quarta-feira, 3 de outubro de 2018

É sempre a mesma coisa: o interior perde sempre...

O litoral come-nos tudo Em matéria de grandes projectos lançados em Portugal na útima década, seguindo uma perigosa tendência de há centenas e dezenas de anos, a sua grande maioria foi, uma vez mais, para as regiões do litoral, as mesmas, as do costume. Em 443 dessas iniciativas, apenas 26, 4% se fixaram em todo o Interior. Mais de setenta por cento, praticamente três quartos encaminharam-se para a beira-mar. É quase sempre assim. Por cada queijo que recebamos, 80% do território recebe uma pequena fatia e a grande dose vai para os pontos que todos nós conhecemos, sobretudo as áreas de Lisboa e Porto. Por isso, não nos podemos admirar quanto ao estado em que o país se encontra: despovoado nas nossas zonas, atafulhado de gente, a acotovelar-se por todo o lado, nas citadas cidades. Ainda há dias, o JN trazia uma listagem que bem ilustra a argumentação que aqui estamos a registar, desde 2008 a 2018, em investimentos tidos como grandes projectos e são abismais as diferenças. Vejamo-las: 2008 – Litoral, 25; Interior, 5; 2009 – 45/17; 2010 – 38/20; 2011 – 28/9; 2012 – 20/10; 2013 – 41/13; 2014 – 21/11; 2015 – 18/6; 2016 – 51/19; 2017 – 22/2 e 2018 – 17/5. Não é preciso fazer grandes contas para logo percebermos o alcance desastrado destas medidas. Quando Pedrógão, em Junho de 2017, e o Centro do País, em Outubro, foram dizimados pelos mais dramáticos incêndios de sempre, apregoou-se por todo o lado que as discriminações positivas não deixariam de aparecer. E o que vemos? Um ano de 2018 com um acentuadíssimo desnível de 17 para 5. Isto é política que se possa aceitar? Por nós, não, de maneira nenhuma. Vem agora uma certa consolação, de acordo com a mesma fonte: mais de 70% do novo alojamento turístico local localizou-se fora dessas metrópoles e os resultados estão à vista, com a este sector a mostar, na região Centro, uma vitalidade assinalável. Só que esta vertente á muito pequena para equilibrar a balança que pende a toda a hora para o mesmo lado, o litoral. Diz-nos Suzanne Daveau (Portugal geográfico, Livraria Figueirinha, Porto, 1995) que” O profundo desequilíbrio e a instabilidade espacial que caracterizam hoje Portugal tornam muito problemática qualquer tentativa séria de ordenamento do território, ainda que a necessidade de repensar a organização administrativa do país seja fortemente sentida... “ (p. 131). E as consequências estão à vista, acrescentando que “ A gente pobre amontoa-se à volta das grandes cidades”. Em 2018, teima-se em seguir os perigosos figurinos de há anos. O que nos trará o Orçamento para 2019? Ficamos à espera, mas pouco animados, infelizmente... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 3 out 2018

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