quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Recordar um amigo e um Homem da cultura de Lafões

Recordando para sempre o Dr. António Nazaré Oliveira Carlos Rodrigues Lafões perdeu há dias, infelizmente, uma de suas notáveis figuras, que se dedicou ao ensino e à investigação durante toda a sua longa e profícua vida: o Dr. António Nazaré de Oliveira, que tivemos o prazer de conhecer e com ele conviver por diversas vezes e em várias circunstâncias, quase sempre relacionadas com estas questões da história e da cultura lafonenses. Nascido em S. Pedro do Sul no ano de 1929, deixou-nos nos inícios deste ano de 2023. Fica-nos a sua memória e riquíssimo legado. Muito obrigado, Amigo, por tudo quanto fez por Lafões. Licenciado em “ Histórico-Filosóficas”, quando estas duas áreas do saber andavam de mãos dadas, iniciou as suas funções docentes no antigo e extinto Colégio S. Tomás de Aquino, em S. Pedro do Sul, que havia sido fundado em 1949. Se nesta Casa vincou já a sua marca, mais tarde, em Viseu, viria a ser um dos fundadores e director do Colégio de Santo Agostinho durante anos. Por um e outro destes estabelecimentos de ensino passaram muitos nossos ilustres conterrâneos, sendo que no Santo Agostinho, por exemplo, estudou Fradique de Melo Bandeira de Melo e Meneses, com origens em Fataunços (cuja casa de família está hoje destinada ao turismo rural), e que veio a ser Presidente da República de S. Tomé e Príncipe. Se este foi um pormenor aqui encaixado, é do Dr. António Nazaré Oliveira que queremos falar e com todo o propósito, por seu merecidíssimo mérito e porque importa que não esqueçamos quem assim por aqui se destacou, como, aliás, o seu Município realçou em sentida nota de pesar. No seu rico curriculum, é de relevar-se ainda a sua passagem pela criação e instalação da Escola Preparatória D. João Peculiar na sua terra, que dirigiu nos primeiros tempos da sua complicada e atribulada entrada em cena, como confessou nas cerimónias dos 50 anos desta mesma escola. Como que atirado às feras, nesse ano de 1971, teve de fazer quase morcelas sem sangue. Conseguido o edifício (hoje CCAM ), faltava-lhe tudo, desde os professores ao dinheiro para o aquecimento e outros aspectos. Alegou mesmo que pagou do seu bolso a colocação do respectivo telefone. Para criar o necessário corpo docente, socorreu-se dos seus conhecimentos e foi à pesca onde sentia que poderia ser bem sucedido, tendo, inclusivamente, saído da sua área de influência e conforto para bater à porta, por exemplo, de um amigo em Oliveira de Frades, o Professor Manuel Martinho. Improvisando tudo, até a cantina passou por esse expediente bem português do “desenrascanso”. E lá se safou e bem, pelo que se sabe… Num outro cinquentenário, o do Colégio S. Tomás de Aquino, em 1999, não deixou de confessar o seu orgulho por ter pertencido ao seu corpo docente de que, nessa cerimónia, confessou com tristeza ser então o último professor ali presente de quantos com ele participaram na respectiva docência. A par destas actividades escolares, uma de suas facetas mais notáveis, para nós, foi o facto de se ter dedicado com afinco, vontade e rigor à investigação histórica e cultural de Lafões e também à produção literária com seus contos. Devemos-lhe uma série enorme de trabalhos que muito têm contribuído para que conheçamos melhor o nosso passado e os contextos em que temos vindo a viver. Começou logo com o seu “Lafões – subsídios para a sua história”, obra em que explanou muito do que descobriu de cada concelho, com mais extensão e atenção (compreensíveis ) para o seu S. Pedro do Sul. Debruçou-se a fundo ainda sobre a vida de D. Duarte de Almeida, alargando as suas lides em investigação à assistência social nesta nossa região, desde Reigoso a tantas outras localidades, incidindo, muito particularmente, nas Termas de S. Pedro do Sul, terra a que dedicou um livro inteiro com mais de 220 páginas. Sempre com uma palavra sábia, a memória do Dr. António Nazaré de Oliveira não se pode resumir a estas curtas linhas. Nunca. Tudo isto é pouco, pouquíssimo mesmo, para o evocar devidamente. Sendo um modesto contributo, ele aqui se regista com um imenso pesar e muita saudade. Até um dia, Amigo… In “Notícias de Lafões”, Fev 2023

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