quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Simões há muitos e diferentes

Conheço e conheci vários Simões. O das Estradas de Oliveira de Frades, que nos deixou há muitos anos, o do Benfica dos seus tempos gloriosos, um enorme Médico de Vouzela, infelizmente também já desaparecido, e agora vieram lembrar-me que há um outro Simões, o de Vila Real, de Trás-os-Montes. Deste, prefiro nem pensar no que disse e escreveu há dias, porque raia o desconhecimento ou o desejo de que apaguemos cerca de 500 anos dos mais de nove séculos que levamos de História, com momentos altos e baixos, mas que é o nosso passado, o nosso, repito. Isto de ter criticado a Revolução de Abril, a que foi mundialmente vista como um modelo de mudança de regime mais ou menos pacífica, criticando os seus autores por não terem feito mais sangue, já nos parece extremamente grave. Vindo de quem milita e é deputado num Partido que defende uma sociedade sem rancores de maior, vindo de quem, indo mais longe que os mares por onde navegámos, apelando a que se destrua o Padrão dos Descobrimentos, como que a apagar esses cinco séculos de uma globalização feita pelos nossos antepassados, aqueles que nos legaram uma das Línguas mais faladas do mundo, mais estranho nos soam estas declarações. Em liberdade, pôde dizê-las e escrevê-las. Em liberdade, sinto que é meu dever não calar a tristeza que me vai na alma ao ouvir e ler estas atoardas. Este Simões deixou-me de cara à banda. Isso deixou...

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Futebol no concelho de Vouzela e clubes desaparecidos...

O futebol em tempos idos e na actualidade Queirã avançou com o seu Paio Vezoiz CR Os últimos anos da década de setenta do século XX foram de um fervilhar intenso quanto à constituição de associações e colectividades de todo o género, umas a nascerem de novo, outras a dar vida a projectos mais ou menos adormecidos. Como que se de uma rolha a saltar da garrafa de champanhe se tratasse, quase todas as nossas localidades afirmaram a sua vontade de colocar pedras nesse novo edifício organizacional das diversas comunidades. Lafões em geral e Vouzela em especial, porque é essencialmente deste território que hoje vamos falar, deram o seu bom contributo. Se muitas áreas se podem citar, a do futebol teve uma grande palavra a dizer. Um pouco por todo o lado, improvisaram-se campos, feitos à pressa uns, mais duradouros e amadurecidos outros. Para os ocuparem nasceram ou ressuscitaram os vários clubes. Um destes, que aqui vamos tentar fotografar, em linhas de texto corrido, teve mesmo uma designação arrancada ao baú da história local, pegando no nome grande de um de seus antepassados, o Paio Vezoiz, de Queirã. Personalidade da era afonsina, a do nosso primeiro rei, D. Afonso Henriques, reza a história que recebeu, em 1134, deste monarca o espaço em questão. A esta freguesia já não eram estranhas estas andanças do associativismo, porque na memória de todos ainda reinavam as lembranças das Minas da Bejanca e de tudo quanto, na esfera social, por ali se passou, no tempo em que eram às centenas as pessoas a viverem naquela área de cerca de 30 hectares, onde cresceram essas práticas dos jogos a pataco em zona em que o dinheiro ora abundava, ora se escapava das mãos, qual fumo que se espalha pelos céus e nada cria. Por outro lado, a União Desportiva Paio Vezoiz, constituída por escritura em 26 de Março de 1977, nascia do seu antecessor Grupo Desportivo de Queirã, que já militava nas hostes do INATEL, esse novo mundo institucional que deu guarida a um sem número de associções de futebol, de atletismo, de folclore, de música e outras funções culturais, desportivas e recreativas. Um dia, a história não pode esquecer este notável apoio que veio desse herdeiro da antiga FNAT. De uma só penada, antes de entrarmos pelas páginas do Paio Vezoiz, podemos acrescentar que nos vêm à cabeça, por estas bandas, os grupos desportivos de Alcofra, de Campia, de Cambra, de Figueiredo das Donas, de S. Miguel do Mato, de Queirã, de Arca, de Arcozelo das Maias, de Ribeiradio, de Pinheiro de Lafões, de S. João da Serra, de Santa Cruz da Trapa, de Sul, de Vila Maior, de Paços de Vilharigues em atletismo e tantos, tantos outros exemplos. Foi nestas competições que se iniciou a vida do futebol organizado em Queirã, como vamos ver. Com os estatutos alterados em 5 de Junho de 1980, com sede na Casa do Povo, adoptou como seu terreno do jogo o Campo da Giesteira, um novo povoado que se deve essencialmente à fixação dos nossos conterrâneos que regressaram das ex-colónias, essencialmente, nos anos de 1975/76 e por aí adiante. Zona nova, deu vida então ao desporto e à Feira da Giesteira, também outra ideia a reter. Iniciando as lides futebolísticas, primeiro com jogos amigáveias, posteriormente nos campeonatos do citado INATEL, o que aconteceu em 1975/76, vem a filiar-se na Associação de Futebol de Viseu em 1977, na segunda divisão distrital, escalões, esse e outros, que veio a disputar até finais de oitenta, incícios da década de 90 desse mesmo século XX. Pelo meio, houve a subida à 1ª Divisão, 1980/81 e novas descidas à segunda e à terceira, esta, anos mais tarde, em 1987, com muita pena dos habitantes de Queirã. Alguns passos deste clube Como não há futebol sem jogadores, nos primeiros tempos e até um tanto mais tardiamente ali passaram, entre outros, o Américo, Serafim, Fernando de Oliveira, Marciano (treinador-jogador), Tino, Fernando Pereira, Chaves, Costa, Fernando Silva, Acácio, Jorge, Silvério, Carlos, Celso, Hermínio, Orlando, José Marques e Mendes, segundo informações colhidas neste formidável arquivo que é este jornal “Notícias de Vouzela”, em correspondência do saudoso António Ferreira do Vale. Dessa mesma fonte, ficámos a saber que foram seus primeiros dirigentes oficiais os seguintes elementos: - Direcção – Reinaldo Fernandes da Luísa, Júlio Rodrigues de Carvalho, Àlvaro Marques de Oliveira, Emílio Fernando de Oliveira, Adelino Duarte Gonçalves e como suplentes, Antero Rodrigues de Carvalho e José Marques; Assembleia Geral – Joaquim Pereira da Costa, Silvério Mendes Martins e Antero Rodrigues de Carvalho; Conselho Fiscal – Manuel Madeira, Acácio Marques Ferreira e José Marques. Em 1980, uma tripla festa apareceu em Lafões: certo dia de Junho, juntaram-se Oliveira de Frades, por ter subido à 3ª Divisão Nacional, Vouzela por ter permanecido na 1ª distrital e Queirã por a esta ter acedido. Desta jornada, ficam os ecos noticiosos: “... Buzinando, tocando gaitas, rufando tambores, a caravana segue para Queirâ. Lado a lado, gentes de VZL e OFR cumprimentam Queirâ, pela sua ascensão à 1ª divisão”. Houve ainda festejos na Colmeia (OFR) e bailarico ao som da música do Conjunto Shallom da terra deste Paio Vezoiz, que, na última partida, tivera ainda a animação do Rancho Folclórico de Vasconha. Tudo ia de vento em popa, até que a derrocada começou a desenhar-se com as descidas à 2ª divisão da AFV e, por fim, à 3ª. Foi o princípio do fim, Em 1990, viria mesmo a dar por terminada esta sua carreira. E assim, de uma forma inglória, se pôs fim a um projecto e a um sonho realizado que tantas alegrias ( e dissabores) deu aos mais de 1600 habitantes que ali viviam por essa altura, mais os que por esse mundo foram seguiam as suas vitórias e derrotas, ora com palmas, ora com dores e apertos de coração. Dos clubes citados, neste concelho de Vouzela, restam o GD de Campia e a Associação os Vouzelenses. Mais nada, o que é pena... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Fev 2021

A voz de um cientista sobre a Covid 19 e algumas discordâncias...

