também às mordomias da Senhora do Rosário, Santíssimo, Senhora da Conceição, S. Sebastião, Senhora das Dores, S. Martinho, Senhora da Ajuda e S. Lourenço. A sua riqueza do subsolo provinha dos coutos mineiros de Santa Cruz, Cega, Morangueiro, Bejanca, etc, tendo sido referido que existira, em tempos, uma indústria cerâmica em Vasconha e que nesse ano de 1963 se podia falar apenas de uma fábrica de serração e de uma moagem. “ Por esta razão, o queiranense emigra cada vez mais… “. Ontem e hoje, o mesmo triste destino… Entretanto, na sede do concelho, a Cantina Escolar de Vouzela servia 65 refeições, de manhã e ao meio-dia a alunos carenciados. E o que mais ali se escreveu fica para uma outra ocasião… Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Vouzela”, 2024

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