quinta-feira, 24 de abril de 2025

Adeus, Papa Francisco, e obrigado

Morreu o Papa, o Homem de todo o mundo Carlos Rodrigues Um dia, em 2013, quando ascendeu ao Pontificado, adoptando o nome de Francisco, na Praça de S. Pedro, em Roma, disse que viera do fim do mundo e naquela altura, dizemos nós, estava ali perante e para todo o globo. Assim veio a acontecer. Nascera em Buenos Aires, Argentina, o menino Jorge Mário Bergoglio, de ascendência italiana, em 1936. Quis ser médico, mas veio a escolher a carreira religiosa, tendo sido Bispo e Cardeal na sua cidade, seguindo, como fervoroso adepto o clube de S. Lorenzo, paixão que nunca mais deixou, assim como o gosto pelo contacto com os mais pobres e desfavorecidos. Para Roma, nas suas bagagens pessoais, transportou esses valores, o dessa entrega e doação em combates pela igualdade, pela paz, pela irradicação da pobreza, pela fraternidade, pelo amor, pela simplicidade, pela esperança, pela fé e pela ligação profunda ao outro. Foi tão forte este seu olhar, que, numa Gaza em doloroso e profundo sofrimento, adoptou a sua Igreja, telefonando frequentemente para saber como estavam os cristãos ali residentes e dar a sua “bênção”. Antes de morrer, na Praça de S. Pedro, na oração pascal, já lida por um seu Secretário, que a sua voz era já fraquíssima como se viu na curta comunicação e saudação que dirigiu aos presentes, mostrou quanto lhe doía a dilacerante guerra que ali se vive, assim como outros conflitos. Era a paz que ardentemente desejava e partiu sem a ver conseguida. Infelizmente. Na nossa memória, estão as suas passagens pelo nosso País, em 2017, em Fátima, e, sobretudo, esse evento enorme, o da Jornada Mundial da Juventude, que se viveu em Lisboa, em 2023. Inesquecíveis foram as suas mensagens, muito em especial o seu grito “Todos, todos, todos… “. Já algo abatido, no entanto, a sua energia foi contagiante. Com um forte sentido de missão católica e universal, escreveu alguns marcantes documentos, como as encíclicas Laudato Si, Fratelli Tuttti e Lumen Fidei, a par de cartas apostólicas e outros documentos, sem contar as inúmeras intervenções que espalhou pelo mundo. Nessas comunicações, os temas dominantes ligam-se à necessidade de estabelecer pontes e derrubar muros, de viver e deixar viver, de abrir as portas da Igreja a todos os que dela se abeirem sem questionar as suas origens e até credos ou estilos e formas de vida, num sinal claro de que só em abertura é que a humanidade se constrói. Vendo os jovens como a esperança duma nova unidade criativa e os idosos como não sobras de vida, foi longe ao condenar o dinheiro que sirva para governar e não ser útil a todos. O Papa Francisco foi o primeiro Jesuíta a subir esse degrau e o primeiro não europeu e o primeiro das Américas. Como jesuíta, é herdeiro da Companhia de Jesus, que teve como um dos seus doze fundadores em Paris o Padre Simão Rodrigues de Azevedo, de Vouzela, que, então como estudante, se juntou a Santo Inácio de Loiola e outros jovens. Este nosso conterrâneo chegou a ser o primeiro grande responsável dessa Ordem Religiosa em Portugal e Espanha no século XVI. Como o 266º Papa, Jorge Mário Bergoglio, argentino pelo nascimento e italiano pela sua ascendência familiar, jamais esqueceu a questão das migrações como um de seus pontos fortes de sua linha interventiva. Ainda há bem pouco tempo tinha condenado os EUA pelas práticas que estão a seguir, sendo que, por exemplo, a sua viagem inaugural logo que ascendeu ao cargo que agora deixou foi precisamente a Lampedusa, local de chegada de tantos despojados da sorte e que tantos morrem nesse cemitério marítimo como o classificou nesse dia, o Mar Mediterrâneo. Neste dia 21 de Abril, logo após as celebrações da Páscoa que simbolizam a ressurreição de Jesus Cristo, o Homem de Branco, que na pandemia desfilou sozinho pela Praça de S. Pedro, deixou-nos. Eram 7.35 horas locais. Em memória, a Catedral de Notre Dame em França tocou os sinos 88 vezes e Portugal decretou três dias de luto nacional. Até um dia, Papa Francisco. E obrigado pelo legado que nos transmitiu… In “ Notícias de Lafões”, 24 Abril, 2025