Covid 19 na voz crítica de um cientista Tiago Vicente discorda da forma como se tem combatido a pandemia Com uma larga carreira científica vivida essencialmente na Suíça, Tiago Vicente, natural de Lisboa, mas com raízes na Sobreira e Reigoso, respectivamente, terras de sua avó e de seu avô maternos, prontificou-se a falar connosco, respondendo às questões escritas que lhe colocámos. Naquele país, tem vindo a desenvolver a sua actividade do mundo das biotecnologias em firmas de reconhecida nomeada, como a Octapharma, no cargo de gestor internacional de produtos hematológicos, Pfizer, como cientista principal, e ainda na Redbiotec, Novartis e outras. Mostrando fugir bastante àquilo que temos visto, ouvido e até seguido, em sede de combate à Covid, quisemos mostrar essa diferença de opiniões. Licenciado no Instituto Superior Técnico (IST) em Engenharia Biológica, e tendo feito o doutoramento no IBET em Engenaria Química e Biotecnologia, toda a sua formação prática, em contexto de investigação e divulgação, tem passado pela Suíça como base de trabalho, mas a espalhar os seus conhecimentos por outras partes e um sem número de publicações e comunicações. Dado que as respostas se mostraram demasiado extensas, tomámos a liberdade de ir fazendo uns cortes e ajustamentos, sem, contudo, beliscar a essência do seu pensamento. Queremos ainda dizer que, em muitos casos, temos, pessoalmente, opiniões opostas, mas a força do jornalismo é esta mesmo: dar voz a quem sabe e o Tiago Vicente mostra estar num patamar muito elevado, como veremos. Aqui fica o seu testemunho, prometendo nós trazer, dentro de dias, a estas páginas quem pensa de forma diferente. É no confronto de ideias que se faz o conhecimento. Passemos então às questões: - Percurso de vida: as razões de uma escolha académica. Fui para onde me aliciava mais e era melhor. Sempre fui um miúdo fascinado por ciências, e pouco ou nada com letras ou artes... Daí juntou-se o útil ao agradável. E correu bem, foi um período excelente no IST (Instituto Superior Técnico) e com bastantes sucessos! - A partida para o estrangeiro. Porquê? Quando cheguei ao último ano do meu curso de Engenharia Biológica, consegui ter a oportunidade de realizar um estágio profissional de 6 meses na Novartis em Basel, Suíça... Nessa altura, reconheci de imediato que trabalhar na indústria farmacêutica e/ou biotecnológica seria algo muito interessante e com desafios muito aliciantes. Acabei por regressar a Portugal onde realizei o meu trabalho de doutoramento em Engenharia Química/Biotecnologia no IBET. Um período excelente também que me abriu imensas portas. O bicho continuou lá dentro e acabei, após defender a minha tese em Oeiras, por aceitar uma posição numa start-up na área de vacinas em Zurique em 2010. E pela Suíça fiquei, entretanto agora com duas filhas metade suíças, metade portuguesas... - As altas esferas da ciência. Como se navega por aí e qual o papel das bases em estudos feitos? A bagagem de partida foi sem sombra de dúvida mais do que boa. O rigor do Técnico ...bem como as imensas portas que o IBET durante o doutoramento me abriu, resultaram numa oportunidade única para me tornar um cientista com credenciais ao mais alto nível.... E a pensar criticamente. - A Covid e os momentos que vivemos. Como avalias o que está a ser feito? A COVID-19...uff... Um tema que me move e perturba imenso desde Fevereiro/Março de 2020. (Com a experiência da) Pfizer, onde trabalhei precisamente para o departamento de I&D para novas Vacinas baseado nos US – diz-nos que se sente com bagagem para falar deste tema, acrescentando que “O vírus SARS-CoV-2 (que provoca COVID-19), é um dos vírus da família beta-Coronavirus, vírus tais que se entretêm em cada ano que passa (principalmente nas estações do Outono/Inverno) com a população provocando as normais constipações mais ou menos severas, especialmente em pessoas mais vulneráveis. São portanto sazonais”. (Acontece que)em Fevereiro/Março de 2020 certos “expertos” mundiais anunciavam o apocalipse com premonições de até mais de 5% da população mundial a morrer da infecção por um novo coronavírus altamente letal. Deixa qualquer um atónito como é óbvio! Como sabemos essa previsão tornou-se muito, muito errada, mesmo já em finais de Março ou em Abril, simplesmente analisando dados efectivos de mortalidade... Apenas na classe etária acima dos 65 anos se viu um acréscimo no excesso de mortalidade (face à normal mortalidade no mesmo período). Não seria lógico e sensato focar os esforços nas pessoas de grupo de risco e deixar o resto da sociedade continuar a sua vida? Parece-me óbvia a resposta. Infelizmente a Organização Mundial de Saúde (WHO que estou mais habituado) decidiu ignorar esse facto e não tomou nenhuma posição de responsabilidade. Muito muito pior, exacerbou uma narrativa de medo e histeria. E fez questão de a generalizar! E para todos... Quiçá o maior problema desta pandemia é o teste que a WHO elevou a “gold standard” para detecção de casos COVID-19. Um teste baseado num protocolo de RT-PCR não validado e com erros cientificamente muito sérios. Erros tais com um impacto absolutamente massivo à escala mundial. Porquê? Porque a sua taxa de falsos positivos é enorme, e, ajudada ao facto da população estar em pânico, cada vez mais pessoas são testadas desnecessariamente... É muito perturbador deparar como os governos do mundo ocidental decidiram lidar com esta pandemia... Para além disso, a simples ideia que este novo coronavírus se iria erradicar é surreal. Isso é simplesmente impossível com um vírus respiratório deste tipo. Parece-me também devastador que os nossos governos, em Portugal, mas também aqui na Suíça e resto da UE, se permitam crucificar a economia e a vivência das famílias nos seus círculos sociais em nome de um vírus respiratório deste tipo... - Há quem entenda que tudo está mal. As vacinas serão a única tábua de salvação possível? A vacina da Pfizer é uma vacina experimental no que diz respeito à segurança a longo prazo. Simplesmente porque não houve tempo suficiente para se realizar: uma vacina em desenvolvimento tem de passar com sucesso os seus estudos pré-clínicos (em animais) e as suas três fases clínicas: um processo que demora na melhor das hipóteses uns 3-4 anos para uma vacina. Antes de 2020. De repente em 2020 as regras mudaram?... (Além do mais) existem fármacos anti-virais ou anti-malária já provados em vários ensaios de observação clínicos com pessoas efectivamente infectadas com SARS-CoV- 2 e que são curadas sem problema de maior. Porquê se ignoram tais soluções para esta doença em especial? Não é uma questão de opinião pessoal. Os dados clínicos comprovam-no — já desde o Verão de 2020 variados estudos reportaram eficácia com este tipo de terapias anti-virais... - Como olhas para o teu e nosso país e para o mundo em geral? É muito triste ver esta realidade. E só posso justificar esses números pelas decisões muito mal tomadas pelas entidades governantes (governo/DGS)... Que se esperava? A vida teve de continuar em 2020. Pessoas com as suas doenças normais e/ou crónicas e outros problemas continuaram a existir. Apenas se desprezaram. COVID-19 apenas é uma de muitas... - Repetindo, precisamos então de vacinas e de medicação... Isso mesmo. Há muitos anos trabalho na indústria nesta área de desenvolvimento de biofármacos e vacinas. Eu próprio sou alguém pró-vacina — eu tenho as minhas vacinas em dia e as minhas duas pequenas filhas também. Mas não posso deixar de ter consciência e ignorar o que temos disponível hoje. As regras são universais e as mesmas de sempre na ciência e medicina... Sim, continuar a trabalhar nas vacinas, seja a da Pfizer, seja a da Moderna ou outras que demonstrem iguais ou melhores perfis de eficácia e segurança, mas até lá chegarmos existem alternativas... - Como vês a ligação entre a ciência e a política? Qual deve prevalecer? A política deve permanecer política e ciência permanecer ciência. O governo deve obviamente apoiar-se em conselhos científicos da mais alta qualidade, no que diz respeito à autoridade de saúde nacional. Porque obviamente mexe com toda a sociedade. Mas deve fazê-lo não descurando diferentes opiniões de pessoas com credenciais de excelência nas diferentes áreas. Ora neste caso, claramente deve apoiar-se em gente (cientistas, médicos, e outros) que olhem para a imunologia desta doença, deste vírus, para os seus primos coronavírus, para a história da virologia, epidemiologia, e experiência clínica com doenças respiratórias deste tipo. É-me impossível acreditar que algumas destas vozes tenham realmente sido escutadas de forma séria pelos nossos governantes.... - 8 - Que tens a dizer acerca de tudo isto? Como vamos sair desta Covid 19? Oxalá mais vozes de todas as arenas se oiçam demonstrando as várias falsidades perpetuadas durante esta pandemia. Não por capricho ou porque têm uma opinião, mas porque os dados estatísticos, a ciência e medicina de rigor e excelência o provam. Esta “pandemia de casos positivos de RT-PCR” sem significado clínico deixou o mundo cair no precipício. E Portugal foi mais um deles. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela (parcialmente)”, Fev 2021

domingo, 14 de fevereiro de 2021

O ciclone de há 80 anos...

