quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Assistência social em Lafões e noutras paragens

Até a assistência social tem um tempo para renascer sempre CR Nesta quadra de evocações sociais mais acentuadas, que o Natal faz despontar em cada ano que passa, e quando a chuva nos convida a ficar em casa à lareira ou no remanso do lar familiar, deu-nos para vasculhar o montão de livros que por aqui andam, não se podendo falar (onde) aos tombos, mas algo colocados anarquicamente, descobrindo então um pequeno exemplar de “ A Santa Casa da Misericórdia de Viseu nos 500 anos das Misericórdias Portuguesas”, um trabalho coordenado pelo nosso saudoso Amigo, Júlio Cruz. Logo tomámos a decisão de nele pegarmos para escrevinhar umas notas para o jornal “Notícias de Vouzela”. Dito e feito. Sem quaisquer assomos de vaidade, temos de confessar, no entanto, que, neste campo, esta vila lafonense ganhou um lugar no pódio dessas Instituições centenárias bem acima da sede do nosso distrito. Deste modo, mal a Rainha D. Leonor criou a Misericórdia de Lisboa, em 1498, de imediato Vouzela, a 15 de Agosto desse mesmo ano, na respectiva Sé Catedral da capital do reino, vê ser-lhe atribuída tal distinção. Com esse passo, tornou-se uma das catorze primeiras Pias Instituições a nascerem em Portugal. Por sua vez, Viseu alcança este tipo de apoio assistencial e hospitalar vários anos depois, em 1516, iniciando as suas funções, em primeiro lugar, na área da assistência na saúde, com o Hospital das Chagas. Com efeito, rezam as crónicas que o primeiro Compromisso foi enviado para Viseu pelo próprio Rei D. Manuel I em 20 de Dezembro de 1516. Para cimentar a sua importância e vontade de se pôr em acção em favor dos mais fracos e desprotegidos, assim cumprindo as determinações das obras de Misericórdia, vem Viseu a escolher como sua sede uma casa com a designação da Capela no Soar, talvez em 1520, ali permanecendo por muitos e bons anos. De avanço em avanço, em 1842, entra em funcionamento o Hospital da Misericórdia, com o nome de S. Teotónio, que viria a durar como tal até ao ano de 1975, quando passou para a esfera do Estado, dando lugar, décadas depois, ao moderno e actual edifício com essas mesmas funções. Deve realçar-se que este pequeno livrinho não se fica por estes exemplos de assistência em tempos idos. A certa altura, elenca uma série de albergarias, onde se “acolhiam pobres, doentes, estropiados ou simplesmente viajantes”, que passamos a citar: Reigoso, 1195, Oliveira de Frades; Regueira (Viseu); Banho (Lafões); Moledo (Lamego); Aregos (Resende); Lamego; Ucanha (Tarouca); Manhouce (S. Pedro do Sul); Corga (Penalva do Castelo); Fagilde; Oliveira do Conde (Carregal do Sal); Lavradio (Lamego); Alcafache. Em termos de apoio na doença e na carência, existiam ainda as gafarias, para tratar dos leprosos, como a do Banho (Lafões), a de Viseu, a de Lamego, a de Aregos, a de Gafanhão e a da Gafanhoeira (Resende). Com fins religiosos e caritativos, tivemos ainda nesses tempos, as mercearias – não confundir com as da actualidade, que também estão em vias de desaparecimento – como a de Viseu e a da Corga atrás citada. Em hospitais, no ano de 1511, em Viseu existiam o da Rigueira e o de Cimo de Vila, desempenhando ainda essas funções a Albergaria de Reigoso, o Hospital do Moledo, o de Ucanha e o da Corga, sem esquecer o Hospital Real das Caldas de Lafões e aqueles que acabámos, em alusões anteriores, de citar. NOTA ESPECIAL – Ao falarmos destas associações de índole assistencial religiosa, apraz-nos referir que, dentro de dias, vai assinalar o seu terceiro centenário a Irmandade de PAÇOS de VILHARIGUES, em cerimónia oficial a seu tempo divulgada…. Porque isto da assistência tem sempre muito que se lhe diga, até chegarmos aos actuais sistemas, que não deixam de dar profundas inquietações e dores de cabeça, quanto à sua sustentabilidade e melhor uso possível, sabe sempre bem olharmos para aquilo que tivemos no passado e os exemplos aqui trazidos merecem-nos todo o respeito e consideração e para quem nasceu em Reigoso, onde a Albergaria reinou até aos anos de 1900, muito mais ainda. Muito mais mesmo, que isto das origens sanguíneas não se explica, sente-se e pronto… In “ Notícias de Vouzela”, 2022

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