Frei do Gozo
sexta-feira, 11 de abril de 2025
Sara, uma poeta jovem em Oliveira de Frades
Sara Pereira, se poeta sou, sei a quem o devo…
CR
Aquelas são palavras do poeta dos poetas, Fernando Pessoa, que lhes acrescentou “… aos versos que escrevo… “. É assim Sara Pereira, como se pode ler na sua exposição “Delírios reais”, a decorrer no Museu Municipal de Oliveira de Frades. Esta menina não faz rimas, ela pensa e escreve poesia de excelência, porque a tem na alma,
Em cerca de vinte testemunhos que reflectem outas tantas causas, tudo lhe brota da vida e do meio que a rodeia. Nascida em Sequeirô (Sejães), talvez tenha ido buscar ao Rio Vouga parte de sua inspiração que acabou por levar para Sernada (S. Vicente de Lafões). Depois, nesta ainda sua curta caminhada, muitas outras motivações lhe surgem das notícias, do que observa e, sobretudo, do que sente. Afirma na pagela com que apresenta esta sua rica mostra poética: “… De qualquer forma, o básico tem que ser dito e, nesta exposição, vou dizer muito mais do que apenas o básico, vou dizer o essencial… Podem sentir a minha revolta, a minha ânsia de fazer e querer ser a diferença que falta no mundo…”
Se “Sobre mim não há muito mais que queira dizer, sobre o mundo eternamente escreverei…“. E assim mostrou. Ali, naquela sala de um Museu que também é vida activa, fala-se em ser mulher, na liberdade, no ego e naquilo que o faz crescer, nos caminhos da vida, na ansiedade, no amor e no dia a dia. E muito mais que se pode ler até ao dia 20 de Abril.
Subir aquelas escadas, ou ir pelo elevador, são passos que nunca se darão por perdidos. A alma virá cheia de poesia e mensagens profundas que muito nos fazem pensar. Que rico contributo para a nossa cultura geral!... Obrigado, Sara.
Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Vouzela, Abril 2025
Isabel Silvestre sempre a brilhar, agora na polifonia
Isabel Silvestre promove canto polifónico
Carlos Rodrigues
É o canto polifónico Património Imaterial Nacional desde há uns tempos. Agora pretende vir a ser Património da Unesco. Para este transcendente efeito, estão a ser realizadas uma série de iniciativas destinadas a dar a conhecer este justo desejo e mobilizar as comunidades em redor deste objectivo. A primeira destas acções aconteceu, no passado dia 28 de Março, no Cine-Teatro Jaime Gralheiro em S. Pedro do Sul, tendo cabido a Isabel Silvestre a função de ser a conferencista convidada, papel que lhe encaixou que nem uma luva e que foi amplamente merecido. È que a Isabel Silvestre é a Isabel Silvestre. Ponto.
Numa modalidade que se encontra sustentada pela Associação de Canto a Vozes – Fala de Mulheres, para que esta pretensão venha a ser alcançada vários encontros regionais se vão desenvolver um pouco por todo o pais, sendo que Vouzela, Oliveira de Frades e Sever do Vouga ali estiveram representados, avançando-se para Arouca, Santa Maria da Feira no dia 26 de Abril e Viana do Castelo, Braga, Porto, Bragança e Oeiras nos meses de Maio e Junho.
Aliás, este projecto nasceu precisamente em Viana do Castelo em 2020 com cerca de 360 cantadeiras, integrando agora 64 grupos de Portugal e França, o que demonstra a sua força e pujança internacionais. Como que contrariando a sua matriz inicial, já se admitem agora cantadores masculinos, sinal da sua abertura a novos contextos e esferas locais.
Se há muitas vozes espalhadas por aí fora, não há dúvida de que o papel desempenhado, ao longo dos anos, por Isabel Silvestre e o seu grupo de Manhouce se alcandora a um lugar cimeiro. Com recolhas de forte genuinidade da nossa cultura popular, o canto a vozes, na sua polifonia, é único e intransmissível. É este e mais nenhum nas comunidades onde se canta e se transmite de gerações em gerações.
Reconhecendo esta sua importância, as autarquias são um suporte essencial nesta candidatura mundial. Em uníssono e em conjunto com todos aos actores culturais e sociais destas comunidades, esta caminhada tem pernas para andar como o teve em 2023 a nível nacional.