Do ciclone de 1941 a outras tragédias A natureza, de vez em quando, zanga-se connosco Nas nossas memórias recentes, os incêndios de 2017 e os estragos provocados pelas tempestades Elsa e Fabien, sobretudo estas, são uma pesada carga que custa a sair das mentes de todos nós. Se, porém, vasculharmos mais para trás, por certo, vamos descobrir e reviver outros acontecimentos que também deixaram fortes e duras marcas. Por exemplo, há oitenta anos, na tarde e noite dos dias 15 para 16 de Fevereiro, o ciclone de 1941 foi um desses momentos vividos com angústia e um balanço de mortes, feridos e muitos estragos um pouco por todo o país, ainda que com variações regionais, que nunca mais se esquecem. No meio das desgraças desse vendaval, um registo se colou para sempre: em Oliveira de Frades, alguém que nesse dia viu a luz do dia ficou conhecido pelo “Ciclone”, alcunha bem mais usada que o seu nome próprio. Comerciante em Lisboa na zona de Santa Apolónia, algumas vezes por aí o encontrámos, o que prova a veracidade desta coincidência assim aproveitada localmente, pelo que na sua terra natal praticamente ninguém desconhecia esse facto. Feita esta referência, vamos agora passar a descrever o que então aconteceu. Para esse efeito, socorremo-nos do testemunho veiculado pelo jornal “Notícias de Vouzela” de 1 de Março de 1941”. Disse-se então o seguinte, numa descrição que mostrou bem o forte impacto desse fenómeno natural: “ O dia 15 de Fevereiro findo foi, entre nós, de inverno rigoroso, nada fazendo, no entanto, prever o que se iria passar no começo da noite. Cerca das 18 horas, o vento começou a soprar com mais violência. Das 19 para as 20 horas, o vendaval atingiu o seu auge, assim se mantendo algumas horas, horas que foram de angústia e pavor para todos os que sentiam o destelhar de seus prédios e o quebrar dos vidros das janelas e das clarabóias, com uma intensidade tal que se receava pela segurança dos próprios prédios... Ao amanhecer do dia 16, deu-se a romagem aos campos sendo desolador o estado em que se encontravam. Oliveiras, árvores de fruto e ornamentais, os pinheiros estavam derrubados e partidos numa quantidade extraordinária ( e ainda... ) destruições e desabamentos de muros, alpendres, etc... “ Afirmava-se, nesse artigo, que foram bem aceites as medidas governamentais tomadas de imediato, tais como a proibição de alteração do preço de materiais de construção, bens necessários para as reparações que se impunham, e ainda a tentativa de normalização das comunicações, a dispensa de certas licenças e a abertura de um crédito de 20 000 000$00 (vinte milhões de escudos ou vinte mil contos, valores à època). Foi tal o impacto desse ventania e temporal que, em sessão da Assembleia Nacional do dia 21 de Fevereiro desse mesmo ano, o Deputado Botto de Carvalho fez uma declaração a esse propósito em que destacou o trágico ciclone que “... varreu o território português de sul a norte ... (numa) imensa devastação... A ruína é enorme ... tanto no prejuízo sofrido pelo Estado como no prejuízo sofrido pelos particulares... “ Em dois jornais da capital, as manchetes e os títulos reflectiam bem o que sucedeu nessa noite. Em “ O século”, titulava-se “ Lisboa foi assaltada no dia de ontem por um terrível ciclone” e o “DL” assim se referia a este acontecimento: “ A fúria dos elementos – Lisboa açoitada por um vento ciclónico de extraordinária violência que derrubou chaminés, telhados e árvores, chegando a atirar, nas ruas, os transeuntes ao chão”. Segundo as fontes da época, esta forte tempestade de Inverno teve a sua origem numa depressão que partiu do oeste da Irlanda vindo depois a afectar, entre outras regiões, a Península Ibérica, incluindo Portugal como se está a descrever. Isso provocou fortíssimas velocidades do vento e altas ondulações no nosso litoral do Minho ao Algarve. Num estudo efectuado por Adélia Nunes, João Pinho e Nuno Ganho, publicado nos Cadernos de Geografia, nºs 30/31, da FL da Universidade de Coimbra, 2011/2012, fala-se em ventos que atingiram em Portimão e Tavira cerca de 150 km/hora, em Coimbra – 133 km/hora, em Lisboa, 129 e, no Porto, Serra do Pilar, chegou-se aos 167km/hora e mais se não soube porque o anemómetro se partiu com tanta fúria da ventania, o que impossibilitou a descoberta de, talvez, maiores valores. Acrescentam aqueles autores que se verificou “ Um elevado número de vítimas mortais (outras fontes aludem a cerca de 100), milhares de árvores arrancadas, inúmeras estradas intransitáveis, casas destelhadas, povoações isoladas, rede eléctrica destruída e ligações telegráficas e telefónicas interrompidas. Os prejuízos foram, então, avaliados em 1 milhão de contos... “ Em concreto, alega-se que, na cidade de Coimbra, foram avultadas as perdas no edifício do Hospital da Universidade e, em Lisboa, chegou a desmoronar-se a muralha marginal de ligação entre Alcântara e a Torre de Belém. Em termos pontuais, citam-se o desaparecimento de muitas embarcações e várias inundações, estas mais nuns locais que noutros, sendo que, em alguns espaços, a chuva não apareceu com tanta força quanto o vento. Entre as acções levadas a cabo pelo Governo, ressalta-se o facto de ter sido constituída uma Comissão Nacional de Socorros às Vítimas do Ciclone sob a alçada do Subsecretário de Assistência Social e, na esfera civil, foi lançada uma campanha de angariação de fundos patrocinada pela Emissora Nacional e pelo jornal Diário de Notícias. Já agora, em termos de contextualização, pode dizer-se que, no século XIX, se assistiu ao aparecimento de 148 grandes tempestades e que, bem próximo destes nossos tempos, os incêndios de Outubro de 2017 podem ter estado relacionados com o furacão Ophelia. Por outro lado, os acontecimentos já citados de Dezembro de 2019, sobretudo por via dos fenómenos Elsa e Fabien, no dia 19, provocaram fortes ventanias e cheias, com os rios a transbordar, as pontes a ruir, os muros ribeirinhos a caírem, as terras a desabarem e a serem arrastadas com graves prejuízos e mesmo mortes, como as de Castro Daire. Para acorrer às necessidades mais imediatas, nomeadamente o “ Restabelecimento do Potencial Produtivo”, foi então lançado o Despacho nº 1117-B/2020, reconhecendo situações climáticas adversas, e delimitadas as zonas a apoiar. Nesse documento, anotam-se as rajadas de vento em Pampilhosa da Serra com uma velocidade de 150km/hora e, na Guarda, 137. Muitos outros casos poderiam ser aqui trazidos, mas as referências às cheias na área de Lisboa de 1967, com centenas de mortos e desaparecidos, e a recente tempestade Leslie, que assolou, essencialmente, parte do litoral da região Centro, são a prova de que a natureza nem sempre mostra o ar de sua graça, bem pelo contrário: enfurece-se forte e feio. E com as alterações climáticas que se prevêem, se a humanidade não agir para as travar a fundo, mais fenómenos destes podem surgir por aqui e por todos os outros lados, havendo pontos do globo onde esses temores são bem maiores que noutros. Mas nada, nem ninguém, pode dizer que está salvo... Por último, deixamos aqui uma fonte a ler para melhor se perceberem as situações de fuga das margens do Rio Vouga, com um pequeno senão: o trabalho de Margarida Rosa Medeiros Guedes, da Universidade de Aveiro, publicado em 2006, com o título de “ Contribuição para a avaliação, previsão e prevenção do regime de cheias na Bacia do Vouga”, foi escrito antes da construção da Barragem de Ribeiradio e a jusante este facto pode fazer toda a diferença, alterando muitas das considerações e conclusões ali apresentadas. Recordámos, em princípio, o Ciclone de 1941, oitenta anos depois. O resto veio por acréscimo... Carlos Rodrigues, in “Ecos da Gravia”, Fev 2021

Ensino à distância em Lafões...

De novo, o ensino à distância Escolas fechadas, crianças e jovens em casa CR Com o encerramento dos estabelecimentos escolares, numa segunda fase e no âmbito do endurecimento das medidas tomadas em contexto do estado de emergência, nos primeiros dias, não houve mesmo quaisquer actividades lectivas. Como, porém, chegou a hora de alargar o período do fecho das escolas, uma nova realidade se impôs: avançar para o ensino à distância, não presencial, tal como acontecera já no primeiro confinamento. Reconhecendo-se que estas decisões têm implicações diferentes, atendendo à múltipla realidade social e familiar, fomos tentar descobrir como é que a sociedade se movimentou para fazer minimizar eventuais ( e quase certos) problemas que venham a surgir. Com este sistema a ter entrado em funcionamento na passada segunda-feira, dia 8, começamos por dizer que são diversos os agentes em todo este processo, desde logo, obviamente, os alunos, os professores e funcionários, a família, as autarquias, o governo e as comunidades em geral. Em cada um destes sectores, os efeitos repercutem-se de maneiras bem diferenciadas. Se aos alunos se pede organização e concentração, aos professores se exige um trabalho redobrado, uma fértil imaginação e um empenho quase sem limites, porque não se trata apenas de “dar” a matéria, mas é preciso averiguar-se se as sementes germinam em condições. Para o sucesso de tudo isto, há recursos que não podem ser esquecidos. De imediato, salta à vista a necessidade de competentes meios informáticos e aqui é que reside uma das maiores complicações de tudo isto. Quem os não tem, quem nem sequer pode aceder à internet, como vai arranjar solução para essas gritantes falhas? Veremos, de seguida, alguns bons expedientes que têm vindo a ser encontrados por entidades várias. Entretanto, cabe, neste âmbito, uma palavra muito especial para as famílias, sendo que muitas delas vivem sem grandes condições habitacionais, têm vários filhos em idade escolar, não podem deixar de trabalhar, ou, se isso acontecer, as fontes de rendimento podem mesmo entrar em colapso. Será também preciso pensar-se nos alunos com necessidades educativas especiais e atender, em todos os aspectos, às diversas idades e graus de ensino. Nuns casos, por exemplo, os jovens terão uma maior apetência para estes métodos, enquanto que as crianças talvez nem tanto. Assim sendo, nada pode ser igual nas aulas em causa. Depois, coloca-se ainda um outro pormenor: será que os tempos têm de ser síncronos, isto é, à mesma hora para um qualquer ano e disciplina, ou assíncronos, com as matérias a serem então tratadas mais caso a caso? Com uma profusão de temas a deverem ser encarados, que não cabem nestas breves considerações, o essencial, contudo, é que as desigualdades se não agravem e os conteúdos cheguem a quem se destinam e os motivem para o trabalho, bem dito, para o trabalho, porque a escola também é isso mesmo. Para termos uma ideia do número de alunos da nossa região de Lafões e de cada um de seus três concelhos, Oliveira de Frades, S. Pedro do Sul e Vouzela, vejamos estes dados, relativamente aos sistemas públicos e particulares: - Pré-Escolar – Oliveira de Frades – 205 alunos (2019); S. Pedro do Sul – 244 (2019); Vouzela – 189 (2019) - 1º Ciclo – Pela ordem dos concelhos - 344 – 470 (2019) – 278 (2019) - 2ª Ciclo – 166 (2019) – 217 – 131 - 3º Ciclo – 335(2019) – 459 – 308 - Secundário – 277 (2019) – 512 – 379 - Professores – 159 (2019) – 282 – 192 Em apoios sociais, o município de Oliveira de Frades forneceu 53 tablets para alunos, disponibilizou os computadores portáteis para a comunidade no Centro Escolar, doou uma verba aos docentes para fins diversos e ainda transportes e recursos humanos para fazer chegar aos alunos todos os meios. Quanto a S. Pedro do Sul, além do equipamento informático diverso doado ou emprestado, a Câmara Municipal passa a dotar de transporte para as escolas os alunos de zonas remotas sem acesso à Internet, dando ainda atenção a quem necessite de terapias especiais. Já Vouzela, por via também municipal, face a 111 alunos sem computador e 25 sem internet, foram cedidos 62 equipamentos, fazendo-se também a ligação respectiva para os alunos beneficiários da ASE. Entretanto, o Governo já colocou nos seus destinatários 100 mil computadores dos 1500 000 que havia prometido, vindo a caminho destes cerca de 350 mil. Porém, também as organizações de docentes não deixam de fazer sentir as suas queixas quanto à necessidade de dotar os colegas desses materiais, porque deles carecem. Num mundo diferente, que a pandemia assim obriga, a escola vive, uma vez mais, um tempo de incertezas, mas de confiança, simultaneamente. Que tudo isto passe depressa e que a normalidade regresse, de vez, eis quanto desejamos. Fortemente. Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Vouzela”, Fev 2021

