quinta-feira, 6 de junho de 2019

Médicos de Lafões em grande plano

Três médicos de Lafões em grande destaque S. Frei Gil, Dr. Ricardo Joge e Professor Egas Moniz Num tempo em que Alcofra se lançou na grande tarefa de homenagear o filho da sua terra e seu cidadão honorário por parte de sua mãe, quando se assinalam os setenta anos da atribuição do Prémio Nobel ao Professor Egas Moniz, pusemo-nos em campo à descoberta de grandes vultos das ciências médicas em Lafões, mais concretamente com ligações a Vouzela pelas mais diversas diversas vias. Ao longo dos séculos, elegemos, para esta crónica de hoje, três distintas personalidades: S. Frei Gil, médico, pregador e santo; o Dr. Ricardo Jorge, higienista e cientista; e o Professor Egas Moniz, o notável Prémio Nobel da Medicina, de 1949. Somos levados a recuar aos séculos XII e XIII para nos encontrarmos com S. Frei Gil, nascido talvez em Vouzela, em finais do século XII, tendo morrido em Santarêm em 14 de Maio de 1265. Filho de um antigo Alcaide de Coimbra, a sua ligação com a corte foi uma de suas marcas infantis e juvenis. Nesta cidade, frequentou as primeiras letras e aí prosseguiu outros estudos, sobretudo no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Consciente do seu valor, o monarca de então encaminhou-o para outros voos, apoiando a sua carreira, pelo que seguiu viagem para Paris, com muita turbulência, dizem, pelo meio, sobretudo em Toledo. Como quer que seja, na cidade-luz cursa artes, mas, não contente com esse caminho, envereda pela Teologia. Dentro de pouco tempo, abraça os Irmãos Dominicanos, a Ordem dos Pregadores e faz da evangelização a sua missão. Ligado à civilização mocárabe, traduziu para a nossa língua de então muitas outras médicas árabes, o que granjeou bastante fama, a acrescentar aos atributos que já detinha. Seria, porém, no campo religioso que se veio a notabilizar, sendo considerado Beato, para a Igreja Romana, Santo, para as gentes de Vouzela, de que é padroeiro, e de Santarém, cidade onde viveu vários anos e veio a morrer. Se esta personalidade encerra, em si, uma notável fonte de conhecimentos e de uma importância do mais alto nível, em Lafões, com origens paternas ou maternas em terras de Vouzela, vamos encontrar, já nos séculos XIX e XX, duas outras estrelas também com um intenso brilho, nestes casos mais na área da ciência do que na das esferas celestiais, salvo seja. Conhecendo-se entre si, muitas vezes se cruzaram dois médicos de que vamos falar: o Dr. Ricardo Jorge e o Professor Egas Moniz. Não sabemos se alguma vez falaram nas suas origens. Faltam-nos, por enquanto, dados que tal venham a confirmar. Quanto ao Dr. Ricardo Jorge, nascido no Porto no dia 9 de Maio de 1858, era filho de José de Almeida Jorge, ou José Jorge de Almeida, natural de Vilharigues (Vouzela), ferreiro que, depois de sair desta nossa aldeia, se fixou naquela cidade, localidade onde se afirmou pelo seu trabalho e prestígio, e de Ana Rita de Jesus (Porto). Casou com Leonor Maria Couto dos Santos, sua prima direita, tendo quatro filhos: Artur Ricardo Jorge, cirurgião e ministro da educação pública em 1926; Ricardo Jorge, banqueiro; Leonor Jorge de Seabra e Alice Jorge. Com uma carreira notável, formou-se na Escola Médica-Cirúrgica do Porto, cidade onde foi Professor. Dirigiu o Instituto Hidroterápico; cientista; Médico Municipal nesta cidade; Fundador do Laboratório Municipal de Bacteriologia; Inspector Geral de Saúde; Presidente da Sociedade de Ciência Médica (1914/1915); Higienista, tendo sido neste sector que mais se notabilizou; membro do Comité de Higiene da Sociedade das Nacões. No que toca ao Professsor Egas Moniz, descendente da Quinta do Carril, em Alcofra (Vouzela), onde nasceu sua mãe, veio a ver a luz do dia em Avanca, Estarreja, local onde instalou a sua Casa-Museu. A sua vida é sobejamente conhecida no universo das ciências médicas, quer em Portugal, quer no estrangeiro. A projecção que lhe trouxe o Prémio Nobel, em 1949, catapultou-o para a alta roda do conhecimento universal. Além de neurocirurgião, foi ainda político, escritor e um grande coleccionador de arte, como se pode comprovar no legado que nos deixou. Do cruzamento destas três grandes personalidades lafonenses, retirámos uns excertos de Egas Moniz, ao testemunhar a admiração que nutria por Ricardo Jorge, patente nestas palavras contidas em “ A vida, a obra, o estilo, as lições e o prestígio de Ricardo Jorge – Instituto Superior de Higiene Dr. Ricardo Jorge, 1960”, a partir da página 393: Deve dizer-se que esta sua opinião fora publicada num depoimento que fez em 1939, em que assim se expressou: “... No campo literário e artístico, nos domínios da história e da filologia, nas polémicas, em que a sua pena floreteada com arma acerada e sempre pronta a ferir o adversário, era Ricardo Jorge mais conhecido daquele que o liam nos jornais... Espírito claro e arguto... “ A propósito da ligação que os unia, referiu as suas obras “ Um ensaio sobre o nervosismo (1879)” e “Localizações motrizes no cérebro”, o que, para Egas Moniz, era uma espécie de laço de união entre os dois, este por via das afinidades científicas. Em tom emotivo, desabafou por alturas da sua morte: “... Ungi-o com a minha saudade e orvalhei-o com lágrimas que rolaram... “. Continuou: “... Nas manhãs em que o visitava, provocava a conversa e ouvia-o. Havia sempre que aprender... Era um banho de luz... “ A terminar, ficam aqui mais dois pormenores saídos da pena do nosso Prémio Nobel: Ricardo Jorge foi médico e amigo de Camilo Castelo Branco; e “afastado da clínica, enveredou, com brilho invulgar, pelo campo da Higiene”, de que há, por exemplo, a registar uma sua obra “ A peste bubónica no Porto – Ricardo Jorge, Deriva Editores, 2010”. De uma só penada, três grandes médicos atiraram Lafões para as bocas do mundo. Estes, os que aqui acabámos de referenciar. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Jun19

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