Sendo que as três vozes são o mais comum na polifonia, esta também se apresenta com outras roupagens de mais vozes. Para o texto que estamos a elaborar para o jornal “Notícias de Lafões”, partimos essencialmente de Manhouce e das recolhas feitas outrora por Armando Leça, Artur dos Santos, Michel Giacometti e Fernando Lopes Graça, bem reaproveitadas por Isabel Silvestre e António Silva e todos os seus companheiros desta longa e produtiva e enorme marcha musical. Seria ainda uma certa falha nossa não incluirmos aqui os cantares de Cambra e outros que tais.
Porque gostamos de ir sempre mais longe e mais alto, ficamos então a torcer para que a UNESCO se não esqueça de incluir nas suas listas este nosso canto a três vozes. O champanhe já está no frigorífico…
Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Abril 2025
domingo, 30 de março de 2025
Um sampedrense a dirigir empresa em Espanha
Pedro Sobral em rápida subida empresarial
Carlos Rodrigues
Ainda há curto tempo, aqui falámos em Pedro Sobral, sampedrense, por um de seus êxitos profissionais. Hoje, cá regressamos para mais um de seus importantes passos, desta vez para relatarmos o seu regresso a Espanha, agora como Director Geral para aquele país da empresa Glovo, após ter desempenhado estas mesmas funções no nosso País. Isto acontece quando há a referir que, como quadro desta firma, passou por Barcelona.
Com uma carreira académica recheada de sucessos no Instituto Superior Técnico (IST), onde se licenciou e fez o mestrado em Engenharia Mecânica, logo aí se lançou neste mundo das empresas com o lançamento de uma “startup”. Nesse Instituto, fez investigação no mundo do modelo de negócios sustentáveis. Este foi uma espécie de ponto de partida para vir a ser recrutado pela Glovo e por tanto ter subido nesta firma, tendo também estado ao serviço da Jerónimo Martins em Portugal e na Polónia.
Recorde-se que esta Glovo nasceu em Espanha no ano de 2014, tendo iniciado o seu arranque em 2015. Em 7 rondas de financiamento, conseguiu angariar mil milhões de dólares e um total de 10000 empregados. Em 2022, passou a integrar o Delivery Hero Group, alemão, cotado em bolsa.
É nesta importante esfera que Pedro Sobral se move. Regressado a Espanha, agora em tão alto posto, tem como objectivo contratar 20 mil “freelancers” e continuar a dar vida a 50 mil estabelecimentos em 900 cidades, tentando ainda e se possível ampliar este volume de negócios.
Em 2021, estendia-se por 25 países, 1500 cidades, com 17000000 de parceiros activos.
Reflexo da importância da escolha deste sampedrense, Pedro Sobral, para tão destacadas funções, é o facto de este facto ter motivado um sem número de alusões em jornais e revistas das áreas económica e financeira.
Com as nossas vivas felicitações, desejamos que tenha toda a boa sorte do mundo…
In “ Notícias de Lafões”, 2025
Um testemunho antes das eleições
Novas eleições, uma solução ou um beco sem saída
Carlos Rodrigues
Passado menos de um ano após as eleições de 2024, em que foi eleito um novo Governo com Luís Montenegro como Primeiro-Ministro, eis que uma crise inesperada, tendo como epicentro este mesmo governante, levou à sua queda com enorme estrondo. Depois de duas moções de censura chumbadas, veio a bomba atómica com a apresentação de uma moção de confiança, por um lado, e uma comissão parlamentar de inquérito como uma espécie de contraponto. Tudo desabou no dia da sua votação.
De repente, aquela que parecia ser uma fase de estabilidade, ainda que presa por fios ténues e segura por pinças escorregadias, veio a descambar para uma caminhada para uma perigosa escalada que pode acabar (oxalá que não, oxalá que não, oxalá que não!) num beco sem saída, isto é, uma situação bem mais problemática que a actual. Com o acto eleitoral marcado para o dia 18 de Maio, essa noite e os dias seguintes podem converter-se em tempos de pesadelos e aflições sem fim. Confessando este nosso temor, na humildade que nos caracteriza, sugerimos uma via: que os dois maiores partidos tenham a coragem de, para bem do país, se sentarem à mesa e jurarem apoiar-se mutuamente no caso de essa circunstância vier a acontecer.