Um Programa Nacional de Investimentos, PNI 30, que não chega a todo o lado...

Novo Programa Nacional de Investimentos até 2030 No papel já o temos, agora que venham as obras... Com a sua apresentação em 22 de Outubro do passado ano de 2020, veio a lume a intenção de se virem a concretizar algumas obras ditas estratégicas e estruturantes, concretizadas num documento que tem como designação “Programa Nacional de Investimentos 2030”. Lendo o respectivo Relatório geral e enquadrador, nota-se que são variados os eixos e os sectores a contemplar, de modo a responder a quesitos essenciais da modernidade e sustentabilidade de que tanto necessitamos. Porque alguns destes projectos nos podem tocar de perto e outros desejamos que sigam o caminho da descentralização para estes nossos territórios de baixa densidade e cada vez mais em declínio, lembrámo-nos de tecer algumas considerações, como forma de não deixarmos de expressar as nossas ideias e convicções. Com fé o fazemos, mas não deixamos de ter um certo sentimento de desconfiança, porque já temos visto muitas e boas propostas a morrerem pelo caminho ou mesmo à beira da praia, Oxalá que, desta vez, nos enganemos redondamente, para bem de todos nós. Escritas estas linhas, passemos então ao que é essencial, a discussão do que ali se contém. De uma rajada, começamos por dizer que são abrangidos os ítens-âncora dos transportes e mobilidade, ambiente, energia e regadios, para uma concretização no horizonte temporal de 2021 a 2030, em obras ou pacotes individuais de valor igual ou superior a 75 milhões de euros. Tendo como pilar essencial “ As pessoas, primeiro”, pretendendo-se menos desigualdades e mais inclusão, mais inovação, valorização dos recursos endógenos e uma real sustentabilidade, maior coesão e competitividade a todos os níveis e em todos os espaços, destacando-se as regiões desfavorecidas, anotemos alguns dos pontos em que tudo isto vai incidir: - Mobilidade e transortes públicos, com 9 projectos e 5825 milhões (M) de euros de investimento, com a ferrovia a absorver 10510 milhões em 16 projectos, a rodovia (8) com 1980 milhões, o sistema aeroportuário (4) e 1257 M e o marítimo-portuário (8) e 2088. Trocando isto por míúdos (graúdos), a linha ferroviária do Porto a Lisboa vai ser contemplada com 4500 milhões de euros, a Linha do Vouga - 100 M, a de Valença a Vigo – 900 M, a modernização Beja/Faro – 230 M e a electrificação e reforço da rede ferroviária nacional – 740 milhões de euros. Voltando ao marítimo-portuário, caberão ao porto de Sines 940 M e ao de Aveiro (o nosso) – 113 M. Deve notar-se que para as linhas do metro de Lisboa e Porto vão, respectivamente, 2300 e 1350 milhões de euros, sendo que para todos os transportes colectivos das cidades de média dimensão estão apenas orçamentados 200 M. E isto diz e faz toda a diferença e mostra o carácter centralizador, mais um, destas propostas, por enquanto, nada mais do que isso, esperando nós que venham a ser mais ajustadas, mais equilibradas e, numa palavra, mais justas. - Ambiente /florestas – Muito ligado aos nossos territórios, adiantamos que está previsto gastar com a floresta 1400 milhões de euros, com o ciclo urbano da água – 2000 M, com a gestão dos recursos hídricos – 1310 M, com a melhoria e conservação do património natural – 120 M e com a promoção do valor patrimonial natural – 100 M. Para a transformação da paisagem dos espaços de floresta vulneráveis – 800 M e para as redes primárias de faixas de gestão – 250 M. Quanto aos regadios, receberão um bolo de 750 M. Entende-se que estas projecções de obras se venham a encaixar em compromissos globais, nomeadamente o Acordo de Paris sobre o Clima e os Objectivos do Desenvolvimento Sustentável e ainda noutra espécie de compromissos de nível europeu. Muito embora tenhamos mostrado algum cepticismo, que, infelizmente, o nosso historial de planeamento é nisso deveras abundante, o que esperamos, muito sinceramente, é que tudo isto vá para o terreno depressa e bem. Ficamos à espera de ver as ligações por comboio a serem feitas em 1h15/1h30 entre o Porto e Lisboa, 1h20 no eixo Porto/Vigo e assim por aí adiante, como disse o Ministro Pedro Nunes dos Santos, há dias, na Assembleia da República. Mas, por aquilo que vemos na Linha do Norte, com trabalhos há mais de 10 anos de modo aos alfas atingirem a velocidade de 220km/hora e, em muitos troços, ainda não irem além dos 30 km/hora, muita coisa terá de mudar para atingirmos os objectivos que agora se pretendem alcançar. Por último, devemos confessar que não queremos ver nestas questões aquilo que se passou com a a nossa saudosa Linha do Vale do Vouga, que começou a ser pensada em 1881, então de uma forma mais definitiva, para só ser inaugurado o seu primeiro troço em 1908 e a ligação Vouzela a Bodiosa em 1914, fechando-se assim a Linha até Viseu, que havia avançado aos solavancos. Infelizmente, um dia, mataram-na de todo, com muita pena nossa... Agora, que (re) nasçam os projectos que este PNI 30 registou em papel, porque já tardam demais... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Fev 2021

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Municípios e educação, breve amostra...

