quinta-feira, 6 de maio de 2010

Gaivota na areia, sinal de peixe tramado

Chega a rede. Pelos buracos da sua malha, escapam-se os peixes sortudos que, a tempo, ainda reentram na água, de onde saíram segundos ou minutos antes.
Outros, porém, rejeitados ou desastrados, acabam por se perder nas areias finas e amarelas, pisados, torturados, ou arrancados para sacos intrusos ou, então, papados por bandos de gaivotas vorazes que lhes chamam um figo.
Se os seus amigos de caminhada final, entre quatro fios, vão ser cobiçados por quem não dispensa um bom prato saído do mar-ventre generoso - e agora, de novo, tão falado, a partir da palavra presidencial - e sempre pronto a ajudar-nos, aqueles infelizes nem isso conseguiram.
Mas cumpriram uma outra missão: alimentaram parte deste nosso universo que tanto precisa de preservar a diversidade, de que as gaivotas são parte integrante e bem desejadas.
Assim, uns e outros, afinal, neste mar da Vagueira, dia a dia, quando o mar se mostra manso e chão produtivo, têm o fim que o destino lhes ditou: ou correrem para as bancas novas e provisórias, ou serem repasto das aves que fazem do mar, do céu e da terra um espaço tripartido, sendo, por isso, muito mais felizes que nós: sem impostos, sem medo de bancarrrotas, sem especulações e "ratings", sem gravadores metidos ao bolso, sem uma Grécia a afundar-se e um euro a cair aos trambolhões, ei-las gaiatas, a ir e vir, quando muito bem lhes apetece.
A elas, ninguém chateia.
Nem o medo do futuro as apavora.
E a nós espreme-nos até ao tutano.
Uma " gaivota voava, voava, voava ..."
E nós, aqui num chão prenhe de lodaçal, vemo-nos descambar, hora a hora, se outros tempos não vierem...

Sem comentários: