sexta-feira, 21 de junho de 2019

Dois anos depois das tristezas de 2017....

Dois anos depois das tragédias de 2017 Em meados de Junho de 2017, Portugal foi vítima de uma das maiores catástrofes em incêndios que a nossa história regista. Os fogos que devastaram a zona de Pedrógão e arredores, numa extensa área, deixaram, acima de tudo, um rasto de dor, que ainda hoje perdura, e o pesado luto por dezenas de pessoas mortas, na estrada, em casa, ou num qualquer refúgio traiçoeiro. Quatro meses após essa tragédia, uma outra se abateu sobre nós, a de Outubro desse mesmo ano, que varreu toda a nossa zona, matando também outras dezenas de compatriotas, alguns deles vizinhos de cada um de nós. Juntaram-se aos mortos e feridos prejuízos sem fim a muitos níveis, desde o sector empresarial e comercial aos populares em si, que ficaram sem grande parte de seus haveres e meios de subsistência. Volvidos estes tempos, notaram-se algumas boas e louváveis recuperações, mas a natureza ainda grita e chora a destruição que sofreu. Demorará muito a recompôr-se e podem mesmo perder-se uma boa parte de alguns ecossistemas. Ou seja: há danos irreparáveis. Além das vidas que desapareceram, além dos feridos que têm no corpo as marcas desses duríssimos acontecimentos, essas parcelas da vida vegetal e animal são também de lamentar. Mas o que nos dói, a sério e com alguma revolta (felizmente não nestas bandas), são as suspeitas que recaem sobre responsáveis pessoais e instituições, que hoje motivam processos judiciais e uma carrada de notícias de falhas enormes, como se está a ver para os lados de Pedrógão. Se houve maus aproveitamentos, se as falsidades fizeram um triste caminho, essa é uma desgraça a cair em cima de outra. E é uma tristeza presumir-se que houve quem, não tendo escrúpulos, se serviu de tudo quanto os incêndios provocaram para seu proveito próprio, na fase da recuperação, em prejuízo da verdade e dos verdadeiros necessitados. Olhando ao nosso redor, felizmente que, por Lafões, não sabemos de casos desta índole, bem pelo contrário. Registamos, até com agrado e visível satisfação, que das tragédias se reconstruiram novas vidas, empresas mais fortes e robustas, mais modernas e mais capazes de enfrentarem os desafios do futuro. Oliveira de Frades, muito em especial, e Vouzela, a uma outra escala, são bons exemplos de práticas dignas e de grande coragem empreendedora. Não podemos, porém, esquecer aqueles nossos conterrâneos, humildes agricultores e pequenos silvicultores, que ficaram para trás, trucidados por uma implacável teia de burocracia, desistindo de apresentar os seus prejuízos, bastante por essas descabidas exigências. Outros “contentaram-se” com umas migalhas, bem longe daquilo que perderam, só para evitarem esses pesados trabalhos de andarem de cá para lá, papéis na mão e o coração aos saltos, porque faltava sempre qualquer “coisita” na hora da entrega final dos processos. Também é duro verificar que as matas continuam cheias de árvores a apodrecer, uma vez que falha o escoamento e os preços propostos são uma vergonha e uma ofensa a quem vive das pequenas matas, ou nelas pensava ter uma certa ajuda para uma qualquer eventual hora de aflição. No que à prevenção diz respeito, muito está por fazer. Sítios há em que estamos até bem pior, sobretudo nos locais onde os eucaliptos crescem em doses assustadoras e em qualquer lado. Dois anos depois, não fizemos tudo aquilo que era necessário para evitar (ou minimizar) uma qualquer outra catástrofe que nos bata à porta. Talvez estejamos, nalguns casos e em certa medida, bem pior. E uma conclusão é óbvia: o ano de 2017 acelerou o fim de muitas de nossas aldeias e ainda não conseguimos travar essas mortais hemorragias. Digamos: para baixo, todos empurram; para cima, são poucos os santos que nos ajudam. Que Deus nos não desampare!....~ Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Jun19

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