Município e Educação Índice provisório 1. Introdução 1.1. Quadro conceptual e metodológico 2. A forma dos municípios ao longo dos tempos 3. Sociedade com educação informal 4. Uma escola a nascer 4.1. Antiguidade clássica e seus reflexos 4.2. O Cristianismo e a idade média 4.3. Renascimento 4.4. Os jesuítas e a sua época 4.5. O século XVIII e o absolutismo 4.6. O liberalismo 5. O papel das autarquias, do liberalismo à Primeira República 6. A Primeira República e o ensino: a carga legislativa descentralizadora 7. O Estado Novo e o encontro educativo 7.1. A influência limitada dos Ministros da Educação 7.2. Autarquias e edifícios escolares 8. Democracia e impacto vagaroso da educação nas autarquias 8.1. A transição: de Veiga Simão à Constituição de 1976 8.2. Portugal e seus parceiros europeus: um olhar comparativo 9. Territorialização da escola aos soluços 9.1. Enquadramento legal 9.2. O poder local e suas aspirações 9.2.1. Educação pré-escolar 9.2.2. 1º Ciclo e outros campos de atuação 9.3. Delegação de competências e seus efeitos 10. Educação e novos rumos 10.1. Algumas marcas municipais 10.2. A escola na comunidade 10.3. A luz ao fundo do túnel 11. Conclusões TESE Os Municípios e a Educação 1. Introdução A educação é um fenómeno eminente social, como nos indica A. Clausse. Insere-se por isso, na dinâmica da sociedade. Assim, estamos perante uma organização (Musgrave: 1968), pelo que a análise dos aspectos que a rodeiam deve ser feita de uma forma integrada, mas sem pôr de lado a hipótese de se trabalhar sobre um dos vetores que norteiam. Se muitas são as influências que desembocam no seu campo, de que a escola é um pilar de primeira linha, é natural que optemos por abordar um desses braços, no caso em apreço, o do municipalismo, enquanto questão de “estruturas sociais e culturais” (Bertrand, 1991). Partimos de uma perspetiva histórica, mas também sistémica, quando abordamos as instituições educativas, que não podem ser analisadas “sem serem confrontadas com estruturas económicas, sociais, políticas, culturais e religiosas” (Gomes, 1980), por elas estarem dependentes, no entender de Émile DurKeim. Nesta ordem de ideias, teremos em conta a própria génese e evolução dos municípios, instituições que radicam num “prendimento que se realiza e dura juridicamente num meio social” (Hespanha, 1982) Para conseguirmos atingir a sua ligação com a educação (termo que adotaremos, em simultâneo com o de escola), servir-nos-emos duma metodologia que, em síntese, se apoiará nestes pressupostos: - Fontes históricas diretas e indiretas - Legislação diversa, como fonte privilegiada (Barroso, 95) - Publicações gerais e da especialidade - Documentos de organismos oficias - Estatísticas - Inquéritos - Testemunhos diversos Por outro lado a abordagem a fazer seguirá tanto quanto possível sob o lema do diacronismo em que a cronologia, como é lógico deduzir, terá uma importância acrescida, tanto em grandes quadros temporais como em níveis mais detalhados, desde que a respetiva datação não ofereça quaisquer dúvidas. Se começamos por uma visão generalizada da educação ao longo dos tempos, fazemo-lo apenas para a enquadrarmos nos movimentos próprios de cada época, nunca com a ideia de a correlacionarmos com o municipalismo, por entendermos que tal seria perfeitamente inviável. Aliás, o município, como realidade prática estrutural, é uma organização tardia, frente à evolução da própria educação, qualquer que seja a tese que se venha a perfilhar no que diz respeito à forma dos concelhos, a saber: A. Herculano – Origem romana dos municípios asturo – leoneses. Eduardo de Hinojosa – Fatores germânicos na génese do fenómeno municipal. Sanchez Albornoz – Ambiente da reconquista, jamais de ascendência romana. Como quer que seja, sobretudo, a partir da época moderna, é possível descortinar o seu papel no campo da educação, mas não deixam de encontrar-se as suas influências em plena época medieval, tal como aconteceu, por exemplo, com Frei Rodrigo de Sintra, que, em 1380, foi subsidiado pela Câmara de Lisboa para estudar fora do reino (Carvalho, 1985). Deve acrescentar-se, no entanto, que a nossa autonomia municipal não adquiriu o estado de outras áreas do centro da Europa, como acentua António Manuel Hespanha, não obstante se reconhecer que “a história da instituição e multiplicação dos concelhos é a história da influência da democracia na sociedade, da acção do povo, na significação vulgar desta palavra, como elemento político” (Herculano), com o triunfo máximo, nesses tempos recuados, da democracia municipal a atingir-se no reino de D. João I (Gordo, 1925). Como complemento comparativo deste trabalho, tentaremos referenciar ainda alguns dados sobre estes mesmos temas noutros países, designadamente naqueles que integram a atual União Europeia, ainda que de uma forma sumária e esquemática. Se as autarquias adquiriram a sua verdadeira carta de alforria, após o 25 de Abril de 1974, não olvidaremos a sua existência nas outras épocas, mais recentes ou mais afastadas sabendo, porém, que “o processo de produção do modelo escolar desenvolve-se consideravelmente no século XVI, sob a dupla influência da Reforma e da Contra-Reforma” (Barroso, 1995). É a escola uma nova prioridade no plano investigativo (Estrela, 1995). Tentaremos, então, dar um modesto contributo com esta abordagem algo periférica, tal a predominância das visões centralizadas com que se vem vivendo até ao momento. Em sociedades marcadas por uma economia agrícola, senhorial, Portugal encetou políticas de povoamento e organização apoiado na autonomia local, em que o município aparece como “aliado da Coroa e vector de desenvolvimento regional” (Serrão), sobretudo a partir do século XII, muito embora pertença ao clero a organização do ensino. 2. Sociedades com educação informal Foi ao longo o processo evolutivo por que passou a educação, que começou por ser eminentemente prática, sem qualquer organização institucional que a suportasse. Também a necessária componente teórica, de feição iniciática, em termos de explicação de mitos, lendas, não se adquire numa qualquer escola, mas antes na tribo, na família. O homem primitivo, numa luta directa com a natureza, apenas pretende movimentar-se no seio das necessidades básicas. Não vai além dos conhecimentos rudimentares, em contacto com aqueles que lhe estão mais diretamente ligados, em ambiente de puro animismo. Paul Monroe define este estádio como um movimento longo, estacionário e imitativo, pelo que será descabido falar-se em educação no sentido que hoje lhe damos, ainda que aluda, na sua passagem para um estádio superior, à emergência de uma nova classe social – os professores. Na educação ao longo dos tempos, sendo que estes, na antiguidade, têm um carácter de quase permanência em termos educativos, raramente encontramos quaisquer vestígios de municipalismo ou organização similar nas diversas sociedades que antecederam o povo romano, mas denotam-se reminiscências descentralizadoras. Assim, nas civilizações orientais, em que a educação formal se centraliza no estádio da linguagem e da literatura (Monroe, 1907), isto num segundo estádio de desenvolvimento, é visível um sistema de escolas, em todas as aldeias, com a contribuição particular dos alunos e o patrocínio de associações diversas, e um outro de exames, centralizado, em forma de pirâmide: Exames Locais Primeiro Capital de Distrito Segundo Capital de Província Terceiro Capital Central Se este é o quadro em que se desenrola a educação chinesa, não é descabido afirmar-se que a sua influência se espalhou um pouco por todo o oriente, incluindo o mundo judaico. 3. Uma escola a nascer 3.1. Antiguidade Clássica É inegável que as civilizações Grega e Romana – ao povos clássicos, por excelência – marcaram indelevelmente o panorama educativo ocidental, de uma forma determinada. Pode agora falar-se, com propriedade, numa verdadeira educação, enquanto necessidade e organização. Existe. Tem um corpo e um escopo próprios. Diverge, no entanto, de acordo com as modificações operadas nessas sociedades, porque “toda a organização do ensino se fundamenta numa concepção filosófica do destino do Homem (…) e a diferença de fundo que distingue entre si as diversas épocas da História da Pedagogia (por extrapolação) reside no tipo de homem que a escola pretende criar” (Carvalho, 1985). GRÉCIA – Com a tónica centrada no desenvolvimento individual, numa evidente aplicação do conceito de educação liberal, procura-se desenvolver, através do conhecimento, um novo cidadão. A “cidade-estado” domina o respetivo horizonte educativo, em que cada um realiza como membro da família, da civitas e da fratia (contrariamente ao que acontecia em Esparta, onde o estado dominava completamente o indivíduo), com a nomeação de geral da educação e de superintendente – o paidonomos. Em Atenas, as escolas eram particulares, pelo menos até aos 16 – 20 anos, em que o Estado começa a ministrar parte da educação. Curiosamente, mesmo em matéria de edifícios, era corrente verificar-se que estes pertenciam aos mestres. Com educadores de grande nomeada, tal como Platão e Aristóteles, define-se numa cooperação entre a família e o estado. ROMA – Devem-se aos romanos os maiores contributos para a organização social, a nível legislativo e prático, num edifício que comportava direitos e deveres. A educação, nesse esquema, tinha como centro a família, deixando-se à escola uma missão secundária, para uma rudimentar formação na leitura, escrita e aritmética, através da ludi, quadro que se altera um pouco com uma maior predominância das ideias gregas, alturas em que estas escolas passam a consagrar também a sua atenção à gramática, mas sempre de uma forma simplista e superficial. É, porém, durante o império Romano que os municípios começam a ter uma importância acrescida, enquanto detentores de alguma escola, já a constituírem um sistema. Por sua vez Graciano (367 – 383 d.C.) chega a duplicar os contributos dos municípios, a fim de dotar o império dos fundos que lhe permitissem uma melhor manutenção dessas escolas, tendências que se agrava com Teodósio, que fazem concentrar “no governo imperial a única autoridade no estabelecimento de escolas” (Monroe, 1907), punindo criminalmente qualquer organização popular que se lançasse nessa função, o que converte esses municípios em meros colectores de impostos. Sendo o município, na conceção de Herculano, uma realidade proveniente do império romano, terá de concluir-se que a sua autonomia, quando à educação, teve graus e épocas diversas. 3.2. O Cristianismo e a idade média Iniciou-se o Cristianismo em plena vigência do império romano, ora de uma forma clandestina, em oposição total ao quadro legal vigente, nos domínios desse império, ora como afirmação plena, sobretudo a partir do édito de Constantino e dos demais processos de abertura e aceitação desses novos ideais. A Península Ibérica não fugiu a esta regra, nem dela se pode dissociar a ideia de que “de todos os indivíduos que constituíam a sociedade europeia, nos primeiros séculos do cristianismo, somente os elementos (?) da Igreja tinham motivo para se interessarem pela prática da instrução e pelo seu desenvolvimento”. (Carvalho, 1985). Era a preparação para o futuro, quando a Igreja assumira a definição dos objetivos da educação, eliminando, entre os séculos VI e XIII, as preocupações intelectuais, como frisa Paul Monroe, num corte total com a política, entendida esta como uma forma de ser e estar de gregos e romanos. Decorre desta evidência um facto notório: a Igreja chama a si o domínio da formação, retirando-a do poder secular e, como sequência, dos municípios, muito embora estes venham a manter, como se depreende dos dados obtidos, um campo de manobra a explorar. Se o objetivo da educação se centra sobre a necessidade de formar clérigos, não é de estranhar-se que se passe a evidenciar um outro tipo de escolas – as episcopais e as catedrais, a par das escolas conventuais ou monásticas, estas últimas com reminiscências orientais e a sua relação com o cristianismo. Com o andar dos tempos, chega até a acontecer que os mosteiros passam a ser as verdadeiras “instituições de ensino da época” (Monroe), pela sua visão profissional, centros de pesquisa, bibliotecas e áreas de saber e saber-fazer mas sempre num regime endógeno designado a suprir as necessidades internas, a auto-sustentar-se. Com o Imperador Carlos Magno, estes equipamentos e instituições exterior e reforçam a sua qualidade, devendo-se mesmo aos mosteiros as sete artes liberais: Trivium Quadrivium Gramática Aritmética Retórica Geometria Dialética Música Astronomia Com uma influência notória nas questões educativas da época, este mesmo Imperador, através da capitular 789, chega a determinar que fornece as bases de um ensino secular, ainda que subordinadas à alçada religiosa. Paralelamente a este movimento, a cavalaria tornava-se um secular ideal social, ministrado nas diversas cortes, logo de feição senhorial e nobre, sendo por isso, escassas e esparsas as escolas entendidas como tal, mesmo à escala desses tempos, mas sem deixaram de se verem aquém e além. Este sistema prolongou-se por diversos séculos, havendo ainda a acrescentar as invasões muçulmanas, que abalaram estes embriões de estruturas educativas. Mas o século XIII e o seu espírito renascentista acabam por provocar modificações profundas neste panorama. Aparecem as escolas das capelas e de corporações, estas últimas a converterem-se em autênticas escolas municipais (Monroe). Desta forma, poucas são, porém, antes dos fins do século XI, as escolas existentes. Destacam-se Braga, Alcobaça, e Coimbra, aqui a partir da ação do Mosteiro de Santa Cruz (1131) e do empenhamento, em concreto, do Rei D. Sancho I que chega a prestar auxílio monetário a alguns dos seus cónegos para se aperfeiçoarem nos seus estudos, em Paris. De fora, pelo menos aparentemente, estão os municípios, então incipientes, que veem os seus rapazes pobres frequentarem as escolas das catedrais, a partir da determinação do III Concílio de Latrão (1179) em que se advoga a existência de um mestre – escola em cada um dessas instituições com tal missão, como aconteceu com Moreira de Sá, magnister scholarum, com licença de ensinar, o que revela uma crescente profissionalização. Escusado será dizer-se que, no plano dos conteúdos, dos objetivos e dos curricula, em geral, não há qualquer possibilidade, nesta altura, de quaisquer interferências para além da Igreja, uma vez que é a única fonte de formação para os homens letrados de então, primeiro tendo em vista a vida eclesiástica e, posteriormente, para os demais fins seculares, pelo menos até cerca do século XII. Coube à religião cristã, entre o império romano e o renascimento, ser o esteio cultural, quase em exclusivo, muito embora se tivesse sentido alguns assomos de arabização, por ocasião das invasões muçulmanas, que não abalaram, no entanto, essa já enraizada estrutura, a sofrer apenas alguns contratempos regionalizados, designadamente em Córdova (Espanha), a partir do século X. Falámos atrás das Escolas Corporativas, o que é perfeitamente compreensível pelas exigências sociais e económicas que lhes estavam subjacentes. Se escapava à Igreja esse controle direto, em função do recrutamento de professores leigos, esta não se punha de fora de todo este processo, através da influência exercida em termos de fiscalização pelo scholasticus ou “outro funcionário episcopal” (Monroe). Não ficaram, porém, arredados da educação os municípios, ainda que lhe ficassem reservadas apenas funções de complementaridade, de crítica e protesto ou de reivindicação, como se pode ver, de seguida: Complementaridade – Colaboração com as corporações e as diversas autoridades civis e sobretudo eclesiásticas, para dotar as diversas terras de uma qualquer escola, por se reconhecer o atraso em relação a outros países europeus e ainda pelo entusiasmo crescente em redor da necessidade de novos conhecimentos e da própria generalização da cultura, à medida que se caminha em direção ao renascimento. Crítica, protesto e revindicação – Gama Barros, por exemplo, no século XV, com base nas Cortes de Santarém de 1434, indica que os concelhos se queixam de que o ofício de julgar esteja cometido aos ignorantes, sem saberem ler e escrever, o que implica um certo juízo de valor pela falta de escolas à altura, pelo que reclamam que não se possa ser juiz em lugares onde haja quem o saiba, numa alusão à existência de estabelecimentos de estabelecimentos de ensino a condizer. Contrariando a tendência centralizadora, no século XIV, o concelho de Coimbra opõe-se ao Conservador do Estado, em vão. Mas, em 1374, vê atendida esta pretensão por parte do monarca. São de tipo diverso, como se vê, as solicitações municipais, que ora se confundem com o pedido de novas escolas, ora com a necessidade de evitar a instalação de outras, como aconteceu com Torres Vedras, aquando da possível localização da Universidade nessa cidade, com as autoridades municipais a fazerem ouvir a sua voz. Também em Évora, a Câmara, com o objetivo de apoiar a formação escolar, propõe uma tença de 3 500 réis anuais dada a uma “bacheler”, que ensinava os filhos dos homens boons, quantia que foi objeto de negociações com o corredor da corte, a situar-se, finalmente, em 3000 réis. Confirma-se assim, no âmbito do ensino local e particular, a ação dos municípios, designadamente em meios rurais. 