Para que isto possa vir a acontecer, é preciso que estes dois meses de discussão e campanha eleitoral sejam vividos em ambiente de elevação, como bem sublinhou o Presidente da República, temendo o pior, no seu discurso de dissolução da Assembleia e consequente marcação de mais uma ida às urnas, nuns tempos tão cheios destas andanças: legislativas a 18 de Maio, autárquicas em Setembro ou Outubro e presidenciais em Janeiro de 2026. Pelo meio, na Madeira, há ainda umas eleições regionais antecipadas. Isto é obra, chata até mais não. Quem dera que não leve a uma subida em flecha de um dos piores inimigos da democracia – a abstenção.
A avaliar o que aconteceu na sessão da Assembleia da República em que a moção de confiança foi discutida e chumbada, não prevemos grandes coisas nessa matéria de civismo e urbanidade. O que ali se passou, ao vivo e a cores, foi mau demais para poder gerar algo de positivo, a não ser que os políticos batam com a mão no peito, se arrependam e prometam a pés juntos e de mãos erguidas ao céu arrepiar caminho e desfazer esses lamentáveis procedimentos e processos. Fazemos estes desabafos com um nó na garganta e um aperto no coração, porque, em 50 anos de democracia, esperávamos bem mais e muito melhor.
Desejávamos que para trás ficassem os anos de1910 a 1926, que nos trouxeram 7 parlamentos, 45 governos, 40 chefias destes e 38 presidentes do ministério. Aliás, em Itália, aqui perto e com a mesma matriz linguística, passa-se um fenómeno que não gostaríamos de aqui ver replicado: 69 governos de 1945 a 2022, com uma média de duração de cada um deles de 13 a 14 meses, mas com uma estrutura política intermédia bem mais sólida e eficaz. Este último Governo, no nosso país, bateu tristemente esta marca, porque não chegou a um ano..
Em Portugal, segundo dados colhidos um pouco por alto, em matéria de governos constitucionais, tirando os seus congéneres provisórios (7), já tivemos a conta de 24 tomadas de posse até 2024 desde 1976/77. Experiência de instabilidade já temos quanto baste.
Aqui chegados, temos de dizer que há épocas e épocas para se “brincar”, (que termo tão triste!), às eleições. Esta é uma dessas em que muito se joga do nosso futuro colectivo: temos em mãos, e até com atrasos na sua execução, um PRR, essa carrada de fundos que pode sofrer um forte abalo; juntam-se a este caso, a questão do novo aeroporto, das vias ferroviárias e de outras grandes medidas que urge tomar. Agora, tudo isso e muito mais pode parar, ou, no mínimo, ficar em banho-maria. Lamentável é ainda a fadiga eleitoral que agora tem tendência para se agravar.
Numa Europa em brasas e o mundo, em geral, virado de pernas para o ar, até neste contexto estas eleições vieram na pior altura. Ou seja: tudo isto é mau demais para poder ser verdade. Mas, infelizmente, é.
Culpados, temo-los para todos os gostos. Mas o pior é que o País, com todas estas trapalhadas, é que sofre a sério e em força. Quem fica penalizado? Todos nós. Quem paga? A nossa geração e as que vierem a seguir, a quem não deixamos grande legado com este tipo de exemplos. Numa palavra: uma vergonha…
In " Notícias de Lafões", 2025
terça-feira, 11 de março de 2025
Caiu o Governo...
... E o Governo caiu... Pronto. Agora aí vem mais uma campanha e uma triste paragem do país, em três eleiçoes num curto espaço de tempo, mais uma na Madeira... Pronto... Paciência...
Um mundo de dúvidas políticas
Neste momento, depois de dias e dias de dúvidas e de um debate quentíssimo na Assembleia da República, a propósito da discussaão da moçao de confiança, ainda se está de coração nas mãos, quanto ao futuro do Pais: cai ou não cai o Governo? E é isto que me preocupa. O país está em causa e os deputados centram-se en si mesmos e o Governo também. Continuo à espera, às 19.17 horas, dentro do tempo que AR concedeu para uma nova tentativa de acordo, e nada mais sei. E é pena, para não dizer lamentável...
sexta-feira, 24 de janeiro de 2025
Mestre Homem Cardoso, um fotógrafo nascido em S. Pedro do Sul
Homem Cardoso, o fotógrafo das sete partidas do mundo
Carlos Rodrigues
Aqui há uns anos, neste mesmo jornal, dediquei uns textos à figura e obra de António Homem Cardoso, o Mestre da fotografia, que Fátima Campos Ferreira veio, de novo, recordar, na sua reportagem “ Primeira Pessoa”, editada na RTP 1, há curtos dias. Intimista e muito pessoal, mostrou-nos nesse rico trabalho, as facetas locais e mundiais da sua obra.
