sábado, 28 de janeiro de 2023

Dizem que Viseu vai ter comboio de alta velocidade, mas não se sabe quando...

Comboio em Viseu talvez daqui a décadas CR Se tudo correr como foi ventilado pelas últimas promessas dos finais do ano de 2022, aqui há uns dias, a nossa capital do distrito, Viseu, vai voltar a ter a vinda e a passagem de comboios até ao ano de 2050, em meados do século que estamos a viver. Que eternidade, meus Senhores! No entanto, é isso que temos em cima da mesa. Falamos, hoje, para daqui a duas gerações mais coisa, menos coisa. Dito de outro modo, registamos estas reflexões com a noção clara (Deus queira que nos enganemos!) de que não vemos ter contacto com essa realidade. Uma tristeza, meus Senhores!... No entanto, desde 1890, esta nossa cidade andou de mãos dadas com os vagões e as máquinas ferroviárias , quando a Linha do Dão, vinda de Santa Comba Dão, ali trouxe esses trambolhos dos carris de ferro. Décadas depois, no dia 5 de Setembro de 1913, uma outra via, a nossa do Vouga, ali chegou para, juntas, se unirem, anos a fio, em partidas e chegadas sem fim. Pelo meio, por ali se viveram viagens em malas de cartão para quatro guerras, duas delas mundiais, as de 1914-1918 e 1939/1945, a que temos de acrescentar a Guerra Civil Espanhola e a nossa bem portuguesa Guerra do Ultramar. Junta-se a todos estes fenómenos bélicos a triste sina do nosso êxodo para a Europa aí pelos anos 50, 60 e 70 do milénio anterior. Estação a estação, apeadeiro a apeadeiro quantas lágrimas salgadas do nosso Portugal por aqueles troços se derramaram!... Um dia, sem respeito por esta nossa história colectiva, em 1990, todos estes ciclos se fecharam. Morreram os comboios a vapor, faleceram as automotoras, quedaram-se os autocarros “ferroviários”entre as cidades de Viseu/Porto e Aveiro e tudo partiu para sempre. Das Linhas do Vouga e do Dão, apenas restam uma parte dos seus troços, agora convertidos, valha-nos isso, em ecopistas, uma nova moda de fazer turismo enquanto as vacas gordas connosco viverem. E quem dera que por muitos anos!... Com o Plano Ferroviário Nacional a contemplar uma série de melhoria das antigas vias e a construção de novas, ali se fala numa ligação em alta velocidade entre Aveiro e a Espanha, com passagens por Viseu e pela Guarda, a ponto de a distância entre as cidades de Lisboa a Madrid e Porto a essa mesma cidade ser vencida em três horas, um enorme ganho em tempo e em comodidade. Acrescenta-se que este tipo de projectos visa concorrer com a aviação e com as circulações rodoviárias. Em termos de panorama global, a dita alta velocidade vai atingir as dez maiores cidades do país com ligação ao país vizinho, o que para Fernando Ruas, Presidente da Câmara Municipal de Viseu e da nossa CIM, é um bom prenúncio porque a capital do nosso distrito está englobada nesse pacote de localidades. Daí que, quanto a este ponto, tenha manifestado a sua concordância e até um certo regozijo. Contesta é o prazo apontado para 2050. Considera – disse-nos – que podiam e deviam dar-lhe outra oportunidade mais próxima da actualidade. Se for aquele o limite estabelecido e esticado até ao fim, o comboio chegará tarde demais a Viseu, só lá para as calendas gregas. Tendo vindo a levantar a sua voz em diversas situações e contextos, pede mesmo à sociedade civil e política que se mobilize em torno desta causa fundamental para o futuro colectivo de todos nós e das gerações vindouras. A Câmara a que preside vai tomar posição pública nesse sentido e porá na CIM esse mesmo tema para uma acção em conjunto dos municípios que a constituem. Lança uma farpa a quem nos governa e a quem, no distrito, representa, de certa forma, parte da maioria que sustenta o poder executivo. Aliás – acrescentou – em diversas ocasiões ouviu das entidades governamentais que esta é uma promessa para cumprir. Como no Plano em causa há outras hipóteses, Fernando Ruas considera totalmente legítimo que, por exemplo, Trás-os- Montes se esteja a movimentar no sentido de lutar pela passagem de uma via pelo seu território. Aceita, de bom grado, que isso venha a acontecer, mas nunca à custa da solução Aveiro/Viseu/Guarda/Espanha. Isso, categoricamente, nunca. Constituindo nós um vasto território em zona desfavorecida, é mais do que justo que o comboio de alta velocidade nos venha a atingir favoravelmente e quando antes, frisou. Para mostrar quanto Viseu reclama este investimento, o PDM já lhe consagrou um espaço para estação (Repeses) e o respectivo corredor ferroviário. Com este instrumento legislativo local e outros de nível mais elevado, em termos de gestão do território, como o PNPOT, não será por falta de visão estratégica que ficaremos sem carris e sem comboio. Falta, no entanto, o melhor: ver a obra a andar… Como não podemos passar mais de 10 000 e duzentas noites a sonharmos com este meio de transporte, deseja-se que ele apareça já num amanhã bem mais próximo. Sendo um acto de justiça, é um direito das nossas gentes e uma espécie de compensação por tanto que temos perdido ao longo dos tempos… Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Janeiro 2023

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