3.3. Renascimento A época medieval, com o advento da nacionalidade, viu constituírem-se os primeiros municípios, em virtude da atribuição das cartas de forall, tantas vezes numa medida régia que pretendia pôr em causa o crescente poder senhorial. Estariam assim criadas as possibilidades para que a autonomia municipal se concretizasse no sector do ensino, o que só não aconteceu significativamente, devido à força tentacular que a Igreja detinha em tudo quanto fosse educação. Mas os movimentos surgidos, sobretudo na península Itálica, não deixaram de alastrar para esta zona da Europa e de influenciar os procedimentos a tomar nos diversos sectores, a incluir o domínio que estamos a tratar. Com a emergência de novos valores, face àqueles que vigoraram em toda a Idade Média, a sua implicação na escola não se fez esperar, a diversos níveis: - Objeto do pensamento intelectual Grego e Romano; - Subjetividade das emoções; - O mundo físico. Entra-se assim numa fase de contestação do aristotelismo e da escolástica, sobretudo a partir da ação encetada por Petrarca (1304-1374). Caminha-se para o desenvolvimento de uma personalidade moral livre, a implicar uma educação liberal, de tal modo que “a vitória das ideias humanistas em educação se deu, em primeiro lugar, nas instituições educativas existentes, principalmente nas universidades, e nas escolas municipais recentemente fundadas” (Monroe), em fase de crescente desenvolvimento. Na obra deste autor, alude-se concretamente às furstenshulen (?), escolas para príncipes, a contraporem-se aos ginásios, estes controlados pelos municípios, enquanto aqueles dependiam diretamente das cortes. Estes ginásios tiveram a sua origem, nos países teutónicos, na transformação das escolas superiores municipais ou das escolas eclesiásticas que até aí vigoravam. Assim, em 1485, a escola municipal de Nuremberg abarca essas novas influências humanistas, enquanto outros desses estabelecimentos de ensino operam a sua própria transformação. Posteriormente, o avanço da Reforma e uma organização mais centralista, por parte do Estado, levam à sua decadência em favor da ligação a esses mesmos poderes centrais, o que se vem a notar, particularmente, nos países anglo-saxónicos, com exceção das colónias americanas onde o modelo das escolas públicas inglesas veio a ser adotada, mas sob a dependência, entre outras tutelas, das cidades locais. Este movimento humanista, por volta do século XV, irradia também para Portugal, a provocar uma “operação de transformação profunda com abalos da vida mental dos homens” (Carvalho, 1985), levando à aplicação de um novo conceito de cultura e de escolas, deixando esta de deter a exclusividade do saber, devido ao facto de a aprendizagem se passar a fazer também em regime particular. Vive-se o tempo dos reinados de D. João II e D. Manuel, sendo visível um forte pendor centralista, com D. Manuel a contrariar a tendência autonomista e municipalista de seus antecessores, avocação de cartas e documentos de constituição municipal (Gordo). D. Manuel, nesta fase de uma continuada ânsia de saber, incrementa a formação no estrangeiro de estudantes portugueses, designadamente Diogo de Gouveia. A todo este novo quadro cultural não é estranho, antes pelo contrário, o facto de se ter inventado a imprensa, movimento que vem a culminar, com D. João III, numa reforma do ensino, solicitando-se ao passado que trate de interessar-se apenas pelos assuntos espirituais. Mas é durante esta acção reformadora que se destaca, na esfera da informação do poder municipal, uma polémica em volta de transferência da Universidade de Coimbra, com Torres Vedras, como vimos atrás a tomar uma posição contra a sua ida para essa zona, pela voz de “os vereadores, o procurador e os homens bons a negarem-se à satisfação do pedido em virtude das necessidades e da pobreza da sua vila… pelo que pedem por mercê a V. Alteza a haja por bem o estudo se mudar para outra parte” (Carvalho, 1985). Aproveitando esta recusa, a vereação da Coimbra apresenta, de novo, a candidatura ganhadora daquela cidade. Com o fim do trivium e do quadrivium, no decurso da citada reforma, inicia-se uma nova fase do ensino em Portugal, aquela que tem por base a criação de dois tipos de cursos: - Curso Básico, em três ciclos, com humanidades, artes e filosofia; -Curso Superior. Era o renascimento a impor-se e uma nova época a despontar. 3.4. Os Jesuítas e a sua Época O aparecimento em força as jesuítas no ensino e na vida social não foi obra do mero acaso, antes resultou de condições estruturais relacionadas com o processo da Reforma e, mais concretamente, da resposta encontrada pelo mundo católico, na sequência do Concílio de Trento (1545-1562), que deu pelo nome de Contra – Reforma. Ao recuar-se um pouco mais, poder-se-á encontrar um fio condutor e progressivo em toda esta caminhada que pôs fim, temporariamente, ao domínio da Igreja em toda a educação, como se viu quando analisámos a Época Medieval: começou-se pelo Renascimento e suas variantes locais, prosseguir-se-á pela Reforma e só não se generalizará, por todo o lado, devido à entrada em acção desse poderoso instrumento pedagógico da Contra – Reforma que foram os Jesuítas. Com estas transformações, sairão diminuídos os ainda débeis poderes dos municípios na área da educação, porque o seu novo enquadramento temático e organizativo passa a estar estreitamente sob a alçada da Companhia de Jesus. Se a Reforma tendera a aplicar a ideia de uma educação comum para todos, com o Estado a assenhorear-se do sistema de escolas públicas, a par da família tida como instituição educativa (Lutero), a Contra – Reforma, com particular incidência em Portugal, visará ainda mais a centralidade educativa, agora sob o domínio Jesuítico. Com Lutero, o estado tinha “o dever de obrigar os seus súbditos a enviar seus filhos à escola”, tese defendida e aplicada por Filipe Melanchthon (1479 – 1560) na Alemanha. Com os Jesuítas, através da pregação, da confissão e do ensino, criou-se um operante sistema escolar que dominou parte da Europa durante cerca de dois séculos, alicerçando-se numa rígida organização e continuidade administrativa, num respeito absoluto pela autoridade. A Contra – Reforma impôs, assim, os seus desígnios. Criada por Santo Inácio de Loiola, com o apoio em personalidades de grande vulto, como o Pe. Simão Rodrigues de Azevedo, natural de Vouzela, é em 1551 que o seu fundador, em carta enviada precisamente ao Pe. Simão, propõe um “vastíssimo plano de educação e de ensino, estendido a todos os lugares onde a Companhia se ia estabelecendo, para destaque para Évora e Lisboa” (Carvalho, 1985). Obtidas as boas graças da Corte, que, aliás, estivera na génese da sua fixação em Portugal, fácil se tornou o exercício duma influência eficaz e duradoura em todo o ensino, a começar pelo Colégio das Artes (Coimbra) e a estender-se a outros vastos domínios, precisamente pela força das suas convicções quanto à importância social da educação e do ensino. Não foi, pacífica a sua preponderância, a avaliar pela reacção encetada pela Universidade de Coimbra, por um lado, e por outros sectores da sociedade Portugal. Assim, de uma forma indireta, a Câmara de Évora, em posição que reflete o mal-estar reinante naquele município, expôs claramente a sua discordância com a Universidade, o que equivale a dizer-se que questiona a própria Companhia de Jesus, a partir da seguinte contestação: “Lembram a V. Majestade que convém a seu serviço e conservação daquelas comarcas do Alentejo extinguir-se a dita Universidade, porque não somente não é de proveito ao reino mas antes tem mostrado a experiência os grandes danos, que se seguem de a haver, porque que com a comodidade dela se dá ao estudo a gente que havia de lavrar as herdades” (Carvalho, 1985). Sob a capa de manutenção das gentes do campo, lê-se neste documento o descontentamento com a acção da Companhia, que responde a esta crítica com um outro argumento: a necessidade de se pôr termo às mais de quatrocentas escolas particulares, sinal revelador de que ainda não tinha ido tão longe quanto pretendia. Com o seu Ratio Studiorum, constante da parte IV das respetivas Constituições, a vigorar até 1832, nem o domínio filipino chegou a arrefecer os âmbitos dos Jesuítas, que aproveitaram a oportunidade para aumentar, ainda mais, a sua área de influência, de modo a cobrir o todo nacional e as outras partes do mundo português de então, com as suas duas classes de escolas: os colégios inferiores e superiores. É notório, no entanto, a pouca atenção dadas à educação elementar e de massas, com a sua preocupação de formar líderes, de ordem religiosa e intelectual, aptos a veicularem os seus valores, o maior dos seus trunfos e a melhor alavanca para a difusão de suas ideias. Foi, talvez, pela educação elementar que entraram os demais protagonistas, nomeadamente os municípios, mas a parte mais relevante ficou, sem dúvida, pelo sucesso do seu trabalho, para a Campanha de Jesus, apesar da oposição aos novos ideais do renascimento. Durante os tempos finais do século XVI e a primeira metade da centúria seguinte, não pode esquecer-se no nosso país a influência Castelhana, a procurar “corrigir abusos existentes na administração municipal” (Serrão), mas não deixou de se sentir a ligação das Câmaras ao ensino, responsáveis então pela manutenção dos estabelecimentos das primeiras letras, com a vereação de Lisboa, por exemplo, a cuidar de arranjar mestres capazes para evitar que “semeiem má doutrina em escolas de meninos” (Serrão) ). Curiosamente, é no período da Restauração que sai afectada a autonomia municipal, a passar, no limite, pela nomeação de vereadores régios, mas sem estiolar, de vez. Vila Franca de Xira, para garantir a permanência de um mestre de gramática, faz sair dos bens de raiz do concelho a quantia de 30 000 réis por ano. 3.5. O século XVIII e o Absolutismo Com o avanço da Companhia de Jesus e o seu peso crescente, não foram de feição os tempos para os municípios apostarem na educação, tal como vai acontecer durante o domínio do absolutismo, quer na época em que conviveu com os Jesuítas (reinado de D. João V), quer após a sua expulsão (D. José I, sob a acção determinada do Marquês de Pombal). Na realidade, de feição e práticas descentralizadas, o municipalismo, com excepção de uma ou outra acção ou tomada de posição esporádicas, não lograra ainda marcar o ritmo dos acontecimentos. E vai ter dificuldade em fazê-lo durante todo este espaço de tempo, que se prolonga até meados do século XIX. Em sede de reformas educativas, incidiremos especialmente, neste capítulo, no contributo dado por Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal. Mas não podemos deixar de falar, ainda que sumariamente, nos vários antecedentes, todos eles, porém, a indiciarem o advento do absolutismo e do despotismo iluminado. Antes de mais, convém recordar o papel de Descartes, enquanto agente fortemente crítico, pelo seu método, da Companhia de Jesus; a criação de academias e o aparecimento de publicações periódicas científicas. Mas não é de esquecer-se dois novos e activos protagonistas na área do ensino: - A ordem dos Clérigos de S. Caetano - A Congregação do Oratório de S. Filipe Nery, esta a opor-se, com vigor e determinação, às teses jesuíticas. Pelo caminho desbravado, pode-se afirmar que se constituíram em precursoras das reformas pombalinas, pelo seu ascendente na vida portuguesa, pela sua aceitação do cartesianismo, a juntarem-se a um outro, Luís António Verney (1713 – 1792). Com o suporte com os diversos iluministas estrangeirados, de que Luís António Verney é um dos expoentes, o Marquês de Pombal passa a munir-se dos mecanismos que lhe vêm a permitir a implementação de uma verdadeira reforma do ensino em Portugal. É por demais evidente que o sentido destas alterações contraria qualquer visão municipalista, apesar de Luís António Verney bastante ter reflectido em torno das chamadas escolas baixas, de Manuel Andrade de Figueiredo ter aflorado numa nova escola para aprender a ler, escrever e a contar e de António Nunes Ribeiro Sanches (1699 – 1782), nas suas “Cartas sobre educação da mocidade”, explanar uma teoria geral da educação, desde a primária à universidade, mas apenas com escolas a partir das vilas para cima. Feito o diagnóstico da situação e encontrado, na versão pombalina, o cerne do problema, uma das primeiras medidas deste ministro de D. José I foi expulsar os Jesuítas, o que aconteceu em 12 de Janeiro de 1759, criando nesse mesmo ano a figura do Diretor-Geral dos Estudos, como responsável máximo no que se consagra no Alvará referente ao ensino. Cronologias das medidas Pombalinas Com uma visão estratégica destas questões, o Marquês de Pombal lançou mão de um sistema de acompanhamento e implementação da reforma, bem patente na criação da Direção-Geral dos Estudos e, mais ainda, na Real Mesa Censória, muito embora os seus objetivos em vista tenham sido também de outra índole. Tanto assim é que, no ano de 1772, a Real Mesa Censória, a par do “Mapa dos professores e mestres das escolas menores e das terras em que se acham estabelecidas as suas aulas e escolas neste reino de Portugal e seus domínios”, elabora um documento em que se constata a ineficácia da anterior Direção-Geral dos Estudos e se advoga a necessidade de recorrer a novas providências. Tal como defende Joaquim Ferreira Gomes, ao dizer que a “História da Educação deve ocupar-se fundamentalmente de três grandes problemas”, (Estudos para a história da educação no século no século XIX, Livraria Almedina – Coimbra, 1980). Pombal deixou suficiente matéria para o preenchimento desses três requisitos: 1. Ideias e ideais educativos – Oposição cerrada à escolástica jesuítica, tentativa de construir um homem novo, sob a dupla tutela da autoridade sagrada da igreja, numa visão oratoriana, e do poder real. 2. Métodos e técnicas – Aplicação da perspetiva veiculada por Luís António Verney. Necessidades de os professores concorrentes prestarem provas de competência. Até ao século XVII, jamais qualquer país criara uma instituição de natureza pedagógica ou científica para a formação de professores. 3. Instituição educativa – Direção-Geral dos Estudos, Colégio dos Nobres, um novo ensino primário, uma nova universidade. Se a Igreja mantém o seu peso específico, o estudo começa de esboçar o seu poderio educativo, um pouco como diz João Barroso, na divisão estabelecida para o tempo que vai do século XVI em diante: - A tutela da Igreja prolongar-se-ia pelos séculos XVI a XVIII, enquanto que os séculos XIX e XX seriam do domínio do Estado, o que se aceita, neste caso, apenas parcialmente. Com Pombal, as medidas tomadas têm uma perspetiva sistemática e não apenas programática, na aplicação de um pensamento unitário. Trata-se de um iluminismo aplicado à realidade local, sem pôr de parte a citada influência dos estrangeiros, agentes de uma metodologia renovadora. De contornos nitidamente centralizados, chega a impor-se que todas as escolas públicas ou privadas tenham de se sujeitar a licenças régias, tendência que se vem a atenuar com D. Maria I, nas respetivas Ordenações do Reino. É a oposição à política pombalina a afirmar-se, em tempo de viragem e tanto assim é que, em 16 de Agosto de 1779, o ensino passa a confiar-se aos conventos, em muitos locais, indo-se até à ideia de propor às comarcas (28 de Agosto de 1793) que indiquem novos projetos, em sinais de clara abertura, prenunciadora de novos tempos, com a pujança das Academias e a germinação do liberalismo. 3.6. O Liberalismo O liberalismo em Portugal não ficou imune às influências exteriores, até porque, na sua génese, podemos encontrar reminiscências da revolução francesa e sopros de novos tempos, numa inspiração claramente iluminista, que via no ensino uma alavanca para regenerar a sociedade, uma forma de acesso à cidadania. Com o renascimento, a escola fervilhara, mercê da nova conceção do homem e da sociedade. Mas é nesta época que se dão as maiores transformações, numa lógica sequência temporal e uma interligação de factores, que confluem, no império da razão, no despontar de uma autêntica reforma educativa, no campo dos princípios e da sua organização. É este o campo que nos interessa, para vermos até que ponto os municípios passam a ter, de uma forma mais regular, uma maior implicação no sistema de ensino, quando, na realidade, se pode falar de um sector com uma crescente autonomia, na vida das sociedades. Demarcando-se, da esfera religiosa, adquire contornos próprios, logra beneficiar da acção das academias e de outras agremiações da cultura, frequentemente por estímulos de interesse local, a ponto de Rafael Ávila de Azevedo enumerar, apenas nos anos de 1821 a 1823, mais de cento e sessenta pedidos para a criação de escolas de primeiras letras. Vive-se no liberalismo uma espécie de renascimento do poder municipal, sobretudo a partir de 1834, muito embora não se possa generalizar esta tese, pelos hiatos encontrados ao longo dos tempos. Continua... Carlos Tavares Rodrigues, anos 90, século XX, em forma de dissertação, não discutida, na Faculdade de Psicolologia e Ciências da Educação, de Lisboa, sob a orientação do Professor Albano Estrela.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Autor vouzelense com peças de teatro...

