domingo, 30 de março de 2025
Um testemunho antes das eleições
Novas eleições, uma solução ou um beco sem saída
Carlos Rodrigues
Passado menos de um ano após as eleições de 2024, em que foi eleito um novo Governo com Luís Montenegro como Primeiro-Ministro, eis que uma crise inesperada, tendo como epicentro este mesmo governante, levou à sua queda com enorme estrondo. Depois de duas moções de censura chumbadas, veio a bomba atómica com a apresentação de uma moção de confiança, por um lado, e uma comissão parlamentar de inquérito como uma espécie de contraponto. Tudo desabou no dia da sua votação.
De repente, aquela que parecia ser uma fase de estabilidade, ainda que presa por fios ténues e segura por pinças escorregadias, veio a descambar para uma caminhada para uma perigosa escalada que pode acabar (oxalá que não, oxalá que não, oxalá que não!) num beco sem saída, isto é, uma situação bem mais problemática que a actual. Com o acto eleitoral marcado para o dia 18 de Maio, essa noite e os dias seguintes podem converter-se em tempos de pesadelos e aflições sem fim. Confessando este nosso temor, na humildade que nos caracteriza, sugerimos uma via: que os dois maiores partidos tenham a coragem de, para bem do país, se sentarem à mesa e jurarem apoiar-se mutuamente no caso de essa circunstância vier a acontecer.
Para que isto possa vir a acontecer, é preciso que estes dois meses de discussão e campanha eleitoral sejam vividos em ambiente de elevação, como bem sublinhou o Presidente da República, temendo o pior, no seu discurso de dissolução da Assembleia e consequente marcação de mais uma ida às urnas, nuns tempos tão cheios destas andanças: legislativas a 18 de Maio, autárquicas em Setembro ou Outubro e presidenciais em Janeiro de 2026. Pelo meio, na Madeira, há ainda umas eleições regionais antecipadas. Isto é obra, chata até mais não. Quem dera que não leve a uma subida em flecha de um dos piores inimigos da democracia – a abstenção.
A avaliar o que aconteceu na sessão da Assembleia da República em que a moção de confiança foi discutida e chumbada, não prevemos grandes coisas nessa matéria de civismo e urbanidade. O que ali se passou, ao vivo e a cores, foi mau demais para poder gerar algo de positivo, a não ser que os políticos batam com a mão no peito, se arrependam e prometam a pés juntos e de mãos erguidas ao céu arrepiar caminho e desfazer esses lamentáveis procedimentos e processos. Fazemos estes desabafos com um nó na garganta e um aperto no coração, porque, em 50 anos de democracia, esperávamos bem mais e muito melhor.
Desejávamos que para trás ficassem os anos de1910 a 1926, que nos trouxeram 7 parlamentos, 45 governos, 40 chefias destes e 38 presidentes do ministério. Aliás, em Itália, aqui perto e com a mesma matriz linguística, passa-se um fenómeno que não gostaríamos de aqui ver replicado: 69 governos de 1945 a 2022, com uma média de duração de cada um deles de 13 a 14 meses, mas com uma estrutura política intermédia bem mais sólida e eficaz. Este último Governo, no nosso país, bateu tristemente esta marca, porque não chegou a um ano..
Em Portugal, segundo dados colhidos um pouco por alto, em matéria de governos constitucionais, tirando os seus congéneres provisórios (7), já tivemos a conta de 24 tomadas de posse até 2024 desde 1976/77. Experiência de instabilidade já temos quanto baste.
Aqui chegados, temos de dizer que há épocas e épocas para se “brincar”, (que termo tão triste!), às eleições. Esta é uma dessas em que muito se joga do nosso futuro colectivo: temos em mãos, e até com atrasos na sua execução, um PRR, essa carrada de fundos que pode sofrer um forte abalo; juntam-se a este caso, a questão do novo aeroporto, das vias ferroviárias e de outras grandes medidas que urge tomar. Agora, tudo isso e muito mais pode parar, ou, no mínimo, ficar em banho-maria. Lamentável é ainda a fadiga eleitoral que agora tem tendência para se agravar.
Numa Europa em brasas e o mundo, em geral, virado de pernas para o ar, até neste contexto estas eleições vieram na pior altura. Ou seja: tudo isto é mau demais para poder ser verdade. Mas, infelizmente, é.
Culpados, temo-los para todos os gostos. Mas o pior é que o País, com todas estas trapalhadas, é que sofre a sério e em força. Quem fica penalizado? Todos nós. Quem paga? A nossa geração e as que vierem a seguir, a quem não deixamos grande legado com este tipo de exemplos. Numa palavra: uma vergonha…
In " Notícias de Lafões", 2025
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