Com raízes em Negrelos, S. Pedro do Sul, filho de José Homem Cardoso e de Cristina Augusta de Almeida Cardoso, nasceu em 11 de Janeiro de 1945, tendo, por isso, completado 80 anos de idade ainda neste mês. A sua família em Lafões, entre outros lugares, espalha-se ainda por Vilharigues, Vouzela, e Sejães, Oliveira de Frades. Se agora se fixou mais em Alcáçovas, Alentejo, onde tem o seu vasto espólio, e de onde partiu para a entrevista com Fátima Campos Ferreira, sentados em duas pedras à beira de uma lagoa, jamais esqueceu estas suas origens. Aliás, as suas palavras iniciais foram mesmo para o concelho onde viu, pela primeira vez, a luz do dia.
Oriundo de uma casa com oito filhos, sendo ele o mais novo, com a morte do Pai, economicamente tudo se complicou e, por isso, como tantos meninos a rapazes de sua idade, lá foi de abalada para Lisboa, aos 10 anos, onde se iniciou em loja familiar como marçano. Foi este o princípio dos princípios da malta destas terras que ali seguia o seu destino.
Tal como confessou em “Primeira Pessoa”, aquilo não era vida para si mesmo e, aos 14 anos, parte para outras funções, um pouco à toa e com espírito de aventura. Gaiato da rua, um dia encontrou um cineasta que lhe deu uma espécie de trabalho como figurante, premiando-o com cerca de 1400$00 e uma máquina fotográfica, a primeira que teve e, talvez, a mais importante. Daí e, diante, uma fotografia aqui e outra ali, a vida foi-se fazendo, foto a foto.
Foi tal o seu êxito, que chegou a dizer: “A vida deu-me muito mais do que eu pensava vir a ter… Corri meio mundo sem falar língua nenhuma” além do português, obviamente, aprendido na vida e nos quatro anos de escolaridade que fez. Fotógrafo da Casa Real Portuguesa, ele que é um monárquico convicto, não fez dessa sua opção política qualquer objecção para retratar Presidentes da República e outras figuras da nossa sociedade e de muitas outras nacionalidades, um pouco por todo mundo, como o Presidente Trump, dos EUA, e os Príncipes do Mónaco e sobretudo a Amália e a nossa Isabel Silvestre. De máquina em riste, pessoas, olhares e paisagens, nada escapa ao seu olho de lince e à sua ciência na arte de escolher os melhores ângulos e poses.
Por aqui, por exemplo, fez trabalhos para os vinhos do Dão, que o levou alcançar um prémio internacional “ La Vigne et Du Vin”, sendo que em Itália recebera o “ Elefante de Ouro”. Entre as muitas distinções, realce-se a “ Grande Comenda da Ordem do Infante D. Henrique”, em 26 de Janeiro de 2023.
Em termos de gastronomia, participou no livro de Maria de Lurdes Modesto, na Carta Gastronómica de Lafões e outras obras, entre as centenas de publicações, das quais 70 são livros de fotografias.
Ultimamente, mostrou uma exposição com os “ 500 retratos da minha vida”, ele que tem como prazer captar a luz dos olhares e a essência das paisagens.
Fazendo a “ vida que quero”, é com as máquinas que se sente bem. E, diga-se, com elas faz arte de excelência com muito proveito e regalo para os olhos e para ânimo de nossas almas.
Considerando Portugal “ o seu reino e o seu exílio”, traz Lafões no coração, este António Homem Cardoso, cidadão das sete partidas de todo o mundo, que nasceu com o Vouga aos pés e fez do Tejo o ponto de partida para levar a sua arte e a sua maestria em fotografar tudo e todos.
Parabéns, Homem Cardoso, por estes oitenta anos e por uma carreira de imenso sucesso. Força e em frente. Sempre.
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