O teatro como forma de expressar sentimentos “ A inauguração”, uma peça de Luís Valgode de Moraes Carvalho CR Com raízes em Vouzela, Luís Valgode de Moraes Carvalho, entre muitas facetas de sua vida, como a de militar, dedicou-se também à escrita de peças teatrais. Uma delas, “ O tributo das donzelas(1962)” deu brado nesta vila e ficou para sempre na memória daqueles que a levaram a palco e de quem a viu e escutou. Numa obra diversificada, anotam-se ainda “A moira do Castelo”, “O sofá encarnado”, os “Botões brancos” e “A inauguração” de que nos ocuparemos já de seguida. Tendo iniciado este seu contributo literário em 1962, passou por África, concretamente por Moçambique, ao serviço das forças armadas, mas também não deixou de viajar pela Europa e até pela Ásia. Na contextualização da citada obra. “ A inauguração”, dela escreve no livro em questão Serafim Lobo, seu ex-colega de Liceu, que se trata da descrição de “... um ambiente rústico, com formal equilíbrio... “, numa “... intriga, bem debuxada, de linhas sóbrias, depois de aludir ao comércio interdito e vincar o triunfo amoral de um emigrante, que um remorso tardio calcina e mata, tem o desfecho próprio... “. Foi mesmo este tema da emigração que nos abriu o apetite para este comentário jornalístico. Como que a dar o mote para o que se iria passar nesta peça de teatro, Luís Valgode de Moraes Carvalho diz-nos que tudo nasceu a partir de uma sua caçada na Serra de Monforte, à beira da Espanha, e da pernoita num lugarejo que mostrava ter pouco de tudo. Esse foi o rastilho para o que surgiu em papel. Entre a dúzia de personagens, retratemos o Manuel da Eira, o brasileiro, feito Comendador, em “vidas” que se desenrolaram em inícios do século XX. Numa altura, então, em que a emigração para o Brasil era uma constante, levando milhares de portugueses para aquelas terras, fácil lhe foi caracterizar o papel deste cidadão que tinha ido e vindo, mais tarde, como é óbvio, com um razoável pé de meia. Foi com estes cobres que ali se tornou famoso, isto em teatro, bem se vê. Constatado o facto de por aquelas zonas ter havido o costume de se desfazerem dos mortos de qualquer maneira, levando-os para longe, cemitério da vila, logo ali a malta da aldeia tratou de pedir ao brasileiro que os ajudasse a construir uma igreja e mesmo um cemitério. Conhecendo-o como alguém que empresta dinheiro, mas a altos juros, descobre-se que nele há massa e em barda, razão pela qual estes pedidos faziam todo o sentido... Entra aqui o Sousa que grita para os colegas de conversa: “ O brasileiro vem aí. Já tem autorização para se construir o cemitério. O Governador Civil até lhe disse que era um lindo gesto pagar todas as despesas... “. E assim o fez: “... Deu um ror de dinheiro àquela gente toda e agora é o Senhor Comendador... “ Por entre favores e negociatas, incluindo a de abrir a porta para outros emigrantes a troco de dinheiro, o Comendador chega a ser apelidado de interesseiro e tudo isto em zona de contrabandistas. Com os trabalhos em plena marcha, adoentado, o brasileiro desabafa o seu sentimento de que, mesmo tendo pago tudo aquilo, não querer ser o primeiro a fazer a respectiva inauguração como utente. A páginas tantas, em horas de aflição, fala nos tormentos que viveu, porque “... Tive de ir trabalhar para o Amazonas, as piores terras do Brasil, para as florestas, para a selva, onde se tira a borracha das árvores, onde só há febres e muito trabalho... “. Nota: este relato encaixa que nem uma luva no livro de contos e memórias “ A selva” de Ferreira de Castro, o que torna mais verosímil todo o enredo da peça e a maestria do seu autor, o nosso conterrâneo de Vouzela. Para se inaugurar o cemitério, andou o brasileiro às voltas para ver se se arranjava um defunto. Não tendo este aparecido, simulou-se um enterro com uma urna cheia de pedras. O certo é que, para mal dos seus pecados, brevemente o Comendador vem a falecer e vai ser dos primeiros a ir para a “casa” que ajudou a construir, num azar dos azares. Com este poder imaginativo, este nosso autor mostra-nos a glória e a queda de um emigrante que procurou fazer vida lá longe, em Manaus e arredores. Triste sina essa, de ontem e de hoje. O Tributo das Donzelas Nos jornais “Notícias de Vouzela” dos dias 16 de Setembro e 1 de Outubro de 1962 fazia-se referência a esta peça, que “Constituiu assinalável êxito”, com um enorme “brilhantismo atingido por esta realização simples de amadores, ensaiada em poucas semanas e apresentada, ante grande expectativa, no sábado, 22 de Setembro”, no cenário natural do Jardim D. Duarte de Almeida. Tendo nela participado um vasto elenco, como se pode ver na fotografia, algumas das pessoas que nela intervieram ainda estão connosco, como o Alberto Correia, o Manuel Tavares e tantos outros e outras, tudo isto fruto da imaginação e criatividade de Luís Valgode de Moraes Carvalho, que aqui se recorda, uma vez mais... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Fev 2021

