segunda-feira, 13 de julho de 2020

Lafões na história das Igrejas....

Descobrir a história com as obras religiosas - Séculos XVII a XIX, grandes mudanças As marcas do tempo devem muito aos monumentos religiosos como arte, como fonte de conhecimento, como meio de olharmos as devoções, as crenças e as suas respectivas expressões. Olhando para a nossa região de Lafões, onde estes símbolos são uma constante por todo o lado e sob as mais variadas formas, desde as igrejas às alminhas, passando até pelos conventos, essas pedras falam, contactam connosco e dizem-nos ao que vieram, seus fins e até, nalguns casos, os obreiros que as ergueram. Desde o alto de S. Macário aos vales do Vouga e pelas encostas fora, limitadas pelas serras da Arada, da Gravia, muito especificamente na terra que sustenta e apaparica este “Ecos”, à do Caramulo, descobrimos, lá no alto, não uma, mas duas Capelas, emolduradas de acordo com as condições geográficas em que se encontram, a de S. Macário, resguardada entre muralhas, a de S. Macairinho metida entre rochas quase intocadas. Bem mais abaixo, em Vouzela, impõe-se a Igreja Matriz, românica nas suas origens, e, a caminhar para oeste, o Santuário de Nossa Senhora Dolorosa, em Ribeiradio, a testemunhar o pagamento de promessas ancestrais. Se estes templos aqui se registam apenas como exemplos de todo um rico património, sem esgotarem, longe disso, a lista imensa de outras obras, neste texto vamos tentar dar uma ideia de alguns trabalhos que, ao longo dos tempos, muito especialmente nos séculos XVII a XIX, deixaram escritos testemunhos que muito nos ajudam a conhecermos o nosso passado e aquilo que foi feito, como resultado, muitas vezes, das condições sociais e económicas de cada época e das modas em vigor. Este é um aspecto que também se torna evidente e nunca pode deixar de ser analisado. Para melhor percebermos estas achegas, basta que pensemos nas riquezas vindas do Brasil e de seu ouro joanino. Foi tal o seu impacto que a talha dourada passou a ser uma regra quase universal. Por outro lado, o granito à mostra ou o reboco pela cal branca são outra dessas evidências ou alternativas. Percorrendo a revista “Beira Alta”, fonte que privilegiámos, em geral, são muitos os testemunhos encontrados: - Ainda antes de falarmos de investimentos nos espaços religiosos de Lafões, digamos que, logo no ano de 1104, o Arcediago de Viseu confirmou uma doação ao Mosteiro de S. Pedro do Sul, uma informação relevante, ainda que envolta nalgumas dúvidas, acerca do passado deste mesmo concelho (Beira Alta,/BA – 1991) - Alguns anos depois, em 1115, fala-se numa doação feita por D. Odório ao abade de Lafões (...) da Igreja de Valadares. Muito embora tenha sido também este documento posto em causa, o certo é que, no mínimo, esta referência, sendo uma espécie de fumo, mostra que por essa altura o fogo da existência deste equipamento talvez se possa considerar como um dado a reter e a motivar mais estudos aprofundados no sentido de se pesquisar mais a fundo este mesmo tema (BA – 1997) - Comprova-se que estas terras lafonenses tinham fama a sério já no tempo da rainha D. Teresa, ainda antes da constituição da nacionalidade, quando se indica que existia cavalaria vilã em Pessegueiro do Vouga, S. Vicente de Lafões, Paços de Vilharigues, Alcofra e Fataunços (BA – 1991). Se juntarmos a esta constação o facto de os frades habitarem o Convento de S. Critóvão de Lafões, logo nos inícios da década de trinta dos anos 1100, e de haver referências a um anterior eremitério, tudo está dito quanto ao povoamento destes espaços territoriais nesses tempos de antanho, até para não trazermos para aqui, muito antes, as civilizações megalítica e castreja, ou mesmo as do período do paleolítico, como se pode deduzir dos materiais arqueológicos que se descobriram na zona da Bispeira, descobertos no âmbito dos estudos feitos sobre a Barragem de Ribeiradio, a fazer fé nas informações colhidas na Câmara Municipal de Oliveira de Frades. - Mais verdade se pode encontrar nas Inquirições de 1258, em que se alega que a paróquia de Valadares pertencia toda a S. Cristóvão de Lafões. - Numa