sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Notas e achegas para situar o Mosteiro de S. Cristóvão de Lafões na história

Acrescentar verdade à verdade histórica As origens da Ordem de Cister em S. Cristóvão de Lafões Na revista “História –JN”, do passado mês de Agosto, Joel Cleto, um grande sabedor e conhecedor dos factos e realidades que antecederam os nossos dias, ofereceu-nos umas boas páginas de referências à Ordem de Cister, inscritas na sua “Rota dos monges brancos”, os cistercienses, que em São Cristóvão de Lafões se instalaram logo no início da sua vinda para Portugal. No entanto, situando-se na zona de Tarouca e concelhos limítrofes, por aí se ficou, ainda que tenha pegado em duas ou três linhas para falar de Alcobaça e Santa Maria do Bouro. Concordando com a sua fundamentação e enquadramento, temos de confessar que não o acompanhamos numa de suas conclusões, esta que vamos citar”... Nestas páginas propomos ao leitor um percurso relativamente circunscrito a um território da Beira Alta, não muito longe das margens do Douro. Um percurso que nos levará do mais antigo mosteiro de Cister até... ao mais recente ... (com) início em S. João de Tarouca, fundado em 1140... “ Entra aqui a nossa visão contestatária, apoiando-nos em também outra conceituada historiadora, Maria Alegria Marques, nos seus “Estudos sobre a Ordem de Cister em Portugal, Colibri, FLUCoimbra, 2008”. Começa assim parte do seu racicínio: “ Quanto a nós, o primeiro grande problema relativo à presença de Cister em Portugal liga-se com os mosteiros de S. Cristóvão de Lafões e S. João de Tarouca. Ambos fundações anteriores (como os seus próprios nomes indicam), de tipo eremítico, a qual deles cabe a primazia de ter albergado os primeiros monges brancos em Portugal?” Alude, depois, a uma série de dúvidas e socorre-se de D. Rodrigo da Cunha, que situa S. Cristóvão de Lafões no ano de 1138, data que pensa ser o da passagem para a Ordem de Cister. Se assim é, antecipa-se então a 1140 e 1144. Associa estes monges à figura de João Cirita, o eremita, que ali vivia desde tempos anteriores. No que se refere aos anos 40, afirma que “... entendemos pertinente considerar alguns aspectos que, a nosso ver, obrigam a reposicionar a questão da prioridade de Lafões ou Tarouca no movimento cisterciense em Portugal... “ Sendo este apenas um pormenor, que não retira uma vírgula à importância e relevância que esta Ordem teve na nossa sociedade, nem às instituições em causa, trazê-lo aqui ao palco da discussão tem apenas, na nossa mente, a intenção de aclarar posições e valorizar o que é de valorizar, a fim de que se não persista no erro, eternamente. Como somos lafonenses, esta matéria só por nós é retomada por gostarmos de enfatizar aquilo que é nosso e nos pertence a partir da voz de quem se debruçou sobre estes temas. Entre uma boa série de argumentos, anota mais este: “... Com esta interpretação se coaduna também o documento de Outubro de 1137, pela qual o rei dos Portugueses havia coutado a igreja de S. Cristóvão de Lafões ao prior João Cirita e aos eremitas que aí habitavam . Em dois anos (1137-1139), João Cirita passava de prior a abade e a igreja de S. Cristóvão de Lafões de centro de vida eremítica a mosteiro de S. Bento pela nova reforma, isto é, a Ordem de Cister, por iniciativa de João Cirita e licença do rei de Portugal... “ Neste processo fundacional, destaca-se ainda D. João Peculiar, “personalidade afecta ao Rei... um homem culto, viajado, ligado já a um movimento (Santa Cruz de Coimbra), de raiz estrangeira. Aproveita esta historiadora para dar conta dos mosteiros masculinos cistercienses em Portugal nos séculos XII e XIII, por esta ordem cronológica: S. Cristóvão de Lafões, 1138; S. João de Tarouca – 1144; Santiago de Sever – 1141 e /ou 1143-1144; Santa Maria de Alcobaça – 1153; Santa Maria de Maceira-Dão – 1154; Santa Maria de Salzeda – 1156; S. Pedro das Águias – c. 1170; Santa Maria de Aguiar – 1170; Santa Maria de Tomarães – 1172; Santa Maria de Seiça – 1175; Santa Maria de Fiães – 1173; Freires de Évora – 1176; Santa Maria da Estrela – 1220; S. Paulo de Almaziva – 1221; Santa Maria de Júnias – 1247; Santa Maria de Ermelo – a. 1271. A talhe de foice, inclui também os femininos de S. Mamede de Lorvão, Santa Maria de Celas, S. Pedro de Arouca, Santa Maria de Cós, S. Salvador das Bouças, S. Bento de Castris, Santa Maria de Almoster e S. Dinis de Odivelas, todos estes já do século XIII. Sem querermos tirar o mérito ao trabalho de Joel Cleto, quisemos dar estas achegas por as vermos como relevantes, em certa medida, para o conhecimento deste capítulo da nossa História. Com a origem em Lafões ou em Tarouca, talvez isto pouco interesse. Talvez. Por uma questão sentimental, não quisemos, porém, perder a oportunidade de dar o seu a seu dono, ainda que seja coisa pouca... Um abraço ao Joel Cleto por nos ter aberto o apetite por esta espécie de discussão. Carlos Rodrigues, in Notícias de Lafões, set19

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