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

A caminho do fim do terror...

260 e 1540. Dois números, duas tragédias, a de mortes por Covid 19 e a de novos infectados, de acordo com as notícias de hoje, 2 de Fevereiro de 2021. São ainda sinais da dureza desta doença que atingiu praticamente todo o mundo, mas transportam - e é isso que desejamos acreditar - já um pouco de esperança, porque algo distantes, para baixo e para melhor, dos valores de há ainda poucos dias. Se estes dados forem consistentes, se todos formos responsáveis, isto começa de abrandar. Que assim seja. Entretanto, no meio de tudo quanto faz com que os nossos dias sejam negros, aparecem por aí exemplos de tudo quanto não deve, nem pode ser feito. O que se está a passar com as vacinas, um bem essencial para todos nós, um pão para a boca de quem dele necessita, não tem qualquer explicação plausível. Este furar do sistema a cada esquina é a face pior que podemos mostrar ao mundo e azeda mesmo o nosso bem-estar e a crença nas instituições, que assim sai minada e debilitada. Quem nos governa tem de arrepiar caminho e o Presidente da Taskforce não pode, nem deve, repito, entrar em discurso por domínios que têm de estar arredados deste combate em favor da nossa saúde. Misturar esta, que tão em baixo anda com política, é de um mau gosto atroz. Merece a minha humilde condenação. Posto isto, como diz o nosso conterrâneo de Viseu, Henrique Veiga-Fernandes, ilustre cientista da Fundação Champalimaud, vacinar, vacinar, vacinar é preciso. Mas com regras e com ética. Com muita ética...