perspectiva ainda fora de caixa, em 1698, veio ao de cima uma escritura de sociedade para o arrendamento por cinco anos da Quinta da Cavalaria, Vouzela, que pertencia a Aires de Oliveira e Sousa (BA – 1989). As obras em contratos - Com inúmeras alusões a trabalhos efectuados nas mais diversas igrejas, capelas, ou outros equipamentos anexos, em 1724, são feitos os retábulos colaterais de da Igreja de Souto de Lafões, sendo que, no ano de 1730, idêntica operação se concretiza em Pinheiro de Lafões e, em 1761, em Paços de Vilharigues (BA – 1989). - Também nesse mesmo ano de 1761, se vem relatar que Luís da Silva, mestre imaginário, oriundo de Penafiel, mas residente em S. Pedro do Sul, pediu que José Rodrigues, serralheiro, da Costeira, Vouzela, e Manuel Fernandes, de Vilharigues, lhe pagassem a obra anteriormente citada (BA – 1989). - Nesta mesma revista, dão-se mais pormenores quanto à escritura que levou, em 1724, aos trabalhos operados na Igreja de Souto de Lafões, realizados por Manuel Vieira da Silva, mestre entalhador da freguesia de S. Vicente de Lafões, que recebeu a verba de 127000 réis, tudo seguindo a respectiva planta e com bons materiais, à base de madeiras sãs e lisas. Uma nota muito importante se pode ler naquela documento, que é o da precisão com que se descreve o lugar onde foi assinado: o sítio do Carvalho Furado, que divide o território de Oliveira de Frades com o concelho e o ducado de Lafões. No que toca a Pinheiro de Lafões (1730), já tal veio a ser escrito na Tapada da Castinheira, limites da citada vila e couto, em que interveio ainda Manuel Vieira, mas obrigado a seguir as formas dos altares colaterais da Sé de Viseu, pelo valor de 260000 réis, em três pagas. Já quanto a Fataunços, que também ficou conhecido como Folgosa, em 1620, construiu-se a sacristia da respectiva Igreja de S. Carlos, por 20000 réis, a pagar a António Simões, de Vilar Seco. Vários tempos depois, no ano de 1702, pôs-se de pé o púlpito da Igreja de Folgosa, que teve de ser igual ao de S. Pedro do Sul, a que acresceu a Capela de Santa Margarida, tudo por 30000 réis. Importa reterem-se três curiosos aspectos: local da escritura, sítio do Cadavial, Couto do Banho; medidas em palmos; materiais em pedra lavrada de cantaria. - Com escrituras levadas a cabo em S. Pedro do Sul, tivemos as obras nas casas da Quinta de Moçâmedes, a custarem 100000 réis, 100 almudes de vinho, 100 alqueires de pão e caldos feitos, em 1773 (BA – 1988) - Decorria o ano de 1798 quando, nesta mesma vila, a Irmandade de Santo António se viu na obrigação de substituir o seu campanário para pedra a fim de aí instalar o sino de uma forma segura, que as bases anteriores se apoiavam em paredes estreitas com estruturas de madeira, o que não oferecia a estabilidade desejada. Com isso se gastaram 269000 réis. - Entretanto, em 1780, fizeram-se os trabalhos das casas da residência paroquial de S. Félix, anexa à Universidade de Coimbra, bem como a capela-mor e a sacristia, com um custo de 50000 réis. Também Carvalhais, no ano de 1733, recebeu a construção das casas da sua residência, a capela-mor, a tribuna e a sacristia da sua Igreja, o que ascendeu a uma verba de 140000 réis, em três pagas. - Para Serrazes avançou uma tulha pertencente à Comenda de S. Salvador, tendo custado 145000 réis. Para terminarmos estas simples e ligeiras notas, que servem apenas para dar uma ideia do muito que por aqui foi edificado nesses séculos e abrir o apetite pela busca de mais conhecimento, importa que se ponha em evidência o extraordinário contributo da revista “Beira Alta”, que se vem publicando desde os anos 40 do século passado até à actualidade na cidade de Viseu, muito embora, nesta altura, de uma forma, infelizmente muito mais irregular. É de uma extraordinária riqueza histórica e patrimonial todo o seu vasto conteúdo, diverso, plural e de uma valia científica a toda a prova. Pela nossa parte, aqui deixamos este testemunho de gratidão e reconhecimento por quanto esta publicação nos tem vindo a legar. Carlos Rodrigues, in “Ecos da Gravia”, Julho 2020

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