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Do mar à serra

Do meu mar, vejo a minha Serra/A do Caramulo lá em cima/ Dela se avista a Estrela, / Mais além/Sempre bela/ E muito alta também// Cá em baixo, na Vagueira/Olho o mar em branca e estonteante espuma/ Lá além, no alto, na Estrela/ A estender-se até ao Céu/ O branco da neve o olho também/É do Caramulinho que enxergo a outra, a grande/ Mas muito gosto e alinho/ Por estes desníveis da natureza//É aasim a beleza/ Feita de água e penedias/ Com o clima em equação/ Lá no alto a gélida temperatura/ Por aqui, o tempo que melhor se atura/ Gosto disto/ Do mar/ Da serra/ De um mundo em complemento//Mas a vida nem sempre dá para sorrir/ E quando é preciso e apetecível/ A estes lugares gosto de vir// Mar/ Serra/ Ladário, Caramulo e Estrela// Vagueira, ondas e o vaivem das águas/ Para, de certa forma, afogar todas as mágoas... ///

sexta-feira, 11 de abril de 2025

Sara, uma poeta jovem em Oliveira de Frades

Sara Pereira, se poeta sou, sei a quem o devo… CR Aquelas são palavras do poeta dos poetas, Fernando Pessoa, que lhes acrescentou “… aos versos que escrevo… “. É assim Sara Pereira, como se pode ler na sua exposição “Delírios reais”, a decorrer no Museu Municipal de Oliveira de Frades. Esta menina não faz rimas, ela pensa e escreve poesia de excelência, porque a tem na alma, Em cerca de vinte testemunhos que reflectem outas tantas causas, tudo lhe brota da vida e do meio que a rodeia. Nascida em Sequeirô (Sejães), talvez tenha ido buscar ao Rio Vouga parte de sua inspiração que acabou por levar para Sernada (S. Vicente de Lafões). Depois, nesta ainda sua curta caminhada, muitas outras motivações lhe surgem das notícias, do que observa e, sobretudo, do que sente. Afirma na pagela com que apresenta esta sua rica mostra poética: “… De qualquer forma, o básico tem que ser dito e, nesta exposição, vou dizer muito mais do que apenas o básico, vou dizer o essencial… Podem sentir a minha revolta, a minha ânsia de fazer e querer ser a diferença que falta no mundo…” Se “Sobre mim não há muito mais que queira dizer, sobre o mundo eternamente escreverei…“. E assim mostrou. Ali, naquela sala de um Museu que também é vida activa, fala-se em ser mulher, na liberdade, no ego e naquilo que o faz crescer, nos caminhos da vida, na ansiedade, no amor e no dia a dia. E muito mais que se pode ler até ao dia 20 de Abril. Subir aquelas escadas, ou ir pelo elevador, são passos que nunca se darão por perdidos. A alma virá cheia de poesia e mensagens profundas que muito nos fazem pensar. Que rico contributo para a nossa cultura geral!... Obrigado, Sara. Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Vouzela, Abril 2025

Isabel Silvestre sempre a brilhar, agora na polifonia

Isabel Silvestre promove canto polifónico Carlos Rodrigues É o canto polifónico Património Imaterial Nacional desde há uns tempos. Agora pretende vir a ser Património da Unesco. Para este transcendente efeito, estão a ser realizadas uma série de iniciativas destinadas a dar a conhecer este justo desejo e mobilizar as comunidades em redor deste objectivo. A primeira destas acções aconteceu, no passado dia 28 de Março, no Cine-Teatro Jaime Gralheiro em S. Pedro do Sul, tendo cabido a Isabel Silvestre a função de ser a conferencista convidada, papel que lhe encaixou que nem uma luva e que foi amplamente merecido. È que a Isabel Silvestre é a Isabel Silvestre. Ponto. Numa modalidade que se encontra sustentada pela Associação de Canto a Vozes – Fala de Mulheres, para que esta pretensão venha a ser alcançada vários encontros regionais se vão desenvolver um pouco por todo o pais, sendo que Vouzela, Oliveira de Frades e Sever do Vouga ali estiveram representados, avançando-se para Arouca, Santa Maria da Feira no dia 26 de Abril e Viana do Castelo, Braga, Porto, Bragança e Oeiras nos meses de Maio e Junho. Aliás, este projecto nasceu precisamente em Viana do Castelo em 2020 com cerca de 360 cantadeiras, integrando agora 64 grupos de Portugal e França, o que demonstra a sua força e pujança internacionais. Como que contrariando a sua matriz inicial, já se admitem agora cantadores masculinos, sinal da sua abertura a novos contextos e esferas locais. Se há muitas vozes espalhadas por aí fora, não há dúvida de que o papel desempenhado, ao longo dos anos, por Isabel Silvestre e o seu grupo de Manhouce se alcandora a um lugar cimeiro. Com recolhas de forte genuinidade da nossa cultura popular, o canto a vozes, na sua polifonia, é único e intransmissível. É este e mais nenhum nas comunidades onde se canta e se transmite de gerações em gerações. Reconhecendo esta sua importância, as autarquias são um suporte essencial nesta candidatura mundial. Em uníssono e em conjunto com todos aos actores culturais e sociais destas comunidades, esta caminhada tem pernas para andar como o teve em 2023 a nível nacional. Sendo que as três vozes são o mais comum na polifonia, esta também se apresenta com outras roupagens de mais vozes. Para o texto que estamos a elaborar para o jornal “Notícias de Lafões”, partimos essencialmente de Manhouce e das recolhas feitas outrora por Armando Leça, Artur dos Santos, Michel Giacometti e Fernando Lopes Graça, bem reaproveitadas por Isabel Silvestre e António Silva e todos os seus companheiros desta longa e produtiva e enorme marcha musical. Seria ainda uma certa falha nossa não incluirmos aqui os cantares de Cambra e outros que tais. Porque gostamos de ir sempre mais longe e mais alto, ficamos então a torcer para que a UNESCO se não esqueça de incluir nas suas listas este nosso canto a três vozes. O champanhe já está no frigorífico… Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Abril 2025