quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Nossa Senhora do Castelo em Vouzela bem lá no alto do Monte

Nossa Senhora do Castelo a impôr-se lá no alto CR Tal como há dias ventilámos, o Monte de Nossa Senhora do Castelo, e temos de convir que esta designação é nova demais para o muito tempo que este espaço tem de ocupação ou uso humano, foi uma opção antiquíssima para os nossos antepassados dele usufruírem. Espreitando para o alto, logo descobriram que ali havia como que uma mina de ouro estratégica para defesa e observação em redor, condições, nessas recuadas épocas, de um interesse enorme. Dito e feito: se isso viram, logo agiram em conformidade, indo para ali morar ou passar com muita frequência. Como bem disseram Manuel Luís Real, Catarina Tente, Tiago Ramos, Daniel Melo, Luís André Pereira e João Rocha, em “ O povoado e fortificação da Senhora do Castelo, em Vouzela – I Jornadas de Arqueologia Vouzela/Lafões”, este local foi, no mínimo, um povoado da Idade do Bronze, o que se atesta e mostra pela existência de muito minério por estas paragens e pela proximidade ao Castro de Baiões, o palco por excelência dessa altura do trabalho em bronze nas suas instalações metalúrgicas e respectivas fundições. Tendo ido mesmo mais longe nas suas conclusões, depois da análise dos vestígios encontrados nas escavações ali realizadas e nas comparações efectuadas com outros sítios, alegam que este Monte, com as suas muralhas e torre quadrada, foi como que a Cabeça de Lafões nesses tempos de outrora. Situado a cerca de 530 metros de altitude, este ponto tinha tudo quanto esses povos precisavam para observarem quem os rodeava e com que intenções o faziam. Ao ver ao longe, nesta atalaia, acautelavam-se possíveis ataques e preparavam-se as mais diversas ofensivas. Era para isso que serviam as alturas geográficas que as terras chãs de pouco serviam, até porque, por essas alturas, a agricultura ainda nem sequer tinha sido descoberta e a alimentação vinha de outras origens, mais baseadas na caça, na pesca e actividades afins, incluindo a busca de raízes. O Monte do Castelo tinha então soberbas condições para essas finalidades. Com dois cabeços por perto, este e o Lafão, ali existiam condições de sobra para prolongadas sobrevivências. Dizem aqueles autores, atrás citados, que estas duas elevações estavam separadas apenas por um fosso. Tão próximas e, vamos lá, tão íntimas, vieram a estar na origem, quem sabe, do nome da região que habitamos, o Alafões de outrora, o Lafões de hoje, tudo isto com base na língua árabe que também por aqui se usou e aquele “Al” acaba por dizer tudo… De acordo com um testemunho do Pároco de Ventosa do ano de 1732, “ o mais digno de memória desta freguesia é o Monte chamado Lafam”, aludindo à existência ali de um mouro, o Sid Lafam – uma outra tese para encontrarmos as raízes de Lafões. A corroborar estas ideias, também o Pároco de Vouzela, nessa mesma altura, referindo o Monte e a Capela de Nossa Senhora do Castelo, acrescentava um pormenor digno de relevo: a existência de uma Irmandade moderna com cerca de 10 ou 12anos de vida. Muitas outras fontes de 1019 a 1258, fazem menção, como vimos já, a todas estas realidades. Por sua vez, Pires da Silva, em 1696, na sua obra “ Chronografia Medicinal das Caldas de Alafoens”, fala na muralha em causa e ainda a uma cisterna e eventuais ossadas. Anos e séculos mais tarde, em 1903, é Luís Soares Valgode que traz ao de cima a necrópole medieval e as duas sepulturas escavadas na rocha, ainda hoje bem visíveis ao lado da escadaria monumental. Com este Monte a ser sempre motivo de interesse, a sua exploração florestal iniciou-se em 1908, acentuando-se com o Plano de Povoamento Florestal de 1938 e anos seguintes (ver deliberações da CM dos anos cinquenta, já aqui anotadas). Entretanto, a busca de minério, talvez adormecida durante séculos, renasce nos tempos da febre do volfrâmio, anos 30 e 40 do século XX, havendo alusões a filões de ouro, volfrâmio e estanho em 1955 (NV)e à Empresa Mineira de Vouzela Lda, dos sócios Octávio Pinto da Rocha, Guy Devris, Joaquim José da Silva Arruda e Joaquim Ribeiro de Almeida, anos 40. Aparece ainda a contestada Volcar SARL para instalar uma oficina de tratamento de minério, de 2ª classe, na vila de Vouzela, o que não foi visto com bons olhos… Por ali se vê a Casa da Confraria, o novo Chafariz, de 1932, uma obra do arquitecto Raul Lino, a citada escadaria, o complexo do Parque de Campismo mais abaixo e várias obras em curso nas imediações do fontenário. Faltam, temos o repetir, os trabalhos de recuperação das muralhas em redor da Capela, o tal perigo iminente que tudo ameaça em redor. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 2022

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